As tragédias envolvendo a adolescente Jéssica Vitória, 22 anos, e o youtuber PC Siqueira, 37, evidenciam de maneira drástica como a internet se consolidou como um ambiente propício à disseminação de ódio, mentiras e julgamentos que podem ser fatais.
Jéssica e PC Siqueira, que tiraram suas próprias vidas nos últimos dias, tinham algo em comum: precisavam lidar com o “tribunal da internet” desde que tiveram seus nomes associados a notícias que circularam sem compromisso com a verdade dos fatos ou com o direito à presunção de inocência. Estas mortes também acenderam o alerta sobre a necessidade de cuidados com a saúde mental.
"As redes amplificam muito do que é falado na sociedade em geral. Temos visto discursos de ódio que podem adoecer, gerar um gatilho e fazer com que pessoas que já estejam vulneráveis por muitas outras questões acabem tendo um ato ou fazendo algo desesperado. Cabe todo um cuidado para conhecer sua própria saúde mental e ver como as redes a influenciam", disse a psicóloga e coordenadora do Instituto Vita Alere de Prevenção do Suicídio Karen Scavacini.
Cabe uma reflexão a respeito dos tribunais da internet, do cancelamento e da vida online. Cada um de nós também precisa ficar atento às pessoas ao nosso lado. Às vezes, ficamos tão preocupados com a tela que está na frente dos nossos olhos que esquecemos de olhar ao lado para as pessoas de carne e osso, que estão se sentindo extremamente solitárias convivendo conosco.
E você... alguma vez já se sentiu a ponto de desistir de tudo? Pareceu-lhe estar no limite da sua sanidade? Pensava estar no paredão?
Estar no limite é um assunto a respeito do qual nós, cristãos, não nos sentimos bem ao falar. Entretanto, muitos de nós têm chegado ali. Às vezes, sentimos que as circunstâncias da vida nos sufocam. Sentimos que mergulhamos no desespero. Podemos até perguntar: “Por que Deus não nos impede que nos afastemos do abismo? Por que não nos permite apenas prosseguir?”
Desespero
Nos anos de 1970, Seligman desenvolveu uma das primeiras teorias filosóficas explicando por que as pessoas se tornam depressivas. Sua teoria era fundamentada em certo número de experimentos com ratos. Seligman verificou que os ratos que ficavam trancados numa gaiola dividida em dois compartimentos, quando recebiam choque elétrico em um dos lados da gaiola, aprenderam a passar para o outro lado e evitar o choque. Se naquele lado fossem igualmente submetidos ao choque, voltavam para o primeiro compartimento. Mas, se os ratos tomassem choques elétricos continuamente, não se importavam com o lado da gaiola em que estivessem. Apenas ficavam ali, indefesos, pois eram incapazes de prever ou evitar o evento desagradável. A este fenômeno, Seligman denominou “aprendizado por meio do abandono”. Sua teoria sugere que, quando enfrentamos a depressão, o desespero, semelhante à experiência dos ratos, estamos experimentando o “aprendizado por meio do abandono”. Incapazes de prever ou evitar as circunstâncias adversas, as intempéries da vida, ficamos paralizados, presos na armadilha.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, por ano, mais de 700 mil pessoas tirem a própria vida em todo o mundo. Segundo a organização, o número pode chegar a 1 milhão se forem considerados os casos não registrados. No Brasil, são aproximadamente 14 mil suicídios todos os anos — uma média de 38 pessoas por dia. Especialistas apontam que a maioria dos casos é relacionada a transtornos mentais, como depressão, e alertam que esses problemas têm se manifestado cada vez mais cedo. Segundo o psiquiatra Rodrigo Bressan, presidente do Instituto Ame Sua Mente, pesquisas indicam que 75% dos transtornos mentais do adulto começam antes dos 24 anos. No caso dos adolescentes, metade tem início antes dos 14 anos. “A gente acaba vendo o indivíduo que está deprimido com 20, com 30 anos, mas na verdade a doença, a maioria, começou muito mais cedo”, diz.
O desespero nos cega impedindo-nos de ver qualquer raio de esperança. Deixa-nos paralizados, inativos e nos afasta para longe dos sonhos. Leva-nos para a beira do abismo, nos deprime, pesa sobre nós e grita: “Volte! Desista!” Martin Luther King Júnior disse: “Se um homem ainda não descobriu algo pelo que possa dar a própria vida, esse não serve para viver.” Vamos arrumar essa declaração em nossa mente: “Se alguém não descobriu a razão de viver, este não está pronto para morrer.” Para que vivemos? Já descobrimos o propósito para o qual fomos criados? Já o conhecemos antes de sermos engolidos pelo curso da vida fazendo com que percamos nosso alvo?
Esperança
Esperança é o oposto de desespero. A esperança é o que Satanás procura tirar de nós, porque ela é a base e fundamento da fé. Em Hebreus 11:1 está registrado o seguinte: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.” A fé é, ao mesmo tempo, verbo e substantivo – uma palavra de ação. É esperança em ação.
A esperança é representada mais claramente na vida de Abraão: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. ... Porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (versos 8 e 10). Por que Abraão deixou o conforto, a segurança e os lugares conhecidos para trilhar caminhos que lhe eram desconhecidos? É que ele tinha uma esperança de algo mais do que seus olhos humanos podiam ver, mais do que suas mãos podiam tocar.
Quando Satanás fomenta a dúvida, a desesperança e o desespero em nossa vida, podemos achar que nossa fé pereceu. Em tais ocasiões é difícil andar pelos caminhos desconhecidos e confiar em Deus. Mas a esperança abre nossos olhos para a razão pela qual fomos chamados; para o propósito pelo qual Deus nos criou – mesmo diante da adversidade.
Jesus foi claro a respeito de Seu propósito de vida. Mesmo quando precisou enfrentar as predições de Sua morte na cruz, Ele disse: “Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo” (João 18:37). Jesus estava dizendo: “Eu nasci por uma razão, vivo por esta causa e estou preparado para morrer por essa causa.” O propósito de Jesus era testificar da verdade; a verdade do Rei e do reino!
Enquanto peregrinamos pela vida, e a fim de banir o desespero, mesmo quando formos confrontados com a adversidade, calamidade, tristeza, perda e temor, devemos conhecer a razão pela qual vivemos. Se fixarmos os olhos nesse alvo, Deus poderá insuflar vida à nossa visão, mais do que sempre sonhamos ser possível.
Preparados para a Causa
De que modo podemos eliminar de nossa vida o desespero? Apresentamos aqui cinco estratégias:
1. Guardar nossa mente. João Batista conhecia a causa pela qual vivia e passava muito tempo preparando a mente para enfrentar o ataque de Satanás. Ele deve ter-se apresentado de maneira diferente das pessoas de seu tempo. Isolava-se nas montanhas e ia às aldeias apenas para proclamar a mensagem do juízo. Não deve ter sido fácil para ele. Ellen G. White escreveu: “Pesava sobre ele a responsabilidade de sua missão. Meditando e orando, na solidão, buscava cingir a alma para a obra de sua vida. Cerrava, quanto possível, toda entrada a Satanás; não obstante, assaltava-o ainda o tentador. Sua percepção espiritual, porém, era clara; desenvolvera resistência de caráter e decisão e, mediante o auxílio do Espírito Santo, era habilitado a pressentir a aproximação de Satanás, e resistir-lhe ao poder” (O Desejado de Todas as Nações, p. 102).
Jamais sabemos, por antecipação, quando ou como Satanás virá para desencorajar nossa fé e roubar nossa esperança. Porém, uma coisa sabemos com certeza: Ele virá e nos tentará a descrer de Deus e questionar Seu amor.
2. Confiar em Deus. Podemos passar horas, semanas e anos perturbados ou preocupados, tentando descobrir por que esta ou aquela condição se instala, ou como podemos escapar, ou mudar uma situação ruim. Podemos procurar respostas em toda parte, exceto no único lugar em que está a esperança. Consideremos o comentário de Ellen White a respeito da mulher do poço (João 4): “[Ela] olhava atrás, aos pais, e ao futuro, à vinda do Messias, ao passo que a Esperança desses antepassados, o próprio Messias, estava ao seu lado, e ela O não conhecia. Quantas almas sedentas se acham hoje junto à fonte viva, e olham todavia a distância, em busca das fontes da vida!” (O Desejado de Todas as Nações, p. 184).
3. Encher de coisas puras a mente e a vida. Deus quer renovar nossa mente. O apóstolo Paulo escreveu: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). Conforme o desejo de Deus, o que deve preencher nossa mente? Outra vez, o apóstolo escreveu: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4:8).
Diz Ellen White: “Na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas têm lugar entre as nossas maiores bênçãos” (A Ciência do Bom Viver, p. 474). Algumas vezes, nossas preocupações, estresse e desespero são causados por expectações ilusórias. Por vezes, nossa mente fica repleta de preocupações, estressada porque não estamos contentes com as bênçãos que temos.
Nossa conduta social também auxilia nosso coração e mente a manter atitude positiva. Devemos cercar-nos de pessoas positivas, que nos encorajem, que orem em nosso favor.
4. Esperar no Senhor. Martin Luther King Júnior disse: “A verdadeira medida de alguém não é mantida em momentos de conforto e conveniência, mas onde essa pessoa permanece em tempos de desafios e controvérsias.” Problemas e crises virão. Coisas terríveis, imprevisíveis ocorrerão na Terra. Mas algo é certo, duradouro, não muda: Deus. A certeza que Ele nos concede é de que, se nEle descansarmos em meio à adversidade, Ele será nossa esperança e não precisaremos nos desesperar. Sua promessa é: “Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (Is 43:2).
Portanto, não necessitamos ficar abalados com todo sentimento, situação ou emoção. Podemos ancorar nossa esperança em Deus, que é constante.
5. Orar a Deus continuamente. A expressão de louvor de Davi serve de modelo que bem faríamos em seguir: “Bendirei o Senhor em todo o tempo, o Seu louvor estará sempre nos meus lábios” (Sl 34:1).
Nem tudo o que nos suceder será bom, mas em todas as coisas podemos encontrar algo pelo que podemos louvar a Deus. A fé é a audácia da esperança. Se alguém ainda não descobriu uma razão pela qual viver, não está pronto para morrer. Para que estamos vivendo? Onde está depositada nossa esperança?
Se você está em tal estado de desespero, sentindo que a esperança não mais existe, então eu o desafio a apegar-se diariamente a Deus. Escolha viver pela causa de Deus, andar com Ele, apoiar-se nEle, fundamentar suas esperanças, seus sonhos, na Rocha.
Conforme as palavras registradas em Efésios 1:18, que possamos dizer com o apóstolo Paulo: “[Oro para que sejam] iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento.”
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Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.