quarta-feira, 27 de agosto de 2025

SE ALGUÉM BATER EM SEU ROSTO...

"
Se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado" (Mateus 5:39).

A ordem é incomum, radicalmente diferente daquilo que esperamos. Vai contra a natureza daquilo que consideramos ser valioso e não aprovado pela sabedoria popular. Estamos sempre preocupados com vantagens pessoais e a aplicação de uma retribuição legalmente adequada. Aqui Jesus nos surpreende com o inesperado, o antinatural. Analisemos a passagem em seu contexto cultural.

Na versão de A Mensagem lemos assim: "Este é outro ditado antigo que merece nossa atenção: ‘Olho por olho, dente por dente! Pergunto se isso nos leva a algum lugar. Aqui está o que proponho: não revide, de jeito nenhum. Se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado. Se alguém o levar ao tribunal e exigir sua camisa, embrulhe para presente seu melhor casaco e entregue-o a ele. Se alguém se aproveitar de você para levar vantagem injustamente, aproveite a ocasião para praticar a vida de servo. Nada de pagar na mesma moeda. Viva generosamente" (Mateus 5:38-42).

Essa passagem faz parte de um longo discurso que aborda o comportamento esperado por parte dos que pertencem ao reino de Deus (Mateus 5:1-7 e 29). Essa peça literária, singular, começa com uma antítese: “Olho por olho, dente por dente! Pergunto se isso nos leva a algum lugar. Aqui está o que proponho: não revide, de jeito nenhum. Se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado.” (Mateus 5:38-39). Jesus está Se referindo à lei de retaliação no Antigo Testamento (Êxodo 21:24; Levítico 24:20; Deuteronômio 19:21). A intenção dessa lei era impor limites ao desejo humano de revanche, introduzindo o princípio de equivalência; o castigo deveria ser proporcional ao crime. Não era permitido a ninguém matar uma família inteira pelo fato de que alguém da família matou um de seus membros.

Jesus elevou a lei a um nível mais alto, revelando seu propósito final, ou seja, eliminar a violência. A eliminação da violência na sociedade começa com os seguidores de Cristo. Ele radicalizou Sua oposição à violência, dizendo: “não revide, de jeito nenhum”. O verbo "revidar" ou “resistir” significa “colocar-se contra” ou “opor-se”, de modo confrontador. Quando cristãos se tornam o objeto de ação do mal, espera-se que não reajam de igual modo. Esse é um tipo de resistência passiva; resistir ao mal sem retaliação.

Jesus, então, passou a ilustrar o que estava querendo dizer. Ele deu quatro ilustrações. Atente para a primeira: “se alguém bater no seu rosto, ofereça-lhe o outro lado.” A referência do ato de afronta é a um murro de mão fechada, não apenas uma agressão física. Em alguns casos, oferecer a outra face pode ser um ato desafiador, provocador de mais violência. Nossa resposta natural ao insulto ou a um ataque é a retaliação. Jesus disse que deveríamos oferecer a outra face. Isso significa que os cristãos deveriam abandonar seu direito à retaliação, ou seja, a violência freada pela renúncia ao direito legal de “revidar”. A violência tem de acabar e temos um papel a desempenhar na realização desse objetivo. 

A segunda ilustração é: caso uma pessoa não consiga pagar um débito, é requerido que entregue sua "camisa" ou túnica. A lei permitia que tomasse a túnica como penhor pela dívida (Êxodo 22:26-27). Mas esse não parece ser o caso aqui. O indivíduo é objeto de abuso social – quais são as opções? Jesus diz: “Embrulhe para presente seu melhor casaco e entregue-o a ele.” A ideia é não haver retaliação sob nenhuma circunstância, mesmo que isso signifique profunda humilhação.

A terceira ilustração é extraída do serviço militar. Os soldados romanos forçavam ocasionalmente civis a executarem certas tarefas (Mateus 27:32). A reação natural do judeu seria resistir ao opressor, mas Jesus ordenou a Seus seguidores a fazer o inimaginável: Vá com ele não apenas a exigência de uma milha, mas duas milhas; para usar a situação como oportunidade de serviço, não de retaliação. "Se alguém se aproveitar de você para levar vantagem injustamente, aproveite a ocasião para praticar a vida de servo."

E a quarta ilustração é muito positiva, inferindo que devemos evitar nos tornar objetos de violência, agindo pacificamente. "Nada de pagar na mesma moeda. Viva generosamente." Devemos fazer tudo que pudermos para dar aos necessitados e emprestar aos que talvez não consigam pagar de volta. Essas são algumas das maneiras de vencer a violência na sociedade e na nossa vida. É assim que o amor age.

Ellen G. White diz: "Toda a vida terrestre de Jesus foi uma manifestação deste princípio. Foi para trazer o pão da vida a Seus inimigos, que nosso Salvador deixou Seu lar no Céu. Se bem que se amontoassem sobre Ele calúnias e perseguições desde o berço até à sepultura, estas não Lhe provocaram senão expressões de um amor que perdoa. Por intermédio do profeta Isaías, Ele diz: 'As Minhas costas dou aos que Me ferem, e as Minhas faces aos que me arrancam os cabelos: não escondo a Minha face dos que Me afrontam e me cospem.' 'Ele foi oprimido, mas não abriu a Sua boca' (Isaías 50:6; 53:7)" (O Maior Discurso de Cristo, p. 70). 

E completa: "Aquele que estiver impregnado do Espírito de Cristo, habita em Cristo. O golpe que lhe é dirigido cai sobre o Salvador, que o circunda com Sua presença. O que quer que lhe aconteça vem de Cristo. Não precisa resistir ao mal, porque Cristo é sua defesa. Nada lhe pode tocar a não ser pela permissão de nosso Senhor; e todas as coisas que são permitidas 'contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus' (Romanos 8:28)."

terça-feira, 26 de agosto de 2025

DISPOSITIVOS

Dispositivos. Há muito tempo sou fascinada por dispositivos tecnológicos. Se tiver um botão, me interesso. Lembro-me da primeira vez que usei meu dinheiro guardado para comprar um relógio com calculadora. Eu adorava aquele relógio e o usava na escola com orgulho, brincando com os botões enquanto sentava no ônibus escolar. Aquele relógio parece uma relíquia antiga agora, quando penso no relógio inteligente que uso hoje. Mas não são apenas os relógios que se tornaram inteligentes.

Em 2023, a Ray Ban, empresa famosa por seus óculos de grau e de sol, lançou óculos inteligentes chamados Ray Ban Metaglasses. Esses óculos, equipados com câmera, permitem que o usuário faça perguntas em voz alta e receba respostas na hora, tire fotos, obtenha tradução de fala em tempo real e, sim, também são compatíveis com lentes de grau. O advento da tecnologia de inteligência artificial (IA) varreu o nosso mundo com o que parece ser o poder transformador de um tsunami, e não há um fim previsível para essa onda à vista. Graças à IA, temos TVs inteligentes, geladeiras inteligentes, aspiradores de pó inteligentes, campainhas inteligentes, luzes inteligentes, carros inteligentes e até cidades inteligentes!

Mas será que isso é algo bom? Um coro crescente de vozes ao redor do mundo diz que não. Embora a IA esteja se desenvolvendo a um ritmo surpreendentemente rápido, que deverá transformar a educação e a saúde de muitas maneiras positivas, ela também representa uma ameaça muito real à segurança da humanidade — assim como a árvore do conhecimento do bem e do mal representou para nossos primeiros pais há muito tempo. Os países estão hoje envolvidos em uma nova corrida armamentista para serem os primeiros a produzir AGI, inteligência artificial geral, um tipo de IA que busca igualar ou superar a inteligência humana em todas as tarefas cognitivas. [1] E quando esse código for decifrado, haverá também o potencial para desbloquear o que está sendo chamado de ASI, ou superinteligência artificial. A ASI superaria a inteligência humana em todas as áreas. O imenso perigo que algo assim poderia representar para a humanidade é incompreensível.

Definindo Parâmetros
Geoffrey Hinton, um cientista da computação britânico-canadense aclamado como "o padrinho da IA", afirmou agora que há uma chance de 10 a 20% de que a IA leve à extinção da humanidade em três décadas. [2] É por isso que, em 2023, Elon Musk e um grupo de outros líderes de tecnologia do mundo todo assinaram uma carta aberta pedindo uma pausa de 6 meses no desenvolvimento da tecnologia de IA, pois não houve tempo para regulá-la ou discutir parâmetros éticos e morais para seu desenvolvimento e uso. Essa pausa desejada, no entanto, não aconteceu e parece cada vez menos provável que aconteça.

Curiosamente, no dia seguinte à fumaça branca que saiu da chaminé da Capela Sistina, o recém-eleito Papa Leão XIV disse em seu primeiro discurso ao colégio cardinalício: “Escolhi adotar o nome Leão XIV. Há diferentes razões para isso, mas principalmente porque o Papa Leão XIII, em sua histórica encíclica Rerum Novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial. Em nossos dias, a Igreja oferece a todos o tesouro de sua doutrina social em resposta a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos no campo da inteligência artificial que representam novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho.” [3]

Tudo isso me lembra de outra ocasião na Bíblia em que a humanidade tentou construir algo grandioso, mas o tiro saiu pela culatra. Gênesis 11:4 diz: "E disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue aos céus; e façamos um nome para nós, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra." Embora Deus já tivesse prometido que nunca mais haveria um dilúvio mundial (Gênesis 8:21), os habitantes do mundo em Gênesis 11 não depositaram fé no Deus do céu ou em Suas promessas. Em vez disso, em seu orgulho humano, eles determinaram se tornar grandes, e decidiram fazer isso independentemente de Deus.

Como mãe, toda vez que meu filho de 2 anos tenta algo sem a minha ajuda e contrário ao meu conselho, a situação está sempre fadada ao desastre. Foi exatamente isso que resultou da ambição egoísta desses construtores de muito tempo atrás. Gênesis 11:5-7 diz: “Mas o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens tinham construído. E disse o Senhor: 'O povo é um só, e todos têm uma só língua; eis o que começam a fazer; agora, nada do que pretendem fazer lhes será negado. Venham, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entendam um ao outro.'”

O fato de Deus descer em Gênesis 11 é um lembrete para todos nós de que Deus nos vê e vê tudo o que fazemos. Ele é o Deus onipotente, onisciente e onipresente que sabia o que teria acontecido na planície de Sinar se não tivesse intervindo para interromper a construção da Torre de Babel. Assim, “o monumento ao seu orgulho tornou-se o memorial da sua insensatez”. [4] Como disse o salmista: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam” (Sl 127:1).

Diante disso, Jesus hoje apela a todos nós para que construamos nossa fé nAquele que é a Rocha Eterna, garantindo que a Palavra de Deus seja o fundamento de nossas vidas. Conhecer o Mestre, e não as máquinas mais modernas, é a busca mais importante que podemos ter. A IA jamais poderá substituir o poder da oração e do estudo da Bíblia como agentes que nos preparam para uma eternidade com Jesus.

O Final Prometido
“Satanás sabe muito bem que todos aqueles a quem ele conseguir levar a negligenciar a oração e o exame das Escrituras serão vencidos por seus ataques. Por isso, ele inventa todos os artifícios possíveis para ocupar a mente.” [5] Os artifícios de Satanás seriam toda e qualquer distração que ele pudesse empregar para desviar nossa atenção da busca por conhecer a Deus e ter um relacionamento salvador com Ele. Tecnologia inteligente definitivamente não existia quando Ellen White escreveu estas palavras, mas não consigo deixar de pensar em quão apropriada esta formulação é para os dias de hoje.

Embora a IA possa ser usada como uma ferramenta para apoiar nosso crescimento espiritual, ela também corre o risco de se tornar uma distração digital que nos rouba um tempo precioso com Jesus. Se isso é algo que você reconhece como um desafio em sua vida, o Espírito Santo pode ajudá-lo a redefinir suas prioridades. Vivemos mais uma vez em uma época em que os habitantes do nosso mundo estão construindo uma torre, não de tijolos e argamassa, mas de dados e código; por meio da IA, parece quase como se a humanidade estivesse mais uma vez alcançando os céus sem qualquer consideração pelo Criador ou por Sua criação.

Independentemente de quando ou se a AGI e a IA se tornarem realidade, uma coisa podemos ter certeza: o mesmo Deus que interveio em Gênesis 11, descendo, está voltando. E Ele deve voltar em breve, porque nosso mundo não vai acabar em algum acidente ou atrocidade cataclísmica relacionada à IA nuclear. Robôs movidos a IA também não vão misteriosamente dominar nosso planeta e nos destruir a todos.

A Palavra de Deus deixa claro que o próprio Deus está vindo, e Ele pessoalmente "descerá do céu com um grito de guerra" (1Ts 4:16) para resgatar Seus filhos terrenos das planícies desta terra, e quando Ele fizer isso, todas as torres de nossa invenção e criação serão destruídas. Diariamente, podemos escolher começar o dia com Ele e Sua Palavra antes de pegarmos nossos dispositivos inteligentes pela manhã. Que Deus nos ajude a viver cada dia olhando com fé para Jesus, ancorando nossas vidas em Sua Palavra e orando com alegre expectativa por Seu breve e glorioso retorno.

Charissa Torossian (via Adventist Review)




[4] Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 123.

[5] Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 519.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

HOJE É O DIA DA SALVAÇÃO

"Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação" (2 Coríntios 6:2).

“Ligue já!” “Peça hoje mesmo o seu.” “Compre agora.” Através de anúncios com esse tom de urgência, somos instados a comprar, ver, viajar e desfrutar imediatamente os produtos ou serviços oferecidos. Os vendedores sabem que quando um comprador em potencial adia a sua decisão de adquirir algo, as possibilidades de fechar o negócio se reduzem drasticamente.

Em outros aspectos da vida verifica-se o mesmo fato: a pessoa que resolve abandonar um vício, mas não já, está condenando sua decisão ao fracasso. O pastor Siegfried J. Schwantes já dizia: “Quanto maior o intervalo entre a resolução e a sua execução, tanto menor a probabilidade de êxito” (Colunas do Caráter, p. 34). 

Uma das maiores tragédias da natureza humana, é que todos nós nos sentimos propensos a adiar o tempo para a tomada de decisões. A criança diz: “Quando eu crescer...” O rapazinho diz: “Quando eu casar...” Depois a frase muda: “Quando eu me aposentar...” E, assim, não decide nunca. Mas quando chega a aposentadoria, o indivíduo olha para trás, para o caminho percorrido, e sente um vento gelado na alma. Depois de passar a vida inteira preocupado com o futuro, ele agora pensa no passado. E só então descobre que desperdiçou a vida. Porque vida real é aquela vivida no presente – cada momento, cada hora, cada dia. 

O mesmo se dá com a vida espiritual. Deixar para amanhã o preparo espiritual é arriscado, porque ninguém sabe se estará vivo amanhã. O dia da salvação é hoje. Ellen White diz: “Cada dia o tempo de graça de alguém se encerra. Cada hora alguns passam para além do alcance da misericórdia” (Patriarcas e Profetas, p. 140). "Cuidado com os adiamentos! Não deixe para depois a decisão de abandonar seus pecados e buscar a pureza de coração por intermédio de Jesus. É nesse ponto que milhares têm errado e se perderão para sempre" (A Caminho do Lar, p. 101). O primeiro passo para vencer a procrastinação é eliminar todos os motivos e desculpas para não agir imediatamente.

Notem o tom de urgência do apóstolo Paulo: “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb 3:7, 8). A vida é incerta. Não sabemos o que nos reserva o amanhã. O diabo diz: “Amanhã!” De Sua parte Deus nos convida: “Hoje!” Não amanhã, mas hoje é nosso dia de decisão! E dentro do dia de hoje, há um momento ainda mais específico: “Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação.” A salvação e a vida eterna começam, portanto, aqui, agora, e não depois, em outro tempo ou lugar. Agora, exatamente agora, é nosso tempo de graça, quando nos devemos preparar para o Céu.

Ellen White diz: "Há um perigo terrível — e não suficientemente compreendido — em adiar o atender ao chamado do Espírito Santo, preferindo permanecer no pecado, pois é isso que acontece quando esse adiamento ocorre. O pecado, por menor que possa parecer, implica risco de perda da vida eterna. Aquilo que não vencermos acabará por nos vencer, e causará a nossa destruição" (Caminho à Cristo, p. 22).

Porém, alguém poderá dizer: “Mas eu já aceitei a salvação. Já sou batizado há 20 anos!” Acontece que a salvação não é assunto do passado. É do presente. É preciso converter-se diariamente.

O profeta Elias obteve uma estrondosa vitória em um dia – vitória sobre os adoradores de Baal, no Monte Carmelo – para, no dia seguinte, sofrer uma vergonhosa derrota, fugindo de uma mulher pagã. No dia anterior Elias havia confiado em Deus sem reservas. E Deus lhe deu a vitória. No dia seguinte, ele não fez o devido preparo espiritual e foi derrotado.

Finalizo com este pensamento de Ellen White: "Tudo com que temos que nos haver, é este dia de hoje. Hoje devemos ser fiéis ao nosso legado. Hoje devemos amar a Deus de todo o coração, e ao nosso próximo como a nós mesmos. Hoje é que nos cumpre resistir às tentações do inimigo, e pela graça de Cristo alcançar a vitória" (Cuidado de Deus, pp. 368-369).

Por isso, peça a graça de Deus para o dia de hoje. Converta-se hoje. Esteja salvo hoje.

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

JESUS HOJE

Fico pensando, numa situação apenas imaginária, como seria Sua passagem por nosso mundo, se Jesus Cristo viesse aqui, pela primeira vez, nos nossos dias. Nasceria numa favela, na periferia de uma grande cidade, debaixo de uma ponte como morador de rua? Morreria morte de cruz, ou seria decapitado, fuzilado, eletrocutado, queimado vivo? Como seria Seu visual, usaria túnicas e sandálias ou, dessa vez, vestiria calça jeans, camiseta e tênis? Terno e gravata? Será?

Seria afinado com petistas ou bolsonaristas? Democratas ou Republicanos? Blancos ou Colorados? Trabalhistas ou Conservadores? Comunistas ou Capitalistas? Seria de esquerda ou de direita? Islâmico ou judeu?

Será que Se envolveria com governantes e autoridades ou, mais uma vez, manteria distância deles e se concentraria em atender o indivíduo comum em suas necessidades básicas e carências espirituais? O “o meu reino não é deste mundo” e o “dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” continuariam fazendo parte do Seu discurso?

Escorraçaria os comerciantes da fé, da mesma forma como o fez com os vendilhões do templo? Diria a teólogos e doutores da lei o mesmo que disse a Nicodemos? Participaria de debates doutrinários acirrados e intermináveis ou Sua doutrina continuaria a ser baseada nos conceitos de relacionamento e vida eterna do Sermão do Monte? Desta vez frequentaria mega-templos das mais diversas instituições religiosas ou novamente faria nas ruas, praças e ao ar livre as Suas pregações? Usaria para isso a Internet? Seria mais inclusivo ou exclusivo?

É verdade que a complexidade da vida humana hoje não guarda qualquer similaridade com a da vida no tempo de Jesus. O mundo e sua população atual de mais de 8 bilhões de pessoas tornam qualquer comparação inútil e impossível. Por isso, não vou me estender em outras questões, não conseguiríamos respondê-las com precisão, mas, eu penso que há pelo menos três particularidades da vida de Jesus que estariam presentes como da vez primeira, e isso é que é o importante.

Seu contato e relacionamento com Deus, para seguir as estritas orientações do Seu Pai, seriam os mesmos. Seu amor incondicional, sem limites, restaurador e transformador seria o mesmo, que aceita o homem em qualquer condição, mas, não o deixa assim. E a condenação severa ao reino, às obras e aos representantes das trevas, onde quer que Ele os identificasse, também seria a mesma.

Felizmente, Jesus já veio, no tempo certo, determinado pelo Céu. E não apenas pagou a grande dívida do homem em função do pecado, mas, ato contínuo, nos estendeu os benefícios de Seu perdão e graça. Seus princípios de fidelidade, liberdade e amor sem limites, continuam os mesmos. Continuamos sendo salvos unicamente por Sua graça e não por qualquer coisa de bom que tenhamos, sejamos ou façamos. Amém por isso. Não fosse assim, não teríamos chance alguma.

"A necessidade do homem quanto a um mestre divino, era reconhecida no Céu. A piedade e terna compaixão de Deus foi despertada para com os seres humanos, caídos e presos ao carro de Satanás; e, ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus Seu Filho. Aquele que fora designado no conselho celeste veio à Terra como instrutor do homem. Pela grande generosidade de Deus foi Ele dado ao mundo; e, a fim de satisfazer às necessidades da natureza humana, tomou Ele sobre Si a humanidade. Para assombro dos seres celestes, veio o Verbo eterno a este mundo como impotente nenê. Plenamente preparado, deixou as cortes reais, aliando-Se misteriosamente com os caídos seres humanos. 'O Verbo Se fez carne e habitou entre nós' (Jo 1:14)" (Ellen G. White - Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 259).

terça-feira, 19 de agosto de 2025

ELLEN WHITE E OS DEZ MANDAMENTOS

O que é a "Lei de Deus"? É apenas um conjunto de regras arbitrárias feitas por Alguém que deseja nos controlar? Ou poderiam ser regras de vida destinadas a nos trazer alegria e felicidade?

A maioria das pessoas conhece a história de Moisés subindo o Monte Sinai, onde recebeu os Dez Mandamentos escritos pela própria mão de Deus em duas tábuas de pedra. Esses mandamentos eram tão importantes que, antes de escrevê-los, Deus os falou em voz alta a toda a nação de Israel, lembrando-os: "Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êxodo 20:2). E, no entanto, a Lei de Deus existia muito antes de ser escrita nas tábuas de pedra. Na verdade, a lei existe desde a eternidade e é uma transcrição do caráter de amor de Deus.

Ellen G. White escreve: "Não existe mistério na Lei de Deus. Todos podem compreender as grandes verdades que ela encerra. O intelecto mais débil pode apreender essas regras; o mais ignorante pode reger a vida, e formar o caráter, de acordo com a norma divina" (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 218).

Segue a explanação dos Dez Mandamentos feita por Ellen G. White conforme apresentados no livro Os Escolhidos, capítulo 27, A Lei no Monte Sinai:

"Os preceitos dos Dez Mandamentos são adaptados ao modo de vida das pessoas em todos os lugares e foram dados para instrução e governo de todos. São dez leis curtas, abrangentes e cheias de autoridade, que combinam o nosso dever para com Deus e para com o próximo, todos baseados no grande e fundamental princípio do amor: ‘“Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento ’e‘ ame o seu próximo como a si mesmo”’ (Lc 10:27). Nos Dez Mandamentos, esses princípios são aplicados à nossa vida.

(1) “Não terás outros deuses além de Mim” (Êx 20:3).

Qualquer coisa que acariciamos, que tenda a minimizar o nosso amor a Deus ou venha a interferir no culto que deve ser prestado somente a Ele, fazemos disso um deus.

(2) “Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no Céu, na Terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto” (Êx 20:4).

Muitas nações pagãs diziam que suas imagens eram apenas símbolos por meio dos quais adoravam a Divindade, mas Deus declarou que tal culto é pecado. A intenção de representar o Eterno por meio de objetos materiais rebaixa nossos conceitos de Deus. Nossa mente é atraída para a criatura e não para o Criador. Quando os conceitos a respeito de Deus são rebaixados, da mesma forma o homem também é degradado. “Eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso” (Êx 20:5). A íntima relação de Deus com Seu povo é representada pela relação que há no casamento. Sendo que a idolatria é o adultério espiritual, o desagrado de Deus contra ela é bem apropriadamente chamado de ciúme.

(3) Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o Seu nome em vão” (Êx 20:7). 

Esse mandamento nos proíbe de usar o nome de Deus de maneira descuidada. Ao mencionar Deus impensadamente na conversação comum e pela frequente repetição irrefletida de Seu nome, nós O desonramos. “Santo e temível é o Seu nome!” (Sl 111:9). Devemos pronunciá-lo com reverência e solenidade.

(4) “Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, o teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou” (Êx 20:8-11).

O sábado não é apresentado como uma nova instituição, mas como um tempo que foi estabelecido desde a criação. Ao apontar para Deus como Aquele que fez os céus e a Terra, distingue o verdadeiro Deus dos falsos deuses. Assim, o sábado é um sinal de nossa lealdade a Ele. O quarto mandamento é o único entre os dez que traz tanto o nome como o título do Legislador, o único que mostra por autoridade de quem a lei foi dada. Portanto, ele contém o selo de Deus. O Senhor nos deu seis dias para trabalhar, e Ele pede que façamos nosso trabalho nesses seis dias. Atos necessários e de misericórdia são permitidos no sábado. Os doentes e os que sofrem precisam receber os cuidados de que necessitam; mas todo trabalho desnecessário deve ser estritamente evitado. Para santificar o sábado, não devemos nem mesmo permitir que nossa mente se fixe nas coisas do mundo. O mandamento inclui todos aqueles que estão dentro das nossas “portas”. Os que fazem parte da família devem deixar de lado suas ocupações diárias durante as horas sagradas. Todos devem se unir para prestar a Ele um culto voluntário em Seu santo dia.

(5) Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá” (Êx 20:12). 

Os pais têm o direito a um grau de amor e respeito que a nenhuma outra pessoa devem ser dados. Rejeitar a legítima autoridade dos pais é rejeitar também a autoridade de Deus. O quinto mandamento requer que os filhos não somente respeitem, sejam submissos e obedeçam aos seus pais, mas que deem a eles amor e ternura, aliviem suas preocupações, tenham respeito pelo seu nome, cuidem deles e os confortem na velhice. Pede também que seja dado o devido respeito aos pastores e àqueles a quem Ele deu autoridade.

(6) “Não matarás” (Êx 20:13).

Todos os atos de injustiça que de alguma forma abreviam a vida; o espírito de ódio e vingança ou a condescendência com qualquer sentimento que leve à prática de atos ofensivos em relação aos outros (até mesmo desejar intimamente o mal de alguém, pois “qualquer que se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento” (Mt 5:22); negligenciar o cuidado de um necessitado, de maneira egoísta; condescendência própria ou excesso de trabalho que venha a prejudicar a saúde – todas essas coisas, em maior ou menor grau, são uma forma de transgressão do sexto mandamento.

(7) “Não adulterarás” (Êx 20:14).

A lei de Deus requer pureza não somente na vida exterior, mas também quanto às intenções e emoções secretas do coração. Cristo, que ensinou de maneira mais abrangente nossos deveres para com a lei de Deus, declarou que um mau pensamento ou um olhar é verdadeiramente tão pecado quanto o ato ilícito.

(8) “Não furtarás” (Êx 20:15).

Essa é uma proibição que condena o sequestro de pessoas e o tráfico de escravos, guerras de conquista, furto e roubo. Exige estrita integridade nos mínimos detalhes da vida. Proíbe negócios duvidosos e requer o pagamento justo de dívidas e salários. Toda tentativa de obter vantagem pela ignorância, fraqueza ou infelicidade de outros é registrada como fraude nos livros do Céu.

(9) “Não darás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20:16).

Toda intenção de enganar se constitui uma falsidade. Um olhar, um movimento da mão, uma expressão do rosto podem representar uma falsidade tão eficaz quanto o que se diz por palavras. É falsidade até mesmo a declaração de fatos feita de forma enganosa para induzir ao erro. Toda tentativa de prejudicar a reputação do nosso próximo, pela difamação, calúnia ou injúria, e até mesmo a ocultação intencional da verdade para prejudicar outros se constitui em transgressão do nono mandamento.

(10) “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença” (Êx 20:17).

O décimo mandamento atinge a própria raiz de todos os pecados; proíbe o desejo egoísta, do qual nasce o ato pecaminoso. A pessoa que se recusa a ceder até mesmo a um desejo pecaminoso com relação a alguma coisa que pertença a outro não será culpada de ter cometido um ato ilícito para com ninguém."

Conclusão
Nossa Crença Fundamental Adventista do Sétimo Dia nº 19 descreve "A Lei de Deus" assim:

“Os grandes princípios da lei de Deus estão incorporados nos Dez Mandamentos e foram exemplificados na vida de Cristo. Expressam o amor, a vontade e os desígnios de Deus quanto à conduta e às relações humanas, e são obrigatórios a todas as pessoas, em todas as partes. Estes preceitos constituem a base do concerto de Deus com Seu povo e a norma no julgamento divino. Por meio da atuação do Espírito Santo, eles apontam para o pecado e despertam o senso da necessidade de um Salvador. A salvação é inteiramente pela graça, e não pelas obras, mas seu fruto é a obediência aos Mandamentos. Esta obediência desenvolve o caráter cristão e resulta numa sensação de bem-estar. É uma evidência de nosso amor ao Senhor e de nossa solicitude por nossos semelhantes. A obediência por fé demonstra o poder de Cristo para transformar vidas, e fortalece, portanto, o testemunho cristão”.

Deus deu Sua lei para fornecer bênçãos abundantes às pessoas e levá-las a um relacionamento salvífico com Ele. Vamos agradecê-Lo pela incrível dádiva que Ele oferece por meio de Seu poder justificador e santificador, conforme revelado em Sua eterna lei de amor.

Ellen G. White finaliza: "No princípio Deus deu Sua lei à humanidade como um meio de alcançar a felicidade e vida eterna. Os Dez Mandamentos, Farás, e Não farás, são dez promessas a nós garantidas, se formos obedientes à lei que governa o Universo. 'Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos' (João 14:15). Aqui está a essência e a substância da lei de Deus. Os termos de salvação para todo filho e filha de Adão, aqui estão esboçados. A lei de dez preceitos do maior amor que pode ser apresentado ao homem é a voz do Deus do Céu falando à alma em promessa: 'Fazei isto, e não caireis sob domínio e controle de Satanás.' Não há negativa na lei, embora pareça haver. Ela é FAZEI e vivei" (A Maravilhosa Graça de Deus, p. 130).

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

OS DEZ MANDAMENTOS NO APOCALIPSE

Quais mandamentos são mencionados em Apocalipse 12:17 e 14:12?

A frase “os que guardam os mandamentos de Deus”, que aparece duas vezes em Apocalipse (12:17; 14:12), indica as características do povo de Deus no tempo do fim, chamado de remanescente em Apocalipse 12:17 (ou o restante dos descendentes da mulher) e de “santos” em Apocalipse 14:12. De fato, “guardar os mandamentos de Deus” parece uma caracterização genérica e necessita de esclarecimento. 

1. Opiniões diferentes. Quando examinamos os comentários sobre Apocalipse, encontramos opiniões diferentes. Alguns comentaristas nem sequer tomam tempo para analisar o significado, mas simplesmente citam o texto bíblico, passando logo a discutir outros aspectos, como se a referência aos mandamentos não fosse tão importante. Para outros, os mandamentos são a Torá, ou seja, todas as instruções e revelações de Deus encontradas no Antigo Testamento. Outros ainda argumentam que os mandamentos se referem à fé do Cordeiro de Deus, que foi fiel a Ele e a quem os cristãos são aconselhados a imitar. Mais comum é a opinião de que os “mandamentos de Deus” designam os componentes éticos do Decálogo, os últimos seis mandamentos. Mas, sem dúvida, a interpretação mais apropriada é determinada pelo contexto. 

2. Referência ao Decálogo. As duas passagens em que os mandamentos de Deus são mencionados pertencem à porção central do Apocalipse (12–15:5). Na introdução dessa seção, João viu o Lugar Santíssimo do santuário celestial, especificamente a arca da aliança. No caso do santuário terrestre, Moisés colocou dentro da arca as duas tábuas de pedra sobre as quais Deus tinha escrito os Dez Mandamentos. Portanto, esta perspectiva implica que o ministério de Cristo no Lugar Santíssimo do santuário celestial e os Dez Mandamentos desempenharão papéis importantes no que vem a seguir no livro. A referência implícita aos Dez Mandamentos torna-se explícita no fim da seção, quando João novamente viu o “tabernáculo do testemunho” no Céu (Ap 15:5). O substantivo “testemunho” foi usado no Antigo Testamento para designar os Dez Mandamentos colocados dentro da arca do concerto e que testifica da aliança de Deus com Israel (Êx 25:20, 21; 32:15, 16). Essa referência aos Dez Mandamentos deve ser a primeira informação a ser levada em conta na interpretação da expressão “os mandamentos de Deus”.

"O terceiro anjo encerra sua mensagem assim: 'Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus' (Apocalipse 14:12). Ao dizer ele estas palavras, aponta para o santuário celeste. A mente de todos os que abraçam esta mensagem, é dirigida ao lugar santíssimo, onde Jesus está em pé diante da arca, fazendo Sua intercessão final por todos aqueles por quem a misericórdia ainda espera, e pelos que ignorantemente têm violado a lei de Deus" (Ellen G. White - Primeiros Escritos, p. 254).

3. Mandamentos específicos do Decálogo. Talvez até mais importante seja o fato de que o contexto dessas duas passagens faz referência clara a alguns dos Dez Mandamentos. O mais explícito é encontrado na mensagem do primeiro anjo para que os seres humanos obedeçam ao primeiro mandamento e adorem o Deus “que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas” (Ap 14:7). A menção a Deus como Criador é extraída do quarto mandamento (Êx 20:8-11), indicando que o remanescente também guardará esse mandamento. Os seres humanos não devem adorar a imagem da besta, uma violação do segundo mandamento (Ap 14:9). A besta blasfema contra o nome de Deus, transgredindo o terceiro mandamento (Ap 13:6). Estes são os primeiros quatro mandamentos do Decálogo, mas outros mandamentos são mencionados no Apocalipse. Por exemplo, o capítulo 9:20 e 21 menciona assassinato, adultério (ou imoralidade sexual) e roubo (veja também Ap 13:10; 14:4), e a mentira é encontrada em Apocalipse 14:5. 

No contexto, a resposta adequada à pergunta inicial seria que o povo de Deus guardará os Dez Mandamentos como sinal de lealdade e gratidão ao Cordeiro.

Ángel Manuel Rodríguez (via Revista Adventista)

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

ESPINHO NA CARNE

“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios 12:7-10).

Para que servem os espinhos? Talvez você pense: “Ué, servem para machucar! Eles são consequência do pecado e provocam dor.” A resposta está certa, porém parcialmente. Os espinhos também têm um propósito “invertido”: servem de proteção. Quando olhamos as belas rosas, por exemplo, não paramos para pensar que existem predadores que podem feri-las. Talvez o maior predador seja o jovem apaixonado que arranca as flores sem piedade para fazer um buquê e, com ele, conquistar a sua “presa”! Os espinhos, portanto, defendem as flores contra os ataques externos.

No texto acima, o apóstolo Paulo apresentou a dramática experiência de ter um espinho na carne. Dificilmente encontraremos em seus escritos uma declaração tão carregada emocionalmente, no qual ele derrama o coração. Era uma dor secreta, alguma coisa da qual ele não falava aos demais. Ele mesmo desabafa depois: “Por causa da extravagância daquelas revelações e para que eu não me orgulhasse, recebi de presente uma debilidade para me manter em contato com minhas limitações. O anjo de Satanás fez o que pôde para me manter lá embaixo, mas o que ele fez de fato foi que eu caísse sobre meus joelhos” (Romanos 12:7, 8, A Mensagem).

Espinho - Do grego skolops, “uma peça de madeira indicada”, “um piquete”. Os papiros também utilizam a palavra para se referir ao estilhaço ou lasca deixada sob a pele e impossível de ser removido (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 6, p. 1017).

No texto não podemos descobrir qual foi o “espinho na carne” do qual Paulo falou. Assim, vamos pesquisar outras referências bíblicas que possam nos ajudar. A primeira delas é Gálatas 4:13-15: “E vós sabeis que vos preguei o evangelho a primeira vez por causa de uma enfermidade física. E, posto que a minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo nem desgosto; antes, me recebestes como anjo de Deus, como o próprio Cristo Jesus. Que é feito, pois, da vossa exultação? Pois vos dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar”.

Na carne - A enfermidade era física, não era mental nem espiritual. Era algo evidente, e lhe causava considerável constrangimento bem como desconforto e inconveniência" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

O verso de Gálatas 6:11 também é esclarecedor: “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho”. Nestes versos podemos ver que: 1) Como vimos, Paulo tinha uma enfermidade física; 2) Os Gálatas receberam tão bem o apóstolo a ponto de ele afirmar que, se possível, eles arrancariam os próprios olhos para lhe dar; 3) Paulo assinava suas cartas com letras grandes.

Com base nestas informações podemos ver que é muito grande a probabilidade de o “espinho na carne” de Paulo ser um problema de visão. Talvez esta deficiência tivesse surgido com a experiência que ele teve na estrada de Damasco (Atos 9:1-9 e 10-19). Devido à grande luz que veio sobre seus olhos, e, consequentemente, uma espécie de “escamas” (Atos 9:18), ficaram sequelas (mesmo tendo sua visão restabelecida). Ellen G. White nos diz: "Paulo devia levar sempre em seu corpo as marcas da glória de Cristo, em seus olhos, que tinham sido cegados pela luz celestial, e desejava também levar consigo constantemente a segurança da mantenedora graça de Cristo" (História da Redenção, p. 275).

Quatorze anos antes de escrever esse verso, Paulo havia tido uma visão extraordinária, na qual fora arrebatado até o terceiro céu, o lugar da morada de Deus. Para evitar que o apóstolo ficasse orgulhoso de sua notável experiência, o Senhor permitiu que esse “espinho” fosse infligido ao Seu servo a fim de equilibrar sua autoestima espiritual. A provação foi uma forma de proteção, e a dor veio como uma graça disfarçada.

Deus não é o causador das tragédias nem dos espinhos nas flores de nossa vida. Porém, Ele permite que o sofrimento bata à porta para nos ensinar quão mau é o pecado. Além disso, o Senhor usa “espinhos” para nos livrar das tentações. De fato, “há ocasiões em que o Criador nos disciplina a fim de prevenir um pecado futuro” (Warren W. Wiersbe, A Verdade de Cabeça Para Baixo, p. 10).

Mensageiro de Satanás - A aflição vinha de Satanás, com permissão de Deus. Do mesmo modo ocorreu com Jó. É da natureza e obra de Satanás infligir sofrimento físico e doença" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Esta experiência de Paulo nos ensina que apesar de Deus curar os Seus filhos, pode haver ocasiões em que Ele prefira não o fazer, aqui neste mundo. O ensino de que todas as doenças vêm diretamente do diabo não é bíblico, mas sim fruto do fanatismo de alguns religiosos. Há enfermidades que surgem por acidentes, falta de exercícios, maus hábitos alimentares, por exemplo. O fato de Deus não curar Paulo não indica que o apóstolo “tivesse pouca fé”.

Basta - O servo de Deus teve fé, a ponto de “orar três vezes” (2 Coríntios 12:8) pela cura. Ellen G. White afirma: "Quando Paulo orou para que fosse removido de sua carne o espinho, o Senhor atendeu a sua oração, não mediante o remover o espinho, mas dando-lhe graça para suportar a prova. 'A Minha graça te basta', disse Ele. Paulo alegrou-se com essa resposta à oração, dizendo: 'De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo' (2 Coríntios 12:9). Quando os doentes pedem a restauração da saúde, o Senhor nem sempre atende a sua oração exatamente do modo que desejam. Mas mesmo que não sejam imediatamente curados, Ele lhes dará aquilo que é de muito mais valor: graça para suportar sua doença" (Nos Lugares Celestiais, p. 81).

Mesmo que Deus não tenha respondido como Paulo esperava, assegurou-lhe que a Sua graça bastaria. "No grego, a palavra basta está na forma enfática. A prece não libertou o apóstolo da aflição, mas lhe proporcionou graça para suportá-la. Paulo apelou para a libertação da enfermidade, pois cria que ela era um obstáculo a seu ministério. Cristo mais que supriu sua necessidade com uma provisão abundante de graça. Deus nunca prometeu alterar as circunstâncias ou livrar as pessoas dos problemas. Para Ele, enfermidades físicas e circunstâncias desfavoráveis são questões de preocupação secundária. A força interior para suportar é, de longe, mais manifestação da graça divina do que dominar as dificuldades internas da vida. Externamente, uma pessoa pode estar despedaçada, exausta, esgotada e quase enfraquecida; no entanto, internamente, tem o privilégio de desfrutar perfeita paz, em Cristo" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Paulo, sabendo que Deus sempre quer o melhor e que o sofrimento pode ser um instrumento de Deus para o aperfeiçoamento do caráter (Deus não traz o sofrimento. Pode sim usá-lo), “de boa vontade” aceitou a decisão do Senhor. Isto só é possível pela fé.

Então, é que sou forte - O paradoxo cristão é que ocasiões de fraqueza podem ser transformadas em situações de força. A derrota sempre pode ser transformada em vitória. A verdadeira força de caráter surge da fraqueza, que, desconfiando do eu, é entregue à vontade de Deus" (CBASD, vol. 6, p. 1017).

Refletindo sobre esse texto, penso que meu espinho na carne me faz entender que sou extremamente dependente de Deus. Sem o seu amor e a sua misericórdia, não passo de alguém que não consegue sequer lutar contra sua natureza corrompida pelo pecado. O meu espinho na carne me faz desejar, cada dia mais, que nosso Salvador e Senhor, Jesus Cristo, volte o quanto antes, pois como disse Paulo, “considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Romanos 8:18, NVI).

Devemos ter a esperança de que quando Jesus voltar em glória (Mateus 24:30-31; Apocalipse 1:7) Deus terminará com toda a dor e sofrimento. E o contentamento de poder ser feliz por toda a eternidade fará com que os problemas que enfrentamos hoje pareçam minúsculos.

Oremos: “Senhor, dá-me a serenidade de aceitar as coisas que eu não posso mudar, coragem para mudar aquelas que eu posso mudar, e sabedoria para distinguir umas das outras. Por favor. Em nome de Jesus, amém!”

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A LUTA DA VIDA CONTRA A MORTE EM 7 ROUNDS

Atenção, senhoras e senhores! É chegado o momento da tão esperada luta! A luta dos séculos! De um lado, com Seu manto sem costura, diretamente da Eternidade, o Autor da Vida (Atos 3:15). Do outro lado, seu oponente, com sua aparência notadamente cruel, empunhando uma foice, diretamente do Inferno, a Morte (Romanos 5:12).

Começa o primeiro round! A morte se apressa a entrar no ringue usando o fácil acesso pelo corredor do pecado. O primeiro golpe é desferido pela morte. Ela parte com tudo, pronta a estabelecer sua supremacia no ringue do mundo. Depois de seis golpes consecutivos, finalmente a vida reage, driblando um golpe fatal:

“Andou Enoque com Deus; e já não era, porque Deus para si o tomou” (Gênesis 5:24).

Sob o protesto da Morte, Deus remove do mundo dos viventes o sétimo ser humano, sem que passe pela morte. O round estava perto de terminar. Ouve-se um clamor desde a Terra. Elias, o profeta do fogo, clama a Deus por um menino morto, e ele revive (1 Reis 17:22).

Pela primeira vez na História um morto volta à vida. A Morte parece ter baixado a guarda. E enquanto ela se questionava onde havia falhado, eis que mais uma vez ela é driblada. Mais um ser humano é tomado da Terra sem passar pela sepultura. Elias sobe ao céu num redemoinho (2 Reis 2:11).

Toca o gongo, e começa o segundo round. A morte já pensava em jogar a toalha, quando o homem que foi arrebatado ao céu, lança de seu veículo celestial um manto, que logo é apropriado por seu discípulo Eliseu.

Eliseu havia pedido a Elias que lhe fosse dado uma porção dobrada do seu espírito. Agora era esperar para conferir. Logo de cara, a Morte experimenta a sensação que os humanos apelidaram de Dejá Vu: atendendo ao apelo de uma mãe desesperada, Eliseu clama ao Senhor, que restitui a vida de seu filho morto (2 Reis 4:32-35). Mais uma ressurreição em plenas páginas do Antigo Testamento! Cada milagre operado por Eliseu era contabilizado pelo seu oponente, a Morte. Será que ele também driblaria a própria morte, e seria arrebatado ao céu como o seu mestre?

Morre Eliseu. A Morte celebra. O profeta morreu sem completar o número de milagres que confirmasse que seu pedido fora atendido. Com mais um milagre, Eliseu teria completado exatamente o dobro de milagres operados por Elias. Termina o segundo round. Ufa! Que alívio para a Morte. Finalmente as coisas parecem melhorar para o seu lado.

Começa o terceiro round. Quando a Morte celebrava, algo inusitado acontece: “Enquanto alguns enterravam um homem, de súbito viram um bando de invasores, e lançaram o homem na sepultura de Eliseu. Quando o cadáver tocou os ossos de Eliseu, o homem reviveu, e se levantou sobre os seus pés” (2 Reis 13:21). A Morte esbraveja: - Isso é golpe baixo! Mais um que ressuscita! Eu preferia que Eliseu tivesse sido arrebatado ao céu, como Elias, em vez de me dar mais este prejuízo!

Hora te retomar o fôlego. Depois de um prolongado tempo de recuperação, a luta recomeça.

No quarto round, eis que entra no ringue o próprio Autor da Vida. A Morte se enfurece, e se prepara pra levar uma surra.

Em seu primeiro encontro com a Morte, Jesus é convidado a visitar a filha de Jairo, um importante figurão do templo. Enquanto caminhava, é interrompido por uma mulher que sofria a doze anos de uma hemorragia crônica. Aquela mulher estava morrendo à prestação! Jesus a cura, depois de ser tocado por ela. E quando volta à sua caminhada rumo à casa de Jairo, recebe a notícia de que a menina havia morrido. Em vez de desistir de visitá-la, Jesus prossegue em sua jornada. Aquela menina tinha apenas doze anos, tempo de vida que correspondia ao tempo de sofrimento da mulher que acabara de ser curada. Enquanto a Morte tirava a vida daquela mulher hemorrágica à prestação, tirou a vida daquela menina com apenas uma tacada. “Ao entrar, lhes disse: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas dorme. Tomando-a pela mão, disse: Talita cumi, que quer dizer: Menina, eu te ordeno, levanta-te. Imediatamente a menina, que tinha doze anos, levantou-se e começou a andar” (Marcos 5:39, 41-42).

Pela primeira vez, alguém do sexo feminino ressuscitara. Para quebrar um tabu, valorizando a mulher, Jesus traz uma menina de volta à Vida. Não se contentando em ressuscitá-la, Jesus ainda despreza a Morte. Para Ele, a Morte não passa de um estado de sonolência. Ela não é o bicho-papão que os homens imaginam.

Começa o quinto round. Jesus Se depara com uma mãe desesperada, viúva, que perdera seu filho único que era seu arrimo e esperança. “Quando chegou perto da porta da cidade, levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva. E com ela ia uma grande multidão da cidade. Vendo-a, o Senhor sentiu grande compaixão por ela, e lhe disse: Não chores. Chegando-se, tocou o esquife e, parando os que o levavam, disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. O defunto assentou-se, e começou a falar, e Jesus o entregou à mãe dele” (Lucas 7:12-15).

Jesus e Sua mania de quebrar tabus e protocolos! Primeiro, Ele Se deixa tocar por uma mulher hemorrágica. Pela Lei, isso o tornava impuro. Agora Ele toca no esquife onde estava um cadáver, o que era considerado um grave erro, e O tornava ainda mais impuro. Não importa. O que importa é que mais um morto ressuscitara.

Começa o sexto round. No primeiro caso, Jesus ressuscita uma menina que acabara de morrer. No segundo caso, ele interrompe um cortejo fúnebre. Em ambos os casos, Ele lidara com pessoas com quem não tinha qualquer relacionamento. Mas agora, Ele enfrentaria a Morte mais de perto. Seu amigo Lázaro morrera. O mesmo Jesus que pediu à viúva que perdera seu filho para que não chorasse, agora chora diante do túmulo de um de Seus mais chegados amigos. Além disso, diferentemente dos outros dois casos, Lázaro já estava morto e enterrado há quatro dias. Uma coisa é ressuscitar alguém que acabou de morrer, ou alguém que está a caminho do cemitério, outra coisa é ressuscitar alguém que já está em estado avançado de decomposição. O grau de dificuldade só foi aumentando.

Com os olhos lacrimejando, Jesus Se coloca diante do túmulo de Lázaro e brada: “Lázaro, vem para fora!”. Surpreendentemente, o morto retorna à vida, e escapa das garras insaciáveis da Morte (João 11:43-44).

A luta parece estar chegando ao fim.

É chegado o sétimo e último round da luta entre o Autor da Vida e a Morte. Chegara a hora de Jesus encarar a Morte cara a cara. Para enfrentá-la em seu próprio terreno, Jesus, o Filho do Deus Vivo, teve que Se fazer homem, com todas as limitações inerentes à condição humana, exceto o pecado. O escritor sagrado diz que Ele participou da natureza humana, “para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse a todos os que , com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão” (Hebreus 2:14-15).

A Cruz foi momento crucial (será que cometi redundância?). Foi ali que se deu o embate final entre a Vida e a Morte. Assim como a vitória de um corredor de fórmula 1 se dá na pista e não no pódio, a vitória de Cristo se deu na Cruz e não na Ressurreição.

Enquanto alguns vêem na Cruz a derrota de Cristo, e na Ressurreição a Sua reabilitação, a Bíblia declara que na Cruz Ele despojou os principados e potestades, e toda a gangue do inferno, e os expôs publicamente ao desprezo. Na Cruz a Morte foi desmoralizada. A Ressurreição foi o momento em que o Juiz levanta os braços do pugilista vencedor e o declara campeão. Paulo, apóstolo, afirma que Jesus foi declarado Filho de Deus com poder, segundo o Espírito da santidade, pela ressurreição dos mortos” (Romanos 1:4).

Sua Ascensão/Entronização foi a premiação, o momento em que Jesus recebe o cinturão de Campeão dos Campeões.

Há algo que passa despercebido por muitos. Leia e surpreenda-se com o que diz Mateus 27:52-53: “Abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressurgiram. E, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos.”

Interessante o contraste entre Jesus e outro pugilista: Sansão. É dito que Sansão matou em sua morte maior número de inimigos do que durante sua vida inteira. Podemos dizer que Jesus ressuscitou em Sua ressurreição maior número de pessoas do que durante Seu ministério terreno.

Aquela ressurreição coletiva foi uma espécie de avant premier do que vai acontecer no último dia; uma amostra grátis da ressurreição geral. Jesus atesta sobre isso: “Não vos maravilheis disto, pois vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão: Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação” (João 5:28-29).

A vitória de Cristo sobre a Morte não foi por pontos. Foi por nocaute!

Ellen G. White declara: "Que manhã gloriosa não será a manhã da ressurreição! Que cena maravilhosa se abrirá quando Cristo vier, para Se fazer admirado em todos os que creem! Todos os que foram participantes da humilhação e sofrimentos de Cristo serão participantes de Sua glória. Pela ressurreição de Cristo, todo santo crente que adormece em Jesus, sairá, triunfante, de seu cárcere. Os santos ressurgidos proclamarão: 'Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?' (1 Coríntios 15:55). Jesus Cristo triunfou sobre a morte e rompeu os grilhões do túmulo, e todos os que no túmulo dormem participarão da vitória; sairão das sepulturas, como fez o Vencedor" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 271-272).

[Texto adaptado de Hermes C. Fernandes]

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O AMOR

"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor" (1Coríntios 13:13).

O que é realmente importante na vida? Qual o bem supremo? O que é essencial e merece absorver nossa lealdade e comprometimento? Pessoas de todas as épocas têm feito essas perguntas a si mesmas. Muitos têm considerado a fé como a grande virtude. Contudo, no texto acima, Paulo leva-nos à essência do cristianismo. Mencionando a fé, a esperança e o amor, ele conclui: “O maior destes é o amor.”

Em 1 Coríntios 13, encontramos a sublime anatomia do amor. O amor é comparado com uma lista dos dons altamente considerados nos dias do apóstolo, como falar em línguas, profetizar e exercer caridade. O amor é maior do que todos esses dons, porque o fim é maior que o meio. Deus é amor, e o propósito final do amor é tornar o homem mais semelhante a Deus.

Depois dessa constatação, o apóstolo analisa o amor. Aqui nos deparamos com seus ingredientes. Inicialmente, vemos o que ele é: paciente e benigno. Então, o que ele não é: invejoso, leviano, vaidoso, indecente, egoísta. Imagine viver com pessoas movidas por um amor como esse ou, melhor ainda, ser uma pessoa motivada por essa grande força! Imagine um lar, uma igreja e uma escola assim, em que a preocupação básica das pessoas é o bem dos outros! Ellen White afirma que "o que é mais necessário é amor pelas pessoas que perecem, o amor que vem em ricas torrentes do trono de Deus. O verdadeiro cristianismo difunde o amor por todo o ser (Exaltai-O, p. 147).

Paciência, bondade, generosidade, humildade, cortesia, altruísmo… O amor é um princípio que invade cada área da vida. O amor tem relação com aquilo que conhecemos. O teste real da religião não está no reino do desconhecido, mas dentro dos relacionamentos diários. Por isso, se não amamos aqueles que vemos, como amaremos a Deus, que não vemos? (ver 1Jo 4:20). Ellen White afirma que "é somente por meio de interesse altruísta por aqueles que estão em necessidade de auxílio que damos uma demonstração prática das verdades do evangelho" (E Recebereis Poder, p. 243).

O amor é o hálito de Deus que transforma as coisas ordinárias. O amor é bondoso, diz Paulo. Bondade é o amor em ação, a maneira como Cristo viveu. O amor não busca os interesses próprios. Segundo Jesus, a felicidade não é encontrada em “ganhar” e “acumular”, mas em ofertar e servir. Assim, podemos ver que dois terços da humanidade, ou mais, estão correndo na pista errada. Ellen White diz que "o amor é um princípio ativo; conserva continuamente diante de nós o bem dos outros, refreando-nos de praticar atos desatenciosos, a fim de não falharmos em nosso objetivo de ganhar almas para Cristo. O amor não levará os homens a ir após seu bem-estar e a satisfação do próprio eu. É o respeito que prestamos ao eu, que tantas vezes estorva o crescimento do amor" (Mente, Caráter e Personalidade 1, p. 240).

Finalmente, Paulo apresenta a defesa do amor. Por que ele é maior? Porque o amor permanecerá para sempre. Tudo mais é temporário e passageiro. Você pode pensar em algo que vai durar para sempre, exceto o amor? O amor está ligado com a vida e com próprio Deus. O amor é o teste da religião. 

Ellen White finaliza dizendo que o "supremo amor por Deus e desinteressado amor mútuo - eis o melhor dom que nosso Pai celestial pode conceder. Este amor não é um impulso, mas um princípio divino, um poder permanente. O coração não consagrado não o pode criar ou produzir. Ele somente é achado no coração em que Jesus reina. 'Nós O amamos a Ele porque Ele nos amou primeiro' (1Jo 4:19). No coração renovado pela graça divina, o amor é o princípio que regula a ação. Ele modifica o caráter, governa os impulsos, controla as paixões e enobrece as afeições. Este amor, acariciado na alma, ameniza a vida e derrama influência enobrecedora ao redor" (Ato dos Apóstolos, p. 286).

Amor não se inventa, não se diz, não se pede, não se compara, não se aprisiona. Amor é uma pessoa, uma ação, um tempo, um fim. Em uns, é uma palavra, em outros, a própria vida. E o melhor de tudo: amor é uma força que produz amor.

Na cena do juízo final, em Mateus 25, a pergunta será: “Você amou?”

Ouse amar.

terça-feira, 12 de agosto de 2025

MURMURAÇÃO

Murmurar significa sussurrar ou dizer algo em tom muito baixo, mas na maioria das vezes, a murmuração é vista de forma negativa na Bíblia. Nos textos bíblicos, o verbo “murmurar” traduz vários termos hebraicos e gregos que basicamente significam resmungar, sussurrar um discurso semi-articulado ou simplesmente dizer interiormente.

Mas por que murmurar é um comportamento frequentemente condenado na Bíblia? Isso acontece porque geralmente a murmuração está imbuída em descontentamento, insatisfação, queixa e lamentação. Comumente a murmuração expressa um sentimento de desacordo, de oposição, de ira e rebelião. Contudo, o problema da murmuração é ainda pior porque geralmente Deus é o alvo da murmuração.

Exemplos de murmuração na Bíblia
Na Bíblia há vários casos de murmuração. No Antigo Testamento, por exemplo, o povo de Israel frequentemente murmurava contra Deus. Esse comportamento dos israelitas demonstrava uma grande desconsideração pela provisão de Deus e até refletia uma falta de confiança nas promessas e no cuidado do Senhor.

Isso fica muito claro nos textos que registram o tempo de peregrinação de Israel pelo deserto. Mesmo após Deus ter tirado milagrosamente os israelitas do Egito e ter manifestado seu poder diante deles, ainda assim aquele povo murmurava contra Deus (cf. Êxodo 15-17).

Ellen White afirma: "Sempre haverá pessoas que murmurem, como fez o antigo Israel, e ponham a culpa das dificuldades em que se acham sobre os que Deus suscitou com o fim especial de promover o avançamento de Sua causa. Deixam de ver que Ele os está provando com o levá-los a situações criticas, das quais não há livramento possível senão pelo Seu braço" (Conselhos para a Igreja, p. 355).

Apesar de muitas vezes aparentemente o povo ter murmurado contra Moisés e Arão, na realidade eles estavam murmurando contra o próprio Deus. Em certa ocasião Moisés diz isso explicitamente: “As vossas murmurações não são contra nós, e sim contra o SENHOR” (Êxodo 16:8). A murmuração de Israel em Refidim foi tão grave que o texto bíblico identificou aquela atitude como algo que tentou a Deus (Êxodo 17:2-7).

Ellen White adverte: "Por quarenta anos a incredulidade, a murmuração e a rebelião excluíram o antigo Israel da terra de Canaã. Os mesmos pecados têm retardado a entrada do Israel moderna na Canaã celestial. Em nenhum dos casos houve falta da parte das promessas de Deus. É a incredulidade, a mundanidade, a falta de consagração e a contenda entre o professo povo de Deus que nos têm detido neste mundo de pecado e dor por tantos anos" (Eventos Finais, p. 38).

Infelizmente a murmuração foi um comportamento que caracterizou a incredulidade de Israel e sua desesperança na providência de Deus (cf. Números 14-17). Inclusive, esse exemplo negativo foi lembrado pelos escritores do Novo Testamento como advertência aos cristãos (cf. 1 Coríntios 10:5; Hebreus 3:12-4:13; etc.).

Ellen White continua seu alerta: "A incredulidade e a murmuração dos filhos de Israel ilustra o povo de Deus ora sobre a Terra. Muitos olham para o Israel do passado, e se maravilham de sua descrença e contínua murmuração, depois de o Senhor ter feito tanto por eles, dando-lhes repetidas evidências de Seu amor e cuidado. Acham que não se deviam ter mostrado ingratos. Mas alguns que assim pensam, murmuram e se queixam ante coisas de pequena consequência. Não se conhecem a si mesmos. Deus os experimenta com frequência, e prova sua fé com pequenas aflições; e eles não suportam a prova melhor do que fez o antigo Israel" (História da Redenção, p. 128).

O Novo Testamento também registra casos de murmuração. Os escribas e fariseus constantemente aparecem murmurando contra Jesus numa atitude de rejeição ao Evangelho. Ellen White conta-nos: "Os escribas e fariseus murmuravam e queixavam-se. Manifestavam incredulidade e azedume, e recusavam a salvação tão abundantemente a eles oferecida" (O Desejado de Todas as Nações, p. 280).

Inclusive, na parábola dos trabalhadores da tinha, vemos que a murmuração pode aparecer até mesmo diante da manifestação da graça de Deus (cf. Mateus 20:1-16). Logo no início da Igreja Primitiva houve uma murmuração significativa que ameaçava a unidade da Igreja do Senhor. Para resolver aquela perigosa murmuração, a liderança apostólica da Igreja designou os diáconos para servir à comunidade cristã (Atos 6:1-6).

O crente não deve murmurar
As Escrituras condenam claramente a murmuração. Isso significa que ela jamais deve ser um comportamento que caracteriza o povo de Deus. 

Ellen White afirma: "Quem dera pudessem homens e mulheres tão-somente ver e perceber o quanto sua incredulidade e queixosas murmurações exaltam a Satanás e lhe dão honra, enquanto roubam de Jesus Cristo a Sua glória na obra de salvá-los, total e completamente, de todo pecado! (Cristo Triunfante, p. 127).

Murmurar é algo tão perigoso que Judas, em sua epístola, relaciona a murmuração diretamente com o comportamento dos falsos mestres. Ele diz que essas pessoas ímpias e apóstatas vivem em rebelião contra Deus e a sua autoridade, e certamente enfrentarão o julgamento divino (Judas 15). Judas ainda define essas pessoas da seguinte forma: “Os tais são murmuradores, são descontentes, andando segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são aduladores dos outros, por motivos interesseiros” (Judas 16).

Ellen White diz: "Se representamos a Cristo, faremos com que Seu serviço apareça atrativo, como na realidade o é. Cristãos que acumulam sombras e tristezas em sua alma, que murmuram e se queixam, estão dando aos outros uma falsa idéia de Deus e da vida cristã" (Caminho a Cristo, p. 116).

Então, na vida cristã, definitivamente não deve haver espaço para a murmuração. Ellen White aconselha: "Necessitamos evitar a compaixão de nós mesmos. Nunca alimenteis a impressão de que não sois estimados como deveríeis, que os vossos esforços não são apreciados e que o vosso trabalho é demasiado penoso. A lembrança de que Jesus sofreu por nós reduza ao silêncio todo o pensamento de murmuração. Somos tratados melhor do que foi nosso Senhor" (A Ciência do Bom Viver, p. 476).

Por isso o apóstolo Paulo adverte os crentes a jamais murmurar como fizeram outrora os israelitas (1 Coríntios 10:10). Ele também aconselha os fieis a se dedicarem em todas as coisas sem murmuração (Filipenses 2:14). Portanto, jamais devemos murmurar. Ao invés disso, devemos temer a Deus e confiar n’Ele, aceitando com prazer o Seu propósito e Sua provisão para conosco.

Ellen White conclui: "Se buscardes o Senhor e vos converterdes cada dia; se, por vossa própria escolha espiritual, fordes livres e ditosos em Deus; se, com satisfeito consentimento do coração a Seu gracioso convite, vierdes e tomardes o jugo de Cristo — o jugo da obediência e do serviço — todas as vossas murmurações emudecerão, remover-se-ão todas as vossas dificuldades, todos os desconcertantes problemas que ora vos defrontam se resolverão" (O Maior Discurso de Cristo, p. 150). 

Que o Espírito nos ensine a amar como Jesus, servindo uns aos outros e caminhando juntos na realização da obra de Deus! Que a murmuração ceda lugar à empatia, à lealdade e à cooperação. Assim teremos uma igreja mais saudável, mais fortalecida e mais bem preparada para o cumprimento de sua missão!

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

ADULTIZAÇÃO

"Você sabe o significado da palavra adultização?". Com a explicação deste conceito, que quer dizer expor precocemente crianças a comportamentos, expectativas e responsabilidades de pessoas adultas, o humorista Felca falou sério e levantou um debate sobre como isso pode levar à erotização de crianças em conteúdos publicados nas redes sociais. O assunto movimentou até a Câmara dos Deputados no fim de semana. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), publicou uma mensagem no último domingo (10), nas redes sociais, dizendo que vai pautar projetos para "enfrentar essa discussão".

Entenda a denúncia feita por Felca
A discussão começou no último dia 6, quando o humorista postou um vídeo de quase 50 minutos em seu canal no YouTube, para seus 5,4 milhões de inscritos, em que mostra casos de sexualização e exploração de menores de idade na internet (assista aqui). Entre os citados, está Hytalo Santos, investigado pelo Ministério Público da Paraíba pelo conteúdo digital que cria. Frequentemente, ele publica vídeos de menores com pouca roupa, fazendo danças sensuais. Uma das adolescente que mais protagoniza conteúdos adultizados é Kamylinha Santos, de 17 anos, que teve uma cirurgia de implante de silicone filmada.

Felca mostra outros casos, como o de Caroline Dreher, que, segundo ele, é um dos piores de adultização e pedofilia e também envolve os pais, produtores e disseminadores do conteúdo protagonizado pela menina. Ela teria começado aos 11 com danças inocentes que foram escalonando para conteúdos sensuais, para atender pedido de seguidores, segundo Felca.

O YouTuber, no entanto, não responsabiliza apenas os adultos produtores do conteúdo erótico. Ele expõe como as plataformas digitais são coniventes, ampliando o alcance a partir da recomendação algorítmica e monetizando, ou seja, gerando pagamento pela quantidade de visualização que um vídeo tem. "As redes deveriam sinalizar esse tipo de conteúdos e não monetizando. Banindo, punindo e não colocando no caldeirão de sopa dos recomendados", diz ele no vídeo do YouTube.

No sábado, Felca fez uma versão menor do vídeo de "adultização" para o Instagram e já tem mais de 160 milhões de visualizações (assista aqui). Nele, o humorista mostra que as contas de Hytalo e Kamilinha foram suspensas pela Meta e bate na tecla de a interação com esse conteúdo gera ganhos financeiros aos produtores deles. "Vai por mim, tira o dinheiro dessa galera que tudo que eles fazem perde o sentido", diz ele, que também lista os problemas que a adultização pode gerar numa criança. "Sexualização precoce e maior risco de abuso, problemas de autoestima e segurança, ansiedade, depressão, dificuldade de socialização". (O Globo)

O pastor Odailson Fonseca, em seu perfil no Instagram, postou: "A lei da oferta e da procura migrou pras telas de forma brutal: quanto maior a demanda por conteúdo duvidoso, mais rápido se fabrica lixo digital. Este abismo aumenta com a “adultização” da inocência por meio de crianças sensualizadas exibidas perante uma plateia canibal. Nesse circo sórdido, a vítima vira mercadoria e a audiência, predador. Mas o espetáculo não existiria sem o público vampiro curtindo o grotesco virando tendência. Portanto, o dedo que clica é cúmplice do monstro. Sempre! [...] Ellen White alertou: “O que os olhos contemplam imprime-se na mente e modela o caráter” (A Ciência do Bom Viver, p. 460). Quem se alimenta de degradação carrega resíduos desta podridão pra si. São adoradores da depravação fazendo pacto com o horror. Atenção: a lei da oferta e da procura não perdoa. Ela nos responsabiliza! O inferno das telas prospera porque há quem o financie com atenção. O monstro é alimentado na mão que segura o celular. E, enquanto houver demanda, o balcão do grotesco seguirá aberto. Chega!"


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