quarta-feira, 31 de março de 2021

NADA A COMEMORAR!

O novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, disse ontem que é preciso celebrar o golpe de Estado de 1964 como um movimento que permitiu “pacificar o país”. Segundo ele, em 1964, o Brasil enfrentava “uma ameaça real para a paz e a democracia”. A declaração consta no texto “Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964”, publicado no site do Ministério da Defesa.

“As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o país, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, escreveu Braga Netto. Segundo o ministro, “o movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil” e, assim, “devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março”.

Nesta quarta-feira, completam-se 57 anos desde que o Congresso Nacional depôs o então presidente João Goulart e uma junta militar assumiu o poder, dando início ao período de ditadura que perduraria por 20 anos no país, até 1985.

A data tem sido celebrada discretamente durante anos em quartéis e clubes militares. No do Rio de Janeiro, o mais emblemático, é tradição um almoço em homenagem à “revolução democrática”. O evento teve de ser cancelado neste ano por conta da pandemia de covid-19.

Em decisão de 17 de março deste ano, o TRF-5 (Tribunal Regional Federal da 5ª Região) concedeu ao Exército o direito de realizar comemorações alusivas ao golpe militar de 1964. A decisão foi uma vitória para o governo Bolsonaro, que pretende realizar atos relacionados à data. Em 2020, o Ministério da Defesa também publicou uma “Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964”. O comunicado divulgado na época dizia que aquele dia era considerado um “marco para a democracia brasileira”.

10 razões para não ter saudades dos tempos da ditadura militar
De 1964 a 1985, o Brasil viveu um dos períodos mais negros de sua história. A democracia foi abolida, o estado de direito deixou de existir. Segue abaixo, dez razões para não ter saudades dos tempos da ditadura:

1. Tortura e ausência de direitos humanos
As torturas e assassinatos foram a marca mais violenta do período da ditadura. Pensar em direitos humanos era apenas um sonho. Havia até um manual de como os militares deveriam torturar para extrair confissões, com práticas como choques, afogamentos e sufocamentos.

Os direitos humanos não prosperavam, já que tudo ocorria nos porões das unidades do Exército.

"As restrições às liberdades e à participação política reduziram a capacidade cidadã de atuar na esfera pública e empobreceram a circulação de ideias no país", diz o diretor-executivo da Anistia Internacional Brasil, Atila Roque. 

Sem os direitos humanos, as torturas contra os opositores ao regime prosperaram. Até hoje a Comissão Nacional de Verdade busca dados e números exatos de vítimas do regime. 

"Os agentes da ditadura perpetraram crimes contra a humanidade --tortura, estupro, assassinato, desaparecimento-- que vitimaram opositores do regime e implantaram um clima de terror que marcou profundamente a geração que viveu o período mais duro do regime militar", afirma. 

Para Roque, o Brasil ainda convive com um legado de "violência e impunidade" deixado pela militarização. "Isso persiste em algumas esferas do Estado, muito especialmente nos campos da justiça e da segurança pública, onde tortura e execuções ainda fazem parte dos problemas graves que enfrentamos", complementa. 

2. Censura e ataque à imprensa 
Uma das marcas mais conhecidas da ditadura foi a censura. Ela atingiu a produção artística e controlou com pulso firme a imprensa. 

Os militares criaram o "Conselho Superior de Censura", que fiscalizava e enviava ao Tribunal da Censura os jornalistas e meios de comunicação que burlassem as regras. Os que não seguissem as regras e ousassem fazer críticas ao país, sofriam retaliação --cunhou-se até o slogan "Brasil, ame-o ou deixe-o." 

Não são raras histórias de jornalistas que viveram problemas no período. "Numa visita do presidente (Ernesto) Geisel a Alagoas, achamos de colocar as manchetes no jornalismo da TV: 'Geisel chega a Maceió; Ratos invadem a Pajuçara'. Telefonaram da polícia para o Pedro Collor [então diretor do grupo] e ele nos chamou na sala dele e tivemos que engolir o afastamento do jornalista Joaquim Alves, que havia feito a matéria dos ratos", conta o jornalista Iremar Marinho, citando que as redações eram visitadas quase que diariamente por policiais federais. 

Para cercear o direito dos jornalistas, foi criada, em 1967, a Lei de Imprensa. Ela previa multas pesadas e até fechamento de veículos e prisão para os profissionais. A lei só foi revogada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2009. 

Muitos jornalistas sofreram processos com base na lei mesmo após a redemocratização. "Fui processado em 1999 porque publiquei declaração de Fulano contra Beltrano. A Lei de Imprensa da Ditadura permitia isso: punir o mensageiro, que é o jornalista", conta o jornalista e blogueiro do UOL, Mário Magalhães. 

3. Amazônia e índios sob risco 
No governo militar, teve início um processo amplo de devastação da Amazônia. O general Castelo Branco disse, certa vez, que era preciso "integrar para não entregar" a Amazônia. A partir dali, começou o desmatamento e muitos dos que se opuseram morreram. 

"Ribeirinhos, índios e quilombolas foram duramente reprimidos tanto ou mais que os moradores das grandes cidades", diz a jornalista paraense e pesquisadora do tema, Helena Palmquist. 

A ideia dos militares era que Amazônia era "terra sem homens", e deveria ser ocupada por "homens sem terra do Nordeste." Obras como as usinas hidrelétricas de Tucuruí e Balbina também não tiveram impactos ambientais ou sociais previamente analisados, nem houve compensação aos moradores que deixaram as áreas alagadas. Até hoje, milhares que saíram para dar lugar às usinas não foram indenizados. 

A luta pela terra foi sangrenta. "Os Panarás, conhecidos como índios gigantes, perderam dois terços de sua população com a construção da BR-163 --que liga Cuiabá a Santarém (PA). Dois mil Waimiri-Atroaris, do Amazonas, foram assassinados e desaparecidos pelo regime militar para as obras da BR-174. Nove aldeias desse povo desapareceram e há relatos de que pelo menos uma foi bombardeada com gás letal por homens do Exército", afirma. 

4. Baixa representação política e sindical 
Um dos primeiros direitos outorgados aos militares na ditadura foi a possibilidade do governo suspender os direitos políticos do cidadão. Em outubro de 1965, o Ato Institucional número 2 acabou com o multipartidarismo e autorizou a existência de apenas dois: a Arena, dos governistas, e o MDB, da oposição. 

O problema é que existiam diversas siglas, que tiveram de ser aglutinadas em um único bloco, o que fragilizou a oposição. "Foi uma camisa-de-força que inibiu, proibiu e dificultou a expressão político-partidária. A oposição ficou muito mal acomodada, e as forças tiveram que conviver com grandes contradições", diz o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, Michael Zaidan. 

As representações sindicais também foram duramente atingidas por serem controladas com pulso forte pelo Ministério do Trabalho. Isso gerou um enfraquecimento dos sindicatos, especialmente na primeira metade do período de repressão. 

"Existiam as leis trabalhistas, mas para que elas sejam cumpridas, com os reajustes, é absolutamente necessário que os sindicatos judicializem, intervenham para que os patrões respeitem. Essas liberdades foram reprimidas à época. Os sindicatos eram compostos mais por agentes do governo que trabalhadores", lembra Zaidan. 

5. Saúde pública fragilizada 
Se a saúde pública hoje está longe do ideal, ela ainda era mais restrita no regime militar. O Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social) era responsável pelo atendimento, com seus hospitais, mas era exclusivo aos trabalhadores formais. 

"A imensa maioria da população não tinha acesso", conta o cardiologista e sindicalista Mário Fernando Lins, que atuou na época da ditadura. Surgiu então a prestação de serviço pago, com hospitais e clínicas privadas. 

"Somente após 1988 é que foi adotado o SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje atende a uma parcela de 80% da população", diz Lins. 

Em 1976, quase 98% das internações eram feitas em hospitais privados. Além disso, o modelo hospitalar adotado fez com a que a assistência primária fosse relegada a um segundo plano. Não existiam planos de saúde, e o saneamento básico chegava a poucas localidades. "As doenças infectocontagiosas, como tuberculose, eram fonte de constante preocupação dos médicos", afirma Lins. 

Segundo estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), "entre 1965/1970 reduz-se significativamente a velocidade da queda [da mortalidade infantil], refletindo, por certo, a crise social econômica vivenciada pelo país". 

6. Linha dura na educação 
A educação brasileira passou por mudanças intensas na ditadura. "O grande problema foi o controle sobre informações e ideologia, com o engessamento do currículo e da pressão sobre o cotidiano da sala de aula", sintetiza o historiador e professor da Universidade Federal de Alagoas, Luiz Sávio Almeida. 

As disciplinas de filosofia e sociologia foram substituídas pela de OSPB (Organização Social e Política Brasileira, caracterizada pela transmissão da ideologia do regime autoritário, exaltando o nacionalismo e o civismo dos alunos e, segundo especialistas, privilegiando o ensino de informações factuais em detrimento da reflexão e da análise) e Educação, Moral e Cívica. Ao mesmo tempo, com o baixo índice de investimento na escola pública, as unidades privadas prosperaram. 

Na área de alfabetização, a grande aposta era o Mobral (Movimento Brasileiro para Alfabetização), uma resposta do regime militar ao método elaborado pelo educador Paulo Freire, que ajudou a erradicar o analfabetismo no mundo na mesma época em que foi considerado "subversivo" pelo governo e exilado. Segundo o estudo "Mapa do Analfabetismo no Brasil", do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do Ministério da Educação, o Mobral foi um "retumbante fracasso." 

Os problemas também chegaram às universidades, com o afastamento delas dos centros urbanos e a introdução do sistema de crédito. "A intenção do regime era evitar aglomeração perto do centro, enquanto o sistema de crédito foi criado para dispersar os alunos e não criar grupos", diz o historiador e vice-reitor do Fejal (Fundação Educacional Jayme de Altavila), Douglas Apratto. 

7. Corrupção e falta de transparência 
No período da ditadura, era praticamente impossível imaginar a sociedade civil organizada atuando para controlar gastos ou denunciando corrupção. Não havia conselhos fiscalizatórios e, com a dissolução do Congresso Nacional, as contas públicas não eram analisadas, nem havia publicidade dos gastos públicos, como é hoje obrigatório. 

"O maior antídoto da corrupção é a transparência. Durante a ditadura, tivemos o oposto disso. Os desvios foram muitos, mas acobertados pela força das baionetas", afirma o juiz e um dos autores da Lei da Ficha Limpa, Márlon Reis. 

Reis afirma que, ao contrário dos anos de chumbo, hoje existem órgãos fiscalizatórios, imprensa e oposição livres e maior publicidade dos casos. "Estamos muito melhor agora, pois podemos reagir", diz. 

Outro ponto sempre questionado no período de ditadura foram os recursos investidos em obras de grande porte, cujos gastos eram mantidos em sigilo. 

"Obras faraônicas como Itaipu, Transamazônica e Ferrovia do Aço, por exemplo, foram realizadas sem qualquer possibilidade de controle. Nunca saberemos o montante desviado", disse Reis. "Durante a ditadura, a corrupção não foi uma política de governo, mas de Estado, uma vez que seu principal escopo foi a defesa de interesses econômicos de grupos particulares." 

8. Nordeste mais pobre e migração 
A consolidação do Nordeste como região mais pobre do país teve grande participação do governo do militares. "Nenhuma região mudou tanto a economia como o Nordeste", diz o doutor em economia regional Cícero Péricles Carvalho, professor da Universidade Federal de Alagoas. 

Com as políticas adotadas, a região teve um crescimento da pobreza. "Terminada a ditadura, o Nordeste mantinha os piores indicadores nacionais de índices de esperança de vida ao nascer, mortalidade infantil e alfabetização. Entre 1970 e 1990, o número de pobres no Nordeste aumentou de 19,4 milhões para 23,7 milhões, e sua participação no total de pobres do país subiu de 43% para 53%", afirma Péricles 

O crescimento urbano registrado teve como efeito colateral a migração desregulada. "O modelo urbano-industrial reduziu as atividades agropecuárias, que eram determinantes na riqueza regional, com 41% do PIB, para apenas 14% do total em 1990", diz Péricles. 

Enquanto o campo era relegado, as atividades urbanas saltaram, na área industrial, de 12% para 28% e, na área do comércio e serviços, de 47% para 58%. 

"A migração gerou mais pobreza nas cidades, sem diminuir a miséria no campo. A população do campo reduziu-se a um terço entre 1960 e 1990", acrescenta Péricles. 

9. Desigualdade: "milagre brasileiro" 
"É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo". A frase do então ministro da Fazenda Delfim Netto é, até hoje, uma das mais lembradas do regime militar. Mas o tempo mostrou que o bolo cresceu, sim, ficou conhecido como "milagre brasileiro", mas poucos comeram fatias dele. 

A distribuição de renda entre os estratos sociais ficou mais polarizada durante o regime: os 10% dos mais ricos que tinham 38% da renda em 1960 e chegaram a 51% da renda em 1980. Já os mais pobres, que tinham 17% da renda nacional em 1960, decaíram para 12% duas décadas depois. 

Assim, na ditadura houve um aumento das desigualdades sociais. "Isso levou o país ao topo desse ranking mundial", diz o professor de Economia da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles. 

Entre 1968 e 1973, o Brasil cresceu acima de 10% ao ano. Mas, em contrapartida, o salário mínimo --que vinha recuperando o poder de compra nos anos 1960-- perdeu com o golpe. "Em 1974, em pleno 'milagre', o poder de compra dele representava a metade do que era em 1960", acrescenta Péricles. 

"As altas taxas de crescimento significavam mais oportunidades de lucros altos, renda e crédito para consumo de bens duráveis; para os mais pobres, assalariados ou informais, restava a manutenção de sua pobreza anterior", explica o economista. 

10. Precarização do trabalho 
Apesar de viver o "milagre brasileiro", a ditadura trouxe defasagem aos salários dos trabalhadores. "Nossa última ditadura cívico-militar foi, em certo ponto, economicamente exitosa porque permitiu a asfixia ao trabalho e, por consequência, a taxa salarial média", diz o doutor em ciências sociais e blogueiro do UOL, Leonardo Sakamoto. 

Na época da ditadura, a lei de greve, criada em 1964, sujeitava as paralisações de trabalhadores à intervenção do Poder Executivo e do Ministério Público. "Ir à Justiça do Trabalho para reclamar direitos era possível, mas pouco usual e os pedidos eram minguados", explica Sakamoto. 

"Nada é tão atrativo ao capital do que a possibilidade de exercício de um poder monolítico, sem questionamentos", diz Sakamoto, que cita a asfixia dos sindicatos, a falta de liberdade de imprensa e política foram "tão atraentes a investidores que isso transformou a ditadura brasileira e o atual regime político e econômico chinês em registros históricos de como crescimento econômico acelerado e a violência institucional podem caminhar lado a lado". 

Carlos Madeiro (via UOL)

Nota do blog: A conversão a Cristo, a obra do Espírito Santo, é o golpe mais radical e profundo que se pode efetuar para conseguir um mundo melhor. Esta foi a única revolução que Cristo ensinou. Esta é a revolução da graça, silenciosa, pacífica, eficaz e profunda, que Deus pode operar hoje em teu coração. E que a esperança na volta de Cristo molde nossas ações em todas as esferas da vida. Inclusive na política.

segunda-feira, 29 de março de 2021

OS 4 CAVALEIROS DO APOCALIPSE

No capítulo 5 do Apocalipse, João descreve a cena em que Jesus toma o livro selado da mão de Deus sob uma aclamação nunca antes vista no Universo.

“E vi na destra do que estava assentado sobre o trono um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos” (Ap 5:1).

O fato de estar selado com sete selos revela que o conteúdo do rolo era muito importante, porque só documentos importantes são selados. O Pai Eterno depôs este documento selado nas mãos do Cordeiro de Deus que foi morto desde a fundação do mundo. Ele, por Sua vez, abriu os selos na presença de milhões e milhões de anjos da corte celestial, porque todos estavam na expectativa, aguardando saber o desenlace da luta final entre o bem e o mal, entre Cristo e Satanás.

O capítulo 6 trata dos seis primeiros selos. Assim, como em outros capítulos, a simbologia é bastante utilizada. É importante citar que a sequência profética e simbólica dos sete selos relaciona-se com o mesmo terreno coberto pela profecia das sete igrejas, mas dando ênfase a outros eventos. O tempo da abertura dos quatro primeiros selos corresponde ao tempo retratado nas igrejas de Éfeso, Esmirna, Pérgamo e Tiatira.

O Primeiro Selo
Leiamos e analisemos o primeiro selo:

Apocalipse 6:1-2 – “E, havendo o Cordeiro aberto um dos selos, olhei, e ouvi um dos quatro animais, que dizia como em voz de trovão: Vem, e vê. E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer.”

O primeiro selo nos mostra um cavalo branco, e sobre ele um cavaleiro com um arco de conquistador. O cavalo, em profecia, segundo Provérbio 21:31, simboliza lutas políticas ou religiosas.

A cor branca do cavalo simboliza, segundo o Livro Sagrado, a imaculada pureza da igreja divina. Em outras palavras, temos a descrição em símbolo do evangelho puro de Jesus Cristo como foi ensinado pelos apóstolos e pela bendita virgem.

O texto diz que o cavalo branco, a pureza do evangelho, e o cavaleiro, saíram vencendo e para vencer. Graças a Deus que a História confirma os triunfos da gloriosa igreja apostólica. A igreja cristã primitiva conquistou as forças pagãs que se lhe opunham, e milhões aceitaram a verdade pura do evangelho durante o primeiro século. Justo antes do seu martírio, o apóstolo Paulo confirmou este fato nas seguintes palavras:

(Colossenses 1:23): “Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.”

Esta é uma confirmação histórica de que o evangelho havia sido pregado a todo o mundo conhecido por ocasião do martírio de Paulo no ano 68. Era a corrida vitoriosa do cavalo branco, que teve início no ano 31 e foi até o ano 100, quando morreu o último apóstolo, João.

O Segundo Selo
Vamos agora à revelação e descrição do segundo cavaleiro:

Apocalipse 6:3 e 4) – “E, havendo aberto o segundo selo, ouvi o segundo animal, dizendo: Vem, e vê. E saiu outro cavalo, vermelho; e ao que estava assentado sobre ele foi dado que tirasse a paz da terra, e que se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.”

O que monta este cavalo vermelho, e que deveria correr o mundo então conhecido, tinha uma grande espada para matar.

A cor do cavalo – o vermelho – é símbolo do derramamento de sangue, e representa a era de perseguições dos cristãos pelos judeus bem como pelos romanos, cuja igreja pagã oficial via sua sobrevivência perigando em face do sucesso da igreja cristã como resultado dessas mesmas perseguições. Mas, ao mesmo tempo uma multidão de erros se introduziriam na igreja, sobrevindo a luta de facções em seu seio.

A despeito de todas as lutas e perseguições do segundo e terceiro séculos, Satanás não pôde alcançar o seu propósito de exterminar a igreja. Ao contrário, na expressão de Tertuliano, “o sangue dos mártires é semente da igreja”. A era do cavalo vermelho vai de 100 a 313. Esta data assinala o decreto de tolerância dos romanos para com os cristãos. Mais tarde o próprio imperador Constantino aceitou o cristianismo.

O Terceiro Selo
Apocalipse 6:5 e 6 – “E, havendo aberto o terceiro selo, ouvi dizer ao terceiro animal: Vem, e vê. E olhei, e eis um cavalo preto e o que sobre ele estava assentado tinha uma balança na mão. E ouvi uma voz no meio dos quatro animais, que dizia: Uma medida de trigo por um dinheiro, e três medidas de cevada por um dinheiro; e não danifiques o azeite e o vinho.”

Se o branco é emblema de pureza da verdade, o preto simboliza o oposto, isto é a apostasia e o erro. Quando Satanás viu que fora incapaz de destruir a igreja divina pela perseguição, mudou seus métodos. Procurou destruí-la pela apostasia. Isto teve melhores resultados. O imperador Constantino manifestou o seu beneplácito para com a igreja, e mais tarde professou sua fé. Grande estadista que era, logrou êxito em unir a igreja pagã com a cristã numa só grande igreja do Estado.

Eusébio, bispo de Antioquia, amigo e conselheiro religioso do imperador, desempenhou também grande parte na apostasia da igreja. Cumpriu-se então com este triste drama a profecia de Paulo sobre os bispos da Ásia Menor (Ver Atos 20:28-30).

Mais ainda, o mesmo apóstolo, em sua segunda carta aos Tessalonicenses, expõe a natureza da apostasia.

(2Ts 2:1-4): “Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.”

Havia alguns falsos pregadores no tempo de Paulo que ensinavam que o Senhor voltaria no seu tempo para salvar o mundo e estabelecer Seu reino eterno. E para melhor convencer o povo, eles mesmos escreveram cartas às igrejas sobre o assunto, assinando-as com o nome de Paulo ou de algum outro apóstolo. Essas são algumas cartas que hoje chamamos “apócrifas”, por serem de duvidosa inspiração.

Paulo pedia que as igrejas não se deixassem enganar com essas cartas facciosas. Antes da Volta de Cristo a igreja passaria primeiro pela grande apostasia, com o oponente da verdade reclamando adoração como se fora Deus. Analisemos, porém, de acordo com S. Paulo, a predição deste poder e sua duração:

(2Ts 2:8): “E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda.”

Ele exerceria seu poder e domínio sofre as almas dos homens justo ao tempo da Segunda Vinda de Cristo; isto é, no fim do mundo o Senhor destruiria este poder apóstata com o resplendor de Sua vinda. Este poder facilmente é reconhecido por qualquer arguto observador de nossos dias.

Vejamos alguns atributos deste poder apóstata, segundo o verso 9: “esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira.”

Este poder é de origem satânica e não divina. Ele procuraria provar sua origem divina realizando milagres, curando os enfermos, etc. Lembremos que Satanás é um anjo caído, e tanto ele como a terça parte dos anjos que o acompanharam na queda podem realizar milagres. Ele arrasta as nações para o seu sistema de contrafação da verdade, sistema simbolizado pelo cavalo preto, fazendo-as crer que a verdade é mentira e a mentira verdade.

Notemos o que Paulo diz sobre isto:

(2Ts 2:10 e 11): “E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira.”

Todo aquele que não tem amor pela verdade e não deseja segui-la com verdadeira paixão, é deixado no erro. O que precisamos pedir a Deus é que nos dê um coração puro e sincero, para que conheçamos a verdade, o supremo tesouro do homem. O que tem fome e sede da verdade, obedecerá a Deus porque O ama e porque ama a verdade sobre todas as coisas.

A apostasia, que se desenvolvia muito lentamente, foi acelerada a partir do ano 313, quando Constantino outorgou favores à igreja cristã, até o ano 538, quando toda oposição a esta igreja foi subjugada pela força da espada, sendo sua autoridade completamente imposta. Satanás não pôde destruir a igreja pela perseguição indicada pelo segundo cavaleiro, mas obteve êxito induzindo-a à apostasia. Aqui Satanás triunfou.

O Quarto Selo
Apocalipse 6:8 – “E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra.”

A partir do ano 538 nova era começou para a igreja, desdobrando-se segundo a descrição do quarto cavaleiro.

Surge um cavalo amarelo. Esta cor (pálido, na versão inglesa) – é símbolo da morte, porque é a tonalidade da pele de quem está para morrer. O cavaleiro do cavalo pálido recebeu poder “para matar a quarta parte da Terra”. Foi cerca do ano 538 que isto ocorreu, quando a igreja apóstata, “em defesa da fé”, começou a exercer poder temporal sobre as nações da Europa, que bem representam a quarta parte da Terra, segundo a profecia.

Este poder levou os governos da Europa a perseguir os que não renunciassem sua fé na Santa Escritura e insistissem em permanecer na verdade do cavalo branco. Várias nações baixaram decretos rejeitando por lei qualquer crença contrária. Mas milhares e milhares preferiram a morte antes que violentar a consciência.

A História confirma que terrível perseguição dominou o mundo por mais de um milênio, sendo conhecida na História como a “Inquisição da Idade Média”. Muitos livros têm sido escritos sobre a história dos fiéis valdenses, albigenses e huguenotes, que durante este tempo foram mártires da fé. O período do quarto selo foi de 538 a 1517.

Com o quarto selo termina a visão dos cavalos. Os últimos três selos, que são representados por meio de símbolos, revelam que os futuros acontecimentos não seriam de escopo universal.

O quinto selo é uma sucessão do quarto e estende-se do período que vai do ano 1517 a 1755. No quarto selo vimos os terríveis extermínios do papado contra o povo de Deus. O quinto selo nos mostra o quadro das testemunhas de Deus e de Seus filhos mortos pela espada papal.

Depois disto, João visualiza a abertura do sexto selo, onde estão descritos os sinais da iminente volta de Jesus. A linguagem que antes era simbólica passa a ser literal. Os escritores do Antigo Testamento, e o próprio Cristo, falaram muitas vezes de grandes sinais no universo físico, no Sol, na Lua, nas estrelas e na Terra. Esses sinais seriam indicações especiais da volta de nosso Senhor. O período deste selo foi de 1755 a 1833. O sexto selo do Apocalipse nos ajuda a descobrir quando começaria o tempo do fim e conclui com a descrição da segunda vinda de Jesus. 

O sétimo selo só será rompido depois que Cristo vier e os ímpios forem mortos pela glória de Seu aparecimento. Então haverá silêncio no Céu durante cerca de ‘meia hora’ (Ap 8:1). O silêncio que ocorrerá imediatamente após o aparecimento de Cristo (Ap 6:12-17), representa o descanso, a paz e o regozijo entre a hoste celestial e os salvos depois que o veredicto do tribunal celestial começar a ser posto em execução. Quando for rompido o sétimo selo, tornar-se-á conhecido o conteúdo do livro do destino (Ap 5:5 e 9), e o povo de Deus será reunido pelos anjos e levado para o Céu.

Assista também a esta série do Feliz7Play onde o Pr. Lélis explica exatamente o que os 4 cavaleiros do Apocalipse representam e como se aplicam ao contexto atual. https://youtube.com/playlist?list=PLg7vVjTMs6Z6afA791oj0tWchk8bdze_y

domingo, 28 de março de 2021

DECRETO DOMINICAL

Desde os primeiros adventistas sabatistas o decreto dominical é visto na escatologia adventista como um evento do fim do tempo. A partir da ideia da “marca da besta” e do “selo de Deus” no Apocalipse, entende-se que a lei dominical vai distinguir os que pertencem ao reino de Deus daqueles que optam pelo governo da besta.

A escolha de se obedecer à lei de Deus implicará a exposição a um estado de intolerância e perseguição momentânea. Por outro lado, a decisão de se filiar à besta terá consequências eternas. Essas questões estão bem claras nas visões proféticas de Daniel e Apocalipse.

As profecias e a lei de Deus
Em Apocalipse 13, duas metáforas proféticas representam a atuação do papado na Idade Média e nos Estados Unidos no tempo do fim. O entendimento dessas visões elucida a perspectiva dos pioneiros adventistas referente ao tal decreto.

Curiosamente, ambas as metáforas apocalípticas retomam símbolos de Daniel. A primeira besta de sete cabeças e dez chifres (Apocalipse 13:1) é construída a partir dos quatros animais: leão, urso, leopardo de quarto cabeças e o animal terrível de dez chifres (Daniel 7:3-7). A besta não só apresenta elementos desses animais, como suas sete cabeças são a soma das cabeças das quatro bestas de Daniel. Isso indica que João viu a besta como sendo um desdobramento do poder perseguidor já representado nesses animais figurativos dos impérios babilônico, persa, grego e romano.

Observa-se que as características humanas retratadas no tal “chifre pequeno” (Daniel 7:8) e na besta (Apocalipse 13:5-6) indicam que essas entidades incorporam tanto uma dimensão política quanto religiosa. De fato, o papado medieval era um poder político e religioso. É a religião que, ao manipular o poder político, leva esse poder a perseguir o povo de Deus, como se vê na visão da mulher “montada” na besta em Apocalipse 17. Em Daniel, o “chifre pequeno” faz guerra contra os “santos” (Daniel 7:21) e cuida em “mudar os tempos e a lei” (7:25).

Da mesma forma, a besta persegue os “santos” (Apocalipse 13:7), os quais guardam os “mandamentos de Deus” (14:12). Nota-se que a investida tanto do “chifre pequeno” quanto da “besta” contra os “santos” tem sua motivação na adesão deles à lei de Deus, naquele ponto em que essa lei implica uma diferença social: a prática do sábado. É importante lembrar que tanto o Império Romano quanto o papado medieval sustentaram uma lei dominical contrária à lei de Deus.

Apocalipse 13 e Daniel 8
Por outro lado, a besta de dois chifres parecendo cordeiro (Apocalipse 13:11) retoma o carneiro de Daniel 8. Os chifres indicam que os símbolos representam um poder resultante da união de duas entidades, e que são a princípio aliados do povo de Deus, mas depois são perseguidores. Os persas fizeram aliança com os medos e, assim, se formou o Império Persa. Com essa coalizão, Ciro conseguiu tomar a Babilônia de Belsazar (Daniel 5). Ele libertou os judeus e os permitiu voltar à sua terra (Isaías 44:28; 45:1-7) e gozar de liberdade civil e religiosa (Esdras 7:21-26). Porém, no tempo da rainha Ester, a Pérsia chegou a emitir um decreto de morte aos judeus (Ester 3:8-9). No Apocalipse, a região denominada como “terra” é lugar de proteção e guarida para a “mulher” após os 1.260 dias-anos (Apocalipse 12:1, 14-16). No entanto, nesta mesma “terra”, depois se levanta a besta de dois chifres para perseguir os que não têm a “marca da besta” (Apocalipse 13:11, 17).

Há um paralelismo entre Apocalipse capítulos 12 e 13, que elucida o antagonismo da besta de dois chifres aos que não têm a marca. Em Apocalipse 12, após a menção ao fato de a mulher achar guarida na “terra” após os 1.260 anos, é dito que o dragão investe contra ela e faz guerra aos seus descendentes “que guardam os mandamentos de Deus”. Em Apocalipse 13, após os 42 meses (1.260 dias) de atuação da besta (Apocalipse 13:5), ela é ferida de morte, e então retorna por meio da “imagem da besta” que impõe o boicote econômico e a perseguição aos que não têm a “marca da besta”. Isso indica que os que guardam os mandamentos de Deus são os mesmos que não têm a marca.

O surgimento da imagem da besta
A segunda visão de Apocalipse 13 pode ser dividida em duas fases. Inicialmente a besta “opera” sinais (v. 13), “seduz” as pessoas (v. 14) e comunica “fôlego” à imagem da besta (v. 15). Nesta fase inicial, ela é, portanto, um poder religioso, ou seja, atua como o “falso profeta” (Apocalipse 16:13; 19:20).

Após esse poder religioso comunicar fôlego ao que está morto no contexto, ou seja, a primeira besta, levanta-se a “imagem da besta”. De fato, a besta ferida de morte ressuscita, mas por meio da “imagem da besta”. Assim, nesta segunda fase da visão, a imagem “faz” morrer (v. 15), impõe uma marca (v. 16) e controla a economia (v. 17). Agora, trata-se, portanto, de um poder político: “um rei” (conforme Apocalipse 17:11; 19:20).

Ellen White, pioneira adventista, profetisa e escritora, explica a formação da imagem da besta a partir da aproximação dos poderes religioso e civil. “A imagem é feita pela besta de dois chifres [enquanto falso profeta], e é uma imagem à primeira besta.” Portanto, “a fim de formarem os Estados Unidos uma imagem da besta, o poder religioso deve a tal ponto dirigir o governo civil que a autoridade do estado também seja empregada pela igreja para realizar os seus próprios fins”[1]

Para ela, a “imagem da besta” representa “a forma de protestantismo apóstata que se desenvolverá quando as igrejas protestantes buscarem o auxílio do poder civil para imposição de seus dogmas”[2] Nessa linha, o poder religioso toma a iniciativa para a formação da imagem da besta, pois “no próprio ato de impor um dever religioso por meio do poder secular, formariam as igrejas mesmas uma imagem à besta”[3].

É importante frisar que o poder civil opressor da crise final, segundo Apocalipse 13:11-18, é denominado de “imagem da besta”. É essa entidade que impõe a marca, persegue e faz morrer. A primeira besta, de fato, retorna, mas somente por meio da sua imagem reproduzida na América protestante.

Nesse caso, o que João revela é que “a autoridade medieval da primeira besta novamente será exercida por meio da besta que surge da terra”. Além disso, está claro que “a segunda besta substituirá a primeira besta em poder e autoridade universais e agirá como o poder opressivo global do tempo do fim”.[4]

Desta forma, o conflito desencadeado no fim do tempo pela “imagem da besta” contra os fiéis de Deus tem sua motivação na guarda dos mandamentos. Ellen White afirma que “o último grande conflito entre a verdade e o erro não é senão a luta final da prolongada controvérsia relativa à lei de Deus”[5].

De fato, a investida de Satanás contra os mandamentos de Deus atravessa toda a história. Ao longo da história, portanto, identificamos marcas desse conflito entre a lei da besta (o poder imperial) e a lei de Deus. Ao longo da história tem havido um povo ou comunidade de fiéis que mantém a aliança com Deus e reivindica sua lei na terra, o principado usurpado por Satanás. O inimigo de Deus tenta firmar seu governo, anulando a lei de Deus na terra. No entanto, um remanescente fiel mantém viva a chama do decálogo divino.

Que evidências as Escrituras Sagradas e a história nos oferecem para essa batalha contra a lei de Deus? Esses eventos históricos servem como uma antecipação do que será a luta contra a lei de Deus no fim do tempo. Mas será possível que os regimes democráticos do atual estado de direito venham a assumir tal postura de intolerância aos que guardam a lei divina?

Lei dominical na história
Desde o antigo Egito, há evidências de que os impérios, em diversos momentos, perseguiram o povo de Deus por causa do sábado. A princípio, no antigo Egito, houve intolerância aos israelitas por causa da lei de Deus. Quando eram um povo autônomo, os filhos de Israel puderam guardar a lei de Deus livremente. No entanto, chegou um tempo em que eles estiveram sob a lei do estado egípcio. Nesse contexto, por determinação do Faraó, os israelitas foram privados do “descanso” sabático. O termo traduzido por “distrair” (Êxodo 5:5, ver ARA) é o verbo hebraico shabath.

No reino da Pérsia, onde muitos judeus permaneceram após o cativeiro babilônico, o oficial Hamã convenceu o rei Assuero a fazer um decreto contra os judeus. A motivação dele não deixa dúvidas: “Existe espalhado, disperso entre os povos em todas as províncias do teu reino, um povo cujas leis são diferentes das leis de todos os povos … Se bem parecer ao rei, decrete-se que sejam mortos” (Ester 3:8-9). Ante a manipulação de Hamã, Assuero “tirou da mão o seu anel, deu-o a Hamã”, o “adversário dos judeus” (Ester 3:10). Exceto o sábado, os demais mandamentos da lei de Deus não impunham distinção significativa entre os judeus e os povos da Pérsia. De fato, Ellen White afirma que o decreto de morte a ser expedido pela “imagem da besta” será “muito semelhante ao que Assuero promulgou contra os judeus” (Ellen White, Profetas e Reis, página 605).

Séculos depois, em 321 d.C., no Império Romano, foi emitido o Edito de Constantino: “Que todos os juízes, e todos os habitantes da cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol.” Durante a Idade Média, igualmente, prevaleceu a lei católica romana que ordenava “guardar domingos e festas”, o terceiro mandamento, em detrimento do sábado da lei de Deus (Êxodo 20:8-11).

Dia do Senhor
Na Idade Moderna, os protestantes ingleses foram os primeiros a promover a guarda do dia do Senhor. Isso resultou da tradução da Bíblia por William Tyndale (século 16). O reformador muito se impressionou com o tema da aliança, ao qual fez várias notas de margem no Pentateuco. Mais tarde, o estabelecimento da igreja pela coroa britânica levou os protestantes ingleses a enxergarem a si mesmos como os substitutos dos antigos israelitas, como herdeiros da Aliança.

Desta forma, as notas de Tyndale e a noção de um povo eleito levaram os protestantes ingleses à redescoberta do dia do Senhor como o sinal da Aliança. No início do século 17, o ministro anglicano Nicholas Bownd passou a ensinar que “profanar o sábado era profanar a Deus”.[6] Assim, os puritanos ingleses passaram a ensinar que “trabalhar no sábado era um pecado tão grave quanto matar ou cometer adultério”,[7] pois seria uma quebra da Aliança com Deus. O posterior retorno da coroa britânica ao catolicismo deixou os protestantes zelosos pela lei de Deus expostos à intolerância.

No entanto, a despeito de lerem o Pentateuco, os protestantes ingleses guardavam o dia do Senhor no primeiro dia da semana, e chamavam esse dia de “sábado”. Não demorou, porém, para que alguns concluíssem que o sábado de descanso devia ser guardado no sétimo dia. Os puritanos John Trask e sua esposa Dorothy começaram a guardar o sábado do sétimo dia já no início do século 17, razão pela qual foram perseguidos.

Em 19 de junho de 1618, Trask foi “sentenciado a ser chicoteado, ridicularizado, mutilado e condenado a prisão perpétua” acusado de “conspiração”. Ele era o líder de uma seita de separatistas que acreditavam que “o sábado do sétimo dia e a lei dietética mosaica continuavam em vigência para os cristãos.” Infelizmente, Trask se retratou e foi solto. Porém, sua esposa Dorothy “ficou presa por 25 anos por não desistir do sábado do sétimo dia”.[8]

Os puritanos zelosos do “sábado”, guardado no primeiro dia da semana, não puderam ter paz na Inglaterra sob influência posterior de Roma. Assim, eles desejavam uma terra onde pudessem manter os “mandamentos de Deus” sob proteção da lei civil. A colonização americana foi a saída para eles.

Em 1620, os puritanos chegaram “à América a fim de estabelecer uma nova Jerusalém que preservasse o sábado em sua integridade”.[9] Considerado o papel dos protestantes puritanos e sua motivação no desenvolvimento dos Estados Unidos, deve se assumir que “a guarda do santo dia de sábado é uma de suas poderosas pedras angulares”.[10] Sob esse ímpeto, as colônias puritanas, na América do Norte, logo desenvolveram uma “legislação dominical contra a profanação do dia do Senhor, com pesadas e graves penalidades para as violações”.[11]

A chamada Nova Inglaterra aprovou leis que proibiam “não só crimes sexuais, mas também blasfêmia, embriaguez, jogos de azar e violação da santidade do sábado”.[12] O sábado, porém, seguia observado por esses puritanos no primeiro dia da semana.

Em função disso, uma lei dominical a ser desenvolvida pelos países cristãos tem, portanto, claros precedentes e motivações históricas.

O domingo no horizonte global
Nas décadas recentes, movimentos pela guarda do domingo têm se fortalecido em vista das encíclicas papais sobre o assunto. A chamada European Sunday Alliance defende a guarda do domingo como caminho para renovação da família e da sociedade.[13] Por sua vez, a Lord’s Day Alliance, nos Estados Unidos, propõe que a guarda do domingo é compatível com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois os empregadores devem “honrar as necessidades dos trabalhadores por observâncias de fé oportunas, tratamento justo e descanso regenerativo”.[14]

Em maio de 1998, o papa João Paulo II lançou a encíclica Dies Domini (“Dia do Senhor”), na qual defende que a guarda do domingo é o meio para a “reforma social”, fortalecimento da família e restauração da igreja. Ele cita “a lei civil do Império Romano”, que reconheceu o “dia do sol”, para que todos nesse dia deixassem de trabalhar. No parágrafo 67, ele afirma que “é natural que os cristãos se esforcem para que, também nas circunstâncias específicas do nosso tempo, a legislação civil tenha em conta o seu dever de santificar o domingo.”[15]

Em 2017, o papa Francisco lançou a encíclica Laudato Si (Louvado sejas), em que defende que o ecossistema precisa de um descanso dominical. No parágrafo 71, ele embasa sua argumentação na lei divina sobre o “sábado”. Para ele, a necessidade do descanso da terra e de seus habitantes no domingo “está patente, por exemplo, na lei do Shabath”. Pois, “no sétimo dia, Deus descansou de todas as suas obras. Deus ordenou a Israel que cada sétimo dia devia ser celebrado como um dia de descanso, um Shabath (cf. Gênesis 2:2-3; Êxodo 16, 23; 20, 10)”.[16]

Evidentemente, os que defendem a lei dominical, tanto católicos quanto protestantes, afirmam que a mesma será coerente com o estado de liberdade mantido pela Carta dos Direitos Humanos. No entanto, o contexto de instabilidade e as atuais situações de emergência, em que a sobrevivência da humanidade é colocada em perspectiva, tal lei dificilmente manteria direitos de minorias contrárias. Em vista disso e das previsões proféticas, não há dúvida de que a lei dominical contribuirá para acirrar oposição e intolerância.

Nessa linha, Ellen White afirma que, no contexto da lei dominical, será feita “a alegação de que a corrupção que rapidamente se alastra pode ser atribuída em grande parte à profanação do descanso dominical, e que a imposição da observância do domingo melhorará grandemente a moral da sociedade” (Ellen White, O Grande Conflito, 587).

Os Estados Unidos, como o poder civil representado pela “imagem da besta”, serão o primeiro país a aprovar essa lei. Mas, em decorrência de sua influência e poder sobre as demais nações, essa mesma lei se reproduzirá pelo mundo. “Quando os Estados Unidos, o país da liberdade religiosa, aliar-se ao papado, a fim de dominar as consciências e obrigar as pessoas a reverenciar o falso sábado, os povos de todos os demais países do mundo serão induzidos a imitar seu exemplo” (Ellen White, Eventos Finais, página 85).

Deve se observar que a guarda do domingo, por milhões de cristãos sinceros, não é em si a marca da besta. “A observância do domingo não é ainda o sinal da besta, e não o será até que saia o decreto” (Ellen White, Eventos Finais, página 224). Desta forma, é a lei dominical imposta que determina a condição da marca da besta. No contexto de Apocalipse 13 fica claro que a besta pretende, a exemplo de Nabucodonosor (Daniel 3:15), assumir o lugar de Deus.

Portanto, seguir a lei da besta e ter sua marca será uma condição para se viver na Terra e ter a proteção da lei do estado. Por outro lado, seguir a lei de Deus e ter o selo de Deus é a condição da cidadania celestial e da proteção divina. A escolha diante desse dilema definirá de fato uma filiação à besta ou a Deus.

Os guardadores do sábado devem ter em mente que a lei dominical, em nível mundial, é o último evento escatológico. Pois, “a substituição da lei de Deus pela dos homens, a exaltação, por autoridade meramente humana, do domingo, posto em lugar do sábado bíblico, é o último ato do drama. Quando essa substituição se tornar universal, Deus se revelará” (Ellen White, Testemunhos Seletos, volume 3, páginas 142 e 143).

Conclusão
A revelação profética, portanto, apresenta-se coberta de persuasão no tempo atual. De fato, o mundo caminha para um evento escatológico de grandes proporções em que a lealdade ao Deus criador será posta à prova. As profecias apontam para uma retomada da relação entre Igreja e Estado como caminho para a emergência de um novo e último estado de intolerância e perseguição religiosa.

Essa intolerância tende a se manifestar naquele mesmo ponto em que a lei de Deus se distingue da lei dos homens: o dia de descanso e culto, o dia em que se celebra o Deus criador como digno de adoração e fidelidade. A guarda desse dia marca uma relação entre criatura e Criador, é um elo entre Deus e sua criação (Gênesis 2:1-3). Portanto, como parte do esforço satânico contra Deus, o decreto pretende quebrar essa ligação.

O povo de Deus, no entanto, não deve temer as consequências de sua lealdade, pois a adesão ao selo de Deus garante a cidadania celestial e a proteção divina.

Vanderlei Dorneles (via ASN - Parte 1 / Parte 2)

Este artigo foi escrito originalmente para o e-book intitulado Eventos Finais, produzido pela editora Safeliz e disponível neste link.

Referências:

[1] Ellen White. O Grande Conflito, página 443.

[2] Ellen White. O Grande Conflito, página 445.

[3] Ellen White. O Grande Conflito, páginas 448 e 449.

[4] Ranko Stefanovic, Revelation of Jesus Christ: Commentary on the Book of Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009), 432.

[5] Ellen White. O Grande Conflito, página 582.

[6] Christopher D. Ringwald, A Day Apart: How Jews, Christians, and Muslims Find Faith, Freedom, and Joy On the Sabbath (New York: Oxford University Press, 2007), 104.

[7] Ibid., 105.

[8] Walter B. Douglas, “The Sabbath in Puritanism”. In ed. Kenneth Strand, The Sabbath in Scripture and History (Hagerstown: Review and Herald, 1982), 237.

[9] Ringwald, 10.

[10] Douglas, 239.

[11] Ibid., 240.

[12] John A. Grigg, “Puritan Family”. What Happened?: An Encyclopedia of Events that Changed America Forever, eds. John E. Findling & Frank W. Thackeray, vol. 1 (Santa Barbara: CA: ABC-Clio, 2011), 270.



[15] Disponível em www.vatican.va, em 14 de outubro de 2020.

[16] Disponível em www.vatican.va, em 14 de outubro de 2020.

sexta-feira, 26 de março de 2021

O PECADO DA CONIVÊNCIA

Não, você não verá nenhum pastor pregar sobre o pecado da conivência. Afinal, não é um pecado mencionado pelo nome na Bíblia, por isso, muitos têm dificuldade de enxergá-lo. Infelizmente, vivemos uma geração de cristãos para quem parece que pecado é só sexo ilícito, tomar um porre e apoiar o partido político de que eu não gosto. Fora disso, parece que tudo está liberado: injustiças, ira, ódio, egoísmo, arrogância, ofensas, deboche, vaidade, ganância… e conivência.

Mas o que, afinal, é o pecado da conivência? Por definição, conivência é: “Cumplicidade por tolerância. Colaboração moral no delito por deixá-lo perpetrar, podendo evitá-lo”. Em outras palavras, o conivente é o que peca por tomar conhecimento de um pecado, uma injustiça, um absurdo e apoiar, ou tolerar, o ato. É fazer-se participante do mal por não denunciar o mal como mal nem fazer nada contra ele. É tornar-se tão mau quanto o mau.

Fica claro que conivência é um pecado intimamente ligado à covardia e ao egoísmo: melhor ficar na minha do que ter a coragem de me posicionar diante do que é errado. Às vezes, o conivente opta por esse pecado por ingenuidade, cegueira espiritual e influência de outras pessoas, mas, na maioria dos casos, é uma opção pura e simples pelo erro mesmo – para não perder vantagens pessoais ou para não se prejudicar, por exemplo.

Ser conivente é extremamente confortável, pois não te fará se indispor com ninguém. Já fazer o certo vai te custar caro, principalmente porque vai testar amizades. Já perdi amigos por não querer pecar por conivência. Lembro de pessoas que eu admirava e que tiveram atitudes vergonhosas. Quando me posicionei contra os absurdos cometidos, fui acusado de deslealdade. Resultado? Passaram a me boicotar e me ver com maus olhos. Paciência. Quando você tem de optar entre o pecado da conivência e o apoio ao que é justo, puro, amável, de boa fama e virtuoso, o cristão não pode pensar duas vezes, ou isso pesará em sua consciência pelo resto da vida. Como já cometi pecados tenebrosos na vida e, apesar de me saber perdoado, os carregar dolorosamente na lembrança, sei que não vale o preço. É melhor perder amigos do que a paz de espírito e com o Espírito.

Não vou enganar você. Tenha esta certeza: optar por não pecar por conivência sempre terá um custo. Sempre. Não é te custará barato escolher o que é justo.

Tenho visto muita gente pecar por conivência. A boa notícia é que o conivente revela muito do seu caráter e da sua fé ao se tornar conivente com injustiças, mentiras e atos reprováveis. E você passa a conhecer quem as pessoas realmente são e quais são as suas prioridades. Conivência, por mais enojante e decepcionante que seja, é um ato revelador.

Meu irmão, minha irmã, convido você a um exame de consciência. Será que você tem sido conivente com pecados alheios? Você tem mantido silêncio diante de atitudes vergonhosas, injustas e anticristãs, a fim de não se indispor com pessoas, manter algum tipo de benefício ou levar algum tipo de vantagem? Tem balançado a cabeça, afirmativamente, quando as pessoas falam mentiras?

Como tem sido sua postura diante da inverdade, de atos de injustiça ou de posicionamentos anticristãos de supostos cristãos – ou não? Quão gritante tem sido o seu silêncio diante da maldade? Desperte! “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso está pecando” (Tg 4:17).

Não ache você que conivência é um pecado menor do que adultério, aborto ou qualquer outro dos pecados mais frequentes nos lábios e nas redes sociais dos pregadores. Simplesmente porque a conivência com atos de injustiça contraria frontalmente a essência do Deus que é justiça. É, portanto, a sabotagem do projeto de Deus na terra.

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o pensamento de vocês. O que também aprenderam, receberam e ouviram de mim, e o que viram em mim, isso ponham em prática; e o Deus da paz estará com vocês” (Fp 4:8‭-‬9).

Fica o convite: arrependa-se. Confesse. Deixe. E a misericórdia de Deus virá sobre você.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

Nota do blog: Confira também estas importantes advertências de Ellen G. White sobre este assunto:

"Não nos podemos esquivar à verdade, não nos podemos separar dos retos princípios, sem abandonar Aquele que é nossa força, nossa justiça, e nossa santificação. Devemos estar firmemente arraigados na convicção de que seja o que for que, em qualquer sentido, nos desvie da verdade e da justiça em nossa associação e parceria com os homens, não nos pode beneficiar, e desonra grandemente a Deus. Toda espécie de engano ou conivência com o pecado é aborrecível ao Senhor" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 130).

"Infidelidade, injustiça, desonestidade e conivência com o mal impedem a luz que Deus deseja brilhar a partir de Seus servos" (Testemunhos para a Igreja, vol. 7, p. 200).

"Deus nos mostra que, quando Seu povo se encontra em pecado, devem-se tomar imediatamente medidas positivas para tirar esse pecado do meio deles, a fim de que Seu desagrado não fique sobre todos. Se, porém, os pecados do povo são passados por alto por aqueles que se acham em posições de responsabilidade, o desagrado de Deus estará sobre eles, e Seu povo, como um corpo, será responsável por esses pecados. Deus nos manda falar, e não ficaremos silenciosos. Caso haja erros claros entre Seu povo, e os servos de Deus passem adiante, indiferentes a isso, estão por assim dizer apoiando e justificando o pecador, e são igualmente culpados, incorrendo tão certo como ele no desagrado de Deus; pois serão tidos como responsáveis pelos pecados do culpado" (Testemunhos Seletos, vol. 1, p. 334, 335).

"Precisamos guardar-nos contra a indevida severidade no trato com os que erram; mas precisamos também ser cuidadosos para não perder de vista a excessiva malignidade do pecado. Há necessidade de mostrar-se paciência e amor semelhantes aos de Cristo pelo que erra, mas há também o perigo de se mostrar tão grande tolerância pelo seu erro que ele se considerará não merecedor de reprovação e a rejeitará como inoportuna e injusta" (Atos dos Apóstolos, p. 283).

"Até mesmo um mau traço de caráter, um desejo pecaminoso cultivado, poderá neutralizar o poder do evangelho. Qualquer tolerância com o pecado fortalecerá a inimizade da pessoa contra Deus. Aquele que persistir na infidelidade ou permanecer indiferente à verdade divina colherá o que plantou. Em toda a Bíblia não há um alerta mais assustador contra a leviandade em relação ao pecado do que as palavras de Salomão quanto ao perverso: 'As suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido' (Provérbios 5:22)" (Caminho a Cristo, p. 23).