segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Jovens adventistas ouvem desabafos na Avenida Paulista


Mais uma semana de trabalho estava terminando para M.J.*. Ao final de mais uma jornada na maior cidade da América do Sul, o sentimento de solidão aflora em meio a um metrô lotado. Acompanhada de sua filha ainda criança, observa pessoas mais interessadas em se comunicar com quem está conectado à internet a falar com quem está ao lado.

Após o anúncio de abrir das portas emitido pelo sistema de som do metrô, M.J. desembarca na estação do Brigadeiro, na Avenida Paulista. Em meio a tantas outras pessoas, a sua presença mal é notada. Nem o clima natalino que enfeita a principal avenida paulistana a alegra. O sentimento de frustração pela crise em sua vida – ela tentara suicídio por três vezes nos últimos sete meses – não a deixavam ficar com o espírito natalino.

Andando entre centenas de paulistanos com seu típico ritmo acelerado, sem tempo a perder, M.J. nota um grupo de aproximadamente 10 pessoas com cartazes com os dizeres: “Conte para a gente” e “Precisa desabafar?”. Ainda sem acreditar no que acabara de ver, passa direto pelo grupo. Segundos depois e alguns metros à frente, M.J. dá meia volta e com passos apreensivos vai em direção ao grupo. Chega para uma mulher que estava com um cartaz e pergunta se ela realmente poderia falar sobre problemas pessoais. Após a resposta positiva, M.J. sentou-se em um banco de onde só sairia após quase 1h30, muitas palavras e algumas lágrimas.

Evangelismo para metrópoles
Assim, como M.J., outros 90 paulistanos, em média, desabafam para um grupo de jovens adventistas que se reúnem em frente à escadaria da TV Gazeta, na Avenida Paulista. A ação, que acontece há oito semanas sempre às sextas de noite, tem o objetivo de apresentar Jesus de uma forma inovadora. Durante a conversa, não é mencionado nada sobre religião, a não ser que a pessoa pergunte. “Eu não pensava exatamente em evangelizar as pessoas. A ideia era apenas amar as pessoas. Muita gente não tem com quem conversar. O paulistano geralmente não tem tempo, e dedicar nosso tempo para um desconhecido é uma demonstração de amor. Não tem como a gente amar e as pessoas não verem Deus”, argumenta Seily Custódio, idealizadora da ação que entrega um livro A Grande Esperança para cada pessoa com quem desabafa.


Essa forma indireta de apresentar o amor de Deus ao próximo é uma abordagem contextualizada às metrópoles onde as pessoas têm pouco tempo e interesse para frequentar reuniões evangelísticas. “Essa ação é uma forma de conectarmos pessoas das metrópoles que geralmente enfrentam problemas como solidão, e necessitam compartilhar problemas. Esse contato gera oportunidade para dar prosseguimento com o evangelho junto com os mais receptivos”, explica o pastor Emílio Abdala, líder de evangelismo adventista do Estado de São Paulo.

Ponte de esperança
Logo na primeira mobilização, o receio era grande, porém a surpresa pelo resultado obtido foi maior. Tiago Dias, 26, foi um dos paulistanos que pararam para desabafar na primeira noite do projeto. Ele conta que, após o diálogo que algumas vezes se confundia com um monólogo, se sentia melhor e queria fazer com que outras pessoas passassem pelo mesmo. Foi então que ele pediu para também ouvir as pessoas, proposta que logo foi aceita.

Na semana seguinte, Dias apareceu novamente para tentar ajudar outras pessoas por meio da ação. Em um dos desabafos que ouviu, foi questionado se a ação era de alguma denominação religiosa. “Eu respondi que sim e em seguida perguntei para o pessoal qual era o nome da igreja. Falaram Adventista do Sétimo Dia e eu então indiquei para a menina que me desabafava comigo”, lembra. Ao final da noite, ele recebeu o convite para comparecer no sábado na Igreja localizada na Vila Olímpia, bairro na zona sul de São Paulo. Na manhã seguinte, aquele que uma semana antes era desconhecido participou do culto e até cantou as músicas durante o louvor congregacional. “Eles tem um louvor muito forte, é sensacional”, elogia.

Amor ao próximo
A amizade com os jovens da Vila Olímpia cativou Tiago. “Mudei minha visão sobre religião”, afirma. Segundo ele, tal transformação se deve ao jeito dos ouvintes voluntários demonstrarem o amor de Jesus pelo próximo.

O tratamento recebido em meio à agitação da Avenida Paulista faz com que muitos voltem para falar sobre diversos assuntos que vão desde a falta de compromisso com os estudos até crises existenciais. M. J. é uma que prometeu que voltaria para conversar nesta sexta, 20 de dezembro. Se no primeiro desabafo ela recebeu um livro A Grande Esperança, no segundo ela receberá o convite para ir à Igreja. Assim como M.J., outras pessoas sentirão o carinho de Deus por elas por meio de jovens adventistas que resolveram dedicar tempo em serviço ao próximo. 


*M.J. são as iniciais de um nome fictício dado para a entrevistada que não quis se identificar por questões pessoais.

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