quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A VISÃO RELIGIOSA DE HITLER

Adolf Hitler, Abbot Albanus Schachleiter e o Bispo do Reich Ludwig Mueller (1934)
Adolf Hitler nasceu em Branau am Inn, na Áustria, em 20 de abril de 1889, e foi o quarto dos seis filhos de Alois Hitler e Klara Pozl. Quando tinha três anos de idade, a família se mudou para a Alemanha. Hitler foi a figura central do desencadeamento da Segunda Guerra Mundial, bem como da propagação da ideologia nazista, que teve lastro não apenas em seu país de origem, a Alemanha, mas em várias outras regiões da Europa e do Mundo.
Mãe Maria com o Santo Menino 
Jesus Cristo (1913), pintura a 
óleo sobre tela feita por Hitler

Adolf Hitler foi criado por seu pai, que era católico, e por sua mãe, que também era cristã devota. Hitler, contudo, deixou de participar dos sacramentos e passou a apoiar o Movimento Cristão Alemão. Em seu livro, Mein Kampf, ele afirmou seguir os princípios do cristianismo. Antes do começo da Segunda Guerra Mundial, Hitler promovia o chamado "cristianismo positivo", um movimento que expurgava do cristianismo todos os elementos do judaísmo e inseria ideais nazistas. De acordo com controversos manuscritos redigidos por Martin Bormann, secretário pessoal do Führer, intitulados Tischgespräche, além do testemunho de amigos próximos de Hitler, afirmavam que ele tinha visões negativas do cristianismo. Mas a maioria das pessoas em seu convívio afirmavam que ele era teísta.

Há muito debate sobre a relação de Hitler e religião como um todo; o consenso maior entre os historiadores é que, na maioria dos casos, ele apresentava uma visão irreligiosa, anti-cristã, anti-clériga e cientística. Ainda assim, em público, Hitler frequentemente, durante suas campanhas e discursos políticos, expressava apoio à religião e afirmava se opôr ao ateísmo, chegando a banir, em 1933, um grupo anti-cristão materialista. Historiadores e acadêmicos acreditam que Hitler, com o passar do tempo, pretendia suplantar a influência do cristianismo na sociedade alemã e então substituí-la por um novo credo associado a ideologia nazista.

PRIMEIROS ANOS
O pai de Hitler, Alois, embora nominalmente um católico, era um pouco cético religiosamente, enquanto sua mãe Klara era uma católica praticante. Na escola do mosteiro beneditino, que Hitler frequentou durante um ano escolar quando criança (1897-1898), Hitler tornou-se o primeiro de sua classe, recebendo o mais alto grau no último trimestre. Ele recebeu o Crisma em 22 de maio de 1904, e também cantou no coro do mosteiro. Segundo o historiador Michael Rissmann, o jovem Hitler foi influenciado na escola pelo Pan-germanismo, e começou a rejeitar a Igreja Católica, recebendo a Crisma só a contragosto.

Fivela de uniforme militar nazista
VIDA ADULTA
Algo da crença religiosa de Hitler pode ser recolhida a partir de suas declarações públicas e privadas, no entanto, estas apresentam um quadro conflitante de um homem que parece espiritual, porém contra a religião organizada. Algumas declarações privadas atribuídas a ele permanecem em disputa quanto a veracidade. 

Em sua posição como chefe das forças armadas, ordenou a colocação da frase "Gott mit uns" ("Deus está conosco") nas fivelas dos uniformes militares.

DISCURSOS PÚBLICOS
Em seus públicos discursos, especialmente no começo de seu governo, Hitler frequentemente descrevia positivamente a Cultura Cristã Alemã, e a sua crença em um Cristo ariano. Pouco antes de sua ascensão ao poder, Hitler discursou perante uma multidão em Munique.

"Meus sentimentos, como cristão, mostram-me meu Deus e Salvador como um lutador. ... Como cristão ... eu tenho o dever de ser um guerreiro pela justiça e verdade."

Embora expressasse publicamente apoio ao cristianismo, uma vez no poder, passou a tentar diminuir a influência da religião na vida pública.

RELIGIÃO NA ALEMANHA NAZISTA
A Alemanha era formada principalmente por católicos e protestantes na década de 1930. Adolf Hitler e Joseph Goebbels, um dos principais responsáveis pelo extermínio de judeus, eram católicos, porém já haviam abandonado suas congregações antes da ascensão ao poder em 1933. Eles não haviam negado a Igreja e nem deixaram de cumprir suas obrigações como fieis, mas passaram a conceder especial atenção ao projeto Nazista. É difícil definir a posição que as igrejas protestantes assumiram em relação ao Nazismo porque elas são muito mais livres em relação à Igreja Católica. Cada congregação tem liberdade para escolher suas posições. Sabe-se, contudo, que grande parte das congregações era contrária ao Nazismo. De modo que sempre havia tensão para com alguns grupos.

IGREJA CATÓLICA
A relação com a Igreja Católica, na verdade, não era muito diferente. Ela variava entre tolerância e agressão, apesar das origens católicas de Hitler e Goebbels. Grande parte dos nazistas tinha aversão ao clero em suas vidas pública e privada e a situação ficava ainda mais intensa pelo próprio fato da simbologia Nazista fazer tanta referência ao paganismo. Por fim, tanto Hitler como Mussolini eram contrários ao clero, todavia sabiam que um choque afetaria seus planos ideológicos, retardando-os. 

A Igreja Católica, por sua vez, era declaradamente contrária a ideologia nazista antes desta chegar ao poder. Mas, a partir de 1933, a associação deixou de ser proibida e buscaram-se meios para trabalhar em parceria. Em 1937, o Papa Pio IX condenou a ideologia nazista e o totalitarismo, dando início a uma caçada aos dissidentes políticos na Alemanha. Padres foram perseguidos, presos e enviados a campos de concentração. Com medo, muitos religiosos encorajaram orações em defesa de Hitler e evitaram falar sobre antissemitismo. Em 1941, a Alemanha Nazista decretou a dissolução de todos os monastérios e abadias em seu território, abrindo espaço para a ocupação da SS, organização militar de elite dos nazistas comandada por Heinrich Himmler. Mas Hitler abafou a operação com receio de que os católicos alemães pudessem protestar contra as medidas e criar problemas paralelos em tempos de guerra. Em suma, a Alemanha Nazista expandia sua ideologia totalitarista e, como tal, pretendia superar e controlar questões religiosas. 

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ
Católicos e protestantes tiveram relacionamento tenso com os nazistas, mas, devido ao fato de a grande maioria da população ser adepta dessas duas vertentes religiosas, o embate direto não foi tão explícito, embora Hitler não simpatizasse com nenhuma das duas. Entretanto, um grupo religioso em específico, além dos judeus, estava entre os principais perseguidos pelo governo nazista: as Testemunhas de Jeová. Seus adeptos somavam cerca de 25 mil fieis na Alemanha. Quando presos, recebiam um triangulo roxo para identificação. Eles receberam o desgosto dos nazistas pela recusa de servir ao exército alemão e ao governo. Mas eram dos poucos prisioneiros que podiam deixar os campos de concentração com vida. Bastava assinar um documento renunciando a sua religião que eles estavam aptos a voltar a ser cidadãos alemães. Só que, para os seguidores dessa religião, a fé vinha em primeiro lugar, o que causou ódio aos nazistas e a morte de milhares de fieis.

IGREJA BATISTA
No dia 4 de Agosto de 1934, um ano após Hitler assumir o poder, milhares de congressistas se reuniram em Berlim estando presentes ali delegações ou representantes da Aliança Mundial Batista, provenientes de 70 países. Aproveitavam para comemorar 100 anos de pregação batista na Alemanha! Apesar do receio de alguns em vista da situação do país, os líderes da igreja Batista decidiram realizar assim mesmo este Congresso, que contou com o apoio da vasta maioria dos pastores batistas na Alemanha. 

Os pastores ou líderes batistas ouviram falar da criação de uma Igreja Nacional na Alemanha a qual todas as outras denominações estariam relacionadas, excetuando-se é claro, as Testemunhas de Jeová, que já estavam naquele ano sendo levadas para campos de concentrações juntamente com inimigos de Hitler e membros de partidos de oposição do Governo do Nacional Socialismo ou Nazismo.

O Teólogo Ludwig Müller (23/06/1883 – 31/07/1945), que aparece na foto acima cumprimentando Hitler, havia sido eleito o Bispo do Reich e o escolhido de Hitler para unificar todas as igrejas evangélicas na Alemanha numa única igreja, que veio a ser chamada “Igreja Evangélica Alemã” (Deutsche Evangelische Kirche). Este convidou um pequeno grupo de pastores batistas para sua casa, onde assegurou-lhes que continuariam a ser livres, desde que apoiassem a causa do Nacional Socialismo naquele país. Uma vez que a Igreja Batista prega a total submissão ao estado, não é de admirar o fato de que a vasta maioria acabou sendo influenciada a apoiar a pátria alemã em troca da liberdade que almejavam para o campo missionário evangélico.

MOVIMENTO PROTESTANTE ANTINAZISTA
Muitos ficarão surpresos por saber que Martin Niemoller, o renomado pastor luterano que, com Dietrich Bonhoeffer, fundou o movimento protestante antinazista “Igreja Confessional”, no início havia apoiado Adolf Hitler. Anos depois, estando preso, pelos próprios nazistas, em um campo de concentração, foi-lhe perguntado por que fizera isso. Niemoller respondeu:

“Eu também me fiz essa pergunta. Questionei-me tantas vezes quanto as que me lamentei [...] eu odiava o crescente movimento ateu, apoiado e mantido pelos sociais-democratas e comunistas. Sua hostilidade para com a igreja me levou a ter esperança em Hitler, por um tempo. Agora estou pagando por esse erro; e não apenas eu, mas também outras milhares de pessoas como eu”.

IASD DA REFORMA
Por sua posição pacifista, a Igreja Adventista do Sétimo Dia - Movimento de Reforma foi alvo de perseguições. Esta denominação cristã foi declarada ilegal e, em 12 de Maio de 1936, foi dissolvida pela Gestapo, a polícia secreta do Estado.

IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA
Há quase 17 anos, os adventistas do sétimo dia na Alemanha e Áustria pediram desculpas por qualquer participação nas atividades nazistas, ou em apoio a elas, durante a guerra. A foto é de um cartão de identidade de um adventista de origem judaica que foi eliminado do rol de membros da Igreja na Alemanha Max-Israel Munk, quando os nazistas deram ordem para se fazer tais exclusões. Após sobreviver à prisão em dois campos de concentração, Munk retornou para casa após a guerra e solicitou reintegração como membro, o que lhe foi concedido. [Foto: AdventEcho Magazine, Germany]

Em função do 60º aniversário do fim da II Guerra Mundial, os líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Alemanha e Áustria emitiram uma declaração expressando que “lamentam profundamente” qualquer participação em atividades nazistas, ou em seu apoio, durante a guerra. As entidades da Igreja “honestamente confessam” a falha “em seguir a Nosso Senhor” por não protegerem os judeus, e outros, do genocídio daquela época, amplamente conhecida como o Holocausto. Milhões de pessoas pereceram de atrocidades da guerra, inclusive mais de seis milhões de judeus que foram exterminados em perseguições nazistas durante o período de 12 anos, entre 1933 e 1945.

A declaração foi inicialmente publicada na edição de maio de 2005 de “AdventEcho”, uma revista denominacional em língua alemã, declarou o pastor Günther Machel, presidente da Igreja Adventista alemã e um dos três signatários da declaração.

“Profundamente lamentamos que o caráter da ditadura Nacional Socialista não havia sido percebida em tempo e de modo suficientemente claro, e a natureza contrária a Deus da ideologia [nazista] não havia sido devidamente identificada”, afirma a declaração. A Igreja declara que também lamenta “que em algumas de nossas publicações se encontraram artigos glorificando Adolf Hitler e concordando com a ideologia do anti-semitismo numa forma que é incrível para a perspectiva atual”.

Os dirigentes da Igreja também expressaram pesar de que “nossos povos se tornaram associados com o fanatismo racial destruidor de vidas e liberdade de 6 milhões de judeus e representantes de minorias por toda a Europa”, e que “muitos adventistas do sétimo dia não compartilharam das necessidades e sofrimentos de seus concidadãos judaicos”.

Motivo de extremo pesar, indica a declaração, foi que as congregações alemãs e austríacas adventistas “excluíram, alienaram e deixaram [membros da Igreja que eram] de origem judaica entregues a sua própria sorte de modo que terminaram enfrentando prisão, exílio ou morte”.

Sob vários decretos raciais, algumas congregações adventistas expulsaram membros de origem judaica. Um deles, Max-Israel Munk, foi colocado em dois campos de concentração pelos nazistas, mas sobreviveu e retornou a sua igreja após a guerra. Ele disse que não desejava tratar a sua congregação do modo em que foi tratado, segundo o Dr. Daniel Heinz, um arquivista da Igreja da Universidade Friedensau que estudou as atividades adventistas durante a era do Nacional Socialismo.

Juntamente com o pastor Machel, os outros líderes que assinaram a declaração foram os pastores Klaus-Jurgen van Treeck, presidente da Igreja para o Norte da Alemanha, e Herbert Brugger, presidente da Igreja Adventista na Áustria. Pöhler e Johannes Hartlapp, historiador da Igreja em Friedensau, redigiu o rascunho em que se baseou a declaração. Todas as três áreas geográficas denominacionais votaram aprovar o texto, esclareceu Pöhler.

CONCLUSÃO
“Pois muitos virão em meu nome”, disse Jesus falando sobre o tempo do fim. “Cuidado, que ninguém os engane” (Mateus 24:4-5, NVI). Muitos cristãos (incluindo muitos adventistas) foram enganados, nada mais nada menos do que por Hitler, o símbolo de líder populista e totalitário. Estejamos atentos e que Deus nos dê sabedoria para, desde o início, ficarmos do lado certo da história.

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