Iniciamos um novo trimestre e um novo tema de estudos bíblicos: “O Evangelho de Marcos”. Deus, em Sua sabedoria, abençoou-nos com quatro relatos sobre a vida terrena de Jesus para que tivéssemos um quadro multicolorido pintado pelos relatos de diferentes testemunhas. Porém, antes de entrar no texto do evangelho propriamente dito, é importante fazer uma breve introdução ao livro de Marcos, conhecendo o seu contexto.
Nesta primeira lição, vamos primeiro conhecer o seu autor, Marcos. Aprenderemos também com a história de seu fracasso e sua posterior restauração como evangelista. Somente então, na parte final desta lição, é que começaremos a abordar o texto do evangelho.
Quem foi Marcos
Marcos foi o filho de uma das muitas Marias do Novo Testamento, sendo esta uma das grandes colaboradoras da igreja nascente (At 12:12). Quando Pedro foi liberto da prisão, dirigiu-se diretamente para a casa dela, onde havia muitas pessoas reunidas em oração (12:12). O fato de uma empregada ter atendido à porta quando Pedro bateu (12:13) pode indicar que ela era uma pessoa privilegiada monetariamente. Ao que tudo indica, o cenáculo (que era um cômodo no piso superior) onde Jesus instituiu a Santa Ceia e onde os discípulos permaneceram por alguns dias após a ascensão, ficava na casa dela (Jo 20:19; At 1:12-14). Esse espaço era amplo o bastante para abrigar “mais ou menos cento e vinte pessoas” que oravam para receber o Espírito Santo (At 1:8,15).
Como filho dessa mulher, João Marcos certamente foi muito bem influenciado para servir no ministério evangelístico. Por isso, Paulo e Barnabé o levaram para Antioquia, que era na época um centro estratégico de planejamento da igreja (At 12:25). Pouco tempo depois, Paulo e Barnabé foram encarregados pelo Espírito Santo para levar o evangelho a outras regiões e países (13:2, 3). Assim, eles partiram para a viagem que chamamos de “primeira viagem missionária” (13:4–14:27), levando João Marcos como seu ajudante (13:5).
Seu fracasso e restauração como evangelista
Ao sentir as dificuldades e perigos da viagem, e por estar “pouco habituado a sacrifícios” (Ellen White, Atos dos Apóstolos, [CPB, 2021], p. 108), Marcos abandonou a missão e voltou para casa (At 13:13). Isso fez com que Paulo tivesse uma impressão muito negativa a seu respeito. Cerca de 3 anos depois, quando Paulo e Barnabé se preparavam para uma nova viagem missionária, Barnabé trouxe consigo João Marcos, que era seu primo (Cl 4:10), para que ele tivesse uma segunda chance. De acordo com Ellen White, Barnabé “se inclinava a desculpá-lo devido à sua inexperiência. Ficou angustiado com a possibilidade de que Marcos viesse a abandonar o ministério, pois via nele qualidades que poderiam torná-lo um obreiro útil para Cristo” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 108). Mas Paulo rejeitou completamente a ideia de levá-lo novamente devido à sua desistência na viagem anterior.
Talvez possamos compreender um pouco da severidade de Paulo se entendermos que a palavra traduzida como “ajudante” em Atos 13:5 para descrever a função de Marcos (“huperetes”) é também traduzida como “oficial de justiça” em Mateus 5:25 e como “ministro” em Atos 26:16 e 1 Coríntios 4:1. Portanto, é muito improvável que Marcos tivesse ido como um simples ajudante no sentido de servir água ou carregar bagagens. Ele servia como um oficial da missão evangelística. Por isso, sua deserção foi tão séria para Paulo. Por fim, o impasse foi tão grande entre ele e Barnabé que acabaram se separando (At 15:37-40).
Contudo, os esforços de Barnabé em favor de João Marcos deram frutos. Marcos teve a oportunidade de demonstrar, por suas nobres atitudes, que Paulo estava errado a respeito de seu caráter. Cerca de 15 anos mais tarde, quando Paulo escreve a partir da prisão, Marcos está ao seu lado (Cl 4:10). Reconhecendo seu erro anterior, Paulo lembra os crentes que devem receber bem João Marcos (Cl 4:10). Em Filemom 1:24, ele inclui Marcos entre os seus colaboradores. E em sua última epístola, escrita pouco tempo antes de sua morte, Paulo afirma que este mesmo homem lhe era “muito útil no ministério” (2Tm 4:11).
De acordo com a tradição, Marcos se tornou discípulo de Pedro, que o chama de “meu filho Marcos” (1Pe 5:13). Tendo como base os sermões desse apóstolo e suas narrativas, Marcos registrou o terceiro evangelho, o qual, apesar de levar o seu nome, é o testemunho de Pedro a respeito da vida, das palavras e da missão de Jesus (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 5, p. 179, 611, 612).
O início do evangelho
Marcos começa o seu relato com essas poderosas palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1:1). Ele introduz João Batista como o cumprimento das profecias que o retrataram como um “mensageiro”, ou “anjo” de Deus (1:2-8). Então, ele descreve brevemente Jesus sendo batizado e apresenta os três membros da Trindade juntos nessa ocasião tão importante que marca o início do ministério de Jesus (1:9-11). A seguir, sempre de maneira bem objetiva e com poucas palavras, ele aponta o Espírito Santo impelindo Jesus para o deserto, onde Ele jejuou por 40 dias, um número muito significativo no Antigo Testamento em relação a períodos de consagração.
Ao voltar do deserto para a Galileia, após os 40 dias preparatórios em jejum e oração, Jesus pregava o “evangelho de Deus”, ou seja, as boas-novas de Deus para a humanidade: perdão e salvação. Uma ênfase de Jesus em sua pregação era a de que o tempo estava cumprido – uma referência à profecia de tempo de Daniel 9:25 a 27, que aponta o ano do batismo do Messias, que aconteceu como previsto, em 27 d.C.
Conclusão
Esse foi só o início do estudo deste trimestre sobre o livro de Marcos. Já podemos ver logo no início que esta será uma grande jornada de aprendizado e de transformação.
Uma grande lição que aprendemos nesta semana é a da segunda chance. Marcos falhou ao desertar da primeira viagem missionária, mas depois pôde demonstrar por suas atitudes que havia mudado. Paulo também falhou ao ser inflexível em relação a Marcos. Mas depois ele também pôde demonstrar por suas palavras e atitudes que reconhecia seu erro e que havia mudado. Temos que reconhecer também o caráter nobre de Barnabé, que lutou decididamente por seu primo e assim ajudou a mudar a história. Que sejamos como Barnabé, fortalecendo e encorajando os que falham; e quando falharmos, que sejamos como João Marcos e como Paulo, reconhecendo nosso erro e demonstrando isso com atitude.
Natal Gardino (via CPB)
Nenhum comentário:
Postar um comentário