quinta-feira, 10 de abril de 2014

Reportagem do iG ressalta modernidade dos internatos adventistas

Lyssa e William estudam no Unasp
Internato do século 21 tem quarto VIP, academia e Wi-Fi

Adolescentes amuados e amedrontados, professores rígidos e cruéis, muros e portões altos. Praticamente um castigo. Em clássicos como “Jane Eyre” (1847), os colégios internos são lugares assustadores, onde apenas as crianças menos afortunadas vão parar, para sofrer nas mãos de adultos maldosos. Mais de 167 anos depois do lançamento do livro de Charlotte Brontë, a realidade dentro de uma casa de educação é muito diferente: por mensalidades que variam de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil, alunos internos do século 21 têm regalias como quarto VIP com frigobar e ar-condicionado, academia e internet Wi-Fi. 

Nascida em Cuiabá, no Mato Grosso, Jade Cristina Rosa de Almeida, 17, tinha a visão assustadora de um colégio interno quando foi mandada, em meados de 2012, para o FAD-Minas, em Lavras, em Minas Gerais. 

“Fiquei sabendo que viria para cá poucos dias antes, então, no começo, eu sofri muito. Foi um grande susto”, conta a adolescente ao iG. “Sempre tive uma ideia estranha de internato, achei que não podia fazer nada, que ia ficar sozinha.”

A garota demorou um pouco para se habituar à rotina e ao fato de ser monitorada o tempo todo. “Foram seis meses para me acostumar. Chorava todos os dias. No começo, brigava com a minha preceptora, porque, quando você chega, você pode sentir que elas estão querendo mandar em você, ser a sua mãe, mas com o tempo a gente fica muito amigo”, diz Jade. 

O estranhamento inicial foi muito menor para Gabriel Bonanno, 16, estudante do segundo ano do ensino médio também na FAD-Minas. “Sempre estudei em colégio adventista e queria continuar, por isso escolhi vir para o internato”, conta.

Quarto vip do FAD - Minas
O fato de ir por vontade própria não impediu que ele sentisse falta dos pais, que moram em Belo Horizonte. “Mas, com o tempo, você faz logo amizade e acaba se acostumando”. A sorte é que eles estão há apenas um telefonema de distância. “Temos aparelhos nos quartos, então eles podem ligar quando quiserem.”

Os alunos são divididos em quatro por quarto e os banheiros são coletivos. Para aqueles que preferem um conforto a mais, um acréscimo de R$ 100 a R$ 200 na mensalidade garante frigobar, ar-condicionado, TV a cabo e casa de banho privativo à disposição. “Mas não há competição ou divisão, somos todos amigos, independentemente do tipo de quarto”, avisa Lyssa Lima, 16, aluna do segundo ano da Unasp de Engenheiro Coelho, no interior de São Paulo.

O uso do celular também é liberado, assim como o da internet. “Mas tem horários que desligam o wireless para que a gente estude e não fiquemos muito tempo conectados”, diz Gabriel. Porém, mesmo nestes horários, o uso do aparelho não é proibido. “Uso o 3G para conversar com as minhas amigas no WhatsApp. Só na escola que não pode”, esclarece Jade.

Apesar da modernização, o toque de recolher no colégio interno continua a existir: às 22h, as luzes e energia dos quartos são desligadas para que os alunos possam dormir. “A gente puxa uma extensão da tomada do corredor para carregar o celular”, acrescenta Jade.

Se você acorda cheio de preguiça, até pode dar uma desculpa para faltar à escola. “Tem gente que finge que está doente para ficar um pouco mais na cama”, fala Lyssa. A prática, no entanto, pode comprometer os horários de lazer. “Dependendo da quantidade de ausências, você não pode participar das atividades recreativas e nem sair para comer uma pizza”, conta Jade.

Nos horários livres, os alunos podem praticar esportes - “estou até no time de vôlei”, comenta Jade - e ir à academia, uma das atividades prediletas de Gabriel. Para se divertir, organizam piqueniques e roda de violão. Reuniões nos quartos são frequentes, principalmente nas noites de sábado, quando os alunos costumam ter atividades recreativas e as luzes são apagadas meia-hora mais tarde. “Nós estouramos uma pipoca e ficamos conversando com as amigas”, afirma Lyssa.

Segundo William Domiciano, 16, aluno do segundo ano na Unasp de Engenheiro Coelho, os companheiros de internato são a melhor parte de morar dentro da escola. “Como estamos sempre juntos, conhecemos os defeitos de cada um, criamos uma amizade para a vida toda”.

Sempre tão próximos dos colegas, os namoros são inevitáveis, mas, nestes casos, é tudo muito controlado. “Não pode ficar beijando, se pegando dentro do campus. Mas fora do campus pode beijar. Aqui não é proibido namorar, mas não pode ter contato físico”, diz Lyssa.

Como não podem nem mesmo andar de mãos dadas do lado de dentro dos muros, os alunos aproveitam as saídas semanais para as cidades próximas para terem encontros. Foi à espera de uma oportunidade dessas que Jade, que namora há um ano um garoto que conheceu na FAD-Minas, demorou para dar o primeiro beijo. “A gente foi se beijar só depois de um mês que estávamos juntos”, ri. A FAD-Minas e a Unasp são instituições da Igreja Adventista, por isso a proibição, mas apesar de terem que frequentar cultos da religião, os jovens não precisam seguir a mesma doutrina para serem matriculados.

Tantas regras podem até desanimar alguns, mas os quatro adolescentes dizem que morar em um internato, bem longe dos pais, os ensinaram a ser independentes. “Tenho que manter o meu quarto limpo, lavar a minha roupa. Isto me ensinou bastante”, fala Lyssa. “Quando eu sair daqui, vou saber lidar muito melhor com as pessoas”, complementa William.

POR DENTRO DA ROTINA DE UM INTERNO

Fonte: iG Jovem

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