O golpe militar de 31 de março de 1964 foi o mais longo período de interrupção democrática pelo qual passou o Brasil durante a República. Qualificado pela história como "os anos de chumbo", o período da ditadura foi marcado pela cassação de direitos civis, censura à imprensa, repressão violenta das manifestações populares, assassinatos e torturas.
No início dos anos 60, a sociedade brasileira vivia os conturbados anos posteriores à renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961. Era uma época de incertezas. Jânio foi sucedido por seu vice, João Goulart, cuja postura mais à esquerda incomodava os setores conservadores e acendeu a "luz vermelha" nos Estados Unidos, que temiam o surgimento de uma Cuba no Cone Sul. A polarização entre esquerda e direita era inevitável, inclusive dentro das igrejas. Muitos setores criticavam o envolvimento da Igreja com a política, para eles o papel do crente era apenas pregar o evangelho.
IGREJAS EVANGÉLICAS
O 31 de março de 1964 marcou mais do que uma reviravolta nos rumos do país. Foi também um momento crucial para as igrejas evangélicas no Brasil. O mesmo golpe que tirou do poder o presidente João Goulart, afetou também os púlpitos. Sobretudo aqueles onde o pregador tinha coragem de defender a cidadania e a liberdade de expressão. Muitos pastores foram presos, crentes torturados e até desaparecidos nos porões da ditadura. Quem era evangélico e tinha atuação política ou comunitária nos anos pós-64 tem lembranças amargas.
O Departamento de Mocidade da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) foi a primeira entidade de orientação evangélica a sofrer a perseguição do regime. A CEB promovia a cooperação entre as igrejas nas áreas de ação social, educação cristã e atividades diaconais. Foi fechada sem direito de defesa. Reuniu algumas das principais correntes evangélicas do país, como as igrejas Presbiteriana, Luterana, Metodista, Assembléia de Deus e Congregacional. O Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas (SP), foi fechado e os alunos expulsos. Colégios e faculdades de teologia também expulsaram professores que tinham a visão de uma nova Igreja. Para os militares, os inimigos estavam em todos os lugares, inclusive nas igrejas. A Faculdade Metodista Rudge Ramos em São Paulo foi fechada por ordem do governo militar em 1967, depois que os formandos escolheram D. Helder Câmara, bispo de Olinda e Recife e inimigo declarado dos “fardados”, como paraninfo da turma. O templo da Igreja Metodista Central de São Paulo foi cercado pela policia e muitos jovens saíram presos. O pastor da Igreja Batista em Volta Redonda no Rio de Janeiro, Geraldo Marcelo, foi preso três vezes como agente da subversão, chegando a ficar 43 dias em poder dos militares.
Neste tempo, o número de evangélicos no pais era na ordem de 4,5% da população. Então, por que uma comunidade tão pequena incomodava tanto o regime? As ações da repressão militar mostram que o pequeno grupo causava incômodo. A explicação é simples: num pais que tinha 39% de analfabetos, os evangélicos eram uma elite pensante, exercia influência política e era percebido socialmente. Nem todos os crentes no entanto faziam parte deste grupo. O medo das mudanças reforçou o conservadorismo, e muitas igrejas cediam seus púlpitos para propaganda a favor do regime militar. Muitos pastores entregaram membros de suas igrejas, acusando-os de comunistas. Os que entregavam colegas eram beneficiados pela Ditadura Militar.
Leia também o excelente artigo da Revista ISTOÉ "Os evangélicos e a ditadura militar".
IGREJA CATÓLICA
Brandindo a bandeira do combate ao comunismo, a Igreja Católica teve importante papel na preparação do golpe de 1964 e, mais tarde, na sustentação dos militares que sucederam o deposto presidente João Goulart. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, decisiva como suporte ideológico e popular ao movimento militar, evidenciava tais laços, uma vez que a Igreja Católica atuou fortemente na organização das manifestações. Anos depois, com o endurecimento do regime, setores progressistas da mesma igreja iriam atuar no sentido contrário, de crítica e combate à ditadura. Por causa disso, padres foram perseguidos, presos, torturados e mortos. Alguns bispos, como d. Paulo Evaristo Arns, d. Helder Câmara e d. Ivo Lorscheiter, tornaram-se símbolos da resistência ao arbítrio.
Brandindo a bandeira do combate ao comunismo, a Igreja Católica teve importante papel na preparação do golpe de 1964 e, mais tarde, na sustentação dos militares que sucederam o deposto presidente João Goulart. A Marcha da Família com Deus pela Liberdade, decisiva como suporte ideológico e popular ao movimento militar, evidenciava tais laços, uma vez que a Igreja Católica atuou fortemente na organização das manifestações. Anos depois, com o endurecimento do regime, setores progressistas da mesma igreja iriam atuar no sentido contrário, de crítica e combate à ditadura. Por causa disso, padres foram perseguidos, presos, torturados e mortos. Alguns bispos, como d. Paulo Evaristo Arns, d. Helder Câmara e d. Ivo Lorscheiter, tornaram-se símbolos da resistência ao arbítrio.
Leia mais sobre a participação da Igreja Católica durante o regime militar nos links: Memórias da Ditadura | Entrevista com Antônio Cechin | Documentário “O Santo Rebelde” | CPVSP
COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE (CNV)
A Comissão Nacional da Verdade (CNV), grupo que investigou a violação dos direitos humanos durante o regime militar (1964-1985), instalou um grupo de trabalho para avaliar a atuação da igreja no período. O trabalho começou no dia 8 de novembro de 2012, com a análise de estudos acadêmicos sobre o tema. Diversos casos envolvendo fiéis e líderes das igrejas evangélicas e católica foram analisados. Foram investigados tanto casos de religiosos que deram abrigo a perseguidos políticos como daqueles que praticaram a deleção de ativistas. Um dos mais rumorosos é o de Anivaldo Padilha, crente metodista que foi denunciado aos militares por seus pastores. Na época ele dirigia o Departamento Nacional de Juventude da sua denominação. Preso, torturado e exilado, só voltou ao país com a Anistia em 1979.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV), grupo que investigou a violação dos direitos humanos durante o regime militar (1964-1985), instalou um grupo de trabalho para avaliar a atuação da igreja no período. O trabalho começou no dia 8 de novembro de 2012, com a análise de estudos acadêmicos sobre o tema. Diversos casos envolvendo fiéis e líderes das igrejas evangélicas e católica foram analisados. Foram investigados tanto casos de religiosos que deram abrigo a perseguidos políticos como daqueles que praticaram a deleção de ativistas. Um dos mais rumorosos é o de Anivaldo Padilha, crente metodista que foi denunciado aos militares por seus pastores. Na época ele dirigia o Departamento Nacional de Juventude da sua denominação. Preso, torturado e exilado, só voltou ao país com a Anistia em 1979.