Os vereadores laboram de segunda à sexta, oito horas por dia, num ambiente turbulento, hostil e sem infra-estrutura. Apesar disso, recebem apenas um salário mínimo por mês. É uma das remunerações mais baixas entre todas as classes trabalhistas.
Só para citar um exemplo, nas Câmaras de todo o País faltam materiais imprescindíveis para a execução das funções desses políticos, como mesa, cadeira, tinta para impressora e papel. Além disso, por trabalharem arduamente pelo povo, nossos parlamentares municipais sofrem constantes ameaças dos poderosos (inclusive à mão armada).
Um vereador – que não quer ser identificado – diz que pensa em sair da vida política. “Todos os cargos públicos eletivos – não apenas o de vereador – são desestimulantes. Trabalhamos exaustivamente a favor da população. E é por isso que muitos inconformados magnatas invadem nossos gabinetes para nos ameaçar e, muitas vezes, chegam a cumprir a ameaça”. Esse vereador, que usa chinelo de dedo e uma camisa desbotada, ainda acrescenta: “Na maioria das vezes, temos de tirar o dinheiro do próprio bolso para suprir a falta de material de trabalho. Com isso, no final do mês, não sobra quase nada, pois, como já é público e notório recebemos os piores salários do Brasil”.
Enquanto os políticos reclamam, com razão, dos baixíssimos salários, os professores brasileiros – incluindo aqueles que lecionam para as séries iniciais – ostentam o contracheque mais gordo do País. Seus ordenados chegam a oito mil reais mensais. Por conta disso, o termo Mestre virou sinônimo contemporâneo de Marajá (já incorporado aos dicionários).
Muitos organismos sociais empreendem uma luta permanente para tentar combater essa astronômica disparidade. Eles já sugeriram aos deputados e senadores vários projetos de lei para redução dos salários colossais dos professores brasileiros. Entretanto, os documentos nem chegam a ser discutidos, em virtude da bancada da Educação no Congresso. Essa bancada formou um impiedoso lobby que insurge contra qualquer coisa que tente diminuir os privilégios dos professores.
João da Silva e Silva, coordenador de uma ONG, reclama que a alta remuneração dos docentes é desproporcional ao ambiente de trabalho em que eles atuam. “Nas escolas particulares ou publicas, todos os alunos são disciplinados e educados. Nunca respondem aos professores. Adicione-se a isso que as instituições de ensino são tão tranquilas e silenciosas que uma professora chegou a dormir dentro da sala de aula, diante dos alunos adolescentes do Ensino Médio”, diz o coordenador.
Para afirmar isso, João da Silva e Silva se respalda em dados concretos, que trazem outras revelações, como o fato de os professores não necessitarem desenvolver trabalhos extraclasses, conforme se imaginava. “Só seria trabalhoso se a realidade do alunado e de sua comunidade fossem totalmente diferentes da comunidade escolar. Mas, como as realidades são as mesmas, qualquer projeto é inútil”.
João revela também que os professores não precisam mais perder seus finais de semana corrigindo avaliações. Afinal, as provas foram extintas das escolas há muitos anos.
Este foi o sonho que a professora Maria José teve, enquanto ficou desacordada sobre uma cama de hospital.
Horas antes, a sala onde ela estava dando aula fora invadida por vândalos que estudavam na própria escola que depredavam. Maria José entrou em pânico, sofreu crise de convulsões e perdeu completamente os sentidos.
Agora – no quarto do hospital – sentindo intensas dores físicas e emocionais, a professora conseguiu sorrir sarcasticamente de si mesma. Isso porque, após olhar o calendário na parede ao lado da cama, viu que aquele era dia 1º de Abril.
Com o sorriso ainda presente em seu rosto, ela falou:
“Bem que minha realidade poderia ser uma brincadeira, uma pegadinha do Dia da Mentira. Mas minha vida é uma verdade nua, crua e dolorosa”.
Valdeir Almeida - Ponderantes
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