quarta-feira, 31 de julho de 2024

SUCESSO

Nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a equipe brasileira de ginástica artística feminina fez história ao conquistar a medalha de bronze. Foi uma vitória que ressoou por todo o país, trazendo consigo uma emoção que transcende o esporte e se infiltra no cotidiano de cada um de nós.

A jornada até o pódio não foi fácil. Nossas atletas enfrentaram desafios árduos, treinos exaustivos e superaram lesões e adversidades. A conquista do bronze não representa apenas uma vitória no esporte, mas também simboliza a perseverança e a determinação que todos nós carregamos em nossas próprias vidas.

Ao assistirmos aos nossas ginastas se apresentarem com graça e força, vemos refletida a nossa própria luta diária. Cada salto, cada movimento perfeitamente executado nos lembra das pequenas e grandes batalhas que enfrentamos. Seja no trabalho, na escola, em casa ou na nossa vida espiritual, estamos constantemente buscando melhorar, superar desafios e alcançar nossos objetivos.

Esta vitória nos faz lembrar que, assim como nossas atletas, nunca estamos sozinhos. Trabalhamos em equipe, apoiamos uns aos outros, enfrentamos as dificuldades, mas sabemos principalmente que sem união do poder de Deus com o esforço humano o sucesso não será possível. E seja qual for o sucesso que venhamos a ter, a glória e a honra pertencem somente a Deus.

Quer você também alcançar sucesso em sua vida assim como as meninas da ginástica? Basta que você siga esses preciosos conselhos de Ellen G. White que compartilhamos aqui, para que você alcance êxito em toda a sua vida.

1. Necessidade de uma meta, um objetivo
“A necessidade de uma meta aparece como inevitável. Uma vida sem objetivo é uma vida morta” (Conselhos sobre Saúde, p. 51).

“O êxito em qualquer coisa que empreendamos exige um objetivo definido. Aquele que desejar alcançar o verdadeiro êxito na vida deve conservar firmemente em vista o alvo digno de seus esforços” (Educação, p. 262).

"Onde não há um objetivo, há uma tendência a indolência; mas onde há uma meta suficientemente importante em vista, todas as faculdades mentais se colocam em atividade. Para obter êxito na vida, os pensamentos devem fixar-se firmemente no objetivo da vida e não se deve deixá-los vagar, nem ocuparem-se de assuntos sem importância ou saciarem-se de ociosas reflexões, os quais são os frutos de evitar as responsabilidades" (Testemunhos para a Igreja, vol. 2, p. 382).

2. Aprender com as supostas derrotas
“Algumas vezes, Deus disciplina Seus obreiros levando-os a desapontamentos e aparente fracasso. É Seu propósito que aprendam a dominar as dificuldades. Ele procura inspirá-los com a determinação de fazer com que todo fracasso aparente resulte em sucesso” (E Recebereis Poder, p. 272).

“Frequentemente os homens oram e lamentam por causa das perplexidades e obstáculos que os confrontam. Mas é propósito de Deus que enfrentem perplexidades e obstáculos, e se mantiverem firme até o fim o princípio de sua confiança, determinados a levar avante a obra do Senhor, Ele lhes tornará o caminho claro. Terão êxito ao lutarem com perseverança contra dificuldades aparentemente insuperáveis e com o êxito virá a maior alegria” (Olhando para o Alto, p. 110).

3. Ter sempre uma atitude positiva
“Na luta por alcançar a norma mais elevada, o êxito ou o fracasso dependem muito do seu caráter e da forma como seus pensamentos são canalizados. Se forem bem direcionados, como Deus deseja a cada dia, se abrirão espaço para os temas que vão ajudar a aumentar nossa devoção. Se os pensamentos são corretos, então, como resultado, as palavras também serão corretas; as ações serão de tal natureza que produzirão alegria, consolo e descanso” (Cada Dia com Deus, p. 66).

4. Esforço e perseverança
“O verdadeiro sucesso em cada setor de trabalho não é o resultado do acaso, ou acidente ou destino. É a operação da providência de Deus, a recompensa da fé e a prudência, da virtude e perseverança. Superiores qualidades mentais e elevado caráter moral não se adquirem por casualidade. Deus dá oportunidades; o êxito depende do uso que delas se fizer” (Profetas e Reis, p. 486).

“Quando Deus abre o caminho para a realização de certa obra e dá garantias de sucesso, o instrumento escolhido deve fazer tudo que estiver em seu poder para alcançar os resultados prometidos. O sucesso será proporcional ao entusiasmo e perseverança com que o trabalho é levado a cabo” (Profetas e Reis, p. 263).

5. Confiança e fidelidade
“Ninguém que seja fervoroso e perseverante deixará de alcançar sucesso. Não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes a peleja. O mais fraco dos santos, bem como o mais forte, podem alcançar a coroa de glória imortal. Podem vencer todos os que, pelo poder da divina graça, conduzem a vida em conformidade com a vontade de Cristo. Cada ato acrescenta seu peso na balança que determina a vitória ou fracasso na vida. E a recompensa dada aos que triunfam será proporcional à energia e fervor com que lutaram” (Atos dos Apóstolos, pp. 313 e 314).

“Mas se nos entregarmos completamente a Deus, e seguirmos Sua direção em nosso trabalho, Ele mesmo Se responsabilizará pelo cumprimento. Não quer que nos entreguemos a conjeturas sobre o êxito de nossos esforços honestos. Nem uma vez devemos pensar em fracasso. Devemos cooperar com Aquele que não conhece fracasso. Não devemos falar de nossa fraqueza e inaptidão. Com isso manifestamos desconfiança para com Deus, e negamos Sua palavra. Ao murmurarmos por causa de nossas cargas, ou recusarmos assumir as responsabilidades de que nos encarregou, estamos dizendo virtualmente que Ele é um Senhor severo e que requer o que não nos deu força para executar” (Parábolas de Jesus, p. 363).

6. Sociedade com o Céu
“O segredo do êxito está na união do poder divino com o esforço humano. Quando o povo de Deus for inteiramente consagrado a Ele, o Senhor os usará para levar avante Sua obra na Terra. Mas devemos lembrar-nos de que, seja qual for o êxito que venhamos a ter, a glória e a honra pertencem a Deus; pois toda faculdade e todo poder são uma dádiva de Sua parte. Ele dará êxito aos mais débeis esforços, aos métodos menos promissores, quando designados por determinação divina e empreendidos com confiança e humildade” (E Recebereis Poder, p. 260).

terça-feira, 30 de julho de 2024

DERROTAS

Um dos momentos marcantes do judô neste último domingo nas Olimpíadas de Paris teve lágrimas de uma multicampeã e superfavorita ao ouro. A japonesa Uta Abe, atual campeão olímpica da categoria 52kg, deixou o tatame e a arena em desespero, aos prantos e aos berros, depois de ser eliminada nas oitavas de final por Diyora Keldiyorova, do Uzbequistão. (Assista no vídeo: https://globoplay.globo.com/v/12792011/)

Esta precoce eliminação da atleta japonesa nos deixa uma lição para a nossa vida espiritual também. Ninguém gosta de perder. E não é à toa, afinal, nossa sociedade nos ensina o tempo todo que perder é o que existe de pior na existência humana.

Os filmes que nos emocionam são os de superação. O documentário que nos cativa é o do homem que perdeu tudo, mas deu a volta por cima. O livro de romance que nos envolve é o da menina que perdeu seu amor, mas conseguiu alguém melhor. Queremos que o nosso candidato ganhe a eleição. Torcemos para o nosso time ganhar. Vibramos com a vitória do atleta de nosso país. E assim por diante. Nossa mente é socialmente condicionada para que ganhemos, ganhemos, ganhemos, ganhemos e ganhemos.

Mas aí vem a pergunta: e se perdermos?

Bem... aí a coisa complica. Afinal, pessoas adestradas desde o berço a buscar a cada segundo a vitória e o triunfo, perdem completamente o rebolado quando a derrota chega. E, com isso, vêm frustração, impotência, prostração, depressão, melancolia, ansiedade, questionamentos a Deus e muito mais. "Deus, como posso estar perdendo tanto se sou mais que vencedor?!"

Hoje, vemos muitos dando uma grande ênfase na vitória como sendo um referencial perfeito para indicar as pessoas que servem a Deus de verdade e são abençoadas por Ele. Os vencedores são os abençoados, não os perdedores. Os ricos são os abençoados, não os pobres. A fé vencedora é dos que venceram situações e não dos que perderam.

O problema é que o referencial humano sobre a vitória está bem longe do referencial que Deus tem dela. É evidente que o Senhor é um Deus que dá a vitória aos seus filhos, mas a plenitude da Sua ação não se dá apenas em ambientes onde o ser humano enxerga a vitória.

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego estavam diante do tirano rei da Babilônia, Nabucodonosor. Esse rei, loucamente, manda construir uma imagem para que todos a adorassem. Esses três desobedeceram a ordem e foram chamados para uma conversa particular com o rei. A resposta desses jovens ao rei é que nos mostra algo surpreendente sobre a vitória:

“Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e Ele nos livrará das suas mãos, ó rei. Mas, se Ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos seus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer” (Daniel 3:17-18).

O que chama a atenção é que esses jovens criam que Deus tinha a escolha de livrá-los ou não. Essa atitude deles não era uma atitude de covardia ou de resignação, mas de fé plena em Deus, acontecesse o que acontecesse. Se eles morressem queimados, morreriam em obediência e pleno exercício de sua fé. Humanamente, talvez seriam chamados de derrotados, mas espiritualmente seriam vitoriosos. Eles não viam na vitória a base de sua fé, mas apenas no cumprimento da vontade de Deus, seja ela qual fosse. Eles confiavam na direção do Pai em todas as situações. 

Assim, as circunstâncias não tinham o poder de destruir a fé deles. A vitória era bem-vinda, mas se fossem derrotados (humanamente falando), mesmo assim morreriam exercendo plenamente a obediência à vontade do Pai e, portanto, seriam vitoriosos diante de Deus.

Agora, a questão é nossa: E se acontecer a nossa derrota? Continuaremos firmes na fé em Deus? Estaremos dispostos a exercer a fé seja no “sim” seja no “não”?

Consigo entender a lógica arrebatadora de Jesus no sermão da Montanha, quando Ele diz que bem-aventurado é aquele que chora, pois será consolado. Precisamos aprender a conviver com a derrota. Precisamos aprender a conviver com frustrações e sonhos não realizados. Saber perder não é conformar-se com a derrota, mas entendê-la como necessária para uma outra perspectiva da vida. Todas as vezes que perdemos, precisamos olhar a vida sem auto comiseração. Deus está nos dando uma nova chance de fazer aquilo que deixamos de fazer. Esta lição serve para muitas situações. Seja luto, seja falência, sejam relacionamentos destruídos, seja até uma luta perdida... 

O poeta romano Horácio observou que “a adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”. O historiador Eugen Weber também lembra que “tempos ruins para se viver são bons para se aprender”. Charles Colson, peça importante no caso Watergate, que acabou preso e, então, converteu-se ao cristianismo, concluiu: “Aquilo que o mundo vê como adversidade, Deus vê como oportunidade para abençoar”. Já A. W. Tozer, autor cristão, ressaltou que “Deus nunca usa alguém grandemente até que Ele o teste profundamente”. Para o pastor e evangelista Mark Finley, “nossos grandes desafios precedem nossos maiores milagres”. E Ellen G. White afirmou que "as mais difíceis experiências na vida do cristão, podem ser as mais abençoadas" (Nossa Alta Vocação, p. 322).

Deus continua transformando derrotas em oportunidades. Para isso, precisamos aprender a fugir da lamentação e a ver “em cada dificuldade” “um chamado à oração” (O Desejado de Todas as Nações, p. 667). Talvez, uma das orações mais difíceis que podemos fazer é esta: “Jesus, ensina-nos a perder!”

Crédito da ilustração: Kyodo News via Getty Images

sexta-feira, 26 de julho de 2024

A BONDADE DOS FARISEUS

"Pois Eu lhes digo que se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus" (Mateus 5:20).

Essa é a afirmação mais assustadora em todo o repertório de ideias de Jesus. Deve ter deixado Seus discípulos e demais ouvintes muito perplexos.

Como poderia alguém ter mais justiça do que os escribas e fariseus? Tal pensamento parecia a maior impossibilidade na mente dos judeus do primeiro século.

Os escribas eram uma classe de pessoas que passavam todo o seu tempo ensinando e expondo a lei de Deus. Sua vida inteira era dedicada ao estudo da Palavra de Deus. Dedicação — os escribas a tinham em abundância.

Nos tempos de Jesus, os fariseus eram uma classe seleta de aproximadamente 6 mil homens. A vida deles era totalmente dedicada a promover a vinda do Messias (a palavra grega equivalente a Messias é traduzida como “Cristo”) por meio de um viver perfeito.

A maioria dos cristãos precisa revisar sua concepção dos fariseus. Eles não eram simplesmente bons homens; eram os melhores homens. Não só eram moralmente retos, mas extremamente sinceros em buscar a Deus e na veneração e defesa do Seu santo nome, Sua lei e Sua Palavra. Certamente, a igreja e o mundo estariam infinitamente melhores se um maior número de nós viesse a Deus diariamente com a principal pergunta farisaica: “Que farei para herdar a vida eterna?” (Mateus 19:16; Lucas 10:25). Aqui estava um povo totalmente dedicado a servir a Deus, desde o momento em que se levantavam de manhã até quando se deitavam à noite.

Deturparemos a imagem do Novo Testamento se deixarmos de ver a bondade dos escribas e fariseus.

Quanto poderia a igreja fazer se cada um de nós fosse tão dedicado como eles eram! Isso, porém, não quer dizer que eles faziam tudo certo, embora pareça sugerir que sua dedicação e devoção a Deus eram incontestáveis.

"Jesus respondeu: “‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’ e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’”. Disse-Lhe o jovem: “A tudo isso tenho obedecido. O que me falta ainda?” (Mateus 19:18-20).

Jesus não contradisse o jovem fariseu que alegava ter guardado os mandamentos desde sua infância. Ele também não discutiu com o fariseu que orava, em Lucas 18, agradecendo a Deus por não ser “como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros” (verso 11).

Podemos aprender uma lição examinando o lado “bom” desse dedicado grupo. Vamos observar suas qualidades dignas de louvor.

Em primeiro lugar e acima de tudo, eles eram amantes e defensores da Bíblia como a Palavra de Deus. Sua tradição oral se estabelecera para preservar o verdadeiro significado das Escrituras.

Em segundo lugar, os fariseus eram totalmente dedicados à lei de Deus. Amavam a lei de todo o coração. R. Travers Herford apresenta esse aspecto do farisaísmo de maneira concisa, quando afirma que “a preocupação principal dos fariseus era fazer da Torá (lei) o guia supremo da vida, em pensamento, palavra e ação, através do estudo do seu conteúdo, da obediência aos seus preceitos, e, como base de tudo, um serviço consciencioso a Deus, o qual dera a Torá”.

Sua dedicação para guardar a lei de Deus os inspirara a desenvolver milhares de diretrizes, para nem sequer chegarem perto da aparência do mal. Assim, eles tinham cerca de 1.521 regras orais sobre como observar o sábado. Essas leis abordavam todos os aspectos de sua vida.

Além dessas qualidades, os fariseus eram cheios de zelo missionário e evangelístico e eram bons “adventistas”. Quer dizer, esperavam a vinda do Messias com grande expectativa. Muitos deles criam que o Messias (Cristo) viria se a Torá (lei) fosse observada com perfeição por um dia.

Os fariseus se assemelham a alguns membros da igreja. Eles acreditam em todas as coisas boas e desejam fazer o bem.

Mas aqui está a tragédia: eles não alcançavam o reino. Precisamos estar alerta para não acabarmos sendo como os fariseus. Sabe, de alguma forma eles não eram suficientemente bons.

George R. Knight (Retirado de Caminhando com Jesus no Monte das Bem-aventuranças, p. 112-113)

quinta-feira, 25 de julho de 2024

SAINDO DOS BANCOS DA IGREJA

Ellen G. White resumiu de maneira fantástica o método de Cristo, o qual afirmava ser o único que “trará verdadeiro sucesso”. De acordo com ela, o Salvador:

• Misturava-Se com as pessoas, desejando-lhes seu bem.
• Demonstrava simpatia.
• Ministrava suas necessidades.
• Ganhava confiança.
• Convidava-as a segui-Lo (A Ciência do Bom Viver, p. 143).

Ela visualizou centros de evangelismo, os quais chamou de centros de influência, sendo estabelecidos em cada cidade ao redor do mundo (Testemunhos para a Igreja, v. 7, p. 115). Esses centros devem motivar os membros a deixar os bancos da igreja e se envolver em suas comunidades. Devem estar totalmente fundamentados no modelo do ministério de Jesus.

Segundo Ellen G. White, os centros de influência incluem restaurantes vegetarianos, tratamentos naturais, cursos sobre hábitos saudáveis, pequenos grupos, literatura e evangelismo público a fim de conectar-se à comunidade.

A “colmeia” de São Francisco
Ela elogiou o trabalho da igreja principiante, em São Francisco, Califórnia, a qual chamou de “colmeia”. Os membros visitavam “os doentes e necessitados”; procuravam lares para os órfãos e empregos para os desempregados; visitavam de casa em casa, ministravam classes sobre vida saudável e distribuíam literatura. Eles começaram uma escola para crianças no coração da Laguna Street, e sustentavam uma missão médica e um ministério “que cuidava de idosos em seus lares”.

Bem ao lado do prefeitura, mantinham salas de tratamento natural – início do que hoje é o Hospital de Santa Helena. No mesmo local, havia uma loja de produtos naturais. No centro do cidade, tinham um restaurante vegetariano que servia refeições seis dias na semana. Na baía de São Francisco, eles ensinavam a Bíblia para os marinheiros, à beira-mar. E, como se já não tivessem o suficiente para fazer, também promoviam seminários nas prefeituras (Beneficência Social, p. 112). Misturavam-se, demonstravam simpatia, ganhavam a confiança; então, convidavam as pessoas para que seguissem a Jesus.

Nossa missão “urbana” não pode focalizar somente a tentativa de atrair pessoas, como um ímã espiritual, das ruas para nossas igrejas. Evidentemente, nossos templos devem ser atraentes e amigáveis, oferecer boa música e pregações cativantes; ter programas e atividades interessantes. Porém, o principal objetivo da igreja deve ser inspirar, treinar e motivar os membros a “sair dos bancos” para interagir com a comunidade. Todavia, nossa ênfase frequentemente tem se voltado para “dentro”.

Igreja - um centro de treinamento e influência
Para que as igrejas se tornem mais relevantes, deveriam ser adotados alguns princípios de trabalho: (1) Abrir o templo mais vezes na semana; (2) Desenvolver projetos sociais, além dos religiosos, para que a igreja se torne um centro de influência na comunidade; (3) As igrejas precisariam se adaptar ao contexto da cidade para influenciar a comunidade a viver os valores do reino de Deus; e (4) As estratégias seriam determinadas localmente para responder às necessidades dos não evangelizados.

Segue algumas dicas de Ellen G. White: 

• "Precisa ser quebrada a monotonia de nosso serviço para Deus. Todo membro de igreja deve empenhar-se em algum ramo de atividade para o Mestre. […] Toda igreja deve ser uma escola missionária para obreiros cristãos. Seus membros devem ser instruídos em dar estudos bíblicos, em dirigir e ensinar classes da Escola Sabatina, na melhor maneira de auxiliar os pobres e cuidar dos doentes, e de trabalhar pelos não convertidos. Deve haver cursos de saúde, de arte culinária e classes em vários ramos de serviço no auxílio cristão. Não somente deve haver ensino, mas trabalho real, sob a direção de instrutores experientes. Que os mestres vão à frente no trabalho entre o povo, e outros, unindo-se a eles, aprenderão em seu exemplo. Um exemplo vale mais que muitos preceitos" (A Ciência do Bom Viver, p. 149).

• "O melhor auxílio que os pastores podem oferecer aos membros de nossas igrejas não é pregar sermões, e sim planejar o trabalho para eles. Que a cada um seja designado algo a fazer pelos outros. Sejam todos ajudados a ver que, como recebedores da graça de Cristo, encontram-se sob a obrigação de trabalhar para Ele. Que todos sejam ensinado como trabalhar. Especialmente os recém-conversos devem ser preparados como colaboradores de Deus. Se postos a trabalhar, os murmuradores logo esquecerão suas murmurações; os fracos se tornarão fortes; os ignorantes, inteligentes; assim, todos se prepararão para apresentar a verdade tal qual é em Jesus. Encontrarão um infalível Ajudador nAquele que prometeu salvar os que forem a Ele" (Testemunhos para a Igreja, v. 9, pp. 81-82).

• "É pelas relações sociais que a religião cristã entra em contato com o mundo" (A Ciência do Bom Viver, p. 496).

• "A prevalecente monotonia da rotina religiosa em nossas igrejas precisa ser modificada. A influência da atividade necessita ser introduzida, para que os membros da igreja possam trabalhar em novos ramos e planejar novos métodos. O poder do Espírito Santo moverá corações à medida que for quebrada essa monotonia morta, sem vida, e muitos que nunca antes haviam pensado em ser além de espectadores ociosos começarão a trabalhar com vigor. […] Devem ser feitos esforços para fazer algo enquanto é dia, e a graça de Deus se manifestará, a fim de que pessoas possam ser alcançadas para Cristo" (Testemunhos para Ministros, p. 204).

O evangelismo não está morto, mas precisa atualizar seus métodos e abordagens, a partir dos métodos convencionais. Não se pode ignorar o evangelismo público. É uma distorção do ensino bíblico dos dons espirituais tentar convencer a todo o crente a se envolver em um só método de testemunhar, em detrimento de outros. Pluralidade de dons exige pluralidade de métodos.

Quando o general William Booth, aos 75 anos de idade, foi convidado ao Palácio de Buckinghan, por Eduardo VII, ele resumiu a obra de sua vida, ao assinar o livro de visitas do rei: “Sua Majestade, a ambição de alguns homens é a arte, a ambição de outros é a fama, e alguns homens ambicionam o ouro. Mas a minha ambição é as almas dos homens.”

Ellen G. White ecoa esse mesmo sentimento na seguinte declaração: “A obra acima de todas as obras – o negócio acima de todos que deve atrair e dedicar as energias da alma – é a obra de salvar almas pelas quais Cristo morreu. Faça desta a principal, a mais importante obra da sua vida. Faça disso a especial obra de sua vida” (Mensagem aos Jovens, p. 227).

quarta-feira, 24 de julho de 2024

A CORRIDA DA FÉ

A cada quatro anos, atletas de diversas nacionalidades se reúnem num país previamente escolhido para disputar um conjunto de modalidades esportivas nos famosos Jogos Olímpicos. A bandeira olímpica representa a união de povos e raças, pois é formada por cinco anéis entrelaçados que indicam os cinco continentes e suas cores.

Os gregos foram os precursores dos Jogos Olímpicos. Por volta de 2500 a.C. já faziam homenagens aos deuses. Mas foi somente em 776 a.C. que ocorreram pela primeira vez os Jogos Olímpicos de forma organizada.

Quando os romanos invadiram a Grécia no século II, muitas tradições gregas, entre elas as Olimpíadas, foram deixadas de lado. Em 392 d.C., os Jogos Olímpicos e todas as manifestações religiosas do politeísmo grego foram proibidos pelo imperador romano Teodósio I, após sua conversão ao cristianismo. Contudo, em 1896, os Jogos Olímpicos foram retomados em Atenas, por iniciativa do francês Pierre de Fredy, conhecido com o barão de Coubertin (veja mais aqui).

Desde então, esse evento multiesportivo ganhou força, chamando a atenção do mundo. Tendo como palco a cidade de Paris, a 33ª Olimpíada contará com 10.500 atletas de cerca de 206 países, disputando 28 esportes diferentes entre os dias 26 de julho a 11 de agosto, com um número igual de atletas masculinos e femininos, totalizando 5.250 de cada sexo.

Metáfora do mundo esportivo

Assim como existia a modalidade das corridas nos jogos olímpicos da antiguidade, o apóstolo Paulo apresenta em Hebreus 12:1 a corrida que todo cristão deve percorrer:  “Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta”.

Segundo o Comentário Bíblico Adventista (p. 522, v. 7), a palavra portanto, “constitui a conclusão que o escritor faz do capítulo 11” de Hebreus, em que discorreu sobre as lutas e vitórias dos heróis da fé do Antigo Testamento e a respeito de como esses campeões venceram essa maratona.

Nessa corrida espiritual, não existem atalhos e muitos são os obstáculos, mas Deus oferece um importante meio para avançarmos rumo à vitória com perseverança.

O que podemos aprender dessa tão importante corrida?

  1. Ter uma meta

dicionário da língua portuguesa Michaelis define meta como “fim a que se dirigem as ações ou os pensamentos de alguém”. O apóstolo Paulo ensinou claramente qual era a meta prioritária de sua vida: “Assim corro também eu, não sem meta…” (1Co 9:26). Anteriormente, “ao escrever as palavras do versículo 24, sem dúvida o apóstolo se recordou dos jogos Ístmicos realizados não muito longe de Corinto. Os cristãos coríntios estavam familiarizados com essas competições esportivas. Paulo os fez lembrar que, apesar de muitos correrem no estádio, nem todos recebem o prêmio. A vida cristã é como uma corrida. Exige autodisciplina, esforço intenso e determinação quanto ao seu propósito” (Comentário Bíblico Popular – Antigo e Novo Testamento, 2011, p. 504).

Na posição de corredor, Paulo tinha um alvo bem definido, uma vitória a conquistar. Ele sabia para onde estava indo e correu com plena segurança, esforçando-se para alcançar o objetivo final: receber a coroa da justiça. Não apresentou dúvidas quanto à sua vitória. Ele sabia que a fé em Jesus o faria mais do que vencedor. Foi por isso  que, prestes a completar sua jornada, demonstrou essa certeza dizendo: Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2Tm 4:7-8).

A palavra carreira  nesse verso, vem do grego dromos, que tem que ver com a “pista de corrida” em que era efetuada a competição (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, 2002, p. 402). O intento de Paulo era dizer que havia completado a corrida da fé. Que nobre exemplo a ser seguido!

  1. Inspiração

Em seu capítulo do livro A luz de Hebreus: Intercessão, Expiação e Juízo no Santuário Celestial, 2013, p. 24), William G. Johnsson afirmou: “Hebreus é mais um sermão cuidadosamente elaborado e bem argumentado que propriamente uma epístola. Uma ‘palavra de exortação’ (13:22) é a descrição que o próprio autor apostólico dá a essa obra. O livro faz um apelo aos judeus do primeiro século, cujas energias espirituais estavam enfraquecidas e que questionavam o valor de sua fé, em vista da religião judaica outrora praticada, para a qual pareciam estar sendo atraídos a voltarem”.

Por renunciarem ao judaísmo, enfrentavam oposição implacável. Nesse contexto, esse grupo de conversos poderia desanimar, fracassar na fé e até mesmo retornar às suas antigas tradições. A fim de motivá-los, Deus mostrou que seu sofrimento não era único e excepcional, mas que, assim como outros no passado que sofreram e obtiveram a vitória, todos nós podemos vencer. Essa motivação, que chamo de “inspiração”, está expressa em Hebreus 12:1: “…visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas…”.

Nesse relato, as testemunhas são os heróis da fé mencionados em Hebreus 11. “A grande nuvem de testemunhas não significa que sejam espectadores do que acontece na Terra. Antes, nos dão testemunho pela vida de fé e perseverança que levaram, e estabeleceram um alto padrão para imitarmos” (O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, 2002, p. 865). Pela lealdade, “deram testemunho das possibilidades da vida da fé” (La epístola a los hebreus, 1987, p. 349).

Convém ressaltar que o escritor sagrado não estava dizendo que os espíritos dos heróis da fé estariam conosco para nos ajudar na corrida cristã. Mas que o legado deixado através do testemunho nos inspiraria em nossa corrida.

As testemunhas são “pessoas que alcançaram êxito, por isso nós também poderemos ter êxito” (Comentário Bíblico Beacon, v. 10, 2006, p. 114). Foram homens e mulheres pecadores, mas que, dotados da verdadeira fé em Jesus, foram mais que vencedores pela justiça de Cristo, testemunhando que a todos é imperioso vencer.

O que podemos aprender com o testemunho de cada um deles?

  • Abel: Obteve testemunho de ser justo quando ofereceu a Deus maior sacrifício do que o de Caim (Hb 11:4).
  • Enoque: Obteve o testemunho de agradar ao Senhor e foi trasladado (Hb 11:5).
  • Noé: Obteve o testemunho de ser temente a Deus ao construir a arca e salvar sua família (Hb 11:7).
  • Abraão: Obteve o testemunho da obediência, ao ir para um lugar que devia receber por herança (Hb 11:8).
  • Sara: Obteve o testemunho de ter por fiel Aquele que lhe daria a virtude de conceber, mesmo fora de idade (Hb 11:11).
  • Isaque: Obteve o testemunho de abençoar Jacó e Esaú no tocante às coisas futuras (Hb 11:20).
  • Jacó: Obteve o testemunho de abençoar cada um dos filhos de José (Hb 11:21).
  • José: Obteve o testemunho de dizer a maneira com a qual Deus conduziu o Êxodo de Israel (Hb 11:22).
  • Moisés: Obteve o testemunho de recusar ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus, abandonando o Egito e suas riquezas para libertar os israelitas da escravidão (Hb 11:24).
  • Raabe: Obteve o testemunho de não perecer com os incrédulos, acolhendo em paz os espias (Hb 11:31).

Possuir uma meta bem definida e identificar os passos que proporcionaram a vitória aos heróis da fé de Hebreus 11, é imprescindível para a obter a vitória em nossa corrida cristã. Porém, mais importante que iniciar a corrida é terminá-la. Para isso, é importante vencer os obstáculos que permearão o percurso.

  1. Transpor os obstáculos

Imagine um corredor em busca da vitória, mas com vários apetrechos pesados amarrados em seu corpo. O cansaço seria inevitável, impedindo-o de cruzar a linha de chegada.

Na corrida cristã, todo embaraço ou peso desnecessário precisa ser eliminado para que nada interfira na vitória. O capítulo 12 de Hebreus recomenda: “…desembaraçando-nos de todo peso…” (v. 1).

A palavra “peso”, vem do grego ogkos, e sugere aquilo que serve para impedir que alguém faça algo (Léxico Grego-Português do Novo Testamento, 2015, p. 149). Claramente nesse caso, o termo usado pelo autor denota a ideia de um empecilho, obstáculo. São as dificuldades desnecessárias que vão diminuir nosso ânimo, independentemente de quão inocentes possam ser. Devem ser “despidas” da mesma forma que o corredor elimina as roupas supérfluas para não interferir em sua performance e na conquista do seu objetivo final.

Há uma estória interessante de um homem que caminhava vacilante pela estrada, levando uma pedra numa mão e um tijolo na outra. Nas costas carregava um saco de terra. Em volta do peito trazia vinhas penduradas. Sobre a cabeça equilibrava uma abóbora pesada. No caminho, encontrou um passante que lhe perguntou:

– Viajante, por que carrega essa pedra tão grande?

– É estranho, respondeu o viajante, mas eu nunca notei que a carregava. Então, ele jogou a pedra fora e se sentiu muito melhor. Em seguida veio outro transeunte que lhe perguntou:

– Diga-me, cansado viajante, por que carrega essa abóbora tão pesada?

– Estou contente que me tenha feito essa pergunta, disse o viajante, porque eu não tinha percebido o que estava fazendo comigo mesmo. Então ele jogou fora a abóbora e continuou seu caminho com passos muito mais leves. Um por um, os transeuntes foram avisando-o a respeito de suas cargas desnecessárias. E ele foi abandonando uma a uma. Por fim, tornou-se um homem livre e caminhou como tal.

Qual era, na verdade, o problema dele? A pedra, a abóbora e os demais objetos? Não! Era a falta de consciência do peso desnecessário.

O texto ensina ao leitor a tarefa importante de descobrir o que pode impedir seu progresso na corrida do cristão. Os pesos desnecessários “podem não ser necessariamente atos pecaminosos, mas podem ser coisas que nos retêm, como o uso do tempo, algumas formas de diversão, ou determinados relacionamentos” (Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal, 2009, p. 636).

Vale ressaltar que “os interesses próprios servem de grande carga; e logo se transmutam em pecado, se permitirmos que o egoísmo nos domine. Um intenso treinamento espiritual nos leva a reconhecer os ‘pesos’ e a nos desvencilharmos deles, tal qual o exercício diligente, na vida física, alivia o corpo do excesso do peso” (O Novo Testamento Interpretado, 2002, p. 640).

Hebreus 12 apresenta outro obstáculo na corrida do cristão:  “…e do pecado que tenazmente nos assedia…” (v. 1).

O termo grego para “tenazmente” é euperistatos, uma palavra rara. Com base em sua etimologia, sugere ser algo que se apega de perto (ibid). Num sentido mais amplo, pode ser algo que pode agarrar fortemente. Por mais dolorosa que seja a separação do pecado ao qual estamos agarrados, é preciso o desvencilhamento desse obstáculo para não impedir aquele que corre, de alcançar a meta final.

Porém, “o manuscrito grego mais antigo de Hebreus que possuímos traz uma palavra diferente, eurispastos, que significa ‘distrair-se facilmente’” (La epístola a los hebreus, 1987, p. 1455). Se esse for o termo correto (original), provavelmente o autor se referisse ao fato de que o corredor não poderia desviar do alvo os olhos. Segundo Hebreus 12:2, os corredores devem olhar para Jesus, o Autor e Consumador da fé.

  1. Perseverança

“…corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta…” (Hb 12:1).

A palavra perseverança tem um significado muito especial. Vem do grego hipomone, que significa a capacidade de continuar a suportar sob circunstâncias difíceis (Comentário Bíblico NVI, 2012, p. 1455). Outros sinônimos são derivados: paciência, resistência, fortaleza, firmeza, constância.

Ao longo de sua atribulada existência, Abraão Lincoln enfrentou com frequência o ímpeto dos ventos contrários, porém jamais fundeou a âncora. Em 1832, ele perdeu o emprego. No ano seguinte, fracassou nos negócios. Em 1835 faleceu sua noiva. Em 1836, sofreu de aguda crise nervosa. Em 1838, foi derrotado em suas aspirações para alcançar a presidência da legislatura de Illinois. Em 1843, sofreu outra derrota como candidato ao Congresso Nacional. Em 1846 foi, afinal, eleito deputado federal. Em 1848 perdeu a reeleição. Em 1854 foi derrotado quando disputou a representação de seu Estado no senado da República. Em 1856 sofreu outra derrota, quando disputava a vice-presidência da República. Em 1858 foi outra vez vencido em sua campanha para o Senado. Porém, afinal, em 1860 foi eleito presidente do país. Lincoln nunca se deixou abater diante da derrota. Mas seu nome jamais seria conhecido pelo mundo se ele não houvesse perseverado (Ilustrações Selecionadas para Sermões, 2004, p. 129).

No âmbito espiritual, a carreira que nos está proposta abrange a vida toda. É uma experiência ao longo da vida. Se os homens lutam com tanta perseverança para conquistar uma carreira terrena e temporal, o que dizer de nós, cristãos, que deveríamos perseverar com paciência para completar a carreira da fé e receber a tão sonhada recompensa?

Quando a rainha Vitória era criança, ela não sabia que estava na linha de sucessão do trono da Inglaterra.  Seus professores, tentando preparar a criança para sua futura função, não conseguiram motivá-la. Ela não levava os estudos a sério. Finalmente, os professores decidiram dizer que um dia ela se tornaria a rainha da Inglaterra. Quando ouviu isso, Vitória disse: ‘Então eu vou ser boazinha’. A noção de que havia herdado uma elevada função lhe deu um senso  de responsabilidade que afetou profundamente sua conduta” (Lição da Escola Sabatina: O livro de Hebreus, 3º trim, 2003, p. 135).

Na corrida do cristão, Cristo nos oferece a elevada oportunidade de ser vencedores. A promessa ao vencedor é nada mais nada menos do que o Céu.  Se essas verdades maravilhosas não nos motivarem para viver uma vida digna dessa alta vocação, o que mais o fará?

“Como competidores numa corrida, devemos olhar para o exemplo deles (nuvem de testemunhas, grifo nosso) para encorajamento. Devemos nos desembaraçar de todo peso – de toda associação ou atividade que nos ponham em desvantagem – e do pecado que tenazmente nos assedia… Senão, corremos o risco de perder o prêmio, que é o presente generoso de Deus da vida eterna para todos os que terminam a corrida” (Comentário Bíblico Vida Nova, 2009, p. 2024).

Fábio Santos (via Revista Adventista)

terça-feira, 23 de julho de 2024

MISS CADÁVER

Só uma lógica faz sentido no reino dos homens para dar valor às pessoas e às coisas: mérito. Nossa sociedade é construída em cima desse pilar. Desde a educação familiar, passando pela educação acadêmica e adentrando a vida adulta e profissional, todas as coisas são medidas na régua do mérito. O que fazemos, como fazemos e o que deixamos de fazer são e serão a sentença de nossas vidas.

E convenhamos, não dá para pensar de outra maneira. Alguma coisa ou alguém só valem mesmo se forem úteis de alguma maneira. Ninguém quer convocar o “gordinho pereba” para o time de futebol, queremos o artilheiro, o “fazedor de gols”. Quem chega mais rápido à linha de chegada é que é digno da medalha dourada. Aquele que vende mais é digno da promoção na empresa, o que rende mais, trabalha mais, acerta mais, enfim, nossos valores são pautados pela régua da meritocracia. A sociedade capitalista aplaude porque essa foi, até agora, a melhor forma de motivar o rendimento humano sem qualquer opressão que fira o direito a liberdade (em tese).

O Reino de Deus é diferente do nosso. Seus valores são outros e isso é desconcertante. Enquanto nós escolhemos os melhores, Jesus escolhe os doze discípulos mais improváveis, de um terrorista (zelote) a um político corrupto (Levi Mateus), de iletrados a homens irascíveis. O que tinha mais títulos, mais méritos, o mais estudado, era Judas. Segundo esse ponto de vista, não fosse por Judas, o ministério de Jesus teria caído em descrédito pela tenebrosa escolha dos outros onze.

Graças a Deus que Deus não é humano. Sua lógica é outra e Sua operação é diferente do que esperamos. Deus opera em outro paradigma, outra forma de enxergar a vida. Enquanto procuramos os melhores, os bons, os mais capacitados, Ele procura outra coisa. No Reino de Deus o valor é outro. Jesus disse:

“Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus” (Mateus 18:3).

Muitas versões foram produzidas com o tempo a respeito sobre o que Jesus quis dizer com essa afirmação. Mas basta olhar para o contexto judaico da época e será possível perceber o que exatamente Jesus estava falando. Mulheres e crianças não eram contadas naquele tempo. Apenas adultos homens tinham algum valor social. O mérito era todo deles. Eles lideravam, dominavam, trabalhavam, realizavam, eram quem “importava” naquele contexto. Jesus mesmo tem que dizer: “deixai vir a mim os pequeninos”, porque ninguém queria deixar que as crianças se aproximassem do Mestre, “atrapalhando” Seus afazeres. Era uma afronta uma criança ou uma mulher demandar atenção de um homem adulto. Crianças não tinham valor. Afinal, não tinham mérito algum, “serviam para quê?”.

Jesus começa a subverter essa ideia quando declara aos orgulhosos adultos que ninguém entra no Reino dos Céus se não se despir de suas personas infladas, e se diminuir ao nível de simplicidade, fragilidade, submissão de uma criança. Resumindo, Jesus falava de humildade. É como se dissesse: “Quem acha que vai a algum lugar por suas próprias forças, conquistas e méritos, não vai a lugar algum. Quanto mais vocês enxergam valor em vocês mesmos, menos aptos estão para o Reino. Enquanto aqueles que forem dependentes do Pai como uma criança, humildes e sem valorizar a si mesmos, estarão a caminho do céu”.

Quando Deus vai escolher “Seu time”, não busca os mais aptos, mais capazes, mais saudáveis, mais inteligentes, nada disso. Ele busca os mais humildes.

“Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se eles possuem riquezas mundanas, saber ou eloquência. Pergunta: ‘Andam eles em tanta humildade que lhes possa ensinar o Meu caminho? Posso pôr em seus lábios as Minhas palavras? Representar-Me-ão?” (Ellen White, Ciência do Bom Viver, p. 37).

Portanto, o valor do Reino de Deus é de um tipo que não exclui ninguém. Enquanto o mérito deixa de fora os que não o possuem, a humildade é um atributo que todos os homens podem se apropriar desde que não olhem para si mesmos como merecedores. É também um atributo agregador, em vez de excludente. O mérito clama por competição, a humildade clama por cooperação. Esse é o valor do Reino de Deus que contrapõe a meritocracia: humildade. É certo que “como ferro afia o ferro, um homem afia o seu companheiro” (Provérbios 27:17), e a competitividade ajuda um homem a aprimorar o outro. Mas como o ferro batendo no ferro esse aprimoramento ocorre ao custo de feridas e enfrentamentos. O texto, embora fale do “ferro com o ferro”, fala também de companheirismo. A humildade também é capaz de aprimorar o homem, também haverá feridas e enfrentamentos, mas aqui o outro é companheiro. Existe amor nessa relação, cooperação e não competição. No Reino de Deus, a humildade é a substituta do mérito.

Ouvi recentemente que a arrogância e o orgulho é como um cadáver que pensa em ganhar um concurso de beleza. Nossos melhores méritos não são mais do que “trapos de imundícia”. Estamos maculados pelo pecado, nossa natureza é doente, somos como cadáveres, mas nos pomos a ganhar um concurso de beleza, porque olhamos para nós mesmos como merecedores de alguma coisa, dignos de reconhecimento e valiosos a nossos olhos.

O Reino de Deus vem para desconstruir nossa ilusão. Revelar o que somos e mudar nossa postura. O convite de Deus é para uma vida de muita humildade. De abatimento constante do orgulho e da consciência de merecimento. No Reino, nós somos completamente dependentes de Deus. Ele é o grande realizador, por meio de nós. Não há disputa sobre quem é maior, ninguém se vê superior ao outro, somos convocados e olhar de baixo para cima todas as outras pessoas, nos permitindo ser usados por Deus. Sim, usados. Essa palavra vai incomodar os mais soberbos e orgulhosos. Deixe Deus usá-lo.

Quando Deus chama Seus líderes, Ele escolhe os que se parecem mais com crianças, dependentes do Pai, do que os autossuficientes. Os mais humildes são os mais moldáveis, os mais orgulhosos, mais engessados.

“Muitos não percebem que ao andarmos humildemente com Deus, nos colocamos numa posição em que o inimigo não pode tirar vantagem de nós. … Unicamente se nos submetermos como crianças dispostas a ser instruídas e disciplinadas, poderá Deus usar-nos para a Sua glória” (Ellen White, Manuscrito 102 de 1904).

Mas isso não é fácil:

”É unicamente por meio de torturante esforço de nossa parte que nos tornaremos altruístas, modestos, semelhantes a crianças, dóceis, mansos e humildes de coração, como nosso divino Senhor” (Ellen White, Para Conhecê-lo, p. 182).

Assim, imitando a Cristo, a gente vai levando o Seu Reino ao mundo. Com uma verdade espantosa que o mundo não espera. Gente indigna, carregando a maior dignidade, Jesus Cristo em seu próprio coração. Vivendo em outro parâmetro, ocupando um outro patamar, apresentando um amor não fingido, e um valor que não vale em si mesmo. A humildade é só tem valor, porque é o espaço que se abre no ser para que Deus possa habitar em nós.

“Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2:3).

Esse é o Reino.

Diego Barreto (via O Reino)

segunda-feira, 22 de julho de 2024

ARAUTOS DO JUÍZO FINAL

Na primeira metade do século 19, o racionalismo moderno intensificou seus ataques contra a fé cristã. Enquanto os ventos da Revolução Francesa divinizavam a razão humana, a biologia evolucionista considerava a natureza como criadora de si mesma. E, por sua vez, os deístas retratavam Deus como alguém que não intervinha nos assuntos humanos.

Para os críticos históricos, a Bíblia estava cheia de mitos e ­imprecisões religiosas e as profecias bíblicas eram meramente um estilo literário sem nenhuma relação com o presente. Os pós-milenialistas sugeriam que o reino de Deus seria estabelecido na Terra por meio de reformas sociais. E Deus e Sua Palavra foram totalmente questionados.

Nesse contexto desafiador, a arqueologia bíblica iniciou sua jornada para confirmar a historicidade da Bíblia. E as três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12 chamaram a atenção do mundo, advertindo a humanidade sobre os julgamento iminente de Deus e Sua oferta de salvação.

O propósito deste artigo é fornecer um breve panorama da compreensão adventista inicial dessas mensagens e dos refinamentos posteriores dessa compreensão.

COMPREENSÃO INICIAL

Segundo Thomas Scott, no livro The New Testament of Our Lord and Saviour Jesus Christ: Translated From the Original Greek, With Original Notes, and Practical Observations (Bellamy and Roberts, 1791), a tendência dos expositores protestantes do fim do século 18 e início do século 19 era ver os três anjos de Apocalipse 14 como “arautos emblemáticos da reforma progressiva do papado”. Enquanto alguns autores consideravam a missão desses anjos já cumprida, outros a viam como ainda em andamento.

Por sua vez, Guilherme Miller e seus seguidores ficaram cada vez mais convencidos de que a missão do grande movimento do segundo advento era proclamar a mensagem do primeiro anjo advertindo o mundo sobre a hora do juízo (Ap 14:7). Alguns milleritas acreditavam que a pregação do segundo anjo havia começado no verão de 1843 com o famoso sermão de Charles Fitch, intitulado: “Saiam dela, povo Meu” (Ap 18:4; cf. Ap 14:8). Contudo, os milleritas não deram muita atenção à mensagem do terceiro anjo.

Após o desapontamento de 1844, os adventistas guardadores do sábado presumiram que as mensagens dos dois primeiros anjos já haviam se cumprido por meio dos mileritas e que o movimento que então emergia tinha que pregar apenas a terceira mensagem angélica (Ap 14:9-12).

José Bates, em seu panfleto Second Advent Way Marks and High Heaps (Benjamin Lindsey, 1847), demonstrou como a pregação sequencial dessas mensagens revelava os componentes doutrinários básicos da mensagem adventista. Conforme demonstrei em minha tese doutoral, O Santuário e as Três Mensagens Angélicas (Unaspress, 2002), nos anos seguintes os adventistas guardadores do sábado revisaram e fortaleceram ainda mais seu sistema doutrinário, integrando-o com temas fundamentais, como o santuário de Daniel 8:14 e as três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12.

Em 1858, Ellen White retratou essas mensagens como os três passos de acesso à plataforma sólida da verdade presente. E ela observou que dois grupos subiam essa escada. O primeiro era formado pelos que haviam passado pela experiência dos mileritas e dos primeiros adventistas guardadores do sábado, ou seja, pessoas que haviam aceitado as mensagens como originalmente pregadas. E o segundo era composto por pessoas que mais tarde subiriam as escadas sem ter participado da proclamação inicial dessas mensagens (Spiritual Gifts, v. 1, p. 168 e 169).

Essa ilustração ajudou a consolidar a ideia de que, embora as três mensagens angélicas tivessem sido pregadas originalmente de modo sequencial, todas as três deveriam ser proclamadas simultaneamente.

APERFEIÇOAMENTO POSTERIOR

Os adventistas guardadores do sábado viram a proclamação das três mensagens angélicas como o desdobramento de todo o sistema da verdade presente. Duas expressões dessas mensagens receberam atenção especial no início do movimento. A primeira foi “pois é chegada a hora do Seu juízo” (Ap 14:7, ARA), considerada uma alusão à fase pós-1844 do ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial (cf. Dn 7:9-14; 8:14).

E a outra expressão era “os mandamentos de Deus” (Ap 14:12), com ênfase na permanência do decálogo e na restauração do sábado do sétimo dia como o dia de guarda. Esse ponto de vista foi fundamentado na convicção de que a justificação pela fé não invalida a lei de Deus (Rm 3:31).

Ocorre que, ao longo dos anos, os adventistas têm se considerado os “santos” que “guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12). Eles até associam várias de suas crenças a esses dois assuntos doutrinários. Por exemplo, após a visão de Ellen White em 1863 sobre a reforma da saúde, os princípios básicos de um estilo de vida saudável foram considerados expressões desses mandamentos.

E, depois da assembleia da Associação Geral de 1888, em Minneapolis (EUA), a doutrina da justificação pela fé foi vista como parte essencial da “fé em Jesus”. Essa concepção promoveu na pregação do “evangelho eterno” uma abordagem mais centrada em Cristo no contexto da hora de Seu julgamento (Ap 14:6, 7).

Vale destacar também que, de acordo com a obra Our Firm Foundation (Review and Herald, 1953), v. 1, p. 543-622, na Conferência Bíblica de 1952, em Takoma Park, Maryland (EUA), F. D. Nichol apresentou um documento perspicaz, no qual forneceu uma lista útil de doutrinas e previsões proféticas estabelecidas nessas mensagens. Mais recentemente, autores e pregadores adventistas estão dando ênfase renovada à tônica criacionista da primeira mensagem angélica (Ap 14:7).

Os estudiosos adventistas reconheceram que a expressão “adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar e as fontes das águas” (Ap 14:7) não reflete primariamente o relato da criação do Gênesis, mas sim o quarto mandamento do decálogo (Êx 20:11).

As três mensagens angélicas de Apocalipse 14 provavelmente sejam o conjunto mais rico e abrangente dos vislumbres doutrinários no Apocalipse, e até mesmo em toda a Bíblia. Não é de admirar que, em 1903, Ellen White falou que essas mensagens eram “as mais solenes verdades já confiadas a mortais” e que a proclamação delas era “uma obra da mais solene importância” (Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p 19).

Portanto, conforme a declaração de missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia, nossa tarefa é “fazer discípulos de Jesus Cristo que vivam como Suas testemunhas amorosas e proclamem a todas as pessoas o evangelho eterno das três mensagens angélicas, em preparação para Seu breve retorno (Mt 28:18-20; At 1:8; Ap 14:6-12)”.

Se as mensagens de Apocalipse 14 eram tão importantes para os primeiros adventistas guardadores do sábado e para as gerações seguintes de adventistas, não deveriam essas mensagens ser ainda mais relevantes para nós, que estamos muito mais próximos da segunda vinda de Cristo? Vamos acreditar nessas mensagens e proclamá-las corajosamente, porque elas são essencias também para o mundo de hoje.

Alberto Timm (via Revista Adventista)

Aos adventistas, acentuou Ellen White, “foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo a perecer”, que é a proclamação das três mensagens angélicas. “Nenhuma obra há de tão grande importância” (Testemunhos para a Igreja, v. 9, p. 19). Esse é o futuro fascinante ao qual você e eu temos sido chamados. Nossa tarefa é ajudar a concluir a grande obra de Deus, proclamando essas mensagens poderosas. Somente seremos capazes de completar qualquer coisa se confiarmos plenamente em Jesus e sua justiça, bem como no poder do Espírito Santo. Deus está preparando você e eu para algo singular e extraordinário que ocorrerá em breve: o derramamento da chuva serôdia do Espírito Santo, para que, assim, sejamos reavivados e estejamos prontos para proclamar com intrepidez essas mensagens maravilhosas!

Deus está transformando os corações daqueles que ouvem essa maravilhosa mensagem profética; aqueles que precisam tomar uma decisão ao lado de Cristo. Que privilégio comunicarmos essa mensagem profética e, humildemente, pedirmos que Deus nos reavive e nos reforme através do poder do Espírito Santo!

sexta-feira, 19 de julho de 2024

COMO GUARDAR O SÁBADO?

Reconhecemos o sábado como sinal distintivo de lealdade a Deus (Êx 20:8-11; 31:13-17; Ez 20:12, 20), cuja observância é pertinente a todos os seres humanos em todas as épocas e lugares (Is 56:1-7; Mc 2:27). Quando Deus “descansou” no sétimo dia da semana da criação, Ele também “santificou” e “abençoou” esse dia (Gn 2:2, 3), separando-o para uso sagrado e transformando-o em um canal de bênçãos para a humanidade. Aceitando o convite para deixar de lado seus “próprios interesses” durante o sábado (Is 58:13), os filhos de Deus observam esse dia como uma importante expressão da justificação pela fé em Cristo (Hb 4:4-11).

Mas o sábado deve ser guardado com alegria. Se você está bem com Deus, esse dia será de celebração. O que fazemos nas horas sagradas do sábado é um ensaio da eternidade. Não precisamos ficar presos às regras não bíblicas para guardar o sábado. Se fizermos isso, corremos o risco de agir como os fariseus no tempo de Jesus, que tornaram o sábado um fardo. Como seguidores da Bíblia, procuramos guardar o sábado da mesma forma como ele era guardado na Antiguidade, especialmente como Jesus o guardou.

A observância do sábado é enunciada em Isaías 58:13, 14 nos seguintes termos: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor.” Com base nesses princípios, reafirmamos nosso compromisso com a fidelidade à observância do sábado.

Vida de santificação. A verdadeira observância do sábado se fundamenta em uma vida santificada pela graça de Cristo (Ez 20:12, 20); pois, “a fim de santificar o sábado, os homens precisam ser santos” (O Desejado de Todas as Nações, p. 283). Reconhecemos o sábado como sinal distintivo de lealdade a Deus (Êx 20:8-11; 31:13-17; Ez 20:12, 20) 

Crescimento espiritual. Como “um elo de ouro que nos une a Deus” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 352), o sábado provê um contato mais próximo de Deus. Como tal, não devemos permitir que outras atividades, por mais nobres que sejam, enfraqueçam nossa comunhão com Deus nesse dia.

Preparação para o sábado. Antes do pôr do sol da sexta-feira (cf. Lv 23:32; Dt 16:6; Ne 13:19), as atividades seculares devem ser interrompidas (cf. Ne 13:13-22); a casa deve estar limpa e arrumada; as roupas, lavadas e passadas; os alimentos, devidamente providenciados (cf. Êx 16:22-30); e os membros da família, já prontos.

Início e término do sábado. O sábado é um dia de especial comunhão com Deus, e deve ser iniciado e terminado com breves e atrativos cultos de pôr do sol, com a participação dos membros da família. Nessas ocasiões, é oportuno cantar alguns hinos, ler uma passagem bíblica, seguida de comentários pertinentes, e expressar gratidão a Deus em oração. (Ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 356-359.)

Pessoas sob nossa influência. O quarto mandamento do Decálogo orienta que, no sábado, todas as pessoas sob nossa influência devem ser dispensadas das atividades seculares (Êx 20:10). Isso implica os demais membros da família, bem como os empregados e hóspedes; que também sejam estimulados a observar o sábado.

Espírito de comunhão. Como dia por excelência de comunhão com Deus (Ez 20:12, 20), o sábado deve se caracterizar por um prazeroso e alegre compromisso com as prioridades espirituais, com momentos especiais de leitura da Bíblia, oração e, se possível, de contato com a natureza (cf. At 16:13). Esse compromisso deverá ser mantido na escolha dos assuntos abordados também em nossos diálogos informais com familiares e amigos.

Reuniões da igreja. Somos admoestados a não deixar “de congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb 10:25). Portanto, as programações e atividades regulares da igreja aos sábados devem ter precedência sobre outros compromissos pessoais e sociais, mesmo que estes sejam pertinentes para o sábado.

Casamentos e festas. O convite para deixar de lado nossos “próprios interesses” no sábado (Is 58:13) indica que casamentos e festas, incluindo seus devidos preparativos, devem ser realizados fora desse período sagrado. Casamentos e algumas festas mais suntuosas não devem ser planejados para os sábados à noite, pois seus preparativos envolvem expectativas e atividades não condizentes com o espírito de comunhão com Deus.

Mídia secular. A mídia secular, em todas as suas formas, deve ser deixada de lado durante as horas do sábado, para que este, rompendo com a rotina da vida, possa ser um dia “deleitoso e santo” (Is 58:13).

Esportes e lazer. Muitas atividades esportivas e de lazer, aceitáveis durante a semana, não são condizentes com a observância do sábado, pois desviam a mente das questões espirituais (Is 58:13).

Horas de sono. A Bíblia define o sábado como dia de “repouso solene” (Êx 31:15), e não como dia de recuperar o sono atrasado da semana. Ricas bênçãos advirão de levantar cedo no sábado, dedicando esse dia ao serviço do Senhor. (Ver Conselhos Sobre a Escola Sabatina, p. 170.)

Viagens. A realização de viagens por questões de trabalho ou interesses particulares é imprópria para o sábado. Existem, porém, ocasiões excepcionais em que se torna necessário viajar no sábado para atender a algum compromisso religioso ou situações emergenciais. Sempre que possível, os devidos preparativos, incluindo a compra de passagens e o abastecimento de combustível, devem ser feitos com a devida antecedência. (Ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 359, 360.)

Excursões e acampamentos. A realização de excursões e acampamentos pode promover a socialização cristã (cf. Sl 42:4). Mas seus organizadores e demais participantes devem chegar ao devido local antes do início do sábado e montar sua estrutura, incluindo suas barracas, de modo que o santo dia possa ser observado segundo o mandamento. Além disso, as atividades durante as horas do sábado devem ser condizentes com o espírito sagrado desse dia.

Restaurantes e alimentação. A recomendação de que o alimento deve ser provido com a devida antecedência (Êx 16:4, 5; 22-30) significa que ele deve ser comprado fora das horas do sábado, e que a frequência a restaurantes comerciais nesse dia deve ser evitada.

Medicamentos. A compra de medicamentos durante o sábado é aceitável em situações emergenciais (cf. Lc 14:5), e imprópria quando a pessoa já os necessitava, e acabou postergando sua compra para esse dia.

Estágios e práticas escolares. O quarto mandamento do Decálogo (Êx 20:8-11) desabona a realização de atividades seculares no sábado, que gerem lucro ou benefício material. Envolvidos em tais atividades estão os programas de planejamento e preparo para a vida profissional, incluindo a frequência às aulas e a participação em estágios, simpósios, seminários e palestras de cunho profissional, concursos públicos e exames seletivos. Em caso de confinamento para a prestação de exames após o término do sábado, as horas desse dia devem ser gastas em atividades espirituais.

Escolha e exercício da profissão. A estrutura da sociedade em geral nem sempre favorece a observância do sábado, e acaba disponibilizando profissões e atividades que, embora sejam dignas, dificultam essa prática. Os adventistas do sétimo dia devem escolher e exercer profissões condizentes com a devida observância do sábado. Somos advertidos de que, se alguém, “por amor ao lucro, consente em que o negócio em que tem interesses seja atendido no sábado pelo sócio incrédulo, esse alguém é tão culpado quanto o incrédulo; e tem o dever de dissolver a sociedade, por mais que perca por assim proceder” (Evangelismo, p. 245).

Instituições de serviços básicos. A orientação de não fazer “nenhum trabalho” durante o sábado (Êx 20:10) indica que os observadores do sábado devem se abster de trabalhar nesse dia, mesmo em instituições seculares de serviços básicos. Instituições denominacionais que não podem fechar aos sábados (cf. Jo 5:17), incluindo os internatos adventistas, devem ser operadas nesse dia por um grupo reduzido e em forma de rodízio.

Atividades médicas e de saúde. Existem situações emergenciais que os profissionais da saúde devem atender, com base no princípio de que “é lícito curar no sábado” (Lc 14:3). Os hospitais adventistas necessitam dos préstimos de uma equipe médica, de enfermagem e de outros serviços básicos para o funcionamento nas horas do sábado. Mas os plantões rotineiros, tanto médicos quanto de enfermagem, em hospitais não adventistas, são impróprios para as horas do sábado. (Ver Ellen G. White Estate, “Conselhos de Ellen G. White Sobre o Trabalho aos Sábados em Instituições Médicas Adventistas e Não Adventistas”, em www.centrowhite.org.br.)

Projetos assistenciais. Cristo disse que “é licito, nos sábados, fazer o bem” (Mt 12:12). Isso significa que “toda atividade secular deve ser suspensa, mas as obras de misericórdia e beneficência estão em harmonia com o propósito do Senhor. Elas não devem ser limitadas a tempo ou lugar. Aliviar os aflitos, confortar os tristes, é um trabalho de amor que faz honra ao dia de Deus” (Beneficência Social, p. 77). Portanto, é lícito nas horas sagradas do sábado visitar enfermos, viúvas e órfãos, encarcerados e compartilhar uma refeição. Ações sociais que podem ser realizadas em outro dia não devem tomar as sagradas horas do sábado.

Atividades missionárias. O apóstolo Paulo usava o sábado para persuadir “tanto judeus como gregos” acerca do evangelho (At 18:4, 11; cf. 17:2), demonstrando a importância de se reservar um tempo especial nesse dia para atividades missionárias. Sempre que possível, os membros da família devem participar juntos dessas atividades, para desfrutar a socialização cristã e desenvolver o gosto pelo cumprimento da missão evangelística.

Como adventistas, somos convidados a seguir o exemplo de Deus ao descansar no sétimo dia da semana da criação (Gn 2:2-3; Êx 20:8-11; 31:13-17; Hb 4:4-11), de modo que o sábado seja, para cada um de nós, um sinal exterior da graça de Deus e um canal de Suas incontáveis bênçãos. Nesse tempo sagrado, Cristo fez muitas obras maravilhosas de cura, demonstrando amor às pessoas e ao Pai. Ao mesmo tempo, imperava um profundo respeito em Sua relação com o sábado. É assim que devemos nos comportar nesse dia: com alegria plena e respeitosa adoração.