segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

O NATAL NÃO É APENAS...

O Natal não é apenas um arranjo de lâmpadas, é o brilho da Luz do mundo.

Não é apenas uma festa da religiosidade, é a celebração da esperança.

Não é apenas a época de distribuir cestas, é a estação de repartir amor.

Não é apenas o dia de contabilizar conquistas, é tempo de contar as bênçãos.

Não é apenas o chamado para desatar embrulhos, é o convite para abrir o coração.

Não é apenas a data de ganhar brindes, é o dia de receber o Presente.

Não é apenas o momento para degustar panetone, é a ocasião para saborear o Pão da Vida.

Não é apenas um período de trégua na polarização, é tempo de paz na Terra.

Não é apenas o fim do ciclo anual, é a promessa de um novo início.

Não é apenas época de lembranças, é tempo de construir memórias.

Não é apenas o desejo de companhia, é a garantia de que não estamos sozinhos.

Não é apenas a chance de reunir os familiares na Terra, é a oportunidade de se unir à família do Céu.

Natal é momento de celebrarmos apenas um único fato: “Cristo Jesus […] embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fp 2:5-8). E isso ocorreu “porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nEle crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dEle” (Jo 3:16-17). É isso que celebramos. Paz a todos vocês que estão em Cristo. E um Natal feliz e cheio da maravilhosa graça.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

PRESÉPIO

O primeiro presépio do mundo teria sido montado em argila em 1223 por ninguém menos que Francisco de Assis. Naquele ano, em vez de celebrar a noite de Natal na igreja, como de hábito, Francisco resolveu celebrá-la na floresta, para onde mandou transportar uma manjedoura, um boi e um burro. Seu objetivo era explicar o Natal às pessoas comuns, camponeses iletrados que não tinham acesso aos textos bíblicos que narravam o nascimento de Jesus. O costume acabou se espalhando por entre as principais Catedrais, Igrejas e Mosteiros da Europa durante a Idade Média, começando a ser montado também nas casas de Reis e Nobres a partir do Renascimento. Somente no Século XVIII que o costume de montar o presépio se disseminou pelas casas comuns por toda Europa e, posteriormente pelo mundo.

O presépio está em casas e ruas, igrejas e praças. Nesta época do ano, adquire uma presença que remete à data, ainda que pouco tempo se dedique à reflexão do seu significado, com pessoas atarefadas pelas demandas de consumos e deveres típicos desta celebração. E ainda que não se pense a respeito, o fato é que, se há festejos natalinos, haverá presépios, o lugar da natividade.

É uma expressão cristã do nascimento de Jesus. Por conta do recenseamento na Galiléia, conta Lucas 2, José e Maria vão a Belém, e lá Jesus nasceu. Após o nascimento, Jesus foi envolvido em panos e deitado em uma manjedoura, lugar destinado a alimentação de animais, agora improvisado como um berço. Ellen White diz que "as hospedarias estavam todas lotadas. Os ricos e orgulhosos estavam bem hospedados, enquanto aqueles humildes viajantes tiveram que encontrar descanso em uma rude estrebaria" (Vida de Jesus, p. 13). Além dos pais do menino, havia animais e pastores, guiados por um anjo, que foram até aquela modesta instalação para ver o milagre do advento, que haveria de trazer esperança à humanidade.

O presépio comunica esta história. E ainda que a história não confirme o Natal como a data real do acontecimento, os presépios estão por aí como lembrança de uma promessa que encarnou em um menino nascido em um lugar de tanta simplicidade e amor. “Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso, Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). Reis vindos do Oriente, guiados por uma estrela, levaram ouro, incenso e mirra a este menino tão imponente nas palavras do profeta.

Que presente eu teria levado ao presépio, pensei certa vez, o que teria colocado ao lado da manjedoura se lá eu estivesse? Penso em muitas opções, maneiras de materializar o sentimento pessoal diante de um acontecimento tão importante, evidenciado no texto sagrado. Até que um dia li um artigo que me comoveu, lembrando que o menino na manjedoura é o mesmo que disse certa vez: “O que vocês fizeram a um dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 25:40).

Os irmãos e irmãs menores daquele menino estão entre nós, à espera de súplicas atendidas, desejos mais urgentes do que a fantasia infantil alimentada pelo comércio nesta época do ano. Estão à espera do bem que faríamos ao menino da manjedoura. São meninos e meninas desafiados por uma sociedade do cansaço, que parece naturalizar a ansiedade e a depressão. E com vida tão curta, muitos desses irmãos e irmãs menores de Jesus perdem o sentido da vida aos 7 anos de idade. São aqueles que, ainda tão cedo na vida, sofrem violência, abandono, fome e pobreza extrema, refugiados em tempos de guerra, castigados por estruturas que insistem em tratá-los com tanta crueldade.

O bem que é feito a estas pequenas criaturas, a mim é feito, foi o que disse o menino da manjedoura. O Natal é tempo de reflexão para a Igreja. De avaliar o que está sendo feito e de ampliar as possibilidades do que pode ser feito. O presépio, então, será lembrança de cuidado. Que transformará vidas logo cedo, e permitirá que uma geração cresça com entendimento claro da compaixão e amor que resultam da inspiração daquele menino da manjedoura.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

AMANHÃ

As palavras de Jesus têm uma força incomum. O pouco que Ele escreveu na areia, o vento apagou, mas o que disse está gravado na mente e no coração de seus seguidores até hoje. No entanto, há algumas frases suas que soam de maneira estranha. Não têm fácil explicação. Uma delas me chama a atenção.

Jesus ressuscitara ao nascer do dia. E uma pessoa especial se encontrava chorando, sozinha, na entrada do túmulo vazio. Seu nome: Maria Madalena. Ela não estava ali por acaso. Tinha bons motivos para chorar a perda de Jesus. Não era sem explicação sua coragem de estar ao pé da cruz nas horas finais de seu mestre, enquanto os outros discípulos se escondiam pelos cantos da noite. Sua vida fora marcada pelas palavras de Jesus. Deve haver algo incrível por trás da experiência de alguém que é liberto de "sete demônios" pela própria palavra de Cristo. De qualquer maneira, a vida de Maria estava intimamente ligada à vida dAquele que morrera.

De repente, Jesus quebra o roteiro triste da história e aparece vivo. Maria é a primeira a vê-Lo ressurreto e eu imagino o porquê.

Seguindo o impulso natural, Maria corre para abraçá-Lo, mas algo estranho acontece. Jesus simplesmente se afasta, dizendo: "Mulher, não me segure!" (João 20:17). Em outras palavras, "Mulher, me solte!" Como entender tais palavras vindas da boca de quem só tinha palavras de convite e aceitação? Como entender Jesus aqui? As palavras seguintes dão nova luz a Maria e podem dar a nós também: "Vá... e conte aos outros o que ainda irá acontecer".

Na caminhada espiritual, corremos o grande perigo de nos apegar ao que já passou, ao que Deus já fez por nós no passado e até ao que nós já fizemos por Ele ontem. Mas as palavras "estranhas" de Jesus acendem uma luz, mostram uma nova direção. O mais importante não é o que Deus já fez por nós, mas o que Ele ainda promete fazer. Quem vive agarrado ao que foi ontem, não tem espaço nas mãos para receber o amanhã. Não devemos deixar que as grandes coisas que Deus fez ontem em nossa vida nos ceguem para as que Ele promete fazer amanhã.

Ouvi tempos atrás, a história de um menino que tinha um pai muito ocupado. Os melhores momentos de sua infância ele vivera sem a presença do pai. Tudo o que ele mais queria era ter o pai perto, estar com ele, mas isso quase nunca era possível. Um belo dia - um dia desses em que a gente sente que alguma coisa precisa mudar - o pai resolveu adiar todos os compromissos e passar um dia com o filho, só com ele. Seria um acampamento. Ele disse: "Filho, prepare-se, pois amanhã nós vamos passar o dia juntos. Só você e eu. Nós vamos viajar e vai ser muito legal!". Essas eram palavras mágicas para um garoto pequeno. Já era noite. Assim, ele correu para o quarto, escovou os dentes, pulou na cama, puxou a coberta e fechou os olhos com toda a força que podia. Mal podia esperar chegar o amanhã. Acontece que ele não conseguia pegar no sono. Sua imaginação passeava, seu hoje era como que invadido pelo amanhã e isso não o deixava dormir.

No meio da noite, o garoto vai até o quarto do pai e bate à porta. O pai fica assustado ao ver o menino acordado àquela hora. "O que aconteceu, filho?", pergunta. Ao que o menino responde: "É que eu não consigo dormir." O pai continua: "Filho, você precisa dormir. Lembra? Amanhã é o nosso dia. Vai ser um dia cheio. Você precisa descansar!" O menino junta toda a alegria que o impedia de dormir e diz: "Pai, é sobre isso que eu quero falar. Pai, obrigado pelo amanhã!"

Com Jesus, o melhor ainda está por vir. Se no passado Ele nos ofereceu perdão e salvação através de sua morte, no amanhã Ele nos promete o abraço da eternidade, quando de sua segunda vinda. Às vezes eu me sinto como um garoto pequeno num quarto escuro, esperando a noite dessa vida passar. Não sei se você já sentiu assim.

A promessa mais bonita da Bíblia está escondida nas palavras de Jesus. Logo logo a luz do sol de Sua vinda vai brilhar, acabando com as trevas do pecado nesse mundo. Que seu coração marque ansioso cada momento da espera.

Eu mal posso esperar esse dia amanhecer.


"Nós estamos ainda em meio às sombras e tumultos das atividades terrenas. Consideremos com todo o empenho o bendito porvir. Atravesse a nossa fé toda nuvem de escuridão, e contemplemos Aquele que morreu pelos pecados do mundo. Sejamos animados pelo pensamento de que o Senhor logo virá. Alegre-nos o coração esta esperança. 'Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará' (Hebreus 10:37)” (Ellen G. White - Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 287).

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

NATAL DOS EXCLUÍDOS

Feliz Natal!!! Pra quem? Não há felicidade sem garantia de vida digna para o nosso povo. O que pobres, idosos, doentes e presos têm em comum? Geralmente, o Natal é mais sofrido para esse grupo. Isso porque eles fazem parte da chamada “classe dos excluídos”, daqueles que, infelizmente, recebem pouca ou quase nenhuma atenção. No país, são mais de 308 mil pessoas em situação de rua, 59 milhões de brasileiros vivem em pobreza social e 9,5 milhões em extrema pobreza. Mas qual o papel da igreja em relação a essas pessoas?

A epopeia do casal Maria e José ─ os excluídos da sociedade judaica que não tiveram direito a uma estalagem para abrigar o seu filho Jesus que estava prestes a nascer, hoje, são simbolizados por aqueles que nesse Natal estão longe das mesas repletas de guloseimas e bebidas; são representados por aqueles que estão bem distantes do burburinho da cidade engalanada e repleta de efêmeros atrativos. O drama dos pais de Jesus que não foram acolhidos pela sociedade daquela época, se repete diariamente na pele dos excluídos de nossa sociedade.

Ellen G. White diz que “as festividades de Natal e Ano Novo podem e devem ser celebradas em favor dos necessitados. Deus é glorificado quando ajudamos os necessitados" (O Lar Adventista, p. 482).

A ligação entre o evangelho e a responsabilidade social é claramente representada no ministério de Cristo, tanto no Velho como no Novo Testamentos. Quando os estragos da pobreza, injustiça e opressão estão bem presentes, a Palavra de Deus insiste que uma fé que fala somente das necessidades espirituais do povo, mas deixa de demonstrar sua compaixão mediante auxílio prático é vista como um culto falso (ver Isaías 58). Com efeito, como Gandhi certa vez disse: “Precisamos viver em nossas vidas as mudanças que queremos ver no mundo.”

Um discípulo de Cristo verdadeiramente crente não pode tratar com indiferença as desigualdades materiais e a manifestação de poder e privilégio que atingem a tantos e leva ao empobrecimento espiritual de outros. Ellen G. White escreve: “A desumanidade do homem para com o homem, eis nosso maior pecado” (A Ciência do Bom Viver, p. 163). Quantas vezes, mesmo empenhados na obra de Deus, nós nos entusiasmamos com novos projetos, métodos e alvos, e, contudo, somos indiferentes para com os que sofrem.

O evangelho convida o discípulo de Cristo e a igreja à solidariedade com todos os que sofrem, a fim de juntos podermos receber, incorporar e partilhar as boas-novas de Jesus, a fim de melhorar a vida de todos. Como Cheryl Sanders o expressa: “O reino preparado desde a fundação do mundo é um reino onde todos são satisfeitos, alimentados e livres. Alguém se qualifica para entrar nesse reino exercendo boa mordomia da própria vida, e distribuindo vida a partir da abundância que recebeu como legado de Deus. E o evangelho declara que a vida eterna é a recompensa daqueles que cuidam da vida. Aqueles que alimentam os famintos, dão de beber aos sedentos, abrigam o estrangeiro, vestem os nus e visitam os doentes e encarcerados tornam-se identificados com a criação do reino de Deus neste mundo, e atuam em parceria com Deus no domínio dos negócios humanos. Desobedecer esse mandado bíblico é negar lealdade ao reino e ao Rei” (Ministry at the Margins, p. 28).

A igreja e o seguidor de Cristo precisam responder à pergunta: “Sou eu guardador do meu irmão?” O sofrimento de nossos semelhantes nos causa dor. Podemos tentar escondê-lo, negá-lo, encobri-lo ou descartá-lo, mas ainda assim o sofrimento e a dor dos outros não nos podem deixar completamente impassíveis. Nossa fé cristã reforça isso. Como posso chamar-me de seguidor de Cristo quando não me preocupo com meus semelhantes? Como posso representar o reino de Deus e não me preocupar profunda e praticamente com as pessoas que são incluídas em Seu reino?

Ellen G. White afirma que "não necessitamos de ir a Nazaré, a Cafarnaum ou a Betânia para andar nos passos de Jesus. Encontraremos Suas pegadas ao pé do leito dos doentes, nas choças de pobreza, nos apinhados becos das grandes cidades, e em qualquer lugar onde há corações humanos necessitados de consolação. Fazendo como Jesus fazia quando na Terra, andaremos nos Seus passos" (O Desejado de Todas as Nações, p. 616).

Na Palavra de Deus, a responsabilidade do seguidor de Cristo pelos pobres e necessitados não é menos importante do que a pregação do evangelho, nem é opcional. É parte integrante de toda a história do evangelho, porque realmente vemos na face do pobre a face de Cristo: “Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25:40).

Confira esta importante exortação de Ellen G. White para nós: "A obra de recolher o necessitado, o oprimido, o aflito, o que sofreu perdas, é justamente a obra que toda igreja que crê na verdade para este tempo devia de há muito estar realizando. Cumpre-nos mostrar a terna simpatia do samaritano em acudir às necessidades físicas, alimentar o faminto, trazer para casa os pobres desterrados, buscando de Deus todo dia a graça e a força que nos habilitem a chegar às profundezas da miséria humana, e ajudar aqueles que absolutamente não se podem ajudar a si mesmos. Isto fazendo, temos favorável ensejo de apresentar a Cristo, o Crucificado" (Beneficência Social, p. 188-190).

Deus nos convoca, hoje, a ajudarmos o próximo. Juntos, em amor, compaixão, bondade e misericórdia em prol de um irmão necessitado de esperança, de pão, de uma oportunidade, de uma chance para mudar sua vida. E como diz Ellen G. White: “O verdadeiro cristão é amigo dos pobres. Ele trata com o seu irmão perplexo e desafortunado como se trata com uma planta delicada, tenra e sensível” (Beneficência Social, p. 168).

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

CEGUEIRA ESPIRITUAL

“Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da Tua lei” (Sl 119:18).

Entre todos os milagres de cura realizados por Jesus, os do restabelecimento da visão aos cegos sempre me fascinam. Os diversos métodos pelos quais Jesus recuperou a vista aos cegos incluem o toque – como no caso dos dois homens cegos (Mt 9:27-30), a saliva (Mc 8:22-26), o lodo (Jo 9) e por meio da palavra – simplesmente ordenando que o cego visse (Mc 10:52). Fosse qual fosse o método, o resultado era sempre o mesmo: o dom da visão era concedido a alguém que havia sido cego.

Contudo, maravilhosos como são os milagres de cura realizados por Jesus em favor dos fisicamente cegos, a Bíblia contém, igualmente, numerosas ocorrências em que Deus cura a cegueira espiritual, essa cegueira que impede aos aflitos a compreensão das verdades celestiais, a percepção do plano de Deus para sua vida. É plenamente possível para alguém possuir visão física 20/20 e ser espiritualmente cego.

Cegados pelo materialismo – “Então, o Senhor abriu os olhos a Balaão, ele viu o anjo do Senhor, que estava no caminho, com a sua espada desembainhada na mão; pelo que inclinou a cabeça e prostrou-se com o rosto em terra” (Nm 22:31). Momentos antes de ter os olhos abertos, Balaão havia recebido suborno para amaldiçoar o povo de Deus. Mesmo depois de o Senhor lhe haver falado explicitamente que não acompanhasse os embaixadores do rei moabita, ele não pôde suportar a idéia de perder os presentes valiosos e o dinheiro. Percebendo que seus esforços eram inúteis, os emissários estrangeiros voltaram para casa. Mas, em lugar de ser agradecido por haver sido poupado de uma tentação futura, em sua mente Balaão começou a deixar-se seduzir pela gratificação material. E quando o Senhor, por Sua graça, terminou com a jornada do profeta, bloqueando-lhe o caminho, Balaão estava de tal modo influenciado pela paixão da recompensa terrena diante dele que não conseguiu ver o que sua mula enxergava. Mesmo a fala miraculosa de uma besta de carga não lhe despertou o sentido espiritual.

Ellen G. White descreve a cena: “Balaão devia a conservação de sua vida ao pobre animal que tratara tão cruelmente. O homem que pretendia ser profeta do Senhor, que declarou estar ‘de olhos abertos’, e ver ‘a visão do Todo-poderoso’ (Nm 24:3 e 4), estava tão cego pela cobiça e ambição que não pôde divisar o anjo de Deus, visível para seu animal” (Patriarcas e Profetas, p. 442).

Balaão foi salvo da destruição imediata quando o anjo do Senhor misericordiosamente lhe abriu os olhos, concedendo-lhe a visão de dimensão espiritual. Então, ele se prostrou com temor da presença de Deus. Em nossa conduta materialista, nós também somos inclinados à cegueira. Mas, em Sua graça, o Senhor nos concede estímulo espiritual para restabelecer nossa visão.

Cegados pelo temor – “Orou Eliseu e disse: Senhor, peço-Te que lhe abras os olhos para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu” (2Rs 6:17).

Dotado de visão espiritual, Eliseu recebeu revelações divinas a respeito de atitudes específicas adotadas pelo rei da Síria. O rei, irado por terem sido frustrados os seus planos secretos contra Israel, enviou então um exército de busca para destruí-lo. Perseguindo Eliseu à aldeia de Dotã, os mercenários chegaram durante a noite, cercaram-no e prepararam-se para matálo. O servo de Eliseu, tendo-se levantado cedo para buscar água, percebeu que estavam completamente cercados pelos soldados inimigos. Tomado de terror, ele exclamou: “Ai! Meu senhor! Que faremos?” (verso 15)

Os capítulos 4, 5 e 8 de 2 Reis identificam o servo de Eliseu como Geazi, nome que significa “vale da visão”. De fato, sua visão física foi perfeita naquela manhã, pois ele divisou os soldados sírios ocultos em meio às árvores dos arredores. Sua visão espiritual, entretanto, estava ofuscada.

Eliseu lhe assegurou: “Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles (2Rs 6:16). Entretanto, isso não foi o bastante. Sentindo que seu servo estava a ponto de ser completamente vencido pelo temor, Eliseu proferiu uma oração pedindo a Deus que curasse a cegueira espiritual de Geazi: “Senhor, peço-Te que lhe abras os olhos para que veja” (verso 17). Instantaneamente, o milagre foi realizado. O servo, trêmulo, viu incontáveis carruagens de fogo e cavalos, em número muito maior que o inimigo ameaçador.

Quando somos assaltados pelo temor diante de obstáculos intransponíveis, também podemos pedir que o Senhor nos abra os olhos espirituais.

Cegados pela auto-piedade – “Abrindo-lhe Deus os olhos, viu ela um poço de água, e, indo a ele, encheu de água o odre, e deu de beber ao rapaz” (Gn 21:19).

Perdida no deserto, a mãe chorava. Ao seu redor, nada mais havia além dos oceanos de areia escaldante. Ela não mais podia suportar ter que olhar para Ismael, seu filho adolescente, que desfalecia de sede. Após vários dias vagueando pelo deserto em áridos círculos, ela estava de volta ao mesmo lugar. Em certo sentido, o cenário era uma metáfora da vida dela. Muitos anos antes, ela havia estado em um deserto semelhante. Tendo concordado em servir de mãe substituta do filho de Abraão, sofreu desprezo e abuso despertados pelas paixões do ciúme. Depois que ela fugiu para o deserto, o anjo do Senhor disse que ela deveria voltar e concedeu-lhe a promessa de grandes bênçãos para seu filho que haveria de nascer.

Quinze anos depois, ciúmes latentes foram inflamados com o nascimento de Isaque. Novamente, Hagar encontrava-se no mesmo deserto em que havia estado antes. Seus sonhos estavam despedaçados, suas aspirações, desvanecidas. Até mesmo Deus parecia haver quebrado Suas promessas. Mas, quando tudo parecia perdido, um anjo do Senhor lhe apareceu. Enquanto ela se debatia em auto-piedade, deixava de perceber uma poderosa luz: Embora ela estivesse perdida no deserto, Deus não a havia perdido! O anjo lhe assegurou que Deus ouvira os gritos do filho dela e, então, um milagre ocorreu: Deus lhe abriu os olhos e ela viu um poço com água.

Deus havia conduzido Hagar ao poço, mas seus olhos turvados pelas lágrimas não conseguiram divisar Sua providência. Quando, em nossa própria experiência, formos levados ao deserto, bem faremos em buscar as fontes de água viva de Deus. Desespero e auto-piedade depressa produzem cegueira espiritual e morte. Mas, quando o Senhor nos abre os olhos para vermos Sua fonte, Ele nos promete que jamais teremos sede outra vez.

Cegados pela fadiga – “Pedro e seus companheiros achavam-se premidos de sono; mas, conservando-se acordados, viram a Sua glória e os dois varões que com Ele estavam” (Lc 9:32).

Ao aproximar-se o pôr-do-sol do ministério de Jesus na Terra, Ele procurou preparar os discípulos para o período de adversidade à frente deles. Depois de um dia inteiro de trabalho intenso, convocou Seus discípulos mais achegados para um retiro de oração na montanha. A princípio, eles uniram suas orações com a de seu Mestre, diz Ellen White, “em sincera devoção”. Mas, com o avanço das horas, eles foram “vencidos pela exaustão e falta de repouso. Mesmo empenhando-se por manter o interesse”, eles adormeceram (ver Spirit of Prophecy, vol. 2, p. 327.)

Enquanto eles dormiam, uma transformação magnífica ocorreu com Cristo. Moisés e Elias Lhe foram enviados para conceder-Lhe a certeza do triunfo na crise que se aproximava. Subitamente, despertando do sono, diz Ellen White que os discípulos “contemplam a visão sublime diante deles, [e] são tomados de êxtase e temor” (Ibidem, p. 330).

Recobrando os sentidos, eles contemplam a glória de Deus e conseguem captar parte do que o bendito Jesus havia planejado para eles. Eles teriam sido beneficiados muito mais, naquela ocasião, se não tivessem sido cegados pela fadiga física!

Quando nos envolvemos de tal maneira em nossos deveres terrenos, quando ficamos estressados pelos cuidados do dia-a-dia, em nossa sonolência espiritual, Deus escolhe momentos para nos abrir os olhos para as realidades celestiais. A exemplo dos discípulos, Ele nos desperta para a luz de Sua glória.

Cegados pela desesperança – “E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando Ele o pão, abençoouo e, tendo-o partido, lhes deu; então se lhes abriram os olhos, e O reconheceram; mas Ele desapareceu da presença deles” (Lc 24:30 e 31).

Dois dos discípulos de Jesus estavam desesperançados acerca de Jesus, Sua mensagem e a igreja. Deixando Jerusalém atrás de si, estavam cegados ao voltar para Emaús. O movimento messiânico havia enfraquecido e se extinguira, como havia acontecido com outros antes dele. Maria e Pedro lhes haviam contado a respeito da tumba vazia, mas eles não podiam compreender que havia ocorrido justamente o maior evento da história cósmica.

Cristo uniu-Se a eles na jornada e procurou confortá-los. Queria que Seus ensinamentos lhes evocasse a memória para que O reconhecessem. Mas eles estavam tremendamente cegados pela desesperança. Ao chegarem em casa, Cristo permaneceu com eles. Ele mesmo deu graças e partiu o pão. Então, repentinamente aconteceu: eles reconheceram o Salvador! Subitamente como havia surgido, Jesus desapareceu. A cegueira espiritual dos discípulos, entretanto, foi curada. Tinham visto o Cristo ressurreto!

A desesperança havia desaparecido diante da glória de Deus. Revigorados, eles não mais sentiam fome. Deixaram tudo; voltaram para Jerusalém fazendo um retorno em U para a mensagem, para a igreja, para a comunhão com os apóstolos.

Em nossa vida, há ocasiões em que somos rodeados pelo desânimo, pela desesperança. Em nosso desvalimento podemos até receber lampejos de atos dos crentes fiéis. Nesses momentos, seremos tentados a voltar as costas para Deus e para a igreja. Porém, jamais devemos nos esquecer da última promessa que Cristo fez aos Seus seguidores, antes de ascender ao Céu: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28:20).

Abre meus olhos – Hoje, nos vangloriamos de nossa inteligência, porém nossa percepção espiritual é necessária a fim de que compreendamos adequadamente os eventos que nos circundam. O apóstolo Paulo escreveu que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4:4).

Cegueira espiritual, entretanto, não se limita apenas aos descrentes. Atualmente, há muitos que professam o nome de Jesus e ainda são incapazes de ver a manifestação de Seu poder em sua vida. Diagnosticando a raiz da cegueira, Paulo disse que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2:14). Sem o discernimento espiritual, não podemos ver a beleza da glória de Deus mais que uma pessoa daltônica pode apreciar a beleza do arco-íris.

Outro alerta importante encontramos em Apocalipse 3:14-22. A mensagem de Jesus aos cristãos em Laodiceia é uma impressionante acusação, e é aplicável ao povo de Deus no tempo presente. A igreja de Laodiceia simboliza a situação espiritual da igreja de Deus perto do fim da história da Terra. Vejamos o que Ellen White diz: "Que maior ilusão pode sobrevir ao espírito humano que a confiança de se acharem justos, quando estão totalmente errados! A mensagem da Testemunha Verdadeira encontra o povo de Deus em triste engano, todavia sinceros em seu engano. Não sabem que sua condição é deplorável aos olhos de Deus. Ao passo que aqueles a quem se dirige se lisonjeiam de achar-se em exaltada condição espiritual, a mensagem da Testemunha Verdadeira derriba-lhes a segurança, com a assustadora acusação de seu verdadeiro estado de cegueira espiritual. Foi-me mostrado que a maior causa de o povo de Deus se achar agora nesse estado de cegueira espiritual é o não receberem a correção. Muitos têm desprezado as reprovações e advertências que lhes foram feitas. A Testemunha Verdadeira condena o estado morno do povo de Deus, o qual dá a Satanás grande poder sobre eles, neste tempo de espera e vigilância" (Testemunhos Seletos, vol. 1, pp. 327-333).

A perda da visão espiritual também afeta os líderes espirituais. Em Seus dias, Cristo advertiu contra os perigos de seguir os guias espirituais cegos: “Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco” (Mt 15:14).

Se realmente quisermos enxergar as dimensões espirituais anteriormente invisíveis para nós, devemos pedir que Jesus nos abra os olhos. Então, responderemos como fez o cego que Jesus curou: “Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo” (Jo 9:25).

Daniel L. Honore (via Revista Adventista)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

CONSOLADOR X ACUSADOR

"E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco" (João 14:16).

Há um contraste muito forte na Bíblia entre os nomes e papéis do Espírito Santo e de Satanás. Eles trabalham intensamente pelo coração humano, mas com objetivos completamente diferentes.

Consolador é uma das formas mais impactantes como o Espírito Santo é chamado. Esse termo é a tradução de uma expressão grega que se refere a alguém chamado para auxiliar como conselheiro, intercessor, mediador ou como advogado no tribunal. João chama o Espírito Santo dessa maneira quatro vezes em seu evangelho, e uma, em sua primeira epístola.

Ao referir-se ao inimigo, João usa o termo acusador (Ap 12:10). Aliás, essa é uma das principais funções de Satanás. Por isso, esse nome o retrata muito bem.

Nossas atitudes sempre demonstram qual desses poderes controla nossa vida. Infelizmente tem gente que confunde as coisas e age como acusador, dizendo ser usado pelo Consolador. Alguns chegam às igrejas com aparência de piedade; criticam a organização e a liderança sem fundamento ou espírito cristão, apresentam uma “nova mensagem”; têm um discurso unilateral, falando de um ou dois pontos doutrinários de forma insistente, ou aproveitam para semear dúvida na mente das pessoas.

A história do povo de Deus mostra que sempre houve esse tipo de pessoas. Qual foi o resultado? Crises, agitação, divisão, dor e apostasia. Isso vem do Consolador? Com certeza, não. No fim, esses movimentos ficam pelo caminho. Seus líderes desaparecem e abandonam seus seguidores, muitos dos quais não conseguem se refazer espiritualmente.

A Igreja, porém, avança firme. Mesmo frágil e defeituosa, ela é mantida pelo Senhor. No entanto, quanto mais perto da volta de Cristo, mais fortes, frequentes e insistentes serão esses movimentos. Essa é uma terrível estratégia do inimigo. Ellen White adverte: “Se Satanás não consegue prender as pessoas no gelo da indiferença, ele procurará impeli-las para o fogo do fanatismo” (Mente Caráter e Personalidade, v. 1, p. 38). A falta de equilíbrio sempre demonstra falta de Deus.

Nestes últimos dias, precisamos nos unir ao redor da verdade e da missão, mas sempre no espírito do Consolador e não usando as armas do acusador.

[via CPB - Ilustração Fusion Print]

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

NASCIDO DUAS VEZES

"Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Salmo 30:5).

William James, em seu clássico The Varieties of Religious Experience (As Variedades da Experiência Religiosa), aplica a metáfora dos dois nascimentos para pessoas religiosas. Os que nascem “uma vez” são pessoas que atravessam a vida sem nunca experimentar complicações em sua fé. Eles podem ter dificuldades financeiras, desapontamentos, mas nunca atravessam tempos que realmente parecem contradizer sua experiência religiosa. A compreensão que eles têm de Deus, quando chegam à velhice, não é diferente do que aprenderam sobre Ele na infância.

Para James, os “nascidos duas vezes” são pessoas que atravessam enormes crises, chegando mesmo a perder a fé para então recuperá-la. E a nova fé é muito diferente daquela que foi perdida. Em vez de experimentarem apenas dias de céu azul, algumas vezes o Sol parece lutar para sair da tempestade, embora sempre consiga reaparecer. Deus, conforme eles apresentam, parece mais real. Ele não é simplesmente o “paizão” que sempre mantém os filhos “seguros e secos”. Ao contrário, Deus os capacita a prosseguir através da noite escura de um mundo perigoso. Esses são como um osso que quebra e depois de curado é mais forte no lugar em que se partiu. A fé manifestada por eles é mais forte do que antes, porque em algum momento aprenderam que podem depender de Deus e assim sobreviver às perdas e tragédias. Depois das desilusões, a fé é mais forte porque testemunhou que muito de sua antiga confiança eram apenas deuses falsos.

Imagino que os salmos foram escritos por pessoas que tiveram que lutar para descobrir onde Deus estava escondido na vida delas, e não por aqueles para quem Deus era muito óbvio. Presente, mas não óbvio. O salmo 30 é um exemplo disso. Atribuído a Davi, ele foi escrito por alguém recuperado de séria enfermidade, alguém liberto de um fosso de opressão, cercado de inimigos por todos os lados. Ele vai ao templo não como o adorador superficial, acostumado a repetir suas frases mecânicas. Ele, que se julgava inabalável (v. 6), descobriu que a caminhada com Deus não é um passeio no parque. Em tempos de grande tribulação, ele perdeu a fé simplória, substituindo-a por uma compreensão profunda de Deus, que aqui se revela em louvor e agradecimento. Ele aprendeu que o choro não dura para sempre. A alegria, cedo ou tarde, triunfa.

Amin Rodor (via Encontros com Deus)

"As provações da vida são obreiras de Deus, para remover de nosso caráter impurezas e arestas. Penoso é o processo de cortar, desbastar, aparelhar, lustrar, polir; é molesto estar, por força, sob a ação da pedra de polimento. Mas a pedra é depois apresentada pronta para ocupar seu lugar no templo celestial. O Mestre não efetua trabalho assim cuidadoso e completo com material imprestável. Só as Suas pedras preciosas são polidas, como colunas de um palácio. O Senhor trabalhará por todos os que nEle puseram sua confiança. Preciosas vitórias serão alcançadas pelos fiéis, inestimáveis lições aprendidas e realizadas valiosas experiências" (Ellen G. White - O Maior Discurso de Cristo, p. 10, 11).

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

INDIFERENTE

Outro dia li um trecho interessante do diário de salomão: "O que tapa o ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido" (Provérbios 21:13). Não sei porque, mas me veio à mente a palavra indiferença. Para mim, tapar o ouvido ao grito de quem precisa de alguma coisa é uma descrição muito boa para indiferença. E como nós estamos familiarizados com ela. Quem nunca foi tratado ou nunca tratou alguém com indiferença que atire a primeira pedra...

E como são comuns as situações em que as pessoas se afastam umas das outras por mal-entendidos, diferenças de opinião, inveja, receio, etc. e começam a se ver de maneira indiferente. Indiferença... essa para mim é a pior espécie. Viver como se a existência de outrem não fizesse a mínima diferença para você. Isso é muito perigoso. Amanhã você pode estar gritando por ajuda. Para dizer bem a verdade, eu creio que a própria indiferença já seja um grito. A indiferença é o comentário mais desesperado de todos. É o grito de quem quer convencer que pode fazer falta na vida do outro e que a ausência desse outro não dói. É o grito de quem quer atrair a atenção. É o grito de quem se sente inseguro. É um grito covarde. Mas é um grito silente.

Talvez olhando para sua vida você encontre algum grito assim. Se existe algo mal resolvido entre você e alguém - um amigo, um vizinho, um parente ou até mesmo um estranho - não se esconda atrás da indiferença. Procure a tal pessoa e simplesmente converse. Seja sincero. A indiferença é uma doença que corrói o coração.

Amanhã é sábado e esse é um dia diferente. É um dia certo para repensar as relações e clarear os cantos escuros da vida. O sábado é o dia do perdão. Ande pela vida de bem com Deus e com as pessoas a sua volta.

E descanse.

quinta-feira, 28 de novembro de 2024

DORES

É como se meus olhos pudessem ver os territórios da minha alma sendo invadidos pela dor.

Sinto dores que há muito não sentia. Daquelas que ameaçam o orgulho, a verdade e o plano. Dores que desmantelam a lógica, o tempo e a regra.

Eu que ergui muros altos, que cerquei de cuidados os limites encantados da emoção. Eu que conheço os danos da invasão, o drama e o estrago da rendição. Eu que sou forte, sinto dores. Eu que calei o coro dos valentes, silencio diante do sussurro das dores.

Eu que inventei a analgia, sinto. Eu que entreguei os remédios em troca de vacina, experimento a sina de quem inevitavelmente sente.

Sinto dores.

E sentindo entendi que nessa vida não há beleza livre da dor. Não há sentido inviolável, nem sentimento invariável. É sentindo que se lembra que é com dores o nascimento, com dores o crescimento. É com dores que se ganha e que se perde. É com dores que se paga. É com dores que se espera.

Dor é a herança confusa de quem ainda vive essa vida pequena. É o sintoma da doença. É a sentença da escolha. É algoz e é vigia. Em vez de atestar a ausência do bem, é a prova do efeito do mal. Sem dor não haveria salvação.

Sinto, logo dói.


"Que maravilhoso pensamento este, de que Jesus tudo sabe acerca das dores e aflições que sofremos! Em todas as nossas aflições foi Ele aflito. [...] Quem pode compreender a dor que sofro senão Aquele que é angustiado em todas as nossas angústias? A quem poderei falar senão Àquele que Se compadece de nossas enfermidades, e que sabe socorrer os que são tentados? Meu coração se dilata para Jesus, em amorosa confiança. Ele sabe o que é melhor para mim" (Ellen G. White - Mensagens Escolhidas 2, p. 237-239).

"Cada alma é tão perfeitamente conhecida a Jesus, como se fora ela a única por quem o Salvador houvesse morrido. As dores de cada uma Lhe tocam o coração. O grito de socorro chega-Lhe ao ouvido" (O Desejado de Todas as Nações, p. 339).

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

OS EVANGELHOS EM ORDEM CRONOLÓGICA

Se os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) fossem um livro só, em ordem cronológica dos 179 eventos, seria assim:

001. Lucas 1:1-4
002. João 1:1-18
003. Mateus 1:1-17 / Lucas 3:23-38
004. Lucas 1:5-25
005. Lucas 1:26-38
006. Lucas 1:39-56
007. Lucas 1:57-80
008. Mateus 1:18-25
009. Lucas 2:1-7
010. Lucas 2:8-20
011. Lucas 2:21
012. Lucas 2:22-38
013. Mateus 2:1-12
014. Mateus 2:13-18
015. Mateus 2:19-23 / Lucas 2:39-40
016. Lucas 2:41-50
017. Lucas 2:51-52
018. Mateus 3:1-12 / Marcos 1:1-8 / Lucas 3:1-18
019. Mateus 3:13-17 / Marcos 1:9-11 / Lucas 3:21-22
020. Mateus 4:1-11 / Marcos 1:12-13 / Lucas 4:1-13
021. João 1:19-34
022. João 1:35-51
023. João 2:1-12
024. João 2:13-25
025. João 3:1-21
026. João 3:22-36
027. João 4:1-42
028. João 4:43-54
029. Mateus 14:3-5 / Lucas 3:19-20
030. João 5:1-15
031. João 5:16-47
032. Mateus 4:12 / Marcos 1:14-15 / Lucas 4:14-15
033. Lucas 4:16-30
034. Mateus 4:13-17 / Lucas 4:31
035. Mateus 4:18-22 / Marcos 1:16-20 / Lucas 5:1-11
036. Marcos 1:21-28 / Lucas 4:32-37
037. Mateus 8:14-17 / Marcos 1:29-34 / Lucas 4:38-41
038. Mateus 4:23-25 / Marcos 1:35-39 / Lucas 4:42-44
039. Mateus 8:1-4 / Marcos 1:40-45 / Lucas 5:12-16
040. Mateus 9:2-8 / Marcos 2:1-12 / Lucas 5:17-26
041. Mateus 9:9 / Marcos 2:13-14 / Lucas 5:27-28
042. Mateus 12:1-8 / Marcos 2:23-28 / Lucas 6:1-5
043. Mateus 12:9-14 / Marcos 3:1-6 / Lucas 6:6-11
044. Mateus 12:15-21 / Marcos 3:7-12
045. Marcos 3:13-19 / Lucas 6:12-16
046. Mateus 5:1-48 + 6:1-34 + 7:1-29 / Lucas 6:17-49
047. Mateus 8:5-13 / Lucas 7:1-10
048. Mateus 9:27-31
049. Mateus 9:32-34
050. Mateus 9:35 / Lucas 8:1-3
051. Lucas 7:11-17
052. Mateus 12:22-45 / Marcos 3:20-30 / Lucas 11:14-32
053. Mateus 12:46-50 / Marcos 3:31-35 / Lucas 8:19-21
054. Mateus 13:1-52 / Marcos 4:1-34 / Lucas 8:4-18
055. Mateus 8:19-22
056. Mateus 8:18 e 23-27 / Marcos 4:35-41 / Lucas 8:22-25
057. Mateus 8:28-34 + 9:1 / Marcos 5:1-20 / Lucas 8:26-39
058. Mateus 9:10-13 / Marcos 2:15-17 / Lucas 5:29-32
059. Mateus 9:14-17 / Marcos 2:18-22 / Lucas 5:33-39
060. Mateus 9:18-26 / Marcos 5:21-43 / Lucas 8:40-56
061. Mateus 11:2-6 / Lucas 7:18-23
062. Mateus 11:7-30 / Lucas 7:24-35
063. Mateus 9:36-38 + 10:1-42 + 11:1 / Marcos 6:7-13 / Lucas 9:1-6
064. Mateus 13:53-58 / Marcos 6:1-6
065. Mateus 14:1-12 / Marcos 6:14-29 / Lucas 9:7-9
066. Mateus 14:13-21 / Marcos 6:30-44 / Lucas 9:10-17 / João 6:1-14
067. Mateus 14:22-36 / Marcos 6:45-56 / João 6:15-24
068. João 6:25-71 + 7:1
069. Mateus 15:1-20 / Marcos 7:1-23
070. Mateus 15:21-28 / Marcos 7:24-30
071. Mateus 15:29-31 / Marcos 7:31-37
072. Mateus 15:32-39 / Marcos 8:1-10
073. Mateus 16:1-12 / Marcos 8:11-21
074. Marcos 8:22-26
075. Mateus 16:13-28 / Marcos 8:27-38 + 9:1 / Lucas 9:18-27
076. Mateus 17:22-23 / Marcos 9:30-32 / Lucas 9:43b-45
077. Mateus 18:1-35 / Marcos 9:33-50 / Lucas 9:46-50
078. Mateus 17:1-13 / Marcos 9:2-13 / Lucas 9:28-36
079. Mateus 17:14-21 / Marcos 9:14-29 / Lucas 9:37-43a
080. Mateus 17:24-27
081. João 7:2-13
082. João 7:14-52
083. João 7:53 + 8:1-11
084. João 8:12-30
085. João 8:31-59
086. João 9:1-41
087. João 10:1-21
088. Mateus 19:1-2 / Marcos 10:1 / Lucas 9:51-56
089. Lucas 9:57-62
090. Lucas 10:1-24
091. Lucas 10:25-37
092. Lucas 10:38-42
093. João 10:22-42
094. Lucas 11:1-13
095. Lucas 11:33-36
096. Lucas 11:37-54
097. Lucas 12:1-12
098. Lucas 12:13-34
099. Lucas 12:35-59
100. Lucas 13:1-9
101. Lucas 13:10-17
102. Lucas 13:18-30
103. Lucas 13:31-35
104. Lucas 14:1-15
105. Lucas 14:16-24
106. Lucas 14:25-35
107. Lucas 15:1-7
108. Lucas 15:8-10
109. Lucas 15:11-32
110. Lucas 16:1-17
111. Lucas 16:19-31
112. Lucas 17:1-10
113. João 11:1-45
114. João 11:46-57
115. Lucas 17:11-19
116. Lucas 17:20-37
117. Lucas 18:1-8
118. Lucas 18:9-14
119. Mateus 19:3-12 / Marcos 10:2-12 / Lucas 16:18
120. Mateus 19:13-15 / Marcos 10:13-16 / Lucas 18:15-17
121. Mateus 19:16-30 / Marcos 10:17-31 / Lucas 18:18-30
122. Mateus 20:1-16
123. Mateus 20:17-19 / Marcos 10:32-34 / Lucas 18:31-34
124. Mateus 20:20-28 / Marcos 10:35-45
125. Mateus 20:29-34 / Marcos 10:46-52 / Lucas 18:35-43
126. Lucas 19:1-10
127. Lucas 19:11-28
128. Mateus 26:6-13 / Marcos 14:3-9 / Lucas 7:36-50 / João 12:1-8
129. Mateus 26:1-5 + 26:14-16 / Marcos 14:1-2 + 14:10-11 / Lucas 22:1-6 / João 12:9-11
130. Mateus 21:1-11 / Marcos 11:1-11 / Lucas 19:29-44 / João 12:12-19
131. Mateus 21:18-22 / Marcos 11:12-14 + 11:20-26
132. Mateus 21:12-17 / Marcos 11:15-19 / Lucas 19:45-48
133. Mateus 21:23-27 / Marcos 11:27-33 / Lucas 20:1-8
134. Mateus 21:28-32
135. Mateus 21:33-46 / Marcos 12:1-12 / Lucas 20:9-19
136. Mateus 22:1-14
137. Mateus 22:15-22 / Marcos 12:13-17 / Lucas 20:20-26
138. Mateus 22:23-33 / Marcos 12:18-27 / Lucas 20:27-40
139. Mateus 22:34-40 / Marcos 12:28-34
140. Mateus 22:41-46 / Marcos 12:35-37 / Lucas 20:41-44
141. Mateus 23:1-39 / Marcos 12:38-40 / Lucas 20:45-47
142. Marcos 12:41-44 / Lucas 21:1-4
143. João 12:20-36
144. João 12:37-50
145. Mateus 24:1-51 / Marcos 13:1-37 / Lucas 21:5-38
146. Mateus 25:1-13
147. Mateus 25:14-30
148. Mateus 25:31-46
149. Mateus 26:17-19 / Marcos 14:12-16 / Lucas 22:7-13
150. Mateus 26:20 / Marcos 14:17-18a / Lucas 22:14-16
151. Lucas 22:24-30 / João 13:1-20
152. Mateus 26:26-29 / Marcos 14:22-25 / Lucas 22:17-20
153. Mateus 26:21-25 / Marcos 14:18b-21 / Lucas 22:21-23 / João 13:21-30
154. João 13:31-38 + 14:1-31
155. Mateus 26:30 / Marcos 14:26 / Lucas 22:39
156. Mateus 26:31-35 / Marcos 14:27-31 / Lucas 22:31-38 / João 13:38
157. João 15:1-17
158. João 15:18-27 + 16:1-4
159. João 16:5-33
160. João 17:1-26
161. Mateus 26:36-56 / Marcos 14:32-52 / Lucas 22:40-53 / João 18:1-12
162. João 18:13-14 + 18:19-24
163. Mateus 26:57-75 / Marcos 14:53-72 / Lucas 22:54-65 / João 18:15-18 + 18:25-27
164. Mateus 27:1 / Marcos 15:1 / Lucas 22:66-71
165. Mateus 27:3-10
166. Mateus 27:2 + 27:11-14 / Marcos 15:2-5 / Lucas 23:1-7 / João 18:28-38
167. Lucas 23:8-12
168. Mateus 27:15-30 / Marcos 15:6-19 / Lucas 23:13-25 / João 18:39-40 + 19:1-16
169. Mateus 27:31-56 / Marcos 15:20-41 / Lucas 23:26-49 / João 19:17-37
170. Mateus 27:57-61 / Marcos 15:42-47 / Lucas 23:50-56 / João 19:38-42
171. Mateus 27:62-66
172. Mateus 28:1-15 / Marcos 16:1-11 / Lucas 24:1-12 / João 20:1-18
173. Marcos 16:12-13 / Lucas 24:13-35
174. Lucas 24:36-43 / João 20:19-23
175. Marcos 16:14 / João 20:24-29
176. João 21:1-23
177. Mateus 28:16-20 / Marcos 16:15-18 / Lucas 24:44-49
178. Marcos 16:19-20 / Lucas 24:50-53
179. João 20:30-31 + 21:24-25

[via Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 5, pp. 196 a 199 – Índice da Harmonia dos Evangelhos]

terça-feira, 26 de novembro de 2024

O QUE SIGNIFICA ESTAR CHEIO DO ESPÍRITO SANTO?

Vou limitar meus comentários ao uso da frase “cheio do Espírito Santo”, que é usada somente no Evangelho de Lucas e no livro de Atos. O verbo grego é pimplēmi (“encher”, “tornar cheio”), mas também encontramos o adjetivo plērēs (“cheio”) associado com o Espírito. O verbo é usado no sentido literal (Lucas 1:23; 5:7), mas nos concentraremos no uso metafórico do verbo.

1. Cheio de emoções. Os seres humanos são criaturas emocionais e suas emoções podem tomar conta deles. Após ouvir Jesus, as pessoas em Nazaré “ficaram furiosas” (“Todos […] se encheram de ira” [thumos], Lucas 4:28), e tentaram matá-Lo. Jesus havia curado um homem durante o sábado e os líderes judeus “ficaram furiosos” (“eles se encheram de furor” [anoia], Lucas 6:11), e começaram planejar o que iriam fazer com Ele. Eles também viram o trabalho dos discípulos e ficaram “cheios de ciúmes” (“inveja” [zēlos] acompanhado por hostilidade, Atos 5:17 e 13:45) e O prenderam. Em Éfeso eclodiu uma revolta e “a cidade toda estava em tumulto” (“tomada de confusão”, Atos 19:29).

Em outros momentos, as pessoas ficavam cheias de boas emoções. Jesus curou um paralítico e “todos ficaram atônitos” (“possuídos de temor” ou medo reverente [phobos]; Lucas 5:26). Pedro curou um mendigo aleijado e as pessoas “se encheram de admiração” [thamboia] e ficaram impressionadas (“assombradas” [ekstasis], Atos 3:10).

Esses exemplos sugerem que, quando as pessoas estão cheias de emoção, essa as controla e as leva a determinadas ações. O estímulo vem do exterior e modifica seu estado interior e o comportamento externo. Com exceção do tumulto em Éfeso, as diferentes emoções foram provocadas pela proclamação da mensagem de Jesus e Seus discípulos. O evangelho de Cristo tem o poder de preencher a vida interior com o que é bom, mas, ao ser rejeitado, o ser humano revela somente hostilidade e emoções de autodestruição. Reações de grande admiração e perplexidade mantêm a porta aberta para a pessoa ser preenchida (ou cheia) pelo Espírito.

2. Cheios do Espírito. Foi dito a Zacarias que seu filho, João Batista, seria “cheio do Espírito Santo, já do ventre materno”(Lucas 1:15), expressando ideias de eleição, direção e serviço. Isabel viu Maria, e, “cheia do Espírito Santo” (Lucas 1:41), reconheceu que era o Messias que estava em seu ventre. Zacarias e Paulo profetizaram quando eles ficaram cheios do Espírito (Lucas 1:67; Atos 13:9). No Pentecostes, os discípulos foram capacitados a falar em diferentes línguas (Atos 2:4); e, daquele momento em diante, cheios do Espírito, eles falavam de Jesus com ousadia (Atos 4:8; 4:31; 9:17-22). A igreja era um local espiritual no qual o Espírito estava ativo, enchendo o lugar com Sua presença.

3. Significado de estar cheio do Espírito. Resumindo: Primeiro, os seres humanos são seres emocionais, de modo que Satanás está predisposto a lhes encher o coração com más emoções (Atos 5:3; 13:9). Essas emoções governam os seres humanos e os induzem a praticar maldade e obras opostas às do Senhor. Por meio de suas ações, seu caráter e disposição são revelados. Segundo, o Senhor quer encher nosso ser interior com a presença e o poder do Espírito que é concedido àqueles que conhecem a Cristo como seu Salvador. Terceiro, a presença do Espírito Santo em nós nos transforma, nos torna pessoas melhores e fortalece nossa fé (Atos 11:24). Com Ele, obtemos sabedoria divina e discernimento espiritual que nos permite reconhecer a atividade de Deus (Atos 6:3; 7:57). Quarto, a presença do Espírito em nossa vida é visível por meio de vidas transformadas e de serviço para Deus e pelos outros. Quinto, o Espírito Santo capacita os seguidores de Cristo a testemunhar e a fazer algo para o Senhor. Nem todos são profetas, porque a unção do Espírito é de acordo com Sua vontade para cada um. Sexto, estar cheio do Espírito não implica necessariamente milagres. Esse elemento está presente, mas é subserviente à missão da igreja. Paulo foi um homem cheio do Espírito, no entanto o seu testemunho não foi acompanhado por manifestação sobrenatural. O Espírito Santo o preparou e capacitou para pregar com poder o evangelho (Atos 9:17-22). Curas e sinais acrescentaram alguma eficácia ao que foi a manifestação mais importante de ser cheio do Espírito – ser guiado pelo Espírito e cumprir a missão da igreja (Atos 4:29-31).

Ángel Manuel Rodríguez (Adventist World)

"Toda a vossa mente e coração devem ficar imbuídos da verdade, para que possais ser representantes vivos de Cristo. Deus quer que estejais cheios do Espírito Santo, revestidos do poder celestial. Trabalhai, não para tornar-vos grandes homens; mas, antes, para tornar-vos homens bons e perfeitos, para que anuncieis as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz" (Ellen G. White - The Review and Herald, 3 de Dezembro de 1889).

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

O QUE É O REINO DE DEUS?

"Muitos virão do Leste e do Oeste, do Norte e do Sul e vão sentar-se à mesa no Reino de Deus" (Lucas 13:29).

O reino de Deus é um tema importante e uma prioridade significativa nos ensinos de Jesus. A frase ocorre quase 50 vezes em Mateus, 16 vezes em Marcos, cerca de 40 vezes em Lucas, e três vezes em João. Onde quer que apareça – seja na oração do Senhor, no Sermão do Monte ou nos outros ensinos e parábolas de Cristo – o reino de Deus é uma expressão do que Deus fez pela raça humana na História ao lidar com o problema do pecado e dar uma conclusão decisiva ao grande conflito com Satanás.

O reino de Deus é diferente de qualquer reino que o mundo já tenha conhecido, e é por isso que ele não é um reino terreno. Diz Ellen G. White: “O reino de Deus não vem com aparência exterior. Vem mediante a suavidade da inspiração de Sua Palavra, pela operação interior de Seu Espírito, a comunhão da alma com Aquele que é sua vida. A maior manifestação de Seu poder se observa na natureza humana levada à perfeição do caráter de Cristo” (A Ciência do Bom Viver, p. 36).

Características do reino de Deus
Os evangelhos estão repletos de referências ao reino de Deus, sendo que todas elas atestam, cumulativamente, que foi inaugurada uma nova ordem em Jesus e por meio dEle.

"Então, Ele os ensinou: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome; venha o Teu reino" (Lucas 11:2). 

Esta passagem ensina que devemos desejar a vinda do reino de Deus e por ela orar. O reino é de Deus, o que significa que ele está acima de ações morais humanas, ou seja, ele não é um sistema ético, mas um reino centralizado na ação do próprio Deus em favor dos seres humanos. Não é um evangelho social que proclama pão e água para os famintos ou igualdade e justiça para os politicamente oprimidos. Ele transcende toda bondade e ação moral humana, e se centraliza na atividade soberana de Deus no Filho encarnado, que veio pregar as boas-novas do reino (Lc 4:42-44; Mt 4:23-25).

"Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, Seu pai; Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o Seu reinado não terá fim" (Lucas 1:32, 33).

Esta passagem é de máxima importância por duas razões: primeira, o Messias esperando no Antigo Testamento não é outro senão Jesus, "o Filho do Altíssimo"; segunda, "Seu reinado não terá fim". Isso significa que, pela Sua encarnação, morte e ressurreição, Jesus venceu o desafio de Satanás à soberania divina e estabeleceu eternamente o reino de Deus. 

“O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11:15). 

No conflito entre Cristo e Satanás, o inimigo reivindicou vitória após a queda de Adão e Eva. Mas a missão de Jesus provou a falsidade das reivindicações dele; Cristo o derrotou em todas as batalhas, e com Sua morte e ressurreição assegurou a todo o universo que o reino de Deus chegou.

"Então Jesus chamou as crianças para perto de si e disse: Deixem que as crianças venham a mim e não proíbam que elas façam isso, pois o Reino de Deus é das pessoas que são como estas crianças" (Lucas 18:16). 

A entrada no reino de Deus não depende do status nem da posição da pessoa, ou do fato de alguém possuir riquezas ou não. Lucas, juntamente com outros evangelistas, enfatiza que a pessoa deve ir a Jesus com uma atitude de entrega decidida, de dependência absoluta e de confiança infantil; esses são traços daqueles que entraram no reino de Deus. Eles devem estar dispostos a renunciar a tudo, se necessário; pois alguma coisa à qual não desejassem renunciar seria algo que, em certo sentido, não só competiria com Jesus mas, na realidade, venceria. Jesus e Seus reclamos sobre nossa vida – sobre todos os aspectos de nossa vida – têm prioridade máxima. Afinal, é somente por meio dEle que existimos. Portanto, Ele deve ter nossa total lealdade. 

"Aí ele disse para outro homem: Venha comigo. Mas ele respondeu: Senhor, primeiro deixe que eu volte e sepulte o meu pai" (Lucas 9:59).

Também medite nas palavras de Jesus sobre deixar que os mortos sepultem os mortos. Que verdade importante Ele está expressando sobre não darmos desculpas que nos impeçam de segui-Lo quando vier o chamado, independentemente de quão válidas essas desculpas pareçam ser?

"Jesus respondeu: Eu afirmo a vocês que isto é verdade: aquele que, por causa do Reino de Deus, deixar casa, esposa, irmãos, parentes ou filhos receberá ainda nesta vida muito mais e, no futuro, receberá a vida eterna" (Lucas 18:29, 30).

Ter que deixar os pais, o cônjuge, ou mesmo os filhos pelo reino de Deus? Esse é um compromisso que exige muito! Jesus não está dizendo que esses atos são exigidos de todos, mas que se alguém for chamado a deixar essas coisas por amor ao reino de Deus, vale a pena fazer isso.

O reino de Deus: já, mas ainda não
Jesus veio proclamando o reino de Deus. Em Sua primeira proclamação pública em Nazaré (Lc 4:16-21), Jesus afirmou que, por meio dEle, naquele dia, haviam sido inaugurados o reino e seu ministério de redenção conforme preditos na profecia messiânica de Isaías.

Lucas registrou outra afirmação que atesta a realidade presente do reino. Indagado pelos fariseus quanto ao tempo em que viria o reino de Deus, Jesus respondeu: “O reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17:21). Outras traduções sugerem: “O reino de Deus está entre vocês” (NVI). Quer dizer, com a chegada de Jesus, já chegou o reino com seus componentes, que incluem: cura dos doentes (Lc 9:11), pregação do evangelho (Lc 4:16-19), perdão dos pecados (Lc 7:48-50; 19:9, 10) e subjugação das forças do mal (Lc 11:20). Assim, Jesus fez do reino uma realidade presente dentro da pessoa, transformando-a em alguém semelhante a Ele. 

O reino de Deus também é visto entre a comunidade de cristãos, como uma revelação de justiça e salvação. Esse aspecto presente é também conhecido como “o reino da graça de Deus [que] está sendo agora estabelecido, à medida que corações que têm estado sobrecarregados de pecado e rebelião se rendem à soberania de Seu amor” (O Maior Discurso de Cristo, p. 108).

Enquanto o aspecto do “já” estabeleceu o caráter irreversível do reino, isto é, a derrota do pecado e de Satanás e a vitória de Jesus no grande conflito, o aspecto do “ainda não” está aguardando o fim do mal e o estabelecimento da Nova Terra: “O completo estabelecimento do reino de Sua glória, porém, não ocorrerá senão na segunda vinda de Cristo ao mundo” (Ibid., p. 108).

"Alguns vão dizer a vocês: 'Olhem aqui' ou 'Olhem ali'; porém não saiam para procurá-lo. Porque, assim como o relâmpago brilha de uma ponta do céu até a outra, assim será no dia em que o Filho do Homem vier" (Lucas 17:23, 24). Leia também Lucas 21:5-36.

Esses textos ensinam que o reino de Deus será plenamente estabelecido com a vinda literal, visível e em glória do Filho do Homem. Haverá muitos sinais que anunciarão a proximidade de Sua vinda (falsos cristos, guerras, terremotos, epidemias, fome, perseguição aos cristãos, sinais nos corpos celestes, angústia entre as nações), e devemos perseverar e vigiar a fim de estarmos prontos para esse dia, para que ele não venha sobre nós repentinamente, como um laço.

Nosso mundo, e as condições nele reinantes – tumulto, tristeza e angústia – certamente refletem as palavras que Jesus proferiu aqui. Embora alguns argumentem que a dor e o sofrimento que há neste mundo significam que Deus não existe, poderíamos responder que, em vista da advertência de Jesus cerca de 2 mil anos atrás, a condição de nosso mundo ajuda a provar não só a existência de Deus, mas a veracidade da própria Bíblia. Somente no fim é que o reino de Deus, em toda a sua plenitude, será estabelecido. Até então, temos que perseverar.

O Reino e a segunda vinda de Cristo
Quando Jesus falou sobre o reino de Deus, mencionou duas certezas: (1) a atividade de Deus na História, por meio de Cristo, para salvar do pecado a humanidade, e (2) o fim que Deus dará à História, restaurando os salvos a Seu plano original: que eles vivam com Ele para sempre na Nova Terra (Ap 21:1-3). A primeira, como já dissemos, chegou por meio da missão e do ministério de Cristo. Nele, já estamos no reino da graça (Ef 1:4-9). A segunda parte, a reunião dos santos no reino da glória, é a esperança futura aguardada pelos que estão em Cristo (Ef 1:10; Tt 2:13). Jesus e o restante do Novo Testamento associam esse momento histórico em que os fiéis herdarão o reino da glória à segunda vinda de Cristo.

A segunda vinda de Cristo é a culminação final das boas-novas que Jesus veio proclamar em Sua primeira vinda. O mesmo Jesus que derrotou o pecado e Satanás no Calvário voltará em breve para iniciar o processo que erradicará o mal e purificará a Terra da tragédia que o inimigo infligiu à criação de Deus.

"E Jesus terminou, dizendo: Fiquem alertas! Não deixem que as festas, ou as bebedeiras, ou os problemas desta vida façam vocês ficarem tão ocupados, que aquele dia pegue vocês de surpresa, como se fosse uma armadilha. Pois ele cairá sobre todos no mundo inteiro. Portanto, fiquem vigiando e orem sempre, a fim de poderem escapar de tudo o que vai acontecer e poderem estar de pé na presença do Filho do Homem, quando ele vier" (Lucas 21:34-36).

Aqueles que já experimentaram o reino da graça precisam esperar, vigiar e orar pelo reino da glória. Entre um e outro, entre o “já” e o “ainda não”, os cristãos devem se ocupar com o ministério e a missão, com o viver e o esperar, com seu crescimento e o testemunho. A espera pela segunda vinda de Jesus exige a santificação de nossa vida aqui e agora.

Testemunhas
O reino de Deus era o pensamento principal de Lucas enquanto ele escrevia a continuação de seu evangelho, na forma de uma breve história da igreja primitiva. Nas primeiras linhas desse relato histórico, o livro de Atos, Lucas declara três verdades fundamentais com respeito ao reino de Deus (Leia Atos 1:1-8).

Primeira: tenha a certeza de que Jesus voltará. Durante 40 dias entre Sua ressurreição e Sua ascensão, o Senhor continuou a reforçar o que já havia ensinado aos discípulos antes de Sua crucifixão: as “coisas concernentes ao reino de Deus” (At 1:3). Os grandiosos eventos da cruz e da ressurreição não haviam mudado nada no ensino de Jesus com respeito ao reino; ao contrário, por 40 dias o Cristo ressuscitado continuou a gravar na mente dos discípulos a realidade do reino.

Segunda: esteja esperando que Jesus volte no tempo que Deus julgar apropriado. Após a ressurreição, os discípulos de Jesus fizeram uma pergunta séria e ansiosa: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” (At 1:6). Jesus não respondeu à pergunta, mas corrigiu a perspectiva dos discípulos: Deus sempre será Deus; sondar Sua mente, predizer Seus planos com precisão, penetrar Seus segredos não é tarefa para seres de carne e sangue. Ele sabe quando deve vir o reino da glória, e fará com que isso se realize em Seu próprio tempo (At 1:7; Mt 24:36), assim como, na “plenitude do tempo” (Gl 4:4), Ele enviou Seu Filho para inaugurar o reino da graça.

Terceira: seja uma testemunha do evangelho de Jesus. Cristo fez com que os discípulos volvessem da especulação sobre o desconhecido (o momento em que virá o reino da glória) para aquilo que é conhecido e precisa ser feito. O tempo da segunda vinda de Jesus não é revelado, mas somos chamados a aguardar aquele glorioso dia e a estarmos ativos até então (Lc 19:13). Isso significa que devemos estar envolvidos em levar o evangelho de Jesus Cristo “até aos confins da Terra” (At 1:8). Essa é nossa responsabilidade – não em nossa própria força, mas pelo poder do Espírito Santo, que Jesus prometeu que seria derramado sobre todos os que quisessem ser testemunhas daquilo que viram e ouviram (v. 4-8).

Esses fiéis seguidores de Jesus ainda tinham concepções muito errôneas sobre a natureza da obra de Cristo. Contudo, mesmo assim o Senhor os estava usando. Que mensagem pode haver aqui para nós sobre o fato de não precisarmos compreender tudo plenamente antes de sermos usados por Deus?

Concluimos com estes dois pensamentos de Ellen G. White:

“A insígnia do reino do Messias distingue-se pela imagem do Filho do Homem. Seus súditos são os humildes de espírito, os mansos, os perseguidos por causa da justiça. Deles é o reino dos Céus” (O Maior Discurso de Cristo, p. 8).

“Achamo-nos agora na oficina de Deus. Muitos de nós somos pedras rústicas da pedreira. Ao apoderar-nos, porém, da verdade de Deus, sua influência nos afeta, eleva-nos e tira de nós toda imperfeição e pecado, seja de que natureza for. Assim estamos preparados para ver o Rei em Sua beleza, e unir-nos afinal com os puros anjos celestes no reino da glória. É aqui que essa obra tem que ser efetuada por nós; é aqui que nosso corpo e espírito devem ser habilitados para a imortalidade” (Testemunhos Para a Igreja, v. 2, p. 355, 356).

Ilustração: Tal é o Reino de Deus é uma pintura de Daniel Bonnell que foi publicada em 27 de abril de 2020.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O MODO BÍBLICO DE ESCOLHER OS PRESENTES DE NATAL

Que título estranho tem este post. Existe mesmo um “modo bíblico de escolher os presentes que daremos de Natal”? A meu ver, sim. Mas, antes de ir direto ao ponto, deixe-me contar como cheguei a essa conclusão. No final de outubro, fui almoçar no shopping e fiquei impressionado: já havia uma gigantesca árvore de Natal montada no vão central do prédio, que ia do chão ao teto, cercada por montes de robozinhos animados, renas, esquilos, vegetação de plástico, muitas luzes piscantes e bolas coloridas. Não havia dúvida: o Natal estava chegando. Bem… mais ou menos, né? Afinal, ainda era outubro e faltavam dois meses para à época de festas. Mas o comércio já tinha decidido: estava dada a largada para a temporada de compras de presentes. 

Eu me senti inclinado a escrever um texto falando mal do consumismo, da exploração materialista e das deturpações que a sociedade faz da celebração do nascimento de nosso Senhor. Mas pensei um pouco e lembrei que anualmente batemos nessa tecla, sem que nada mude: cristãos e não cristãos continuam gastando uma fortuna em compras natalinas. Então resolvi compartilhar outra reflexão: já que vamos dar presentes de qualquer maneira, o melhor é pensar como decidir que presentes dar.

O hábito de se presentear no Natal tem influências variadas, dependendo do lugar do mundo em que se está. Mas a origem vem do relato bíblico dos magos que presentearam Jesus com ouro, incenso e mirra. Se formos pensar por esse ângulo, fugirmos da sanha consumista e tratarmos a troca de presentes como algo que remete ao nascimento de Cristo, de modo que não tire o foco das verdadeiras razões da celebração, não vejo mal nessa prática. E como devemos fazê-lo? Aqui segue uma sugestão.

Penso que não devemos entregar os presentes na noite de Natal. Esquisito? Acredite, é totalmente possível fazê-lo um ou mais dias antes ou depois. Com isso, removemos a ideia de que festas natalinas têm a ver com consumismo – em especial no ensino das nossas crianças. Se fizermos assim, elas não crescerão associando Natal a presentes e à figura do Papai Noel, mas também não ficarão de fora do hábito da cultura em que vivem e poderão receber preciosas lições sobre a alegria que é dar. Isto é fundamental: cada presente deve sempre vir acompanhado de instrução e lições de vida. Dependendo da forma como tratarmos esse hábito, ele será visto e compreendido de modo mais cristão ou menos cristão pelos nossos filhos e as demais pessoas. A noite de Natal deve ser momento de orações, de louvores e da comunhão que celebra o nascimento de Jesus (seja num culto, seja numa ceia em família ou entre amigos). O foco não pode estar nos presentes. Tampouco na comida. Muito menos na festa: o foco do Natal é a encarnação do Verbo e tudo deve ser feito com isso em mente. A celebração do Natal deve ser inquestionavelmente cristocêntrica.

E, finalmente, chegamos ao ponto: há algum tipo de pensamento bíblico que devemos ter quanto ao que comprar para dar de presente a nossos amigos e parentes? Sim, há. Se vamos presentear alguém, deve ser por amor a ela; e gestos de amor contêm em si essencialmente a preocupação com o que é melhor para o outro. Em outras palavras, entendo que você não deve presentear alguém com algo de que ela goste, como costumamos fazer. O presente ideal e mais bíblico possível é, isto sim, algo de que a pessoa precisa.

Repare: Deus não entregou Jesus ao mundo de presente porque gostássemos dEle. Pelo contrário, Jesus foi presenteado a uma humanidade que estava morta em seus delitos e pecados e, por isso, amava os prazeres e a maldade. Mas era uma humanidade que precisava desesperadamente do Cordeiro de Deus, que viesse para o que cada ser humano mais precisa: o perdão dos pecados. Assim, o Pai não nos presenteou com algo que satisfizesse nossas concupiscências ou nossos desejos carnais: Ele nos deu aquilo que Ele sabia que nos faria bem.

Na hora de escolher os presentes que você vai comprar para determinada pessoa, imite o Pai: não pense “o que será que ela vai gostar de ganhar?”, mas, sim, “o que será que ela precisa ganhar?”. Se você tiver esse pensamento em mente, estará presenteando como o Pai nos presenteou. E fará do ato de dar presentes algo muito mais cristão.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

"As festas estão chegando rapidamente com sua troca de presentes, e jovens e idosos estão estudando intensamente o que poderão dar a seus amigos como sinal de afetuosa lembrança. É agradável receber um presente, mesmo simples, daqueles a quem amamos. É uma afirmação de que não estamos esquecidos, e parece ligar-nos a eles mais intimamente. Está certo concedermos a outros demonstrações de amor e afeto, se em assim fazendo não esquecemos a Deus, nosso melhor amigo. Devemos dar nossos presentes de tal maneira que se provem um real benefício ao que recebe. Eu recomendaria determinados livros que fossem um auxílio na compreensão da Palavra de Deus ou que aumentem nosso amor por seus preceitos" (Ellen G. White - O Lar Adventista, p. 479).