sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Não poste tudo. Guarde seus próprios segredos

O despertador do celular tocou. Retruquei comigo mesma que queria poder dormir mais uns minutinhos. No escuro, apalpei a cabeceira da cama em busca do interruptor do abajur. Como estava num hotel, não me lembrava onde acendia a… achei!

Acendi a luz pra ver se o brilho me ajudava a despertar. Coloquei uma perna para fora da cama na tentativa de me motivar a abandonar aquele macio edredom. Que sono! O dever do trabalho me chamava, então não podia me dar ao luxo de dormir até tarde.

Caminhei até o banheiro e me assustei com meu próprio reflexo no espelho. Cara amassada, olheira, cabelo bagunçado… “É o que tem pra hoje”, pensei. Segui, então, o ritual matinal: fiz meu culto, tomei banho, arrumei o cabelo, passei uma leve maquiagem corretiva que disfarçou muito bem o cansaço do meu rosto, troquei o pijama por uma roupa social, e o chinelo por um salto alto. Parecia outra pessoa, mas, por dentro, eu continuava com o mesmo sentimento: “Tô muito cansada, não queria sair da cama por nada”.

Abri a cortina do quarto e deixei a luz do sol entrar. Vi meu reflexo no espelho e pensei: “Uau, essa luz me valorizou”. Nesse momento, meu corpo já se sentia mais desperto, e comecei a ver vislumbres de um bom humor. Então, peguei meu celular e filmei um “bom dia” bem pleno para os meus seguidores, como se já tivesse acordado arrumada e animada.

Em pé, perto na janela, vi um cenário contrastante. De um lado, uma bela paisagem composta por árvores, céu azul e prédios imponentes. Do outro, tetos manchados de comércios antigos e casas com obras em andamento. Adivinha qual deles virou foto?

Seleções diárias
Não precisamos nem de um dia inteiro para perceber que a vida virtual, a começar pela nossa, é um recorte de realidades. Ainda que a gente só poste verdades, são apenas metades. Eu poderia fazer uma grande lista sobre os perigos da nossa exposição na rede, mas quero destacar um que adoece a alma de quem está do lado de cá e do lado de lá da tela: acreditar que a vida pode ser recortada.

Recortes de realidade são vistos com normalidade, principalmente por se tratarem de seleções verídicas. Quem se sentiria culpada por postar sobre o buquê de flores que ganhou do namorado pela manhã? Ninguém. Mas quem ousaria postar que o buquê chegou como tentativa de reconciliação após uma briga feia entre os dois? O buquê veio, isso é fato, mas não é tudo.

Mas parece que ao deslizar o dedo na timeline nosso cérebro “buga”. Vemos os lindos recortes de realidade das outras pessoas como se fossem resumos de uma vida inteira. Nesse instante, nossa realidade integral, sem cortes nem censura, entra em contraste com o recorte perfeito dos segundos vividos por alguém. E isso adoece o corpo e a alma. Começa, então, um ciclo doentio, onde um busca provar para o outro o quão interessante sua vida também é.

A exposição cresce juntamente com a depressão. Pode parecer estranho, mas a falta de amor-próprio costuma gerar excesso de autodemonstração. No fundo, essa é uma tentativa desesperada de autoafirmação.

Nessas condições, é comum a gente ver pessoas divulgando informações íntimas, promovendo sua sensualidade em selfies sedutoras, exibindo suas posses e expondo detalhes da sua vida que deveriam ser preservados.

Não somos artigos públicos e de livre acesso, então por que tantas vezes nos colocamos nessa condição? A Bíblia diz que “o mexeriqueiro espalha segredos, mas a pessoa séria é discreta” (Provérbios‬ ‭11:13‬). O texto se refere às pessoas que gastam tempo falando da vida dos outros, mas esse princípio nos leva também a refletir sobre guardar os nossos próprios segredos, atentar pela nossa própria segurança e preservar a nossa própria identidade.

Emanuelle Sales (via Imagem & Semelhança)

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Divisões na igreja desonram a religião de Cristo

“Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo sentido e em um mesmo parecer.” 1 Coríntios 1:10

A união é força; a divisão, fraqueza. Quando se acham unidos os que creem na verdade presente, exercem poderosa influência. Satanás bem compreende isso. Nunca se achou mais determinado do que agora para tornar de nenhum efeito a verdade de Deus, causando amargura e dissensão entre o povo do Senhor. 

O mundo é contra nós, as igrejas populares são contra nós, as leis da Terra em breve serão contra nós. Se já houve tempo em que o povo de Deus devesse unir-se, é agora esse tempo. Deus nos confiou as verdades especiais para este tempo, a fim de as tornar conhecidas ao mundo. A última mensagem de misericórdia está sendo proclamada agora. Estamos lidando com homens e mulheres que rumam ao juízo. Quão cuidadosos devemos ser em cada palavra e ato para seguir de perto o Modelo, a fim de que nosso exemplo leve homens a Cristo. Com que cuidado devemos procurar apresentar a verdade de tal modo que os outros, contemplando-lhe a beleza e simplicidade, sejam levados a recebê-la. Se nosso caráter testifica de seu poder santificador, seremos uma contínua luz aos outros — epístolas vivas, conhecidas e lidas por todos. Não podemos agora correr o risco de dar lugar a Satanás nutrindo desunião, discórdia e lutas. 

Todos os que foram beneficiados pelos trabalhos do servo de Deus, devem, segundo sua habilidade, unir-se-lhe no trabalho pela salvação das pessoas. Essa é a obra de todos os verdadeiros crentes, pastores e povo. Devem conservar sempre em mente o grande objetivo, buscando cada qual preencher sua devida posição na igreja, e todos trabalhando conjuntamente em ordem, harmonia e amor. Vigiarão cuidadosamente a fim de que não seja dada oportunidade para se introduzirem diversidade e divisão. 

Têm ultimamente surgido entre nós homens que professam ser servos de Cristo, mas cuja obra se opõe àquela unidade que nosso Senhor estabeleceu na igreja. Têm métodos e planos de trabalho originais. Desejam introduzir mudanças na igreja, segundo suas idéias de progresso, e imaginam que desse modo se obtenham grandes resultados. Esses homens precisam ser discípulos em vez de mestres na escola de Cristo. Estão sempre desassossegados, aspirando realizar alguma grande obra, fazer algo que lhes traga honra a si mesmos. Precisam aprender aquela mais proveitosa de todas as lições: a humildade e fé em Jesus.

Os que são designados para guardar os interesses espirituais da igreja devem ser cuidadosos em dar o exemplo devido, não dando ocasião a invejas, ciúmes ou suspeitas, manifestando sempre aquele mesmo espírito de amor, respeito e cortesia que desejam incentivar em seus irmãos. Atenção diligente deve ser dada às instruções da Palavra de Deus. Seja contida toda manifestação de animosidade ou falta de bondade, seja removida toda raiz de amargura. Quando surgem dificuldades entre irmãos, deve ser seguida à risca a regra do Salvador. Todo esforço possível deve ser feito para conseguir a reconciliação, mas se as partes persistirem obstinadamente em continuar em divergência, devem ser suspensas até que possam harmonizar-se.

Devemos buscar a verdadeira bondade, em vez da grandeza. Os que possuem a mente de Cristo terão de si mesmos opinião humilde. Trabalharão pela pureza e prosperidade da igreja, e estarão prontos a sacrificar os próprios interesses e desejos, em vez de causar dissensão entre os irmãos. 

Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Quando os cristãos se desentendem, Satanás se insinua para tomar o controle. Quantas vezes teve ele êxito em destruir a paz e a harmonia nas igrejas! Que conflitos ferozes, que amargura, que ódio, se iniciaram por uma pequenina questão! Que esperanças se esfacelaram, quantas famílias foram divididas pela discórdia e contenda! 

Divisões na igreja desonram a religião de Cristo diante do mundo, e dão ocasião aos inimigos da verdade para justificar seu procedimento. O que estamos fazendo para preservar a unidade, nos laços da paz?

Deu-nos o Senhor em Sua Palavra, instruções definidas e inequívocas, e na obediência a elas podemos preservar a união e harmonia na igreja. Irmãos e irmãs, estão dando ouvidos a essas ordens inspiradas? São leitores da Bíblia, e praticantes da Palavra? Estão lutando para cumprir a oração de Cristo, de que Seus seguidores sejam um? 

“O Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.” Romanos 15:5, 6

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

7 dicas para uma dieta nutritiva sem proteína animal

Vegetarianos são fracos? Será que normalmente associamos o vegetarianismo a pessoas extremamente magras, sem vitalidade, olhar de cansaço e sem energia para as atividades diárias? É possível ter uma dieta livre de proteína animal e mesmo assim ser saudável e ter vitalidade? Vamos juntos falar mais sobre esse tema e vermos que é possível ter uma alimentação saudável, rica e saborosa sem produtos de origem animal.

Em primeiro lugar, é importante entender que nossas escolhas podem nos levar a ter uma vida com ou sem equilíbrio. Ao nosso redor, encontramos pessoas com hábitos alimentares impecáveis e outras que adoram alimentos fast food. Essa característica não se restringe somente ao tipo de dieta de cada um. Diz respeito aos hábitos e costumes que carregamos desde infância e novos hábitos que incorporamos ao longo da vida.

É possível ter uma dieta saudável e equilibrada com alimentos de origem vegetal. Dietas vegetarianas são capazes de fornecer carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais em quantidades suficientes para suprir todas as necessidades corporais.

Vemos estudos que demonstram que os alimentos de origem vegetal promovem mais qualidade de vida e, consequentemente, mais longevidade. Vamos pensar em como a nossa dieta deve funcionar na prática? Vamos analisar sete pontos importantes:

1. Toda modificação alimentar, com carne ou não, deve ser realizada com o auxílio de um nutricionista. Além disso, é muito importante, antes de marcar a consulta, verificar se o profissional sabe trabalhar com a dieta vegetariana e respeita a sua escolha. Ter um acompanhamento médico e nutricional regular é bom para todos. Vegetarianos não precisam consultar profissionais de saúde com mais frequência do que não vegetarianos.

2. Ninguém se sustenta apenas com salada! Salada é uma parte importante, mas não pode ser a base de uma alimentação. Nunca se esqueça, você não precisa passar fome para ficar magro! Para isso, precisamos que um conjunto de fatores seja feito.

3. Faça o uso de cereais integrais e feijões que são grandes aliados na dieta vegetariana. Junto com os demais grupos alimentares (frutas, verduras, leguminosas e cereais), e com o auxílio do seu nutricionista, montar uma dieta rica e com variedade. Isso evita que, em pouco tempo, você se canse e enjoe da dieta e logo desista do seu objetivo, que é ter uma vida mais saudável.

4. Não troque a carne por ovos e queijos. Essa substituição é inadequada em termos de necessidades nutricionais. Em uma dieta vegetariana, as leguminosas são as substitutas ideais para as carnes. Exemplos que podemos deixar se relacionam ao grão-de-bico, ervilhas, lentilhas, favas, soja e todos os tipos de feijão. Por serem mais nutritivas e ricas em proteínas, são escolhas mais adequadas do que a PVT (proteína vegetal texturizada), conhecida como carne de soja. O tofu pode ser um grande aliado na dieta vegetariana. Ele faz parte do grupo dos feijões, por ser derivado da soja. Ele é uma boa opção, pelo seu alto teor de proteínas e por conter cálcio de fácil absorção. Ele pode ser usado de diversas formas, o que vai ajudar na variedade e substituição da sua dieta.

5. Vegetarianos podem vir a desenvolver uma deficiência de vitamina B12. Esse é o único nutriente que talvez precise ser complementado, mesmo com uma alimentação bem planejada. A vitamina B12 só está presente em quantidade significativa nos alimentos de origem animal. Devemos lembrar que leite, queijos e ovos são de origem animal e contêm essa vitamina. Logo, quem consome esses alimentos regularmente talvez não precise de complementação. Por isso, a orientação de um profissional faz toda a diferença, pois, dependendo do caso, seja necessária uma suplementação.

6. Toda dieta deve receber a orientação de um profissional competente, seja de um nutricionista ou um médico nutrólogo. O cardápio de um vegetariano deve incluir alimentos ricos em zinco, ferro, cálcio, vitamina B12 e gorduras do tipo ômega-3. São inúmeras informações, em que somente um profissional vai ser capaz de conduzir você em um plano alimentar que se adeque a sua realidade econômica, rotina, gostos pessoais, e acima de tudo, sua felicidade.

7. Se o processo de mudança de hábitos alimentares não for leve e agradável provavelmente você irá desistir no meio do caminho. Não desista, persista! A formação de hábitos saudáveis leva tempo e precisa de dedicação, então use as dicas a seu favor e busque uma nova fase para a sua vida.

Thais Trivelato (via Viva Leve)

Nota: Há mais de cem anos, a escritora inspirada Ellen White já havia dado o recado:

"Quando se deixa o uso da carne, há muitas vezes uma sensação de fraqueza, uma falta de vigor. Muitos alegam isso como prova de que a carne é essencial; mas é devido a ser o alimento desta espécie estimulante, a deixar o sangue febril e os nervos estimulados, que assim se lhes sente a falta. Alguns acham tão difícil deixar de comer carne como é ao bêbado o abandonar a bebida; mas se sentirão muito melhor com a mudança.

Quando se abandona a carne, deve-se substituí-la com uma variedade de cereais, nozes, verduras e frutas, os quais serão a um tempo nutritivos e apetitosos. 

O lugar da carne deve ser preenchido com alimento são e pouco dispendioso. A esse respeito, muito depende da cozinheira. Com cuidado e habilidade se podem preparar pratos que sejam ao mesmo tempo nutritivos e saborosos, substituindo, em grande parte, o alimento cárneo. Em todos os casos, educai a consciência, aliciai a vontade, supri alimento bom, saudável, e a mudança se efetuará rapidamente, desaparecendo em breve a necessidade de carne.

Não é o tempo de todos dispensarem a carne da alimentação? Como podem aqueles que estão buscando tornar-se puros, refinados e santos a fim de poderem fruir a companhia dos anjos celestes continuar a usar como alimento qualquer coisa que exerça tão nocivo efeito na alma e no corpo? Como podem tirar a vida às criaturas de Deus a fim de consumirem a carne como uma iguaria? Volvam antes à saudável e deliciosa alimentação dada ao homem no princípio, e a praticarem e ensinarem a seus filhos a misericórdia para com as mudas criaturas que Deus fez e colocou sob nosso domínio."

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Dia do psicólogo e a terapia divina

No dia 27 de agosto é comemorado no Brasil o Dia do Psicólogo. Nesta mesma data, no ano de 1964, a profissão foi regulamentada através da Lei 4.119/64.

Inicialmente vista com desconfiança pela religião, a psicologia cresceu com certo ar de rebeldia contra ela, mas hoje se aproxima da espiritualidade (outro nome da religião) como uma aliada. Com o crescente diálogo entre essas duas áreas, e sendo que estamos vivendo na época das terapias, quero convidá-lo a ver Deus como um Psicólogo que pode tratar seus traumas de maneira eficaz. Mais do que uma figura de apego, Deus não é uma simples ferramenta psicológica; Ele é a fonte da cura. Nessa perspectiva, destaco sete aspectos sobre quem Deus é e o que Ele faz:

Título: o Psicólogo dos psicólogos
Ainda no começo da Bíblia, Deus Se apresenta como o Médico que nos cura (Êx 15:26), título que poderia ser parafraseado como o Psicólogo que nos restaura. Além disso, o verbo grego sozo, usado cerca de cem vezes no Novo Testamento, significa tanto “salvar” quanto “curar”. A cura divina é integral.

Capacitação: empatia infinita
Se Deus fosse indiferente, como ensinavam algumas correntes filosóficas e teológicas, então Ele não poderia sentir nem amar. Mas na Bíblia, Deus é retratado como tendo emoções e sentimentos. O próprio Deus Se apresenta assim (Êx 34:6-7). Além disso, Jesus entende nossas fraquezas e pode Se compadecer de nós (Hb 4:15-16), o que implica empatia. O melhor é que Deus tem uma capacidade infinita de esquadrinhar nossa mente e nossa história (Sl 139:1-2). Só de olhar para nós, Ele sabe o que sentimos.

Equipe: dois assistentes
Deus trabalha em equipe e tem dois ajudantes altamente habilitados: Jesus e o Espírito Santo. Assim como o Pai é o “Deus de toda consolação” (2Co 1:3), ambos também recebem o título de “Consolador” (Jo 14:16, 26; 16:7). Jesus foi ungido para curar os corações partidos, consolar os tristes e libertar os oprimidos (Is 61:1-3; Lc 4:18).

Atendimento: 24 horas
Deus está sempre disponível e nos incentiva a buscá-Lo de todo o coração (Jr 29:11-13). Ele não apenas espera você no “consultório”, mas envia o Espírito Santo para fazer terapia em sua casa. E você pode também contar com atendimento on-line gratuito o tempo todo.

Linha terapêutica: psicologia positiva
Esquecendo os erros do passado (Mq 7:18-19; Hb 10:17), Deus aconselha você a concentrar-se no que é bom, positivo, verdadeiro, nobre, correto, puro, amável, excelente (Fp 4:8). Em outras palavras, coloque o foco na felicidade, e não na infelicidade.

Especialidade: todos os traumas
Por exemplo, para reduzir a ansiedade, um dos problemas psicológicos mais comuns da atualidade, Jesus apresenta o cuidado amoroso de Deus (Mt 6:25-34). Sobre Ele podemos lançar todas as nossas preocupações (1Pe 5:7).

Técnica favorita: diálogo
A oração é o meio de compartilharmos nossas inquietudes com Deus. Em Salmos, mais do que hinos, encontramos corações que se abriram ao grande Psicólogo da alma. Esses relatos (às vezes alegres, ora angustiados) retratam verdadeiras “terapias” no divã de Deus.

A psicologia tem seu lugar e pode ser efetiva. Mas, como sugere esta miniteoria, Deus é o maior de todos os psicólogos.

Marcos de Benedicto (via Revista Adventista)

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Negligenciar o “Espírito da Profecia” é negar a nossa identidade

Em meio a tantas igrejas, seitas e denominações religiosas, é fácil encontrar um ponto em comum em várias delas: um evangelho focado em adaptar os conceitos e ensinamentos bíblicos para uma apresentação de uma vida melhor, feliz e motivada aqui na Terra. O céu, esse lugar outrora almejado com todas as forças, parece estar em um futuro distante, uma utopia mais próxima até de quem está perto da morte do que daqueles que gozam de boa saúde e uma vida dita “plena”.

Neste mar de denominações, é perceptível e compreensível que as mesmas busquem “diferenciais” para atrair fiéis. Cultos mais light, música distinta, doutrinas flexíveis, entre outros itens, tem conseguido conquistar público, principalmente neste contexto que alguns teimam em chamar de “pós-modernismo”.

Não. Esse texto não vai falar sobre os métodos e formas de se fazer evangelismo ou de se montar doxologias. Vamos falar de nós e do nosso diferencial. A Igreja Adventista, durante muito tempo, apresentou o estudo minucioso do aspecto profético como um de seus grandes diferenciais. Muito do reconhecimento como “povo da Bíblia” era pelo profundo conhecimento que tínhamos das profecias.

Éramos apaixonados por isso. Desde a doutrina do santuário (ao meu ver, nosso grande diferencial, se você estava curioso em saber qual a minha opinião), passando pelas profecias de Daniel e Apocalipse, era um prazer falar sobre o tema e, principalmente, ouvir sobre ele. Sob a luz dos escritos de Ellen White, tudo fazia ainda mais sentido. E a série Conflito dos Séculos era uma leitura aprazível.

O que aconteceu com o tema da profecia dentro de nossas igrejas?

Por que quase não vemos abordagens sobre o assunto nos sermões, em cultos jovem, nas escolas sabatinas, nos pequenos grupos? Sim, em reuniões regulares da Igreja, não digo em eventos especiais. Vejo esforços para eventos específicos que falam sobre o tema, mas isso não basta, ao meu ver. Se este é o nosso diferencial, o trabalho deve ser feito na base.

Uma de minhas lembranças mais carinhosas é a de, durante minha infância e adolescência, ir com meu pai aos cursos de Daniel e Apocalipse que ele ministrava a interessados. Ver aqueles rostos empolgados e famintos por saber mais era uma coisa muito tocante. Todos com suas Bíblias e seus fascículos de “Revelações do Apocalipse”, de Daniel Belvedere. Sermões sobre o tema também eram frequentes. Era um momento gostoso de se viver.

O “Espírito da Profecia” vai além da revelação da luz menor de Ellen White, que nos ajuda a enxergar melhor o que Deus quis nos dizer. Mas também é dar testemunho sobre isso, falar ao mundo! Como diz Apocalipse 19:10, “o testemunho de Jesus é o Espírito da Profecia”. Por que não continuamos a testemunhar com a mesma intensidade daqueles tempos em que éramos conhecidos por isso?

Não podemos esquecer do nosso maior diferencial. Negligenciar o “Espírito da profecia” em sua plenitude, que envolve testemunhar com todas as forças sobre isso, é negligenciar nossa identidade. Fazer isso é se tornar uma igreja genérica. E ninguém gosta de comprar produtos genéricos, que não apresentem qualidade superior e valor agregado que possam fazê-las mudar suas vidas pra melhor. Não somos e não podemos ser genéricos. Nós temos um grande diferencial!

Fábio Bérgamo (via Marcas & Marcas)

Assista também o vídeo do prof. Leandro Quadros sobre o "Espírito de Profecia":

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Ellen White, os adventistas e o cuidado com o meio ambiente

A crise ambiental para a qual o modelo insustentável de desenvolvimento do ser humano conduziu a Terra tem facetas preocupantes. As mudanças climáticas ameaçadoras e transversais, a perda dramática de biodiversidade, a redução drástica da água doce disponível, a poluição letal do ar, a profusão de plásticos nos mares e oceanos, a pesca excessiva, as queimadas que neste ano atingem a região amazônica classificadas como crise internacional... A constante incapacidade de tomar medidas urgentes está tendo impactos negativos sustentadas e potencialmente irreversíveis nos recursos ambientais essenciais e na saúde humana.

A CRISE AMBIENTAL EM CIFRAS
Mudanças climáticas. Desde 1880 a temperatura média da superfície mundial aumentou entre 0,8 e 1,2 grau Celsius. Na última década foram constatados oito dos 10 anos mais quentes de que se tem registro. As emissões de gases do efeito estufa precisam ser reduzidas entre 40% e 70% entre 2010 e 2050 para se evitar os piores efeitos das alterações climáticas.

Poluição do ar. Esta poluição causa entre seis e sete milhões de mortes prematuras por ano. No total, 95% da população do planeta reside em áreas com níveis de partículas finas superiores às recomendadas pela OMS.

Biodiversidade. As áreas protegidas não chegam a 15% dos habitats terrestres e 16% das zonas costeiras e marinhas. Estão em risco de extinção 42% dos invertebrados terrestres, 34% dos invertebrados de água doce e 25% dos invertebrados marinhos.

Oceanos. A estimativa é que 50% da Grande Barreira de Corais, na Austrália, esteja prejudicada pelo aumento das temperaturas, enquanto os manguezais perderam entre 20% e 35% de sua área de distribuição desde 1980. Todos os anos, oito milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos.

ELLEN G. WHITE FOI UMA AMBIENTALISTA?
Ellen G. White foi uma ambientalista? Estava ela preocupada com questões ligadas à ecologia, reciclagem, poluentes químicos e os efeitos do consumismo desenfreado dos nossos dias? Embora tivesse vivido a maior parte de sua vida no século 19, antes de os plásticos serem inventados, da energia nuclear, de produtos químicos antropogênicos contaminarem nossos rios e córregos e antes de a ganância por petróleo poluir os ecossistemas, ela foi uma forte defensora do cuidado com o meio ambiente. Sua consciência ambiental veio de duas fontes: as Escrituras e a inspiração vinda de Deus. 

"Mas o que sobre todas as demais considerações deve levar-nos a apreciar a Bíblia é que nela está revelada aos homens a vontade de Deus. Ali aprendemos o objetivo de nossa criação e os meios pelos quais esse objetivo pode ser atingido. Aprendemos a melhorar sabiamente a presente vida, e a conseguir a futura." (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 53)

Em relação à fonte de seus conselhos, Ellen G. White afirmou: 

"Nestas cartas que escrevo, nos testemunhos de que sou portadora, comunico-lhes aquilo que o Senhor me apresentou. Não escrevo um artigo sequer, na revista, expressando meramente ideias minhas. É o que Deus me revelou em visão – os preciosos raios de luz que brilham do trono." (Testemunhos Seletos, vol. 4, p. 261)

Ellen G. White teve uma abordagem holística para sua vida e missão. Assim, para ela, cuidar da Terra não era uma atitude de distração para a alma. De fato, em sua visão de mundo, a própria alma é alimentada através da beleza do mundo criado por Deus. 

"[Jesus] veio como embaixador de Deus, para nos mostrar a maneira de viver de modo a conseguir na vida os melhores resultados. Quais foram as condições escolhidas pelo Pai infinito para seu Filho? Uma habitação isolada nas colinas da Galileia, [...] a serenidade da alvorada ou do crepúsculo no verdor do vale; o sagrado ministério da natureza; o estudo da criação e da providência; a comunhão da alma com Deus – tais foram as condições e oportunidades dos primeiros anos de vida de Jesus." (A Ciência do Bom Viver, p. 365-366)

Além disso, ela acreditava que a própria natureza não só promove a glória de Deus, mas também traz descanso e alegria para pessoas de todas as idades. 

"É repousante para os olhos e para a mente demorar-se sobre as cenas da natureza, sobre as florestas, os montes, vales e rios, desfrutando o prazer de infindáveis variedades de forma e cor, e a beleza com que as árvores, arbustos e flores estão agrupados no jardim da natureza, fazendo-a um quadro de beleza. Crianças, jovens e adultos podem igualmente encontrar repouso e satisfação aí." (O Lar Adventista, p. 154)

Ela também incentivava as pessoas a comprar um pedaço de terra para cultivar. 

"Compre um pequeno pedaço de terra, onde você pode ter um jardim, onde as crianças podem ver as flores crescendo, e aprender lições de simplicidade e pureza." (General Conference Bulletin, 30 de março de 1903, p. 29)

Ela também acreditava no poder terapêutico das plantas. 

“Há vivificantes propriedades no bálsamo do pinheiro, na fragrância do cedro e do abeto, e outras árvores têm também propriedades curadoras.” (A Ciência do Bom Viver, p. 264)

Como Ellen G. White praticava o que ela pregou sobre ecologia? Ela gostava de jardinagem orgânica, caminhadas, acampar nas montanhas, piqueniques com a família ao ar livre, e deu (assim como recebeu) tratamento natural para os doentes, incluindo hidroterapia, massagem e outras intervenções de saúde integral. Em seu diário, durante a viagem no norte da Itália, Ellen G. White escreveu com entusiasmo sobre o mundo natural: 

"Temos outra bela manhã. Os Alpes cobertos de neve linda com o sol que descansa em cima [...] Este é o cenário mais impressionante que já vimos. Assemelha-se muito ao Colorado e suas montanhas rochosas selvagens, precipícios, ravinas, profundos desfiladeiros e vales estreitos." (Manuscript Releases, p. 303)

Em sua última casa, em Elmshaven, Ellen G. White arrumava cuidadosamente sua mesa, e os seus netos se lembram de que havia argolas para guardanapos e buquês de flores no sábado. Para ela, a natureza é um dom de Deus para nós e Ele pretende que nós nos importemos com ela. 

"Ele pôs, no princípio, nossos primeiros pais entre os belos quadros e sons em que deseja que nos regozijemos ainda hoje. Quanto mais chegarmos a estar em harmonia com o plano original de Deus, mais favorável será nossa posição para assegurar saúde ao corpo, espírito e alma." (A Ciência do Bom Viver, p. 365)

Provavelmente nenhum dos conselhos de Ellen G. White é tão voltado para o meio ambiente como sua defesa de uma dieta vegetariana. Observe que só o praticar o vegetarianismo resultaria em melhor saúde, e também poderia ajudar a salvar os animais e a Terra. 

"Cereais, frutas, nozes e verduras constituem o regime alimentar escolhido por nosso Criador. Esses alimentos, preparados da maneira mais simples e natural possível, são os mais saudáveis e nutritivos. Proporcionam uma força, uma resistência e vigor intelectual que não são promovidos por uma alimentação mais complexa e estimulante." (A Ciência do Bom Viver, p. 296)

Embora Ellen G. White escrevesse antes da ganância por petróleo dominar a política do mundo, e que a água se tornasse um recurso ameaçado, sua defesa vegetariana pode proteger esses produtos em declínio. A produção de alimentos de origem vegetal requer muito menos fertilizantes, energia, pesticidas, água e menos terra do que a produção de alimentos de origem animal. Comer uma dieta baseada em vegetais protege nosso planeta, poluindo menos o ar e a água, produzindo menos gases causadores do efeito estufa e evitando a erosão do solo.

Ellen G. White também reconheceu a importância da água pura e do ar limpo.

"As preciosas coisas do vale se alimentam dessas montanhas eternas. Os Alpes da Europa são a sua glória. Os tesouros das colinas concedem suas bênçãos aos milhões. Observamos inúmeras cataratas correndo dos topos das montanhas para os vales abaixo." (Manuscript Releases, v. 3, p. 215)

Em relação à poluição atmosférica, ela afirmou: 

"O ambiente material das cidades constitui muitas vezes um perigo para a saúde. O estar constantemente sujeito ao contato com doenças, o predomínio de ar poluído, água e alimento impuros, as habitações apinhadas, obscuras e insalubres, são alguns dos males a enfrentar." (A Ciência do Bom Viver, p. 365)

Ellen G. White vincula a ecologia à comissão evangélica, incluindo o que comemos, a forma como podemos viajar, como gastamos o nosso dinheiro, mesmo como podemos restaurar terra utilizada abusivamente. Era o plano de Deus, pelo seu povo do passado e atualmente, ensinar todas as nações como cuidar da Terra de forma adequada e como se manter livre de doenças, apontando, assim, para o Criador como fonte de saúde, beleza e alegria. Qualquer coisa que o cristão faz para a melhoria do ambiente ecológico da humanidade oferece maior oportunidade para também melhorar a humanidade fisicamente e espiritualmente. 

"Desde o solene ribombar do trovão profundo e do bramir incessante do velho oceano, até os alegres cantos que fazem as florestas ressoarem de melodia, os milhares de vozes da natureza proclamam o seu [de Deus] louvor. Na terra, no mar e no céu, com seus maravilhosos matizes e cores, variando em esplendoroso contraste ou confundindo-se harmoniosamente, contemplamos sua glória. As colinas eternas falam de seu poder." (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 54)

Nos últimos anos, tem havido uma proliferação de pesquisas que mostram o potencial de desenvolvimento moral do mundo natural. No entanto, Ellen G. White falou sobre o potencial de desenvolvimento moral na natureza há mais de cem anos. Ela acreditava que a natureza proveu oportunidades para aprender e aprofundar os valores espirituais, que nos são intencionais em apontar para Deus como Criador da natureza. Assim, a ecologia não é um fim em si mesmo. Um ambiente intocado aponta para um Deus que se deleita na beleza. O respeito pela criação, na visão de Ellen G. White, inclui o respeito pelo Criador. 

Adão e Eva perderam o ambiente perfeito do Éden por causa do pecado. Estamos novamente correndo o risco de perder o nosso meio ambiente por causa dos pecados do materialismo, ganância, poluição e desprezo dos recursos ambientais. Em Cristo, podemos ser restaurados à imagem de Deus, uns com os outros e com a natureza. O cristão não deve olhar só para a frente, para a restauração final da Terra ao seu estado original, mas também honrar a Deus hoje, cuidando de forma responsável do planeta que Ele lhe confiou.

DECLARAÇÕES DA IGREJA ADVENTISTA SOBRE O MEIO AMBIENTE
O mundo no qual vivemos é uma dádiva de amor do Deus Criador, que “fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apocalipse 14:7; 11:17-18). Nesta criação, colocou os humanos, criados intencionalmente para relacionarem-se com Ele, com as outras pessoas e com o mundo ao redor. Assim, os adventistas do sétimo dia mantêm que a preservação e manutenção da criação estão intimamente relacionadas com o culto a Ele.

Deus separou o sábado como um memorial e lembrança perpétua de Seu ato criativo e do estabelecimento do mundo. Ao repousar nesse dia, os adventistas do sétimo dia reforçam o senso especial de relacionamento com o Criador e com Sua criação. A guarda do sábado acentua a importância de nossa integração com o meio ambiente geral.

A decisão humana de desobedecer a Deus interrompeu a ordem original da criação, resultando em uma desarmonia alheia a Seus propósitos. Desta forma, nossa atmosfera e águas estão poluídas, as florestas e a vida selvagem saqueadas, os recursos naturais esgotados. Sendo que nós consideramos os seres humanos como parte da criação de Deus, nossa preocupação com o meio ambiente se estende à saúde e ao estilo de vida pessoal. Nós advogamos uma forma de vida saudável e rejeitamos o uso de substâncias tais como o fumo, o álcool e outras drogas prejudiciais ao corpo e aos recursos da terra; e promovemos uma dieta vegetariana simples.

Os adventistas do sétimo dia estão comissionados a um relacionamento respeitoso e cooperativo entre as pessoas, reconhecendo nossa origem comum e compreendendo a dignidade humana como uma dádiva do Criador. Uma vez que a miséria humana e a degradação do meio ambiente estão inter-relacionadas, nós nos empenhamos por melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. Nosso objetivo é manter um crescimento dos recursos atendendo concomitantemente às necessidades humanas.

O verdadeiro progresso quanto a cuidar de nosso ambiente natural recai sobre o esforço individual e cooperativo. Nós aceitamos o desafio de trabalhar em prol da restauração do desígnio global de Deus. Movidos pela fé em Deus, nós nos comprometemos a promover o progresso que se revela nos níveis pessoal e ambiental em pessoas íntegras e dedicadas a servir a Deus e a humanidade.

Neste compromisso confirmamos ser mordomos para com a criação de Deus e cremos que a restauração total se concretizará apenas quando Deus fizer novas todas as coisas.

Esta declaração foi aprovada e votada pela Associação Geral do Comitê Executivo dos Adventistas do Sétimo Dia na sessão do Concílio Anual em Silver Spring, Maryland, EUA, 12 de outubro de 1992.

Os adventistas do sétimo dia creem que a espécie humana foi criada à imagem de Deus, assim representando a Deus como Seus mordomos, para dominar o ambiente natural de uma maneira fiel e frutífera.

Infelizmente, a corrupção e a exploração podem ser atribuídas à responsabilidade humana. Homens e mulheres têm se envolvido cada vez mais em uma destruição megalomaníaca dos recursos naturais, resultando em grande sofrimento, descontrole ambiental e ameaça da mudança climática. Conquanto a pesquisa científica precise continuar, as evidências confirmam que a crescente emissão de gases destrutivos, a diminuição da camada protetora de ozônio, a destruição maciça das florestas americanas e o chamado efeito estufa, estão ameaçando o ecossistema terrestre.

Estes problemas são, em sua maioria, devidos ao egoísmo humano e à egocêntrica atividade para obter mais e mais por meio do aumento da produtividade, do consumo ilimitado e do esgotamento de recursos não-renováveis. A causa da crise ecológica está na ganância humana e na opção de não praticar a boa e fiel mordomia dentro dos limites divinos da criação.

Os adventistas do sétimo dia defendem um estilo de vida simples e saudável, onde as pessoas não participam da rotina do consumismo desenfreado, da obtenção de posses e da produção exagerada de lixo. É necessário que haja respeito pela criação, restrição no uso dos recursos naturais, reavaliação das necessidades e reiteração da dignidade da vida criada.

Esta declaração foi aprovada e votada pela Comissão Administrativa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (ADCOM) e foi liberada pelo gabinete do presidente, Robert S. Folkenberg, na sessão da Associação Geral em Utrecht, Holanda, de 29 de junho a 8 de julho de 1995.



(Com informações da Revista Kerygma)

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

A Porta dos Fundos

Durante o último Concílio Anual do Comitê Executivo da Associação Geral, realizado em Battle Creek, Michigan (EUA), David Trim, diretor do departamento de Arquivos, Estatísticas e Pesquisa, apresentou o relatório estatístico anual. Entre os muitos números descrevendo a realidade de uma igreja que cresce, houve um número que, mais uma vez, me deixou abatido. Segundo informou Trim, 42% dos membros estão deixando a igreja. E, aparentemente, esses números não incluem as perdas por morte. 

Podemos ignorar essas estatísticas em meio a outras discussões apaixonadas. Mas não devemos. Imagine, neste momento, a sua congregação, seja ela grande ou pequena. Pode ser que você pertença a uma igreja pequena, no norte da Alemanha, com 50 membros. Estatisticamente, 20 desses 50 abandonarão a igreja nos próximos anos. Talvez você pertença a uma congregação grande e animada em São Paulo ou em Nairóbi, no Quênia, com 2 mil membros. Oitocentos deles vão desaparecer. Tente pensar em 20 cadeiras vazias ou imagine o tamanho do espaço de 800 cadeiras vazias. 

Meu coração dói quando imagino essa imagem em minha congregação local. Além das estatísticas relatáveis, esses números representam pessoas que, por qualquer que seja a razão, decidiram que o adventismo não é mais para elas. Não me compreendam mal. Eu não acho que ser membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia significa estar no caminho direto para o Céu. Deus ainda está falando ao coração daqueles que saíram e, felizmente, muitos retornarão. No entanto, o que me afeta é o fato de passarmos por cima desses números. 

Sim, alegramo-nos com 1.352.931 novos membros que se uniram à igreja em 2017, mas será que sofremos pelos 563.205 que desapareceram? Os motivos para seu desaparecimento podem ser variados. Alguns foram batizados, mas não discipulados realmente. Outros são feridos por nós, os membros antigos. Os conflitos interpessoais os empurram para fora pela porta de trás da igreja. Como pai de adolescentes e de uma jovem, preocupo-me particularmente com os jovens que perdemos depois que se formam na faculdade. Por que temos dificuldade para ajudá-los a encontrar um lar espiritual?

Cada vez mais os pesquisadores adventistas realizam estudos de qualidade sobre essa triste realidade. Se queremos pensar estrategicamente, precisamos das pesquisas. Mas, além delas, precisamos de paixão para vencer esse desafio. Se você quer fazer parte da solução, estão a seguir quatro sugestões práticas que podem ajudar a conter a maré. 

Primeiro, conheça pessoalmente os membros da sua igreja, especialmente os novos. Mostre interesse por eles. 

Segundo, ajude a liderança da sua igreja a discipular os membros novos. Fazer discípulos não é um trabalho exclusivo do pastor ou do ancião. A igreja local é o marco zero para o discipulado. 

Terceiro, dedique uma atenção especial aos adolescentes e jovens da sua congregação. Conheça-os pelo nome; fale com eles; ouça suas preocupações e dúvidas sobre a igreja; seja um conselheiro. 

Finalmente, comece um diário de oração que aborde especificamente aqueles que nos deixaram. A intercessão é o recurso de Deus para nos deixar conectados ao mundo ao nosso redor. Quando você orar, ouça a voz suave do Espírito Santo sussurrando ao seu coração maneiras criativas de trazer para casa os que se afastaram.

Geraldo A. Klingbeil (via Revista Adventist World)

Nota: Batismo e conservação andam de mãos dadas. Batismo sem conservação é incompleto; por sua vez, conservação sem batismo é irresponsável. O remédio para a perda de membros é nutrir os novos membros desde o momento em que eles são batizados, até que comecem a produzir frutos. Conservação e evangelismo são dois lados da mesma moeda. A conservação necessita se tornar parte da cultura da igreja. Ela precisa ser um modo de vida na igreja local.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Cotidiano???

FOI ONTEM. Nossa! Tanto tempo assim? É, vivemos neste presente efêmero que descarta ao esquecimento tudo o que não cabe num Stories. ⠀

Ontem, por 4 horas, a ponte mais famosa do Brasil foi protagonista das atenções nacionais. William Augusto Silva tinha 20 anos. Não passou disso. Desorientado e agressivo, sequestrou um ônibus com 37 vidas que jamais serão as mesmas. 
Na mira de um sniper, o tiro acertou o alvo. Menos um criminoso no país. Mais lágrimas e perguntas da sociedade. 
Não é “o que houve?” - é “o que acontece?”. Porque no meio daquela ponte tem um pouco de todos nós. A insegurança e a violência. Medo e indiferença. A ameaça de verdade e a arma de brinquedo. Vidas foram salvas e uma se perdeu. 
O curioso do sinistro? Um dos sites jornalísticos mais importantes do país enquadrou esta notícia na sessão COTIDIANO. Simples assim! E depois de uma propaganda de passagem aérea seguida de uma matéria sobre um filme que está bombando. ⠀

Isso me causou indigestão. Percebe? TODOS nos anestesiamos das tragédias pra suportar a travessia. Cotidiano?! O jornal não está errado. Mas, nós estamos! A Bíblia diz que “os homens se tornaram insensíveis” (Ef 4:19) e teriam “consciência cauterizada” (1Tm 4:2). Percebe? Que Deus nos livre de levarmos ao descaso o que é trágico, ou termos amnésia do que é vital! ⠀

O mundo não suporta mais viver longe do plano original de Deus. Atenção, não ponha no piloto automático sua aeronave mergulhando em queda livre! Pontes assim são lembretes da nossa origem e destino. Não fique na metade dela. 
“Tempos de perplexidade se acham diante de nós” (Ellen G. White, Eventos Finais, p. 11). Cristo está às portas. E jamais deixemos o extraordinário ficar medíocre. Que a habitante de nossa fé prática nos motive a melhorar o mundo: a ESPERANÇA. 
Até, finalmente, naquele dia, atravessarmos a ponte de uma vez. Sem mais passado, só futuro. 
Jesus em breve voltará.

Odailson Fonseca (via facebook)

terça-feira, 20 de agosto de 2019

O chão não é o seu lugar!

Caminhamos pela vida com desenvoltura. Somos cristãos confiantes, cremos que resistiremos às tentações. Conhecemos a verdade, caminhamos pela verdade, pregamos a verdade, lutamos pela verdade. Mas… basta um degrauzinho na calçada e pronto: o tombo. Por isso, o alerta bíblico: está em pé? Preste atenção! Cuidado para não cair! Faça o que for preciso para evitar o tombo (1Co 10:12)

Meu irmão, minha irmã, não há necessidade de eu lhe dizer o que precisa fazer para não levar um tombo na sua santidade. Você sabe. Ainda assim, permita-me lembrá-lo: primeiro, caminhe sempre olhando para o chão, para que não leve um tombo sem perceber, isto é, vigie. Segundo, tenha os olhos fixos não só nos seus pés, mas fique atento à distância, antecipando os obstáculos perigosos do caminho e desviando-se deles antes que cheguem perto, isto é, antecipe-se: enquanto o obstáculo ainda é uma tentação, corra dele, antes de sentir o gosto do asfalto do pecado. Terceiro, esteja sempre atento aos alertas do seu companheiro de jornada, isto é, tenha uma vida de oração e estudo da Palavra, para que haja uma sintonia constante entre você e a voz de Deus. 

Em linguagem bíblica: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26:41).

É fundamental que você saiba que, se tomou um tombo, isso não significa um ponto final. Nada disso. Há vida à frente. Há restauração. Há recuperação. Há perdão. Coma, beba e recupere as forças, porque sua jornada será sobremodo longa. Viva o luto, tome os remédios, aceite limitações temporárias, conforme-se com os hematomas, leve o tempo necessário para que suas pernas sejam fortalecidas e seu equilíbrio seja restabelecido. A única coisa que não pode acontecer é você permanecer no chão. 

E, se alguém lhe disse que seu lugar é no chão, não acredite. É uma mentira diabólica. Jesus não deseja ver ninguém prostrado, a ética dele não é a da punição sádica, mas a da restauração bendita. Pense no que você pode aprender com o tombo para sua vida daqui em diante. Reflita sobre como usar essa experiência para o seu crescimento e amadurecimento, de preferência transmitindo as lições aprendidas a outras pessoas. 

Tombos doem. Machucam. Deixam cicatrizes e sequelas. Mas podem ser evitados, se você tomar as precauções necessárias. Porém, se ele acontecer, lembre-se de que você tem um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo, e que, se houver arrependimento, pedido de perdão e a intenção sincera de não mais incorrer no mesmo tropeço, você será restaurado. Totalmente restaurado. 100% restaurado. Pois Deus não deixa sequelas. O chão não é o seu lugar, ele é apenas um mestre que lhe ensinará muitas coisas. Aprenda. Levante-se. Deixe Cristo limpar o sangue provocado pelo tombo com o sangue provocado pela cruz e vá em frente, de cabeça erguida, rumo a uma vida que ainda tem muito a oferecer. 

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

"Deus pode evitar que vocês caiam e pode apresentá-los sem defeito e cheios de alegria na sua gloriosa presença" (Judas 24).

"Se, associando-nos com pessoas do mundo em busca de prazeres, conformando-nos com as práticas mundanas, unindo os nossos interesses com incrédulos, colocamos os pés no caminho da tentação e do pecado, como poderemos esperar que Deus nos guarde de cair?" (Review and Herald, 14 de abril de 1904).

"Se permanecerdes sob a bandeira ensanguentada do Príncipe Emanuel, fazendo fielmente o Seu serviço, nunca precisareis ceder à tentação; pois está ao vosso lado Alguém capaz de guardar-vos de cair" (Ellen G. White - Manuscrito 8, 1899).

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Os cristãos e suas mentes ansiosas

Você já sentiu uma sensação ruim de medo, uma preocupação incomum sobre o futuro e o aumento das batidas do coração a ponto de achar que iria morrer? Esse mal tem nome: ansiedade.

Presente na sociedade desde a aurora da civilização, a ansiedade acompanha o ser humano como parte de sua própria condição pós-pecado. Ela caracteriza nossa estrutura psíquica, já que a vida é precária e não podemos controlar nossas emoções, o ambiente e o futuro. Na busca por transcendência, descobrimos nossa limitação e finitude. Porém, nos últimos anos, com a aceleração do tempo, a desconexão do espaço, a mecanização das tarefas, a fragmentação da comunidade e a desvalorização da vida, o grau de ansiedade aumentou geometricamente. O próprio Cristo profetizou que, no fim, as nações experimentariam pânico por causa dos acontecimentos, e as pessoas, apreensivas, desmaiariam de terror (Lc 21:25-26). Portanto, se você tem sido vítima da ansiedade, não está sozinho.

Há vários tipos de ansiedade que dominam as mentes religiosas e seculares, como a existencial, a inquietude que angustia os que não veem significado na vida, nem propósito na existência; posicional, o desassossego que agita os que buscam popularidade e prestígio a qualquer preço; funcional, o temor exagerado de não ser bom o suficiente para encarar as exigências do mercado; econômica, o pavor de não ter dinheiro para enfrentar as crises financeiras e as carências da vida; cognitiva, a incerteza que intranquiliza os que vivem atribulados pela dúvida; tecnológica, a ambição que impacienta os que trocam de aparelho todo ano e consultam as mídias sociais a cada momento; familiar, o receio que resulta das dificuldades de convivência com o cônjuge ou das preocupações com os filhos; soteriológica, a apreensão que paralisa os que não têm certeza da salvação; tanatológica, o medo que aterroriza os que não estão preparados para a morte e se desesperam diante da possibilidade de separar-se dos queridos; e escatológica, a tensão que domina os que pensam demais sobre o fim do mundo e veem sinais alarmantes em cada notícia de jornal.

No sentido mais profundo, Deus tem a solução para todas essas ansiedades. A Bíblia não fala muito de ansiedade; o conceito de medo é muito mais frequente. Porém, o conselho bíblico é que não devemos andar ansiosos por nada e que lancemos toda a nossa ansiedade sobre Deus, pois Ele cuida de nós (Mt 6:25-34; Fp 4:6; 1Pe 5:7). Várias passagens bíblicas podem ser resumidas numa palavra: relaxe! Não no sentido de não ter responsabilidade nem fazer as coisas malfeitas, mas de confiar em Deus e descansar Nele.

Muitos cristãos vivem assustados e estão aprisionados no círculo sem saída da ansiedade porque veem ameaças em cada esquina. Mas não precisamos temer. A religião deveria reduzir a ansiedade, e não aumentá-la. Em termos coletivos, a igreja já passou por momentos de ansiedade superlativa, em épocas de guerra, perseguição, fanatismo, mornidão e crise, e sobreviveu. Com a ajuda divina, nós também sobreviveremos.

A vivência do evangelho, que inclui a libertação do medo, é o fim da ansiedade. Quem está em Cristo tem tranquilidade de espírito, pois Ele é nossa paz (Mt 11:28-30; Jo 14:27; 16:33; Ef 2:14; Fp 4:7). O amor, personificado por Deus (1Jo 4:8, 18), elimina o medo. Portanto, tranquilize-se! Substitua o medo pelo amor, a dúvida pela confiança e a ansiedade pela paz.

Marcos De Benedicto (via Revista Adventista)

Nota: Deixo abaixo, um sábio conselho de Ellen G. White:

"Achamo-nos num mundo de sofrimento. Dificuldades, provações e dores nos aguardam em todo o percurso para o lar celestial. Muitos existem, porém, que tornam duplamente pesados os fardos da vida por estarem continuamente antecipando aflições. Se têm de enfrentar adversidade ou decepção, pensam que tudo se encaminha para a ruína, que a sua situação é a mais dura de todas, e que vão por certo cair em necessidade. Trazem assim sobre si o infortúnio e lançam sombras sobre todos os que os rodeiam. A própria vida se lhes torna um fardo. Entretanto não precisa ser assim. Custará um decidido esforço mudar a corrente de seus pensamentos. Mas essa mudança pode acontecer. Sua felicidade, tanto nesta vida como na futura, depende de que fixem a mente em coisas animadoras. Desviem-se eles do sombrio quadro, que é imaginário, voltando-se para os benefícios que Deus lhes tem espargido na estrada, e para além destes, aos invisíveis e eternos." (A Ciência do Bom Viver, pp. 247 e 248)

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Por onde anda o amor ao próximo?

A Bíblia diz que nos últimos tempos o amor de muitos esfriaria. Se “o amor esfriar” não é ignorar as pequenas necessidades do próximo, não sei o que é. Infelizmente, é muito difícil mudarmos as outras pessoas. Mas o que podemos fazer é mudar a nós mesmos. Por isso proponho a você uma reflexão sobre suas atitudes. Será que você tem amado de fato o próximo?

Entenda que o amor ao próximo não se demonstra apenas em gestos grandiosos. Não é sendo missionário na África, tornando-se a Madre Teresa de Calcutá ou doando milhões de reais para a caridade que você será alguém que ama o próximo. Até porque, convenhamos, essas são ações que não estão ao alcance da esmagadora maioria das pessoas. Mas você tem a possibilidade de exercer o amor ao próximo diariamente, em pequenos gestos.

Ceder o lugar no ônibus, abrir a porta para senhoras passarem, puxar a cadeira no restaurante, ceder a vez no trânsito, permitir que gente idosa passe à sua frente na fila, deixar que o último pão da padaria seja comprado por outra pessoa, abrir mão do seu tempo para ouvir quem está triste, fazer elogios, dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede… Atitudes como essas custam muito barato ou nada e, acredite, não doem.

Você pode achar que pequenos gestos como esses não fazem a diferença. Mas lembre-se de que é do acúmulo de uma grande quantidade de tijolos bem pequenos que você constrói um enorme edifício de dezenas de andares. Pequenos gestos de amor fazem toda a diferença. Jesus morreu pela humanidade, e isso foi um gesto grandioso. Mas Ele também providenciou comida para pessoas que estavam com fome. Ele chorou em solidariedade à tristeza daqueles que estavam abatidos com a morte de Lázaro. Ele criou as galáxias, mas também as pequenas sementes, o que demonstra que dá atenção ao macro e também ao micro. Perceba: Deus se preocupa com amor e não apenas com grandes gestos de amor. Se for amor, pode ter a dimensão que tiver, será apreciado pelo Senhor e fará toda a diferença para o próximo.

Pode ser que você pense que a pequena gentileza não importa mais, porque, afinal, ninguém mais dá bola para isso. Que pequenos atos de solidariedade são coisa do passado... Todos os samaritanos deixariam o judeu roubado espancado caído à beira do caminho, mas Jesus disse que quem amava o próximo era justamente aquele que fez o que todos os outros não fariam. Que exemplo! E lembre-se que Deus vive fora do tempo, por isso, o conceito de que “isso era gentileza, mas não é mais”, simplesmente não existe para o Senhor.

Amor é amor. O que revela o amor, seja “grande” ou “pequeno”, é um coração que abre mão de si pelo próximo.

Peço a Deus, meu irmão, minha irmã, que você faça a diferença. Que entenda que vivemos dias de muito desamor e que o amor é um item extremamente necessário e cada vez mais raro em nosso meio. Nem que sejam pequenas gotas de amor. Porque uma gota de amor após a outra, após a outra, após a outra… acaba gerando uma inundação de amor. Faça a sua parte. Ame. Por favor, ame. Pelo amor de Deus, ame. Abra mão de si em benefício do próximo, assim como Jesus abriu mão de si em nosso benefício. Acredito que, ao chegar diante do Pai celestial, o teu pequeno sacrifício será reconhecido como um grandioso gesto de amor.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,

Maurício Zágari (via Apenas)

"Qualquer ser humano que necessite de nossa simpatia e de nossos préstimos é nosso próximo. Os sofredores e desvalidos de toda classe são nosso próximo; e quando suas necessidades são trazidas ao nosso conhecimento, é nosso dever aliviá-los tanto quanto nos seja possível. Devemos cuidar de todo caso de sofrimento e considerar-nos a nós mesmos como instrumentos de Deus para aliviar os necessitados até o máximo de nossas possibilidades. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas, e ao nosso próximo como a nós mesmos. Sem o exercício desse amor, a mais alta profissão de fé não passa de hipocrisia." (Ellen G. White - Beneficência Social, p. 45-46)

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

50 anos do Festival de Woodstock - Deus esteve lá!

Há 50 anos, acontecia numa cidadezinha chamada Bethel, há 80 km de Woodstock, interior do estado de Nova York, o maior festival de Rock da história. Meio milhão de jovens se reuniram entre 15 e 17 de agosto de 1969, para ouvir algumas das mais importantes bandas de rock da época, debaixo de muita chuva e em cima de muita lama.

Woodstock não foi apenas um festival de rock. Foi uma espécie de oficialização do rompimento daquela geração com os valores que norteavam a sociedade ocidental pós-guerra. No imaginário coletivo, foi o momento e o lugar nos quais o inconformismo e a rebeldia de uma geração castigada pela Guerra do Vietnã se manifestaram plenamente.

Interessante que o nome Bethel nos remete ao lugar em que Jacó se encontrou com Deus pela primeira vez. Foi lá que ele, depois de ter fugido da casa de seus pais para não ser assassinado por seu raivoso irmão, viu o céu aberto, e anjos que transitavam entre o céu e a terra. A pedra que o patriarca usou como travesseiro foi erigida como altar, e o lugar passou a ser chamado “casa de Deus” (Bethel, em hebraico). Milhares de anos depois, uma multidão de jovens se reúne num lugar com o mesmo nome, para erigir um novo altar. 

Na cultura semítica, altares eram erigidos como marcos, que identificavam o início de uma nova jornada, ou pelo menos, uma escala importante em uma jornada já começada. A partir de Woodstock, aquela geração passou a enxergar o mundo dividido em dois grupos, “nós” e “eles”. E o pronome “eles” era aplicado principalmente aos pais. O abismo entre gerações que antes era velado, e se dava de maneira discreta e quase silenciosa, agora tomava uma proporção inédita. 

- Não queremos ser cúmplices do que vocês estão fazendo com o mundo! Diziam eles. - Queremos reinventar o mundo, sem guerras, sem fome, sem hipocrisia, onde impere a paz, o amor e o prazer. 

Sem dúvida, aquela foi uma geração idealista e sonhadora. “Faça amor, não faça guerra” era o seu lema. Mas naquele Bethel, faltou o principal: A conexão com o Deus de Jacó! No lugar de Deus, eles entronizaram outra trindade: droga, sexo e rock’n roll. 

Cinquenta anos depois, podemos verificar o que ficou de positivo ou negativo da rebeldia idealista da geração que contestou e mudou nossa visão do mundo. Woodstock revelou ao mundo a força que tem a juventude. E talvez a maior glória daquela geração tenha sido arrancar os Estados Unidos do Vietnã. Seu exemplo repercute até hoje no ativismo em defesa do meio ambiente e de outras causas justas. O jovem passou a ser visto como o centro do universo do consumo, o que até hoje pode ser verificado através do constante apelo publicitário direcionado a este público. 

Infelizmente, aquele engajamento político e idealista não perdurou muito tempo. Aquela geração sequer conseguiu contagiar seus filhos com sua utopia. Por conta disso, as gerações seguintes perderam o interesse de mudar o mundo, voltando a priorizar a ascensão profissional e social. 

As drogas, que ingenuamente foram experimentadas como uma maneira de aguçar a percepção, se tornaram instrumentos de fuga da realidade e de alienação. E o pior é que abriram a porta para o uso de drogas cada vez mais pesadas, cuja proliferação é a responsável pela difusão da criminalidade. O amor livre, antes pregado com orgulho e praticado sem o menor escrúpulo, revelou-se como promiscuidade, o que provocou um dos maiores pesadelos da juventude das décadas de 80 e 90: a Aids. 

Até a música, antes usada para contestar, vendeu-se às grandes gravadoras e se tornou em mais um instrumento alienante da juventude. Pelo que tudo indica, o sonho acabou. 

Mas nem tudo está perdido. Deus está convidando a nossa geração para um reencontro em Bethel. Um Woodstock onde o lema “Paz e Amor” receba a inclusão da palavra “Graça”. Um lugar onde as gerações se reencontrem e celebrem a possibilidade de um novo mundo. Em vez de abrir-se um abismo entre gerações, construiremos uma ponte para interligá-las. 

Jacó estava fugindo da realidade, imaginando que poderia romper com tudo, e começar uma nova história. Mas em Bethel, Deus lhe apareceu em sonho para dizer-lhe: “Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque. Esta terra em que estás deitado, Eu a darei a ti e à tua descendência” (Gn 28:13). 

Agora Jacó se via situado no tempo e no espaço. A ponte entre nós, as gerações que nos antecederam e as que nos sucederão só será possível se houver uma escada que nos ligue aos céus. Na linguagem da geração Woodstock, Jacó teve o maior barato. Ele viu que havia uma ligação entre o céu e a terra. E é esta ligação que possibilita o ajuste entre nós, nossos contemporâneos, nossos antecessores e nossos sucessores. 

Jacó, embasbacado com o que via, expressou-se: "Deus estava aqui e eu não sabia". Da mesma maneira, Deus estava em Woodstock naqueles três dias, mas ninguém ficou sabendo. Diz-se que algumas bandas como The Doors foram convidadas, mas preferiram não participar, achando que o festival seria um fiasco, por ser realizado num ambiente rural, em vez de no Central Park em Nova York. Tais bandas se arrependeram amargamente. Deus, mesmo não sendo convidado, fez questão de estar lá, conferindo in loco a angústia e os anseios daquela geração perdidamente sonhadora. Ele passeava entre os corpos nus e enlameados, compadecendo-Se de uma multidão que era como ovelhas sem pastor (Mt 9:36). 

Sim, Deus esteve em Woodstock, mas não tocou alarde. Preferiu a discrição. Em outras palavras, Ele simplesmente deixou rolar. E a chuva que enviou não foi com a intenção de estragar a festa, antes, representava a Sua incompreensível Graça. Pena que ninguém ficou sabendo. Janis Joplin e Jimi Hendrix morreram sem saber. Talvez se tivessem sabido, ainda estariam por aí, nos brindando com suas habilidades musicais. 

Creio firmemente que um novo Woodstock precisa acontecer. Não me refiro ao festival em si, mas àquilo que representou para o mundo. A atual geração está passando por uma fermentação que resultará em algo vultuoso, com desdobramentos espirituais, sociais e culturais. A qualquer momento eclodirá o despertar de uma nova visão de mundo. Um Woodstock pleno, sem drogas, sem promiscuidade, mas com graça, paz e amor. 


Nota: Segue algumas mensagens maravilhosas que Ellen G. White deixou sobre os jovens: 

“Nas cenas finais da história deste mundo, muitos jovens encherão de admiração o povo pelo seu testemunho em favor da verdade, o qual será dado de modo simples, no entanto com espírito e poder" (Conselhos aos Pais Professores e Estudantes, p. 166). 

"Temos hoje em dia um exército de jovens que podem fazer muito, se devidamente dirigidos e animados. Queremos que nossos filhos acreditem na verdade. Queremos que eles sejam abençoados por Deus. Queremos que eles tomem parte em planos bem organizados para auxiliarem outros jovens. Que todos sejam tão bem preparados, que possam representar devidamente a verdade, dando a razão da esperança que há neles, e honrando a Deus em qualquer ramo da obra no qual se achem aptos a trabalhar" (Serviço Cristão, p. 30). 

"Deus quer que os jovens se tornem homens de espírito zeloso, a fim de estarem preparados para a ação em Seu nobre trabalho e serem aptos a assumir responsabilidades. Deus pede jovens de coração incorrupto, fortes e valorosos, e determinados a combater varonilmente na luta que se acha diante deles, a fim de glorificarem a Deus e beneficiarem a humanidade" (Mensagens aos Jovens, p. 21).

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Psicólogos debatem hábito de beijar filhos na boca

Todos os dias, a imagem de uma mãe dando um "selinho" na boca da filha invade a casa de uma legião de brasileiros. No retrato que aparece na abertura da novela "Por amor", reprisada na faixa "Vale a pena ver de novo", ninguém menos do que Regina Duarte, a eterna namoradinha do Brasil, dá um afetuoso beijo em sua filha, Gabriela. Exibido pela primeira vez em 1998, o folhetim de Manoel Carlos já foi reprisado algumas vezes sem que a fotografia suscitasse debates. Mas muita coisa mudou nos últimos anos, e fotos em que pais aparecem beijando seus filhos na boca andam motivando discussões acaloradas nas redes sociais, enquanto psicólogos se dividem sobre o tema.

Um dos casos mais recentes envolveu a atriz Adriane Galisteu, que recebeu críticas nos comentários da foto de um selinho entre o marido, o empresário Alexandre Iódice, e o filho, Vittorio, de 9 anos. "Aqui a gente dá muito beijo mesmo, aqui a gente não se desgruda, aqui não temos preconceito, aqui só é bem-vindo quem ama", ela respondeu a um dos seguidores que criticaram a imagem.

Mais de duas décadas depois de "Por amor" estrear em horário nobre, Gabriela faz coro à colega de profissão. No seu caso, ela considera o uso da foto com a mãe na abertura da novela um momento marcante: "Adoro lembrar dele. Essa foto representa o puro afeto que eu e ela temos uma pela outra".

A troca de bitocas, aliás, foi transmitida entre as gerações, na família de Gabriela. "O selinho é e sempre foi liberado aqui em casa. Ele não é nada além de muito amor entre nós", diz a atriz, referindo-se aos filhos, Manuela, de 12 anos, e Frederico, de 8, frutos de seu casamento com o fotógrafo Jairo Goldfuss.

Na opinião dela, críticas como as que foram feitas à Adriane Galisteu não fazem o menor sentido. "É inacreditável sexualizar e criticar um gesto tão afetuoso entre mães, pais e filhos. Cada família tem o seu modo de ser. É apenas uma forma carinhosa de lidar. Será que essas pessoas se impressionam também com a quantidade de ódio e violência na TV aberta?", questiona.

A prática divide opiniões entre profissionais. Para o psicólogo clínico Ailton Amélio, professor aposentado da USP, o tal beijo pode causar problemas posteriores. "Na fase adulta ou na juventude, as pessoas podem vir a adquirir conceitos que as levem a condenar retroativamente o que aconteceu durante a infância. Podem se sentir violadas e ter raiva dos pais, por exemplo."

No cenário internacional, o debate também é quente. Em novembro do ano passado, o ex-jogador de futebol britânico David Beckham foi muito criticado na internet por dar um selinho na filha Harper, de 7 anos. Sem se importar com a repercussão, ele repetiu o gesto carinhoso em junho deste ano, durante um jogo da Copa do Mundo Feminina. Jogador de futebol americano e marido de Gisele Bündchen, Tom Brady também já foi clicado algumas vezes dando um selinho em seu filho Benjamin.

A discussão acontece, segundo Ailton, porque o beijo é um comportamento cultural, naturalizado de diferentes maneiras em cada sociedade. Como ele lembra, há países em que o beijo na boca entre dois homens como cumprimento é rotineiro e desprovido de carga sexual, diferente do que acontece no Brasil, por exemplo.

A psicóloga clínica infantil Maria Luiza Bustamante, professora aposentada do instituto de psicologia da Uerj, é ainda mais incisiva ao comentar o assunto: "É errado e não deve ser feito". Ela justifica a opinião com o fato de o beijo na boca ser uma prática muito sexualizada na cultura ocidental. "Não podemos prever as consequências desses beijos, já que tudo vai depender da relação entre pais e filhos. Mas há um alto risco de causar confusão na mente da criança. Na nossa cultura, o beijo na boca é erotizado. Na bochecha, não."

Já o psicólogo e pesquisador da comunicação humana da UFMG Cláudio Paixão, doutor em Psicologia Social, não considera o hábito condenável. "Tudo vai depender de como se dá a troca de afeto na família. Se o selinho é naturalizado, não o vejo como algo prejudicial. O problema, muitas vezes, está na interpretação de terceiros, que têm um olhar maldoso", discorre ele, acrescentando uma ponderação: "Devemos lembrar que uma pessoa pode pegar na mão de outra munida de uma conotação sexual muito maior do que a de um beijo na boca". 

Charlotte Reznick é professora da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e autora do best-seller The power of your child’s imagination: how to transform stress and anxiety into joy and success. Ela disse ao site The Sun que beijar os filhos na boca deve ser evitado por ser “muito sexual”.

Ela diz que a boca é uma zona erógena e que deve-se evitar esse tipo de toque em crianças. Ela comenta que beijos podem ser “estimulantes e potencialmente confusos.” Ela acrescenta: “Se a mamãe beija o papai na boca e vice-versa, o que quer dizer quando eu, uma menina ou menino, beijo os meus pais na boca?”

Ela diz que pode ser confuso para os pais e filhos a hora de saber quando parar de beijar na boca. O site Daily Mail mostra exemplos de pais que beijam filhos adolescentes e também adultos e não veem problema nisso. O site comenta que mesmo que os filhos ou os pais não sintam que é estranho se beijar, pessoas de fora que estiverem olhando, com certeza, se sentirão constrangidas.

A psicóloga Reznick também comenta que aos 5 ou 6 anos a criança começa a ter consciência sexual e como a boca é uma zona erógena, o beijo pode ser estimulante para a criança. Ela diz que “crianças gostam de ser tocadas na testa, bochechas e mãos. Os lábios são diferentes porque há mais nervos e são mais sensíveis à estímulos.”

A psicóloga Margarida Antunes Chagas diz que beijar na boca da criança depende da idade e contexto familiar, mas ela diz que beijar na boca dos filhos é desnecessário já que há outros modos de mostrar afeição por eles, como carinhos, abraços e beijos no rosto.

Segundo a psicóloga Antunes Chagas, “(…) crianças muito pequenas talvez não percebam o selinho como algo sexualizado, mas a partir de determinada etapa do desenvolvimento, que acontece em idades diferentes entre as crianças, elas começam a perceber o beijo na boca como algo ligado ao amor romântico.”

A psicóloga Hilda Avoglia, especialista em desenvolvimento da criança e do adolescente na Universidade Metodista de São Paulo, diz que as crianças podem “associar o beijo na boca com as imagens que assistem na televisão.”

Há também os riscos de transmissão de doenças. A doutora em odontopediatria Erika Guimarães diz que “a boca é um dos locais do nosso corpo com maior número de bactérias, e algumas delas podem causar doenças, como a cárie.”

“Os adultos possuem muitas colônias de bactérias, algumas são benéficas, mas há as que provocam doenças. E quando o bebê nasce, sua boca tem pouquíssimas bactérias e seu sistema imunológico é imaturo. Ao beijar a boca do bebê, o adulto pode transmitir, além de bactérias, vírus e fungos”, afirma Érika. 

(Com informações de O Globo e Família)