segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

A ABOMINAÇÃO DESOLADORA

"Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora" (Daniel 11:31).

A frase "abominação desoladora" é encontrada em Daniel 11:31 (LXX: bdelugma erēmōseōs) e 12:11 (LXX: to bdelugma tēs erēmōseōs). Expressões semelhantes são encontradas em 9:27 (LXX: bdelugma erēmōseōs), e 8:13 (LXX: hē hamartia erēmōseōs). Vamos examinar brevemente essas passagens.

1. Daniel 8:13
Aqui nós temos a frase “a transgressão [Hebraico: happeša] assoladora [šomēm].” ao invés de a “abominação [Hebraico: šiqqû§] desoladora [šomēm].” Ambas as frases parecem se referir ao mesmo fenômeno.[1] A Palavra hebraica traduzida como “Transgressão,” “rebelião” [happeša], designa uma pessoa que “não apenas se rebela ou protesta contra Deus (YHWH) mas rompe com Ele, tira, rouba, frauda, se apropria indevidamente aquilo que é dEle.”[2] A atividade do chifre pequeno é uma rebelião consciente e uma apropriação indevida da obra de mediação do príncipe celestial que resulta em “desolação” ou “devastação” espiritual.

Quando o verbo “desolar” (šmm) é aplicado para objetos inanimados, ele descreve o estado no qual um lugar é deixado após ser atacado por inimigos (ex. Levítico 26:31; Joel 1:17). Quando aplicado a seres humanos ele se refere ao impacto psicológico produzido pela desolação naqueles que a observaram (1 Reis 9:8; Esdras 9:3, 4; Daniel 8:27; 9:18).[3] No Antigo Testamento um lugar desolado é um lugar deserdado, abandonado por aqueles que costumavam viver ali ou tinham acesso a ele (Levítico 26:22, 34; Isaías 33:8; Jeremias 33:10; Sofonias 3:6; Zacarias 7:14). O contexto de Daniel 8:13 sugere que a desolação está relacionada ao ataque do chifre pequeno (a igreja durante a idade média) contra o santuário celestial. O ato de rebelião causou desolação espiritual pela usurpação da obra sacerdotal do príncipe, pela rejeição do próprio fundamento do santuário, e pelo estabelecimento de seu próprio sacerdócio.

2. Daniel 9:27
Esse texto é parte da profecia das 70 semanas, com sua predição da vinda do Messias e da destruição do templo e da cidade de Jerusalém no ano 70 d.C. A destruição é a associada com “a abominação desoladora.” A frase não é exatamente a mesma usada em 8:13. Ao invés de “rebelião/transgressão” encontramos “abominação” (šiqqû§), também usada em Daniel 11:31 e 12:11. Em 9:27 existe um problema de sintaxe; enquanto o substantivo “abominação” é plural (šiqqû§îm, “abominações”), o particípio é singular (mešomēm, piel particípio, “desoladora”). Isso tem conduzido a interpretações diferentes sobre essa frase. Mas o problema poderia ser resolvido se identificássemos o plural como sendo um plural de intensificação, significando nesse caso “a máxima abominação.”

O substantivo (šiqqû§) [Abominação] é empregado no Antigo Testamento em contextos cúlticos para se referir “a imagens e símbolos de deuses pagãos,”[4] ou seja, à idolatria (cf. 1 Reis 11:5; 2 Reis 23:13; Isaías 66:3; Jeremias 32:34). Um bom exemplo é encontrado em Zacarias 9:7, onde “a comida abominável (šiqqû§) dentre os seus dentes,” se refere à repugnante carne do sacrifício animal feito pelos pagãos. Šiqqû§ designa fundamentalmente aquilo que é essencialmente incompatível com a adoração ao Senhor. Aqueles que praticam abominações, incluindo-se os israelitas, se tornam eles mesmos abomináveis ao Senhor (Oséias 9:10). Esse é também o caso com os israelitas que comem animais abomináveis/imundos. Em Levítico 11:43 o verbo šq§, “detestar como cerimonialmente imundo,”[5] é empregado no piel (šiqqē§), significando “fazer de alguém como algo imundo e aborrecível”[6] por comer animais imundos. O substantivo šeqe§ (“Abominação cúltica”), outro substantivo da mesma família de palavras, é ocasionalmente usado para se referir a animais imundos que são repulsivos e detestáveis ao Senhor. Isso está intimamente relacionado com a ideia de impureza e, como impureza ela designa aquilo que é essencialmente incompatível com a santidade do Senhor (Levítico 7:21; 11:10-13, 20, 23, 41).

Em Daniel 9:27, šiqqû§ designa a força abominável que depois da morte do Messias causa desolação por destruir a cidade, e especialmente o templo. Foi precisamente assim que Jesus entendeu a passagem quando ele a aplicou a uma destruição futura literal tanto da cidade quanto do templo pelos exércitos romanos.[7] Esse uso da frase “abominação desoladora” é diferente daquela que encontramos em 8:13, 11:31, e 12:11.

3. Daniel 11:31; 12:11
Nessas passagens a abominação está diretamente relacionada ao “diário” (tāmîd), i.e. A mediação de Cristo no Santuário Celestial. Em Daniel 8:12, o chifre pequeno, através de um ato de rebeldia, usurpa a função do Príncipe e coloca seus exércitos contra “o diário.” É a essa ação à qual Daniel 8:13 se refere com a frase “transgressão assoladora.” Em Daniel 11:31 o rei do norte profana o templo, remove “o diário,” e então estabelece “a abominação desoladora.” Novamente encontramos “o diário” removido e a abominação/transgressão tomando seu lugar. O oposto do tāmîd (o diário) é a šiqqû§ šomēm (abominação desoladora). Daniel 8:9-13 indica que a linguagem de “rebelião/abominação” está descrevendo a obra do chifre pequeno em estabelecer ou fundar seu próprio sistema de mediação e adoração, seus próprios serviços diários. É para essa mesma atividade que a frase “abominação desoladora” está se referindo em Daniel 12:11. O verbo nāthan (armar) é usado de várias formas no Antigo Testamento, mas aqui ele pode ser traduzido como “fundar, colocar, por,” um uso associado com a idolatria (Levítico 26:1). Neste caso o que é colocado é “a abominação desoladora.” A colocação dessa abominação inclui o processo histórico que conduziu a se colocar de lado “o diário.”

Alguns adventistas estão agora argumentando que a abominação desoladora em 12:11 designa a imposição da observância do domingo brevemente antes da vinda do Senhor, e que o “diário” está de alguma forma conectado com o sábado. Falta apoio contextual e linguístico para essa interpretação. Ela é fundamentalmente uma visão especulativa que não deveria ser levada a sério. A frase “abominação desoladora” designa o que aconteceu durante a destruição de Jerusalém e a obra do papado durante a idade média. As pequenas variações nas palavras que formam as frases no texto hebraico de Daniel apontam para esses dois eventos diferentes.

Ángel Manuel Rodríguez (via Biblical Research - Tradução: Ezequiel Rosa Gomes Junior)

[1] Johan Lust, “Cult and Sacrifice in Daniel: The Tamid and the Abomination of Desolation,” in Ritual and Sacrifice in the Ancient Near East, Proceedings of the International Conference Organized by the Katholieke Universiteit Leuven from the 17th to the 20th of April 1991, edited by J. Quaegebeur (Leuven: Uitgeverij Peeters, 1993), 285.
[2] 2R. Knierim, “Peša,” in Theological Lexicon of the OT, vol. 2, edited by E. Jenni and C. Westermann (Peabody, MA: Hendrickson, 1997), 1036 (hereafter TLOT).
[3] F. Stolz, “Šmm,” in TLOT, vol. 2, 1372.
[4] Ludwig Koehler and Walter Baumgartner, M. Richardson, and J. J. Stamm, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the OT (Leiden: Brill, 2001), 1640 (hereafter KBL3).
[5] KBL3, 1646.
[6] Ibid.
[7] A maneira como diferentes Evangelhos relatam os comentários de Jesus nos ajuda a entender como Ele entendeu a profecia de Daniel 9:27. A frase que Marcos usa, “situado onde não deveria estar” (Marcos 13:14), é esclarecida por Mateus com a frase, “no lugar santo” (Mateus 24:15) se referindo ao templo. Isso está baseado no texto grego de Daniel 9:27 que traduz a frase hebraica cal kenaph šiqqû§îm mešomēm (“sobre a asa da abominação virá o assolador”), como epi to hieron bdelugma tôn erēmōseōn estai (“no templo haverá uma abominação desoladora”). Mateus sugere que aqueles que praticam abominação são eles mesmos abomináveis e estão agora presentes no templo para destruí-lo, causando desolação. Lucas define claramente a referência à abominação desoladora como os exércitos romanos que cercaram Jerusalém (Lucas 21:20-22; cf. T. J. Gedert, “Apocalyptic Teaching,” in Dictionary of Jesus and the Gospels, edited by J. B. Green, S. McKnight, I. H. Marshall [Downers Grove, IL: InterVarsity, 1992], 23). A predição de Jesus, baseada em Daniel 9:27, a respeito “da abominação desoladora” foi cumprida quando o templo de Jerusalém foi profanado e destruído em 70 d.C.” (Ibid.).

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

SUAS ORAÇÕES NÃO PASSAM DO TETO

"Grite! Grite a plenos pulmões! Não se contenha: que seja um grito como de trombeta! Diga ao Meu povo o que está errado com a vida deles, confronte a família de Jacó com seus pecados! Eles estão sempre muito ocupados com a adoração, e têm prazer em estudar tudo sobre Mim. Na aparência, são uma nação de pessoas de vida reta: obedecem à lei, honram Deus. Eles Me perguntam: 'Qual a coisa certa a fazer?' e gostam de Me ter a seu lado. Mas eles também se queixam: 'Por que jejuamos e não nos favoreces? Por que nos humilhamos e nem percebes?'. Bem, aqui está a razão: A razão principal dos seus dias de jejum é o lucro. Vocês oprimem seus empregados. Vocês jejuam, mas ao mesmo tempo discutem e brigam. Vocês jejuam, mas acabam se enfrentando a socos. O tipo de jejum que fazem não fará que suas orações passem do teto. Acham que este é o tipo de dia de jejum que Eu espero: um dia especial para demonstração de humildade? Um dia para pôr a máscara da piedade e desfilar solenemente em roupa preta por aí? Vocês chamam isto de jejum: separar um dia para que Eu, o Eterno, tenha prazer? Este é o tipo de jejum que Eu quero ver: quebrem as correntes da injustiça, acabem com a exploração no trabalho, libertem os presos, cancelem as dívidas. O que espero que façam é: repartam a comida com os famintos, convidem os desabrigados para casa, coloquem roupa nos maltrapilhos que tremem de frio, estejam disponíveis para sua família. Façam isso, e as luzes se acenderão, e sua vida será mudada na hora. Sua justiça irá pavimentar seu caminho. O Eterno de glória vai garantir sua passagem. Então, quando vocês orarem, o Eterno responderá. Vocês clamarão por ajuda, e Eu direi: Aqui estou. Se vocês eliminarem as injustiças, pararem de culpar as vítimas, cessarem de fazer fofocas sobre os pecados dos outros, Forem generosos com os famintos e começarem a se dedicar aos oprimidos e marginalizados, Sua vida começará a brilhar na escuridão, sua vida sombria será banhada na luz do Sol, E sempre mostrarei a vocês o melhor caminho. Darei a vocês vida plena até num lugar vazio – músculos firmes, ossos fortes. Vocês serão como um jardim regado, uma fonte viva que nunca seca. Vocês usarão o entulho do passado para construir o novo, reconstruirão sobre os antigos alicerces da sua vida. Vocês serão conhecidos como aqueles que reparam qualquer coisa, restauram ruínas antigas, reconstroem e renovam, tornam a comunidade habitável outra vez" (Isaías 58:1-12 - A Mensagem).

O conteúdo do capítulo 58 de Isaías deve ser considerado como uma mensagem para este tempo, mensagem a ser dada sempre e sempre.

O profeta Isaías fala sobre o que constitui o arrependimento e o que é essencial para que as bênçãos prometidas sejam derramadas. Exteriormente, a nação de Judá professava seguir o Senhor, mas o coração estava longe dEle. As pessoas se apegavam a formas externas da religião e negligenciavam seus princípios básicos. Jejuavam e oravam, observavam o sábado e as festas sagradas, apresentavam ofertas no templo e participavam das assembleias solenes, ao mesmo tempo em que se envolviam com toda forma de iniquidade.

A hipocrisia permeava a vida religiosa. Eles pensavam que recebiam a aceitação de Deus por meio da aflição física. Esqueceram-se de que a essência da verdadeira religião é o exercício da justiça, misericórdia e humildade. As pessoas jejuavam porque queriam assim obter a aprovação divina. Não compreendiam o significado espiritual do jejum, e criam que cumprir as formas de religião lhes permitia satisfazer as próprias paixões e oprimir o pobre e o desamparado.

Será que o jejum é isto mesmo, um rito? Onde o homem se sacrifica? Maltratando-se? Você acha que como Deus Ele vai olhar para você só porque está vendo você se machucar? Você acha que Ele fica feliz com isso? Se você quer chamar a atenção de Deus, faça o que Ele lhe pediu. Ame! Divida seu pão com o faminto. Vista quem está nu! Não esconda o rosto do seu semelhante! Se você não está triste, não faça greve de fome! Não transforme num ritual algo tão verdadeiro como a tristeza da alma! Se você quiser, então, chamar a atenção de Deus, ajude os outros!

"Toda nossa oração e abstinência de alimentos de nada valerá a menos que resolutamente lancemos mão nesta obra. Sobre nós repousam sagradas obrigações. Nosso dever é claramente exposto. O Senhor nos falou por meio do Seu profeta. Os pensamentos do Senhor e os Seus caminhos não são o que mortais cegos e egoístas crêem que são ou desejam que sejam. O Senhor olha para o coração. Se aí habita o egoísmo, Ele o sabe" (Beneficência Social, p. 30).

O verdadeiro propósito da religião é libertar o ser humano dos fardos do pecado, eliminar a intolerância e a opressão e promover justiça, liberdade e paz. Deus queria que Seus filhos fossem livres, mas os líderes de Israel os estavam convertendo em escravos e mendigos. Eles esperavam que Deus ouvisse suas orações e lhes desse respostas, mas não estavam dispostos a mudar suas atitudes e comportamentos.

"Tenho sido instruída a chamar a atenção de nosso povo para o capítulo 58 de Isaías. Lede cuidadosamente este capítulo e compreendei a espécie de ministério que levará vida às igrejas. A obra do evangelho deve ser promovida por meio de nossa liberalidade bem assim de nossos labores. Quando encontrardes almas sofredoras necessitando auxílio, dai-lho. Quando achardes os que estão famintos, alimentai-os. Assim fazendo estareis trabalhando nas linhas do ministério de Cristo. O santo trabalho do Mestre era um trabalho de benevolência. Que nosso povo em todos os lugares seja encorajado a tomar parte nele" (Manuscrito 7, 1908).

A verdadeira religião é prática. Sem dúvida, inclui os ritos e as cerimônias da igreja, mas é na atitude perante o próximo que se manifesta a presença ou a ausência da verdadeira religião. Não é tanto uma questão de se abster do alimento quanto o é de compartilhar o alimento com o faminto. A bondade na prática é o único tipo de religião reconhecida no juízo final.

"Somente pela manifestação de interesse altruísta pelos que estão em necessidade é que podemos dar uma demonstração prática das verdades do evangelho. Na pregação do evangelho está incluído muito mais que meramente fazer sermões. Deve esclarecer-se o ignorante, erguer-se o desanimado, os enfermos devem ser curados. O Senhor vos dará sucesso nesta obra. Ela está entretecida com a vida prática quando é vivida e praticada. A união de obra cristã para o corpo e obra cristã para a alma é a verdadeira interpretação do evangelho" (Review and Herald, 4 de março de 1902).

Com crítica, censura, fofocas e insinuações, muitas pessoas tornam o fardo do próximo quase insuportável. Muitos cristãos são esmagados e enviados à sepultura desanimados e derrotados por terem sido objeto de escárnio de de outros cristãos. Deus não pode Se aproximar de Seu povo enquanto este estiver ocupado em criticar e oprimir o próximo.

Se a igreja vivesse à altura de suas oportunidades e responsabilidades, se seus membros fossem cristãos tanto em espírito como no nome, logo se cumpriria a missão, e o Senhor voltaria em glória. Vidas de serviço egoísta afastam a luz da glória de Deus.

"A razão por que o povo de Deus não é mentalmente mais espiritual, e não tem mais fé, é porque, foi-me mostrado, está estreitado pelo egoísmo. O profeta está-se dirigindo aos guardadores do sábado, e não aos pecadores, não aos incrédulos, mas aos que fazem grande profissão de piedade. Não é a abundância de vossas reuniões que Deus aceita. Não as numerosas orações, mas a prática do bem, o fazer as coisas certas no tempo certo. É o ser menos egoísta e mais benevolente. Nossas almas precisam expandir-se. Então Deus fará que sejam como um jardim regado, cujas águas não faltam" (Testemunhos para a Igreja, vol. 2, pp. 35 e 36).

Em tempos de aridez espiritual, Deus promete refrigério aos que buscam com sinceridade ser uma bênção ao próximo.

"A obra de beneficência recomendada nesse capítulo, é a obra que Deus requer de Seu povo neste tempo. É uma obra indicada por Ele próprio. Não somos deixados em dúvida quanto ao lugar da mensagem, e ao tempo de seu assinalado cumprimento, pois lemos: 'Vocês usarão o entulho do passado para construir o novo, reconstruirão sobre os antigos alicerces da sua vida. Vocês serão conhecidos como aqueles que reparam qualquer coisa, restauram ruínas antigas, reconstroem e renovam, tornam a comunidade habitável outra vez' (Isaías 58:12)" (Testemunhos Seletos, vol. 2, pp. 503 e 505).

O povo de Deus tem uma obra especial a fazer em reparar as brechas feitas em Sua lei; e quanto mais nos aproximamos do fim, tanto mais urgente se torna essa obra. Todos quantos amam a Deus mostrarão que Lhe trazem o sinal pela guarda de Seus mandamentos.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

DEZ CHAVES PARA INTERPRETAR O APOCALIPSE

O Apocalipse é, ao mesmo tempo, um dos livros mais importantes da Bíblia e um dos mais difíceis de ser compreendido. Ele ocupa um lugar singular na interpretação bíblica e, assim, precisamos de alguns critérios para desvendar sua mensagem. Este artigo se concentra em dez chaves que ajudam o intérprete dessa obra apocalíptica a entender sua natureza singular.

1. Gênero 
O Apocalipse reivindica ser uma profecia. No prólogo do livro, é proferida uma bênção sobre aqueles que leem, ouvem e guardam as palavras “da profecia” (1:3). Novamente, no epílogo, encontramos declaração semelhante, pronunciada pelo próprio Jesus (22:7). E o anjo diz a João: “Não seles as palavras da profecia deste livro” (v. 10). O mesmo anjo, ao que parece, considerava João um dos profetas, porque ele se referiu a “teus irmãos, os profetas” (v. 9). Em 22:18 e 19, o Apocalipse é denominado profecia outras duas vezes.

No entanto, dizer que o Apocalipse é uma profecia é contar apenas parte da história. O Apocalipse é um tipo muito especial de profecia. Não é apenas o único livro do Novo Testamento que lida quase que exclusivamente com o futuro, mas é também o melhor exemplo de profecia apocalíptica bíblica. Mais do que isso, é o livro do qual o gênero apocalíptico deriva seu nome. Embora não tenha sido a primeira obra apocalíptica, ele é o mais característico e mais bem conhecido de todos os apocalipses.

O Apocalipse também tem elementos de epístola. Após o preâmbulo (1:1-3), há uma típica introdução epistolar (v. 4, 5), que segue um estilo semelhante ao das epístolas paulinas. Primeiro, é apresentado o nome do autor, seguido por uma identificação dos destinatários. Finalmente, há uma saudação, que deseja graça e paz da parte da Divindade triúna. Na visão subsequente (1:9-3:22), sete cartas são ditadas a João pelo Cristo glorificado e enviadas às sete igrejas mencionadas em 1:11. Cada uma dessas cartas, por sua vez, segue uma forma epistolar levemente modificada, na qual os destinatários são referidos antes que o autor se identifique. O livro em si também é concluído com um estilo epistolar formado por apelos, promessas e bênção final (Ap 22:21).

2. Propósito
O Apocalipse tem um propósito explícito e um implícito. O propósito explícito é declarado no primeiro versículo do livro: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer.” Ele mostra a orientação futura do conteúdo da profecia do livro. Ao mesmo tempo, transmite um senso da iminência dos eventos vindouros, porque afirma que esses eventos “em breve devem acontecer”. O versículo 3 acrescenta que são abençoados aqueles que leem, ouvem ou guardam as palavras da profecia, “pois o tempo está próximo”. Essa sentença é repetida em 22:10.

Além desse propósito explícito de revelar o futuro como expectação iminente, parece haver um propósito implícito que coincide com o primeiro. Ele é encontrado nos repetidos chamados à perseverança e fidelidade da parte dos leitores e ouvintes. A profecia apocalíptica é dada para atender às necessidades daqueles que estão enfrentando adversidade. Jesus apela aos crentes que se mantenham firmes até que Ele venha, se necessário passando pela morte, de modo que recebam a coroa da vida (2:10, 25; 3:11). São feitas muitas promessas àqueles que vencerem por meio do sangue do Cordeiro, apesar dos obstáculos.

3. Estrutura
Quase não há consenso entre os acadêmicos sobre a estrutura geral do Apocalipse. Contudo, existem alguns elementos estruturais-chaves sobre os quais a maioria está de acordo. Provavelmente o elemento estrutural mais importante seja a divisão do livro em duas partes principais, uma enfatizando eventos históricos da salvação e a outra enfatizando eventos escatológicos. A maioria dos acadêmicos divide o livro entre os capítulos 11 e 13, o ponto que H. B. Swete, na obra The Apocalypse of St John, denomina o “grande corte” do Apocalipse.

No entanto, muitos acadêmicos adventistas seguem a estrutura quiástica de Kenneth Strand, que localiza a divisão entre os capítulos 14 e 15. Em The Lamb Among the Beasts, Roy Naden propõe um quiasma que divide o livro entre 12:10 e 12:11. Contudo, os capítulos 12–14 constituem a unidade que contém eventos históricos mesclados com eventos escatológicos, tornando difícil atribuí-los exclusivamente a uma seção. Os capítulos 12–14 podem ser denominados a “visão do grande conflito”, que retrocede ao início da rebelião no Céu e avança para a vitória dos redimidos glorificados com o Cordeiro no monte Sião. Em todo caso, os capítulos 1–11 formam a seção histórica do livro, e os capítulos 15–22, sua seção escatológica. É arriscado para o intérprete fugir dessa diretriz estrutural.Outro elemento estrutural importante é o uso explícito de “setenários” ao longo do livro. Há quatro: sete cartas, sete selos, sete trombetas e sete taças. Visto que os sete trovões não são desenvolvidos, eles não constituem um setenário estrutural. Alguns autores tentam estruturar todo o livro em setenários, mas isso vai além do que é autoevidente. Os setenários explícitos formam as unidades literárias que devem ser mantidas.

4. Relação com o Antigo Testamento
Nenhum outro livro é tão fortemente fundamentado no Antigo Testamento como o Apocalipse. João deve grande parte de sua teologia, vocabulário e simbolismo ao Antigo Testamento, embora sempre seja profundamente cristocêntrico. Isso implica aceitar a realidade de que contemplou coisas notavelmente semelhantes às reveladas aos profetas do Antigo Testamento e considerou conveniente descrever o que viu usando a linguagem e as formas de pensamento dessa parte da Bíblia.

Tentar compreender o Apocalipse sem reconhecer as raízes do Antigo Testamento significa impedir toda a interpretação do livro. Porém, João não meramente transferiu conceitos do Antigo Testamento para o Apocalipse; ele os transformou de acordo com seus propósitos. É interessante notar que não há citações do Antigo Testamento no Apocalipse, mas apenas antecedentes aos quais João parece apontar mediante referência indireta ou alusão.

5. Unidade
No início do século 20, houve algumas propostas a respeito da origem do Apocalipse que contestaram sua unidade. Atualmente, essa não mais é a realidade. A maioria dos acadêmicos concorda sobre a unidade do livro. A complexidade da estrutura, interconectada como é, representa um dos argumentos convincentes em favor de sua unidade.

Em The New Testament in its Literary Environment, David Aune declara: “O Apocalipse de João é estruturalmente mais complexo que qualquer outro apocalipse judaico ou cristão, e ainda está por ser analisado de modo satisfatório. Como outros apocalipses, ele é construído por uma sequência de episódios assinalados por vários marcadores literários, como a repetição de frases estereotipadas (‘Vi’, ‘Ouvi’, etc.) e por artifícios literários como quiasmas, intercalações (embora jamais interrompam a sequência narrativa), técnica de interconexão (uso de textos transicionais que concluem uma seção e introduzem outra) e várias técnicas estruturais (uso de septetos e digressões).”

6. Dualismo ético
Uma das características da literatura joanina, incluindo o evangelho e as epístolas, é seu dualismo ético. Esse dualismo, que se refere ao contraste entre o bem e o mal, e pode ser expresso e caracterizado de várias formas, é apresentado no Apocalipse, especialmente no tema do grande conflito, centrado no capítulo 12. Ele tem início com a guerra no Céu entre Miguel e o dragão e continua com a batalha na Terra entre o dragão e a besta, incluindo suas cabeças e chifres (poderes civis terrestres que cumprem os propósitos do dragão), e a mulher pura com sua semente, primeiramente o Filho varão (o próprio Cordeiro messiânico) e depois o restante de sua descendência. Esse dualismo ético tem vasto alcance no Apocalipse. Não há espaço para uma posição neutra. O ouvinte ou leitor do livro deve identificar o lado correto, associar-se a ele e permanecer fiel a essa decisão.

7. Temas teológicos centrais
No Apocalipse se destacam algumas questões teológicas. Uma delas, muito importante, é a soberania de Deus. Outra é a justiça divina. Um terceiro aspecto é o processo da salvação. O quarto é o papel de Cristo na história da salvação. O quinto tema é o papel da igreja no plano de Deus. O sexto é o papel da revelação e da profecia em comunicar o que é essencial à salvação. O sétimo é a função da decisão pessoal no preparo para o juízo. O povo de Deus, ou igreja, também desempenha uma parte significativa. Essas questões estão intimamente relacionadas.

Todo o livro é chamado de revelação profética, bem como a palavra de Deus e o testemunho de Jesus (1:1-3). Essa não é meramente uma designação de gênero, mas uma declaração teológica. A expressão “a palavra de Deus e o testemunho de Jesus”, que aparece ao longo do livro, está enraizada no conceito legal das duas testemunhas necessárias para se estabelecer a verdade. Esse conceito se transforma em imagem no relato das duas testemunhas no capítulo 11, que profetizam durante 1.260 dias/anos e são martirizadas por causa de seu testemunho. As duas testemunhas representam a palavra de Deus e o testemunho de Jesus, ou o testemunho dos profetas, de Jesus e dos apóstolos. À medida que os leitores e ouvintes do livro respondem ao testemunho profético que os chama à salvação e a permanecer fiéis, eles se preparam para o juízo vindouro. Tudo no Apocalipse deve ser compreendido à luz desse juízo iminente.

8. Santuário
Outra importante chave para a compreensão do livro de Apocalipse é a percepção da abrangência com a qual o santuário funciona como pano de fundo da obra de Cristo em favor de nossa salvação. Isso ocorre em vários níveis. No primeiro nível, João menciona repetidamente o templo (3:12; 7:15; 11:1, 19; 14:15, 17; 15:5-6, 8; 16:1, 17; 21:22) e vários itens da mobília do santuário, como as sete tochas que ardem diante do trono (4:5), as taças de ouro cheias de incenso (5:8) e os incensários de ouro cheios de incenso (8:3-5), o altar de ouro diante do trono (8:3, 5; 9:13) e a arca da aliança (11:19). Também há indivíduos que parecem se vestir e atuar como sacerdotes (4:4; 5:8; 7:13-15; 8:2-6; 14:18; 15:6-7). No segundo nível, João se refere à ­execução de alguns dos rituais do santuário (5:6, 9; 8:3-6). A referência frequente ao Cordeiro e ao sangue do Cordeiro é em si mesma uma explícita imagem do santuário. No terceiro nível, o Apocalipse parece seguir o ciclo das festas anuais associadas ao culto hebraico, que estava centrado no santuário.

9. Simbolismo e numerologia
O livro de Apocalipse está repleto de simbolismo e numerologia. O uso extenso de simbolismo é uma das características da literatura apocalíptica. Alguns números são apenas simbólicos, ao passo que outros parecem ter valor literal, embora provavelmente contenham também algum valor simbólico. A chave é saber quando algo deve ser tomado literalmente e quando deve ser tomado simbolicamente.

Richard Davidson apresenta uma sugestão para solucionar esse problema. O conceito tem que ver com a subestrutura escatológica da tipologia do Novo Testamento. Num capítulo sobre a tipologia do santuário publicado no livro Symposium on Revelation, Davidson nota que, “na era da igreja, os antítipos terrestres encontram, no reino espiritual da graça, um cumprimento espiritual (não literal), parcial (não final) e universal (não geográfico/étnico), visto que estão relacionados espiritualmente (mas não literalmente) a Cristo nos lugares celestiais. Assim, devemos esperar que, no Apocalipse, quando uma imagem relacionada ao santuário/templo é aplicada a um cenário terrestre na era da igreja, haja uma interpretação espiritual, e não literal, visto que o templo, na Terra, é espiritual”.

Por outro lado, ele observa que, “durante a era da igreja, o reino espiritual terrestre é superado pelo domínio literal de Cristo nos lugares celestiais. De maneira consistente com essa perspectiva neotestamentária, a tipologia do santuário do Apocalipse, quando focalizada no santuário celestial, ­compartilha da mesma modalidade que a presença de Cristo, ou seja, um cumprimento antitípico literal”.

Se esse princípio hermenêutico for seguido, muitos problemas podem ser evitados. Apesar disso, os números ainda podem ter valor simbólico, até nas cenas celestiais. Determinar o que os diversos números significam exige meticulosa pesquisa bíblica. A base primária para se interpretar tanto o simbolismo como a numerologia no Apocalipse deve vir de dentro das Escrituras.

10. Mensagem de Cristo
Ao interpretar o Apocalipse, devemos começar com as premissas corretas. O que o livro tenta comunicar? Alguns acreditam que João estivesse escrevendo sobre eventos que ocorreriam em sua própria época. Esses intérpretes, denominados preteristas, ignoram as próprias reivindicações de João sobre o que ele registrou e por quê. Não aceitam que João tenha recebido revelações visionárias vindas de Deus sobre o futuro, especialmente em relação ao tempo do juízo escatológico e ao estabelecimento do reino eterno de Cristo. Eles veem apenas o início da história cristã, mas não seu meio ou fim. Tampouco veem a mensagem de Cristo a seu povo em todas as épocas.

Outros leitores creem que João estivesse escrevendo apenas sobre escatologia, os eventos finais da história e o estabelecimento do reino de Deus na Terra. Não compreendem que João incluiu muita atividade histórica relacionada ao período anterior ao fim: seis selos e seis trombetas, durante os quais os eventos continuam a ocorrer na Terra. Somente nos dias em que a sétima trombeta soar, o mistério de Deus será concluído (10:7). Esses intérpretes, denominados futuristas, veem o fim da história da salvação cristã, mas não seu início e suas lutas durante as longas eras que antecedem o fim. Tampouco veem a mensagem de Cristo a seu povo de todas as épocas.

Somente uma abordagem equilibrada, que mantenha em mente o verdadeiro objeto da revelação, trará resultados satisfatórios. A revelação não foi dada apenas a João ou às sete igrejas da província romana da Ásia, mas aos servos de Deus (1:1) que viveriam antes do juízo final, a fim de prepará-los para os eventos vindouros. A menos que leiamos o livro com a intenção de discernir essa mensagem dada por Cristo, deixaremos de compreender o conteúdo mais importante do livro.

A parte mais significativa do livro para nossa experiência pessoal são as cartas de Cristo às sete igrejas. Nessa seção Cristo fala pessoalmente a cada indivíduo de cada época. As sete igrejas representam a realidade da igreja em todas as épocas, bem como as variadas experiências que cada cristão pode ter em qualquer tempo. Esse fato é comprovado pela declaração repetida várias vezes: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2:7, 11, 17, 29; 3:6, 12, 22). O apelo é individual e a mensagem a cada igreja é aplicada a todas as igrejas. Se seguirmos uma abordagem semelhante no estudo de cada visão do Apocalipse, buscando a mensagem pessoal de Cristo ao leitor, receberemos a bênção de 1:3 e 22:7. Esse deve ser o objetivo do estudo do livro do Apocalipse.

Edwin Reynolds (via Revista Adventista)

Segue abaixo alguns símbolos encontrados no livro do Apocalipse e em alguns outros livros da Bíblia, e seus significados e referências:




quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

O Papa assinalou hoje, no Vaticano, o início do tempo da Quaresma, no calendário litúrgico da Igreja Católica, deixando apelos à mudança interior e à paz, perante peregrinos de vários países. “Perante tantas guerras, não fechemos o nosso coração aos necessitados. Que a oração, o jejum e a esmola sejam o caminho para construir a paz”, apelou.

A Quaresma, que tem início hoje, com a celebração de Cinzas, é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência; serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (este ano a 31 de março). “Somos chamados ao deserto. Através das práticas do jejum, da esmola e da oração, Jesus convida-nos à conversão. Que Deus nos acompanhe e nos abençoe nesta caminhada”, referiu o Papa, na saudação aos peregrinos de língua portuguesa. Ele também desafiou todos a conservar a fé no coração, “como as brasas permanecem debaixo das cinzas”.

Francisco preside esta tarde à Eucaristia, com bênção e imposição das Cinzas, na Basílica de Santa Sabina, em Roma, às 17h00 locais. (Ecclesia)

As cinzas utilizadas neste ritual provêm da queima dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. A estas cinzas mistura-se água benta e de acordo com a tradição, o celebrante desta cerimônia utiliza essas cinzas úmidas para sinalizar uma cruz na fronte de cada fiel, proferindo a frase “Lembra-te que és pó e que ao pó voltarás” ou a frase “Convertei-vos e crede no Evangelho”, deixando a marca até o horário do pôr-do-sol.

Na cerimônia, as pessoas são desafiadas a refletirem na mortalidade e abandonarem os hábitos pecaminosos. Embora milhares de pessoas sinceras participem desta cerimônia, apreciaria que de coração aberto, você analisasse as seguintes ponderações:

1. Não há registro bíblico de que os cristãos devam participar desta cerimônia. Jesus, os discípulos e até mesmo o apóstolo Paulo não participaram de nenhuma quarta-feira de cinzas. Assim, fica fácil identificar que se trata de uma tradição e jamais deva ser visto como uma ordenança bíblica.

2. A Bíblia contém inúmeras narrativas de pessoas usando “poeira e cinzas” como símbolo de arrependimento e ou sofrimento (Gênesis 18:27; 2 Samuel 13:19; Ester 4:1; Jó 2:8; Daniel 9:3; Mateus 11:21). Porém, essa prática cultural comumente destacada em vários personagens bíblicos, não se limitava apenas a um período específico do ano como acontece na quarta-feira de cinzas, mas quando houvesse a necessidade de externar o sentimento de desgraça ocasionado geralmente por uma tragédia e ou pecado.

É bem verdade, que enquanto vivermos neste mundo pecaminoso, o sofrimento, seja aquele ocasionado de maneira direta ou indireta, nos faz lembrar que não somos nada sem Deus, somos apenas pó, seres mortais e que carecemos da sua libertação e vida eterna. Por essa razão, Deus não especificou um dia para essa prática religiosa por que carecemos de uma entrega pessoal diariamente.

3. Muitos abusam da graça de Deus no carnaval sob o pretexto de que na quarta-feira de cinzas os pecados serão perdoados. A impressão que tenho é que a filosofia de muitos é que quanto pior forem os seus atos, aí que Deus aparecerá e demonstrará misericórdia. Mesmo assim, Ellen G. White diz que "o coração de Deus, cheio de amor e paciência, ainda luta com aqueles que ignoraram a misericórdia de Deus e abusaram da Sua graça" (Um Convite à Diferença, p. 102).

E qual o aspecto de um cristão conduzido pela graça? A Bíblia responde: “Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?" (Romanos 6:1 a 2).

Não é a meta de Deus promover a desobediência para provar o seu amor e perdão. Ao contrário, Deus salva os seus filhos para que continuem salvos, livres do pecado.

"Pois sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado seja destruído, e não mais sejamos escravos do pecado; pois quem morreu, foi justificado do pecado. Ora, se morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos. Pois sabemos que, tendo sido ressuscitado dos mortos, Cristo não pode morrer outra vez: a morte não tem mais domínio sobre ele. Porque morrendo, ele morreu para o pecado uma vez por todas; mas vivendo, vive para Deus. Da mesma forma, considerem-se mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus. Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos. Não ofereçam os membros do corpo de vocês ao pecado, como instrumentos de injustiça; antes ofereçam-se a Deus como quem voltou da morte para a vida; e ofereçam os membros do corpo de vocês a ele, como instrumentos de justiça" (Rm 6:6-13).

Concluo com este alerta de Ellen G. White: "Estamos vivendo no período mais crítico da história deste mundo. O destino de cada pessoa sobre o Planeta Terra está a ponto de ser decidido. O nosso próprio futuro bem-estar, assim como a salvação de outros, depende do rumo que escolhermos agora. Precisamos de ser guiados pelo Espírito da verdade. Cada seguidor de Cristo deve perguntar seriamente: 'Senhor, que queres que eu faça?' (Atos 9:6). Devemos humilhar-nos perante o Senhor com jejum e oração e meditar muito na Sua Palavra, especialmente nas cenas do juízo. Devemos procurar ter uma experiência viva nas coisas de Deus. Não temos um momento a perder. Acontecimentos importantes, significativos, estão a desenrolar-se ao nosso redor, estamos no campo encantado de Satanás. Não durmam, sentinelas de Deus! O inimigo esconde-se perto, esperando que fiquem indolentes e sonolentos, para poder saltar sobre nós e fazer-nos sua presa" (Um Convite à Diferença, p. 101).

Pense nisso!

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A IGREJA E A ESCOLA DE SAMBA

Seria lícito tomar o desfile do Carnaval como analogia de nossa caminhada cristã? Certamente, a maioria dirá que não. Afinal de contas, o Carnaval é a festa pagã por excelência, onde, além de toda promiscuidade, entidades pagãs são homenageadas. Eu poderia gastar muitas linhas tecendo críticas justas a esta festa em que tantas famílias são desfeitas, e inúmeras vidas destruídas. Porém hoje, quero pegar a contramão.

Por que será que os cristãos sempre enfatizam os aspectos ruins de qualquer manifestação cultural? Se vivêssemos nos tempos primitivos da igreja cristã, como reagiríamos ao fato de Paulo tomar as Olimpíadas como analogia da trajetória cristã neste mundo? Ora, os jogos olímpicos celebravam os deuses do Olimpo. Portanto, era uma festa idólatra. Os atletas competiam nus. Sem contar as orgias e os sacrifícios que se seguiam às competições. Sinceramente, não saberia dizer qual seria pior, as Olimpíadas ou o Carnaval. Porém, Paulo soube enxergar alguma beleza por trás daquela manifestação cultural. A disposição dos atletas, além do seu preparo e empenho, foram destacados pelo apóstolo como virtudes a serem cultivadas pelos seguidores de Cristo.

E quanto ao Carnaval? Haveria nele alguma beleza, alguma virtude que pudesse ser destacada do meio de tanta licenciosidade? Podemos enxergar alguma ordem no meio do caos carnavalesco?

Concentração
O desfile começa com a concentração. É ali que é dado o grito de guerra da Escola, seguido pelo aquecimento dos tamborins. A concentração equivale à congregação. Nosso lugar de culto (comumente chamado de “templo” ou “igreja”) é onde nos concentramos e aquecemos nosso espírito. Porém, a obra acontece lá fora, “na avenida” do mundo.

Gosto quando Paulo fala que somos conduzidos por Cristo em Seu desfile triunfal. O apóstolo compara a marcha cristã pelo mundo às paradas triunfais promovidas pelo império romano. Era um espetáculo cruento, no qual os presos eram expostos publicamente, acorrentados e arrastados pelas ruas da cidade. Era assim que Roma exibia sua supremacia, e impunha seu poder. Paulo toma emprestada a figura deste majestoso e horroroso evento para afirmar que Cristo está nos exibindo ao Mundo como aqueles que foram conquistados por Seu amor. Muitos cristãos acreditam ingenuamente que a guerra se dá na concentração. Por isso, a igreja atual é tão ensimesmada, isto é, voltada para dentro de si. Ela passou a ver-se como um fim em si mesmo. A avenida nos espera!

"Devemos sentir agora a nossa responsabilidade de trabalhar com intenso ardor, a fim de comunicar a outros as verdades que Deus nos tem revelado para o tempo atual. Não podemos ser demasiado diligentes. A obra evangelística, de abrir as Escrituras aos outros, advertindo homens e mulheres daquilo que está para vir ao mundo, deve ocupar, mais e mais, o tempo dos servos de Deus" (Evangelismo, p. 172).

Comissão de Frente
Encabeçando o desfile vai a comissão de frente, seguida pelo carro abre-alas. Compete aos componentes dessa comissão a primeira impressão. A comissão de frente da igreja de Cristo é formada pelos que nos precederam, que abriram caminho para as novas gerações. Não podemos permitir que caiam no esquecimento. Também são os missionários, que deixam sua pátria para abrir caminho em outros rincões. Grande é sua responsabilidade, e alto é o preço que se dispõem a pagar para que o Evangelho de Cristo chegue às populações ainda não alcançadas. Paulo fazia parte da comissão de frente da igreja primitiva. Escrevendo aos Coríntios, ele diz que sua missão era “anunciar o evangelho nos lugares que estão além de vós, e não em campo de outrem” (2Co 10:16). Em bom português, o apóstolo dos gentios preferia pescar em alto mar, e não no aquário dos outros.

"Os que desejam avivar a memória e ser instruídos na verdade, precisam estudar a história da Igreja primitiva durante e imediatamente após o dia de Pentecostes. Estudai atentamente, no livro de Atos, as experiências de Paulo e dos outros apóstolos, pois o povo de Deus, em nosso tempo, terá de passar por experiências similares" (Eventos Finais, p. 148).

Fantasias, Carros alegóricos, Samba-enredo
Destaco também a criatividade dos foliões, principalmente dos carnavalescos na composição das fantasias, dos carros alegóricos e do samba-enredo. É notória sua busca pela perfeição. Diz-se que o desfile do ano seguinte começa a ser preparado quando termina o Carnaval. É, de fato, um trabalho árduo que demanda muito empenho.

Se houvesse por parte de muitos cristãos uma parcela da dedicação encontrada nos barracões de Escolas de Samba, faríamos um trabalho muito mais elaborado para Deus. Buscaríamos a excelência, em vez de nos contentar com tanta mediocridade. Tomemos por exemplo as composições musicais. Basta ouvir algumas estrofes para perceber o trabalho de pesquisa que envolve a composição de um samba-enredo. Sem contar as rimas ricas, as melodias marcantes, e a ousadia criativa das baterias. Enquanto isso, composições que visam louvar a Deus estão cada vez mais pobres, tanto do ponto de vista melódico, quanto do ponto de vista lírico.

"O Senhor não está satisfeito com a atual falta de ordem e exatidão entre os que trabalham na Sua obra. Tudo quanto tenha qualquer relação com a obra de Deus deve ser tão perfeito quanto seja possível ao cérebro e às mãos humanos. É um pecado ser descuidado, sem ideal e indiferente em qualquer trabalho em que nos empenhemos, mas especialmente na obra de Deus. Cada empreendimento relacionado com Sua causa deve ser realizado com ordem, previsão e fervorosa oração. Cada um deve prostrar-se em seu grupo e em seu lugar, fazendo seu trabalho. Cada indivíduo entre vocês deve, perante Deus, realizar um trabalho para estes últimos dias que é importante, sagrado e majestoso" (Evangelismo, p. 94).

Harmonia e Evolução
A Escola de Samba é dividida em alas, cada uma com fantasias e carro alegórico próprios. Porém, o samba-enredo é o mesmo. O que é cantado lá na frente, é sincronicamente cantado na última ala da Escola. A voz do puxador do samba, bem como a batida harmoniosa da bateria, ecoando por toda a avenida, garantem esta sincronia. Não pode haver espaços vazios entre as alas. Há harmonia até nas cores das fantasias. Ninguém entra na avenida vestido como quiser. Imagine se as variadas denominações que compõem o Corpo Místico de Cristo se relacionassem da mesma maneira, respeitando cada uma o espaço da outra, porém dentro de uma evolução harmoniosa.

“'Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos' (1Co 14:33). Cristão deve estar em união com cristão, igreja com igreja, cooperando o instrumento humano com o divino, achando-se cada agência subordinada ao Espírito Santo, e tudo em combinação para dar ao mundo as boas-novas da graça de Deus" (Atos dos Apóstolos, p. 53).

Mestre-sala e Porta-bandeira
No meio do desfile encontramos o casal formado pelo mestre-sala e pela porta-bandeira. Eles exibem orgulhosamente o pavilhão da Escola. Seus gestos e passos são cuidadosamente combinados, para que a bandeira receba as honras devidas. É triste verificar como a bandeira do Evangelho tem sido chacoalhada, pois os que a deveriam ostentar, são os primeiros a desonrá-la com seu mal testemunho. Entretanto, os cristãos primitivos se dispunham a pagar com a própria vida para que seu testemunho de fé fosse validado e o nome de Cristo fosse honrado.

"Os cristãos primitivos foram chamados muitas vezes a enfrentar face a face os poderes das trevas. Mediante a perseguição e o sofisma, o inimigo se esforçava por fazê-los desviarem-se da verdadeira fé. Eles sentiram que Deus os chamara para dar a luz do evangelho ao mundo e, ao fazê-lo, estavam prontos a sacrificar suas posses, liberdade e a própria vida. Somos nós, nesta última batalha do grande conflito, igualmente fiéis ao nosso encargo?" (Cristo Triunfante, p. 357).

Momento da Dispersão
Ao término do desfile chega o momento da dispersão. É hora de partir, levando a certeza de que todos deram o melhor de si. Alguns saem machucados, com os pés sangrando, com as forças exauridas. Mas todos saem alegres, esperançosos. Aprenderam a sublimar a dor enquanto desfilam. Ignoram o cansaço. Vencem os limites do seu corpo. Tudo pela alegria de ver sua Escola se sagrando campeã. Mas no fim, chega a hora de tirar a fantasia, descer dos carros alegóricos, cuidar das feridas. Mesmo assim, ninguém reclama. Todos exibem no rosto um sorriso de contentamento.

Semelhantemente, todos estamos a caminho do fim do desfile. O momento da dispersão está chegando, quando deixaremos este corpo, nossa fantasia, e seremos saudados pela Eternidade. Que diremos nesta hora? Não haverá novos desfiles. Terá chegado o fim de nossa trajetória? Não! Será apenas o começo de uma nova fase existencial. Deixaremos nossas fantasias, para nos revestirmos de novas vestes celestiais. Falaremos como Paulo em sua carta de despedida a Timóteo: "...o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda” (2 Timóteo 4:6b-8).

"É de fé que você necessita. Não deixe vacilar a fé. Enfrente o bom combate da fé e tome posse da vida eterna. Será uma luta severa, mas vá até o fim, pois as promessas de Deus são certas e definitivas, em Cristo Jesus. Coloque a mão na mão de Cristo. Há dificuldades a serem vencidas, mas anjos magníficos em poder cooperarão com o povo de Deus. Olhe para Sião, apresse os passos para a cidade das comemorações. Uma coroa gloriosa e vestes tecidas no tear do Céu aguardam o vencedor" (Manuscrito 66, 1895).

Aproveitemos os instantes em que estamos na avenida desta vida, celebremos a verdadeira alegria, infelizmente ainda desconhecida por muitos foliões, e que não terminará em cinzas.


* Os textos em destaque são de autoria de Ellen G. White.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

MACETANDO O APOCALIPSE

A cantora Baby do Brasil protagonizou um momento de pregação no carnaval de Salvador, na madrugada deste domingo (11), ao encontrar a também cantora Ivete Sangalo. Ao iniciar sua fala, Baby disse que “entramos em Apocalipse” e afirmou que o “arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e 10 anos”. A artista ainda fez referência ao texto bíblico de Isaías 55:6: "Todos atentos porque nós entramos em Apocalipse. O arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e dez anos. Procure o Senhor enquanto é possível achá-Lo. Obrigada, galera", disse Baby.

Ivete respondeu na sequência, dizendo: “Eu não vou deixar acontecer, porque não tem Apocalipse certo quando a gente maceta ele”, no que parecia ser uma referência à música Macetando, gravada por ela com participação da cantora Ludmilla.

Em uma postagem e vídeo publicados hoje (12), Baby reforçou a chegada do apocalipse e disse que ele é necessário para que as pessoas do bem sejam arrebatadas. "O mundo está louco, o apocalipse tem que acontecer, não tem jeito. É a única maneira de Deus interferir na Terra porque os anjos caídos já estão todos aqui embaixo, já está virando zona. O arrebatamento é maravilhoso, é para as pessoas do bem. Seremos arrebatados. Dê ouvido aos apóstolos, dê ouvido ao que está escrito. Procure o Senhor enquanto é possível achá-lo. No tempo de Noé foi muito pior". E continuou: "Porque no arrebatamento o Espírito Santo sairá da terra junto com todos os arrebatados! A tribulação que vai ficar aqui, está escrito, que nunca houve outra igual. Se por ventura isso acontecer nessa geração, enquanto estivermos vivos, precisamos ser arrebatados, pois somos do bem, somos de Deus e é só declarar Jesus Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador e reconhecer que ele é o Filho de Deus!"

Arrebatamento
Não é nenhum segredo que multidões de professores de profecia da atualidade acreditam firmemente que antes da “grande tribulação” (Apocalipse 7:14), os verdadeiros crentes serão repentinamente levados da terra ao céu em um misterioso evento chamado “arrebatamento”.

A doutrina consiste na ideia de que a segunda vinda de Jesus terá duas fases. A primeira, em que ocorreria um suposto arrebatamento secreto em que muitas pessoas (salvas) desapareceriam subitamente. E, ainda de acordo com essa ideia de origem dispensacionalista (leia mais aqui e aqui sobre dispensacionalismo e suas implicações), depois disso Jesus voltaria com os arrebatados para reinar sobre a Terra durante mil anos.

Teólogos adventistas são unânimes em explicar que, apesar de popular, a crença no arrebatamento não possui base bíblica. O teólogo e arqueólogo Rodrigo Silva, apresentador do programa Evidências, da TV Novo Tempo, e colunista do Portal Adventista, fala do assunto: “Essa não é uma doutrina claramente encontrada na Bíblia. Desde que o apóstolo João escreveu o Apocalipse, até o ano de 1830, ninguém jamais falou dela. Tivemos 1.800 anos de cristianismo sem ninguém sequer ouvisse falar do tal arrebatamento secreto”, afirma Silva.

Outro teólogo, Samuel Bachiochi, em artigo intitulado Arrebatamento secreto: fato ou ficção?, comenta que “a crença de que a Igreja será arrebatada súbita e secretamente antes da grande e final tribulação é conhecida como pré-tribulacionismo. Sua origem é em geral identificada por volta dos anos da década iniciada em 1830 por John N. Darby, pregador anglicano que se tornou fundador dos Irmãos de Plymouth”.

O teólogo e professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo, Vanderlei Dorneles esclarece que, em Apocalipse 1:7, é dito que, quando Jesus se manifestar em Sua segunda vinda, “todo olho o verá”. Ele argumenta que não haverá qualquer separação entre as pessoas antes da vinda de Cristo. “Apocalipse 6:16 diz que, no momento de sua manifestação em glória, os ímpios todos vão sucumbir, ficarão tão aterrorizados que desejarão eles mesmos a morte. Mas há uma pergunta que se levanta: No “dia da ira” de Deus, “quem poderá subsistir?” (Apocalipse 6:17). Então a resposta vem no capítulo 7 e versículo 14: O grupo dos salvos vivos por ocasião da volta de Cristo são apresentados como aqueles que “vieram da grande tribulação”. Ou seja, os salvos são arrebatados ao Céu ao final da grande tribulação e não antes dela”, explica.

Dorneles explica, ainda, que o próprio Jesus dá suficiente informação a respeito do arrebatamento. Citando o texto dos evangelhos, como Mateus 24:29-31 e 25:31-33, o teólogo afirma que “a separação entre os bons e os maus ocorrerá só no momento da Sua vinda, não havendo qualquer margem para um grupo arrebatado antes do outro.”

Buscai o Senhor
A declaração “buscai ao Senhor enquanto se pode achar” significa que o tempo da salvação é hoje. A graça de Deus está disponível e o chamado do Evangelho se estende a todos, mas isso não será sempre assim. Daí vem o convite: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55:6).

Esse convite faz parte de uma seção do livro de Isaías que fala do plano de Deus para restauração e salvação do seu povo. Além disso, é nessa seção que está registrada a referência mais clara do livro ao ministério do Messias. O capítulo 53, por exemplo, traz uma exposição profunda acerca da obra de Cristo como o Servo sofredor.

Por causa da misericórdia e graça de Deus, através da obra redentora do Messias, todos são convidados a vir buscar a Deus. Esse convite é feito a todos que tem sede e fome das coisas espirituais (cf. Isaías 55:1).

Todas essas pessoas são convidadas a virem às águas e a comprarem alimento sem dinheiro. A frase “vinde e comprai sem dinheiro” é um paradoxo claro (Isaías 55:1). Isso significa que a possibilidade dessa busca não está na capacidade humana em buscar e encontrar a Deus, mas na graça divina onde Deus se permite ser encontrado por aqueles que o buscam. A salvação é um dom gratuito que não se fundamenta nos méritos humanos (Mateus 11:28; Romanos 10:13; Tito 3:5). 

O convite “buscai ao Senhor” está aberto, mas definitivamente demorar a buscá-lo não é uma opção prudente. Por isso há o consequente alerta: “enquanto se pode achar”. Isso significa que estamos diante de uma verdade que é ao mesmo tempo reconfortante, “buscai ao Senhor”, e também aterrorizante, “enquanto se pode achar”.

Sim, chegará o momento em que esse convite será retirado; que a porta será fechada; que o Senhor não mais poderá ser encontrado. Durante seu ministério Jesus falou claramente sobre isso. Na parábola das dez virgens, a porta foi fechada para as virgens que não estavam prontas para a chegada do noivo (Mateus 25:1-13). Na parábola das bodas o rei destruiu aqueles que rejeitaram o convite para sua festa (Mateus 22:1-14).

Realmente não haverá uma segunda chance quando terminar o tempo do convite “buscai ao Senhor enquanto se pode achar”. Daí o conselho do apóstolo Paulo é tão apropriado: “Eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2 Coríntios 6:2).

Uma das maiores tragédias da natureza humana, é que todos nós nos sentimos propensos a adiar o tempo para a tomada de decisões. A criança diz: “Quando eu crescer...” O rapazinho diz: “Quando eu casar...” Depois a frase muda: “Quando eu me aposentar...” E, assim, não decide nunca. Mas quando chega a aposentadoria, o indivíduo olha para trás, para o caminho percorrido, e sente um vento gelado na alma. Depois de passar a vida inteira preocupado com o futuro, ele agora pensa no passado. E só então descobre que desperdiçou a vida. Porque vida real é aquela vivida no presente – cada momento, cada hora, cada dia.

O mesmo se dá com a vida espiritual. Deixar para amanhã o preparo espiritual é arriscado, porque ninguém sabe se estará vivo amanhã. O dia da salvação é hoje. Ellen G. White diz: “Cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. Cada hora alguns passam para além do alcance da misericórdia” (Patriarcas e Profetas, p. 140). "Cuidado com os adiamentos! Não deixe para depois a decisão de abandonar seus pecados e buscar a pureza de coração por intermédio de Jesus. É nesse ponto que milhares têm errado e se perderão para sempre" (A Caminho do Lar, p. 101). O primeiro passo para vencer a procrastinação é eliminar todos os motivos e desculpas para não agir imediatamente.

Notem o tom de urgência do apóstolo Paulo: “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb 3:7, 8). E dentro do dia de hoje, há um momento ainda mais específico: “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2Co 6:2). A salvação e a vida eterna começam, portanto, aqui, agora, e não depois, em outro tempo ou lugar. Ellen White diz: "Há um perigo terrível — e não suficientemente compreendido — em adiar o atender ao chamado do Espírito Santo, preferindo permanecer no pecado, pois é isso que acontece quando esse adiamento ocorre. O pecado, por menor que possa parecer, implica risco de perda da vida eterna. Aquilo que não vencermos acabará por nos vencer, e causará a nossa destruição" (Caminho à Cristo, p. 22).

E continua: “Devemos vigiar e trabalhar e orar como se este fosse o último dia que nos fosse concedido” (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 60). A cada manhã, diz ela, devemos consagrar nossa vida a Deus. “Não façais cálculos para meses ou anos; eles vos não pertencem. Um curto dia é o que vos é dado. Como se fosse esse vosso último dia na Terra, trabalhai para o Mestre durante as suas horas” (Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 93).

Conclusão
Quero desafiá-lo a viver cada dia como se fosse o último, estando sempre preparado para o descanso ou para o encontro com Jesus em sua vinda. Meu desafio não é apenas para que você ponha Deus em primeiro lugar, mas que O coloque no centro de sua vida. Ele deve influenciar cada detalhe de sua existência. Isso é viver cada dia na presença do Senhor. Assim, qualquer dia poder ser o último, pois você estará nas mãos daquele que é o dono do futuro.

Por outro lado, aproveite cada oportunidade para testemunhar de Jesus às pessoas com quem você tiver contato. Lembre-se disto: “Cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. Cada hora alguns passam para além do alcance da misericórdia. E onde estão as vozes de aviso e rogo, mandando o pecador fugir desta condenação terrível? Onde estão as mãos estendidas para o fazer retroceder do caminho da morte? Onde estão os que com humildade e fé perseverante intercedem junto a Deus por ele?” (Patriarcas e Profetas, p. 140).

Finalizo com este maravilhoso pensamento: "Tudo com que temos que nos haver, é este dia de hoje. Hoje devemos ser fiéis ao nosso legado. Hoje devemos amar a Deus de todo o coração, e ao nosso próximo como a nós mesmos. Hoje é que nos cumpre resistir às tentações do inimigo, e pela graça de Cristo alcançar a vitória. Isto é vigiar e aguardar a vinda de Cristo. Devemos viver cada dia como se soubéssemos ser ele nosso último dia na Terra. Se soubéssemos que Cristo viria amanhã, não haveríamos então de comprimir no dia de hoje todas as palavras bondosas, todos os atos desinteressados que nos fosse possível? Devemos ser pacientes e amáveis, e possuídos de fervor intenso, fazendo tudo que está em nosso poder para ganhar pessoas para Cristo" (Cuidado de Deus, pp. 368-369).

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

A BRISA SUAVE DO COMODISMO

"Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!" (Apocalipse 3:15).

"A mensagem à igreja de Laodicéia é uma impressionante acusação, e é aplicável ao povo de Deus no tempo presente" (Testemunhos Seletos 1, p. 327).

O vento de doutrina mais perigoso que sopra sobre a igreja é a brisa suave do comodismo. Ela embala calmamente, faz com que as pessoas se sintam confortáveis e as coloca para dormir.

"O Senhor convida Seu povo para despertar do sono. O fim de todas as coisas está às portas" (Testemunhos para a Igreja 9, p. 40).

Essa “suave brisa” aparece claramente na descrição de Laodiceia, a sétima igreja do Apocalipse. Essa igreja é descrita tentando se equilibrar entre o calor da Palavra e o frio do secularismo. Ela tenta harmonizar as orientações de Deus com os desejos do coração humano não regenerado. Sente-se rica e abastada, mas não consegue notar que essa riqueza aparente a coloca em uma triste condição.

"O povo de Deus é representado na mensagem aos laodiceanos como em uma posição de segurança carnal. Estão a gosto, acreditando-se em exaltada condição de realizações espirituais. 'Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu'. O povo continua a modorrar em seus pecados. Continuam a se dizer ricos, e que não necessitam de nada" (Testemunhos Seletos 1, p. 329).

A brisa suave do comodismo nos faz querer entrar na igreja para adorar sem ter o desejo de sair para salvar. Ela nos torna mais exigentes com a pregação, o louvor, a arquitetura do templo, o conforto dos bancos, a acústica do som, o estilo do pastor e a fama do cantor, mas nos deixa insensíveis às necessidades do pecador.

"Os que desprezam a advertência serão deixados na cegueira, para se iludirem a si mesmos. Mas os que lhe dão ouvidos, empenhando-se zelosamente na obra de afastar de si os seus pecados, a fim de terem as graças necessárias, abrirão a porta do coração para que o querido Salvador entre e com eles habite" (Testemunhos Seletos 1, p. 332).

Vemos o mundo ir de mal a pior, reconhecemos os sinais da segunda vinda de Jesus, cantamos de nossa esperança, ouvimos sobre o poder do Espírito Santo, choramos nos apelos, nos emocionamos com os batismos, mas continuamos com a velha vida.

"Vi que muitos se estão lisonjeando de ser bons cristãos, os quais não têm um raio de luz de Cristo. Não têm por si mesmos uma viva experiência na vida religiosa. Necessitam de profunda e completa obra de humilhação de si mesmos diante de Deus, antes de experimentarem sua verdadeira necessidade de diligente, perseverante esforço para obter as preciosas graças do Espírito. Deus guia Seu povo passo a passo avante. A vida cristã é uma contínua batalha, marcha contínua. Não há descanso dessa luta. É por meio de constante, incessante esforço, que mantemos a vitória sobre as tentações de Satanás" (Testemunhos Seletos 1, p. 328).

Somos capazes de dar boas ofertas, participar em projetos desafiadores, enviar missionários, plantar novas igrejas, distribuir milhões de livros, pregar no rádio, TV e internet, mas não permitimos que o Espírito Santo nos desperte e reavive. Nosso problema não está na visão, mas na reação. Não está no entusiasmo, mas na falta de poder. Não está no conhecimento, mas na ausência de transformação. Não está na falta de iniciativas, mas na ausência de entrega.

"Que maior ilusão pode sobrevir ao espírito humano que a confiança de se acharem justos, quando estão totalmente errados! A mensagem da Testemunha Verdadeira encontra o povo de Deus em triste engano, todavia sinceros em seu engano. Não sabem que sua condição é deplorável aos olhos de Deus" (Testemunhos Seletos 1, p. 327).

A descrição de Laodiceia parece pessimista, mas sua mensagem é encorajadora: “Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o Amém” (Ap 3:14). Podemos confiar que, apesar de nossas limitações, o Senhor não desiste de Seus filhos. Depois de Laodiceia, não haverá outra igreja, porque quando Deus diz amém, é amém. Não há um remanescente saindo do remanescente. Não há uma oitava, nona ou décima igreja.

Laodiceia está nas mãos da “testemunha fiel e verdadeira” (Ap 3:14), que é Jesus. Não se esqueça de que Ele tem poder de espantar a brisa suave do comodismo com o fogo transformador do Espírito Santo. Permita que o Senhor faça essa obra em sua vida hoje.

"Vivemos num importante, soleníssimo tempo da história terrestre. Achamo-nos entre os perigos dos últimos dias. Importantes e tremendos acontecimentos se acham diante de nós. Quão necessário é que todos os que temem a Deus e amam Sua lei, se humilhem diante dEle, e se aflijam e pranteiem, e confessem os pecados que têm separado Deus de Seu povo! O que deve suscitar o maior alarme, é que não sentimos nem compreendemos nossa condição, nosso baixo estado, e satisfazemo-nos de permanecer como estamos. Devemos refugiar-nos na Palavra de Deus e na oração, buscando individual e fervorosamente ao Senhor, para que O possamos achar. Cumpre-nos fazer disto nossa primeira ocupação" (Testemunhos Seletos 1, p. 333).

* Os textos em negrito são de autoria de Ellen G. White.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

O VENTO GELADO DO FORMALISMO

O formalismo religioso é um dos ventos de doutrina que têm soprado com força sobre a igreja. Seus efeitos diminuem a vitalidade, a alegria e a espontaneidade cristã. Essa corrente fria de ar espiritual chega para congelar nossa essência e valorizar apenas a aparência.

Trata-se de um pecado sutil e perigosíssimo, pois entra na congregação de Deus com a aparência de espiritualidade e devoção. O formalismo é perigoso porque não se opõe aos ritos da religião; ao contrário, até enfatiza os cultos e as cerimônias. Tem cara de legalidade, mas é uma religiosidade vazia. É a troca da religião prática (Tg 1:27; Ez 16:49; Mt 25:34-46) pelas práticas da religião (Lc 18:10-12).

Portanto, o formalismo não é um inimigo visível, externo, que age de fora para dentro na comunidade. Seu perigo está na aparência de normalidade. É o autoengano (falsa avaliação de si mesmo) que leva à autoindulgência (tolerar as próprias faltas) e à lenta morte espiritual. Em outras palavras, é a apostasia travestida de religiosidade. Em seu sermão profético, Jesus disse que essa foi a condição dos antediluvianos e será a condição de milhares de pessoas, inclusive entre o professo povo do advento (Mt 24:37-39).

"Quando Jesus olha para o estado de seus professos seguidores hoje, vê ingratidão, formalismo oco, hipocrisia, orgulho farisaico e apostasia" (Jesus, Meu Modelo, p. 190).

Temos que dizer não ao “vento gelado do formalismo”. Ele tem fechado a porta da frente e aberto a porta dos fundos da igreja. Seu efeito empobrece a missão e aumenta a frustração. Tudo se torna muito frio e formal, sem vida, sem sentimentos, carinho, perdão, amor e aceitação. Nessa corrente, os ­rituais assumem o protagonismo, enquanto as pessoas ficam em segundo plano.

"Muitos se acham aborrecidos com o árido formalismo existente no mundo cristão. Muitos se estão tornando descrentes porque vêem a falta de genuína piedade nos que professam o cristianismo" (Evangelismo, p. 514).

Igrejas paralisadas pelo vento gelado do formalismo perdem a sensibilidade espiritual. As pessoas mantêm sua religião por uma questão de família, tradição, hábito ou comodidade. Não surgem novos sonhos, planos e projetos. Não há ousadia, inovação nem paixão pela missão. Igrejas assim sobrevivem, mas deixam de crescer. Como disse o apóstolo Paulo, têm aparência de piedade, mas negam o seu poder (ver 2Tm 3:5).

"Há demasiada formalidade em nossos serviços religiosos. O Senhor quer que Seus ministros, que Lhe pregam a palavra, sejam possuídos da energia de Seu Santo Espírito; e o povo que ouve não ficará sentado em sonolenta indiferença, ou olhando vagamente de um lado para outro, sem corresponder ao que é dito. A impressão assim causada nos incrédulos é tudo, menos favorável à religião de Cristo" (Testemunhos Seletos 2, p. 111).

Igrejas congeladas pelo formalismo creem que, se alterarem suas rotinas, elas se afastarão dos antigos caminhos. Apegam-se aos costumes e deixam de lado os princípios. Estão mais preocupadas em não mudar o que os pioneiros fizeram do que em encontrar alternativas bíblicas para se comunicar e influenciar a geração do século 21. É óbvio que não podemos sacrificar nosso estilo de vida nem deixarmos de ser bíblicos. Porém, precisamos encontrar caminhos eficazes para representar melhor o caráter de Cristo e comunicar o evangelho às pessoas. Jesus não veio ao mundo para preservar rituais, mas para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19:10).

"Nosso Salvador pede fiéis testemunhas nestes dias de formalismo religioso; mas quão poucos mesmo entre os professos embaixadores de Cristo, se acham prontos a dar um fiel testemunho pessoal em favor de seu Mestre!" (Obreiros Evangélicos, p. 273).

Quando nos entregamos a Jesus, o formalismo perde seu lugar. Nossas cerimônias se tornam vivas, nossos relacionamentos passam a ser autênticos, e nossa mensagem ganha força e profundidade. Ao mesmo tempo, o Senhor destrói a frieza que, muitas vezes, leva à falta de aceitação, crítica, intolerância, divisão e fanatismo.

"Que os servos de Deus em todos os lugares estudem Sua Palavra, olhando constantemente a Jesus para serem transformados à Sua imagem. A plenitude inexaurível e a total suficiência de Cristo estão à nossa disposição se andarmos diante de Deus em humildade e contrição" (Manuscrito 140, 1902).

Em igrejas submissas à Palavra de Deus, as coisas são diferentes. “O vento gelado do formalismo” para de soprar, o Espírito Santo está ativo e a transformação acontece. As pessoas são fiéis e demonstram isso vivendo em amor e engajadas na pregação do evangelho. Fuja da frieza do formalismo e mantenha sempre o equilíbrio entre a profundidade na Palavra e a intensidade no amor.

"A prevalecente monotonia da rotina religiosa em nossas igrejas precisa ser modificada. A influência da atividade necessita ser introduzido, para que os membros da igreja possam trabalhar em novos ramos e planejar novos métodos. O poder do Espírito Santo moverá corações à medida que for quebrada essa monotonia morta, sem vida, e muitos que nunca antes haviam pensado em ser além de espectadores ociosos começarão a trabalhar com vigor. […] Devem ser feitos esforços para fazer algo enquanto é dia, e a graça de Deus se manifestará, a fim de que pessoas possam ser alcançadas para Cristo" (Testemunhos para Ministros, p. 204).

* Os textos em negrito são de autoria de Ellen G. White.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

SATANÁS: PASSADO, PRESENTE E FUTURO

PASSADO
Deus criou Lúcifer, um anjo perfeito. Lúcifer, em latim, quer dizer “portador de luz”. Essa expressão vem de Isaías 14:12. Lúcifer era um “luzeiro”, ou “estrela do dia”. “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado...” (Ezequiel 28:15). Lúcifer era um “querubim cobridor”. Em ambos os lados do trono de Deus se encontram dois importantes anjos (Salmo 99:1). Lúcifer era um desses anjos de proeminente autoridade. Sua beleza era sem defeito e assombrosa. Sua sabedoria era perfeita. Seu brilho era admirável e inspirador.

Ellen G. White descreve Lúcifer assim: "Lúcifer fora o mais elevado de todos os seres criados, e o primeiro em revelar ao Universo os desígnios divinos. Deus o fez bom e formoso, tão semelhante quanto possível a Si próprio. Deus o havia feito nobre, havendo-lhe outorgado ricos dotes. Concedeu-lhe elevada posição de responsabilidade. Lúcifer era o querubim cobridor, o mais exaltado dentre os seres criados. Sua posição era a mais próxima do trono de Deus, e ele se achava intimamente vinculado e identificado com a administração do governo de Deus, havendo sido ricamente dotado com a glória de Sua majestade e poder. Nada lhe pediu que não fosse razoável. Deveria ele administrar o cargo que Deus lhe atribuíra, num espírito de mansidão e devoção, buscando promover a exaltação de Deus, o qual lhe dera glória, beleza e encanto. Foi outrora um honrado anjo no Céu, o primeiro depois de Cristo. Seu semblante, como o dos outros anjos, era suave e exprimia felicidade. Sua testa era alta e larga, demonstrando grande inteligência. Sua forma era perfeita, seu porte nobre e majestoso. Houve um tempo em que era a alegria dele executar as ordens divinas. Seu coração estava cheio de amor e regozijo por poder servir ao Criador" (A Verdade sobre os Anjos, pp. 23-28).

Mas Lúcifer se transformou em Satanás (o "adversário", significado da palavra em hebraico), porque abrigou iniquidade (Ezequiel 28:15). Aquele ser de extraordinária beleza e glória perverteu o seu livre arbítrio. Ao abrigar egoísmo, inveja e cobiça, Lúcifer transformou irreversivelmente sua natureza perfeita no temível Satanás.

PRESENTE
Desde os dias de Adão até os nossos tempos, nosso grande inimigo tem estado a exercer seu poder de oprimir e destruir. Está hoje preparando-se para sua última campanha contra a igreja. Todos os que procuram seguir a Jesus terão de batalhar contra este implacável adversário. Satanás está continuamente procurando vencer o povo de Deus, derrubando as barreiras que os separam do mundo. O antigo Israel foi enredado no pecado quando se aventurou a associação proibida com os gentios. De modo semelhante se transvia o Israel moderno. "O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2 Coríntios 4:4).

Vejamos este impressionante relato de Ellen G. White descrevendo Satanás como se encontra agora: "Foi-me então mostrado Satanás como havia sido: um anjo feliz e elevado. Em seguida ele foi-me mostrado como se acha agora. Ainda tem formas régias. Suas feições ainda são nobres, pois é um anjo, ainda que decaído. Mas a expressão de seu rosto está cheia de ansiedade, cuidados, infelicidade, maldade, ódio, nocividade, engano e todo mal. Aquele semblante que fora tão nobre, notei-o particularmente. Sua fronte, logo acima dos olhos, começava a recuar. Vi que ele se havia degradado durante tanto tempo que toda boa qualidade se rebaixara, e todo mau traço se desenvolvera. Seu olhar era astuto e dissimulado, e mostrava grande penetração. Sua constituição era ampla; mas a carne lhe pendia frouxamente nas mãos e no rosto. Quando o vi, apoiava o queixo sobre a mão esquerda. Parecia estar em profundos pensamentos. Tinha um sorriso no rosto, o qual me fez tremer, tão cheio de maldade e dissimulação satânica era ele. Este sorriso é o que ele tem precisamente antes de segurar sua vítima; e, ao fixá-la em sua cilada, tal sorriso se torna horrível" (Primeiros Escritos, pp. 152, 153).

FUTURO
Ellen G. White também descreve o que Satanás anda planejando: "Satanás não está morto ou paralisado, e ele prepara as mentes pouco a pouco para se tornarem imbuídas de seu espírito. No futuro, as últimas façanhas de Satanás serão efetuadas com mais poder do que nunca dantes. Ele aprendeu muito, e está cheio de maquinações para tornar sem efeito a obra que se encontra sob a supervisão dAquele que foi à ilha de Patmos para educar a João e dar-lhe instruções a serem transmitidas às igrejas. Será usado todo projeto ardiloso, aproveitar-se-á todo método possível para levar os homens a viverem a mentira, a fim de que a verdade não esteja onde Deus tencionava que estivesse para, mediante a santificação do Espírito Santo, preparar um povo que permaneça firme aos princípios como a rocha."

Mas por ocasião da volta de Cristo, Satanás será preso e acorrentado por um período de mil anos nos quais não poderá enganar mais ninguém. Ellen G. White relata assim: "Restrito à Terra, não terá acesso a outros mundos para tentar e molestar os que jamais caíram. É nesse sentido que ele está amarrado: não restou ninguém sobre quem ele possa exercer seu poder. Durante mil anos, Satanás vagueará de um lugar para outro na Terra desolada, para contemplar os resultados de sua rebelião contra a lei de Deus. Durante esse tempo, seus sofrimentos serão intensos. Desde sua queda, a vida de incessante atividade baniu a reflexão. Agora, porém, ele está despojado de seu poder e entregue a si mesmo não apenas para contemplar a parte que desempenhou desde que se rebelou contra o governo do Céu, mas para aguardar, com temor e tremor, o futuro terrível" (O Grande Conflito, p. 660).

O início e o fim do milênio são marcados por duas ressurreições. A primeira, dos justos e a segunda, dos ímpios. Ao mesmo tempo em que os ímpios ressuscitam, Satanás é solto novamente “por pouco tempo”. E agora veja o que ele faz com os ímpios que ressuscitaram. João diz o seguinte: “Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da prisão, e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da Terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como areia do mar” (Apocalipse 20:7 e 8).

Feche os olhos e imagine a cena: Jesus e Seus remidos, depois dos mil anos, descem novamente à Terra, onde será o Lar Eterno. João diz: “Vi também a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, que descia do Céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para seu esposo” (Apocalipse 21:2).

Nesse momento, o diabo e todo o seu exército de ímpios ressuscitados tentam tomar posse da Cidade. “Marcharam, então, pela superfície da Terra” – narra o Apocalipse – “e sitiaram o acampamento dos santos e a Cidade querida; desceu, porém fogo do céu e os consumiu. O diabo o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 20:9 e 10).

E este será o triste fim da história do pecado. Satanás e seus seguidores, finalmente, serão destruídos e, segundo o profeta, “não se levantará duas vezes a angústia”. Por isso é que usando uma linguagem simbólica, João diz que Satanás e seus seguidores “serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos.”

Só existe um modo de ser vitorioso: viver uma vida de comunhão permanente com Jesus. Devemos colocar tudo nas mãos de Deus e pedir que Ele expulse o inimigo de nossa vida. Não precisamos ter medo de nada. O inimigo já está vencido, seus dias estão contados, e então não terá mais o direito de atormentar nossa vida! Aleluia! Deus seja louvado pelos séculos sem fim da eternidade, porque nos amou e derramou seu sangue para o perdão dos nossos pecados. Essa é a grande oferta gratuita do evangelho. Aceite-a e seja feliz para sempre!