terça-feira, 30 de novembro de 2021

COMPREENDEMOS O EVANGELHO?

Não há informações sobre o motivo do dia 30 de novembro ser escolhido como o Dia do Evangélico no Brasil. Após ser aprovada pela Câmara dos Deputados, a lei 12.328, que cria o Dia Nacional do Evangélico, foi sancionada em setembro de 2010.

A data é uma homenagem às pessoas que seguem as religiões evangélicas. De acordo com o Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os 86,8% brasileiros que se declararam cristãos, 22,2% disseram ser evangélicos. Já uma pesquisa Datafolha, publicada em 2020, mostrou que os evangélicos somavam 31% dos brasileiros que dizem ter religião.

O evangelho é a boa nova de Jesus, que consiste em compreender fatos históricos associados com a obra salvadora do Deus-homem e seus decorrentes benefícios. Evangélico não é apenas quem diz crer nesse conjunto de verdades: torna-se um termo mais amplo, quando pensamos na gama de tendências abrigadas sob sua nomenclatura: protestantes históricos - quer calvinistas ou arminianos, luteranos ou episcopais - e pentecostais - de todas as ondas, com diferentes ênfases, como glossolalia, exorcismo ou teologia da prosperidade e confissão positiva. O leque de opções oferecido pelo vocábulo "evangélico" é de tal amplitude que confunde mesmo.

E aqui deixo algumas perguntas para nós adventistas refletirmos nesta data:

Qual é o lugar que Cristo ocupa em nossa fé? Acreditamos que Cristo é suficiente para o perdão de nossos pecados e a salvação de nossa alma? Acreditamos que “não há salvação em nenhum outro”, que “abaixo do céu não existe nenhum outro nome dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12), a não ser Jesus Cristo? Acreditamos que Cristo é de fato “tudo em todos”? (Colossenses 3:11). Pregamos o evangelho do Cristo crucificado, ou um evangelho mesclado com obras e realizações humanas? Um evangelho no qual Cristo tem que conviver, ou quem sabe até mesmo disputar lugar com nossas próprias virtudes e atos de obediência e justiça de nossa parte?

Nos primeiros anos da história adventista, Cristo ocupava lugar de destaque em nossa fé e experiência cristã. Mas não demorou para que pouco a pouco nossos pioneiros começassem a perdê-Lo de vista, sobretudo no desejo de defender a validade da lei de Deus e em particular do quarto mandamento.

Convictos de que a verdade da lei e do sábado era a última mensagem de Deus ao mundo antes da volta de Jesus, infelizmente muitos acabaram se tornando legalistas em sua teologia e vida cristã. Eles acreditavam no sacrifício expiatório de Cristo na cruz, mas acabaram desenvolvendo o conceito de que tal sacrifício não provia perdão senão apenas para os pecados passados. Uma vez perdoados, pensavam eles, é nosso dever obedecer a Deus para que finalmente possamos herdar a vida eterna.

O pastor adventista J. F. Ballanger publicou um artigo em 1891, dizendo que, “para dar satisfação aos pecados passados, a fé é tudo. É realmente precioso o fato de que o sangue de Cristo apaga todos os nossos pecados e purifica o registro passado. Somente a fé nos faz apropriar-nos das promessas de Deus”. E ele prosseguiu: “Mas, o nosso dever atual é o que nos compete realizar”. E qual é esse “dever atual”? “Obedeça a voz de Deus e viva, ou desobedeça e morra” (Review and Herald, 20 de outubro de 1891).

Nesse contexto, Ellen White chegou a declarar:

"Como povo, temos pregado tanto a lei até estarmos tão secos como as colinas do Gilboa, que não recebiam nem orvalho nem chuva. […] Não devemos de modo algum confiar em nossos próprios méritos, mas nos méritos de Jesus de Nazaré" (Review and Herald, 11 de março de 1890).

Foi exatamente nesse contexto que dois jovens pastores adventistas, Ellet J. Waggoner e Alonzo T. Jones, apoiados por Ellen White, se levantaram na assembleia mundial da igreja de 1888, em Minneapolis (EUA). Eles enfatizavam que a justiça humana não passava de trapos de imundícia, como diz o profeta Isaías (Is 64:6), tanto antes quanto depois da conversão. Tudo era pela fé em Cristo, diziam eles. Obras de justiça humana não contam, nem antes nem depois de havermos sido justificados.

Várias vezes, Ellen White enfatizou que os adventistas em geral não compreendiam a verdade da salvação pela graça:

"Nossas igrejas estão perecendo por falta de ensino sobre o assunto da justiça pela fé em Cristo e verdades semelhantes" (Obreiros Evangélicos, p. 301).

"O inimigo de Deus e do homem não quer que essa verdade seja claramente apresentada, pois sabe que, se o povo a aceitar plenamente, o seu poder estará despedaçado" (Obreiros Evangélicos, p. 161).

"Os pastores têm de ser ensinados a se demorar mais pormenorizadamente sobre os assuntos que explicam a verdadeira conversão. […] Não há um ponto que necessite ser realçado com mais diligência, repetido com mais frequência ou estabelecido com mais firmeza na mente de todos, do que a impossibilidade de o homem caído merecer alguma coisa por suas próprias e melhores boas obras. A salvação é unicamente pela fé em Jesus Cristo" (Fé e Obras, p. 16).

"Não compreendemos o assunto da salvação. Ele é tão simples como o ABC. Mas não o compreendemos" (Fé e Obras, p. 56).

"Precisamos também de muito mais conhecimento; precisamos ser esclarecidos acerca do plano da salvação. Não existe um dentre cem que compreenda por si mesmo a verdade bíblica sobre este assunto, tão necessário ao nosso bem-estar presente e eterno. Quando começa a brilhar a luz, para tornar claro ao povo o plano da redenção, o inimigo opera com toda a diligência, para que a luz seja excluída do coração dos homens. […] Há grande necessidade de que Cristo seja pregado como única esperança e salvação. Quando a doutrina da justificação pela fé foi apresentada na reunião de Roma [Nova York], ela foi para muitos como água ao viajante cansado" (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 360).

Talvez alguns acreditem que a compreensão equivocada sobre a salvação pela graça seja um problema restrito aos primeiros cristãos e aos primeiros adventistas. Mas, em realidade, hoje a situação não é muito diferente. Uma pesquisa realizada no Unasp, campus Engenheiro Coelho, mostra que muitos adventistas estão confusos quanto à forma como somos salvos por Deus.

O questionário era formado por dez afirmações, todas erradas. Quase 500 pessoas responderam a ele, e o índice geral de erro foi de 47,5%. É verdade que uma ou outra frase pode ser mal interpretada, porque, em contextos distintos, as palavras podem ter diferentes sentidos. Mas a maioria das frases só pode ser compreendida de uma forma. Além disso, a pesquisa mostra uma tendência muito clara. Veja abaixo as dez afirmações e o índice de erro em cada uma delas.

1. Somos salvos por uma combinação de fé e obras: fé no sacrifício de Cristo e obras de obediência aos mandamentos de Deus. – 59,7%

2. Somos salvos unicamente pela fé, mas obediência aos mandamentos melhora nossa imagem diante de Deus. – 20,7%

3. A salvação é pela fé, mas para garanti-la temos que viver de modo digno diante de Deus. – 54,6%

4. Ninguém pode ter a certeza da salvação enquanto seu caráter apresentar falhas e debilidades. – 28,9%

5. Somente Jesus pode resolver o problema de nossos pecados passados, mas a solução para os pecados presentes é uma vida de obediência e santidade diante de Deus. – 55,6%

6. Justificação é o que Deus faz por nós ao nos perdoar; santificação é o que nós fazemos por Ele ao obedecermos Seus mandamentos. – 65,3%

7. Deus exige de nós perfeição, o que só é possível mediante a completa obediência à lei. – 32%

8. A justiça de Cristo aceita pela fé é nosso passaporte para o Céu, mas o visto de entrada é nossa perfeita conformidade aos mandamentos de Deus. – 61%

9. No dia do juízo, nossa absolvição ou condenação dependerá daquilo que fizemos ou deixamos de fazer. – 57,4%

10. Só serão glorificados aqueles que nesta vida alcançarem vitória sobre todos os pecados e tendências pecaminosas. – 43,8%

Nos anos posteriores a 1888, Ellen White passou a enfatizar que devemos continuar a obra da Reforma do século dezesseis (O Grande Conflito, p. 78, 148, 253; Historical Sketches, p. 249). E sabemos que o coração da Reforma Protestante foi a centralidade de Cristo e da Sua graça na obra de salvação.

Mas 133 anos depois, o evangelho de muitos de nós ainda se parece mais com o de Tomás de Aquino (teólogo medieval) do que com o de Lutero e Calvino. Em vez de aprender a lição de 1888 e avançar para a conclusão da obra, muitos de nós continuamos presos à Idade Média, crendo num evangelho muito mais católico que protestante. O seguinte conselho continua muito relevante em nossos dias:

"Exaltem a Jesus, vocês que ensinam o povo, exaltem-nO nos sermões, em cânticos, em oração. Que todas as suas forças convirjam para dirigir ao Cordeiro de Deus almas confusas, transviadas, perdidas. Ergam o ressuscitado Salvador e digam a todos quantos ouvem: Venham Àquele que ‘os amou e Se entregou a si mesmo por nós’ (Ef 5:2). Que a ciência da salvação seja o tema central de todo sermão, de todo hino. Seja ela manifestada em toda súplica. Não introduzam em suas pregações nada que seja um suplemento a Cristo, sabedoria e poder de Deus. Mantenham perante o povo a Palavra da vida, apresentando Jesus como a esperança do arrependido e a fortaleza de todo crente. Revelem o caminho da paz à alma turbada e acabrunhada, e manifestem a graça e a suficiência do Salvador" (Obreiros Evangélicos, p. 160).

Adaptado de Wilson Paroschi, “Antes e depois de Minneapolis”, Parousia, 1º e 2º semestre de 2009, p. 153-163. Disponível integralmente neste site. Via Missão Pós-Moderna.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

POBRES DE ESPÍRITO

Jesus começa as bem-aventuranças dizendo que o reino de Deus pertence aos “pobres de espírito” (Mt 5:3). No original, o termo é ptochos, que indica pobreza extrema. É óbvio que Cristo não está se referindo à classe social, nem tão pouco à pobreza material deste mundo, mas sua declaração nos leva a uma dimensão espiritual, por isso, há uma ênfase na expressão “pobres de espírito”.

Nos dias de Cristo, os guias religiosos do povo julgavam-se ricos em tesouros espirituais. A declaração de Jesus é justamente um ataque direto ao senso de autossuficiência espiritual, que impede a atuação de Deus na vida do crente. O termo ptochos também deriva de ptasso que é “humilhar-se”, “abaixar-se”. Assim, os “pobres de espírito” são pessoas humildes, que em primeiro lugar reconhecem sua pecaminosidade e se inclinam diante de Deus para serem agraciados por Ele.

Diante da maravilhosa e rica graça de Deus somos extremamente pobres. Nosso primeiro dever ao nos aproximar de Deus é reconhecer nossa condição. Como disse C. H. Spurgeon: “Para subirmos no reino é preciso rebaixarmo-nos em nós mesmos”. Aqueles que se humilham diante de Deus recebem Sua maravilhosa graça e são exaltados por Ele já no presente (1Pd 5:5 e 6), porém, acima de tudo, receberão Seu reino eterno no futuro (Mt 5:3). Por isso, bem-aventurados os humildes de espírito!

Confira abaixo a maravilhosa reflexão de Ellen G. White falando sobre o significado de "pobres de espírito" encontrada na Meditação Matinal, Perto do Céu, 2013, p. 180:

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus" (Mateus 5:3). Essas palavras de conforto proferidas por Cristo não são dirigidas ao orgulhoso, tampouco ao prepotente e presunçoso, mas àqueles que reconhecem a própria fraqueza e pecaminosidade. Os que choram, os mansos que se sentem indignos do favor de Deus e os que têm fome e sede de justiça; todos estão incluídos no termo “pobre de espírito”. 

Os pobres de espírito sentem sua pobreza, sua necessidade da graça de Cristo. Percebem que conhecem pouco a respeito de Deus e de Seu grande amor, e que precisam de luz a fim de conhecer e guardar o caminho do Senhor. Não ousam enfrentar a tentação amparados na própria força, pois sabem que não dispõem de força moral para resistir ao mal. Não encontram prazer em se lembrar de sua vida passada, e têm pouca confiança ao olhar para o futuro, pois são enfermos de coração. Para tais, Cristo diz: “Bem-aventurados os pobres de espírito.” Cristo viu que aqueles que sentem sua pobreza podem ser feitos ricos. 

Que grande privilégio se encontra ao alcance dos que sentem a pobreza de seu espírito e se submetem à vontade de Deus! O remédio para a pobreza de espírito se encontra unicamente em Cristo. Ao ser o coração santificado pela graça, ao possuir o cristão a mente de Cristo, ele tem o amor de Cristo – riquezas espirituais mais preciosas do que o ouro de Ofir. Porém, antes que possa existir o intenso desejo pela riqueza contida em Cristo, disponível a todos que sentem sua pobreza, deve existir o senso de necessidade. Quando o coração está repleto de presunção e preocupado com as coisas superficiais da Terra, o Senhor Jesus repreende e disciplina a fim de que a pessoa possa se dar conta de sua verdadeira condição. 

Achegue-se a Jesus com fé e sem demora. A provisão dEle é farta e gratuita, Seu amor é abundante, e Ele lhe concederá graça para tomar Seu jugo e levar Seu fardo com alegria. Você pode reivindicar o direito à bênção dEle em virtude de Sua promessa. Pode entrar em Seu reino, que é Sua graça, Seu amor, Sua justiça, Sua paz e alegria no Espírito Santo. Se você se sente na mais profunda necessidade, pode ser suprido com toda a Sua plenitude, pois Cristo disse: “Não vim chamar justos, e sim pecadores” (Mc 2:17). Jesus o chama.

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

ELLEN WHITE, 194 ANOS

Infância e adolescência
Ellen Gould Harmon nasceu na cidade de Gorham, estado do Maine, localizado no nordeste dos Estados Unidos, no dia 26 de novembro de 1827. Seus pais se chamavam Robert e Eunice Harmon, e Ellen e a irmã gêmea Elizabeth eram as mais novas de uma família com oito filhos. Sua educação formal foi interrompida quando ela tinha apenas nove anos de idade, por causa de um incidente que quase lhe custou a vida. No início da adolescência, Ellen e sua família aceitaram as interpretações bíblicas apresentadas pelo pregador batista Guilherme Miller. Juntamente com Miller e outras 50 mil pessoas, ela passou pelo que ficou conhecido como “Grande Desapontamento”, pois esperavam a volta de Jesus no dia 22 de outubro de 1844, a data correspondente ao fim da profecia dos 2.300 dias de Daniel 8.

Chamada por Deus
Em dezembro de 1844, Deus concedeu a Ellen a primeira de um total de cerca de 2 mil visões e sonhos proféticos. Em agosto de 1846, Ellen casou com Tiago White, um pastor com 25 anos de idade que partilhava da mesma convicção de que Ellen fora chamada por Deus para realizar a obra de um profeta. Pouco tempo depois, Ellen e Tiago passaram a guardar o sábado como o dia de descanso ordenado por Deus, de acordo com o quarto mandamento.

Família
Como mãe de quatro filhos, Ellen experimentou a dor de perder dois deles. Herbert morreu com poucas semanas de vida e Henry com 16 anos. Os outros dois filhos, Edson e William, se tornaram pastores adventistas.

Os escritos
Durante sua vida, escreveu mais de 5 mil artigos e 49 livros. Após sua morte, mais de 70 obras foram compiladas e publicadas com textos ainda inéditos em sua maioria. Mais de 150 livros estão disponíveis em inglês, e cerca de 110 em português. Ellen G. White é a escritora mais traduzida em toda a história da literatura. Seus escritos abrangem uma ampla variedade de temas, incluindo religião, educação, saúde, relações sociais, administração, música e liderança. Seu best-seller sobre vida cristã, Caminho a Cristo, já foi publicado em mais de 150 idiomas. (Acesse aqui sua obra)

Comunicadora
Apesar de certa relutância e timidez inicial, Ellen White se tornou uma comunicadora bem conhecida nos Estados Unidos, na Europa e na Austrália. Ela era convidada a falar não apenas em reuniões adventistas, mas também para o público em geral. Era muito requisitada principalmente para falar sobre temperança. Em 1876, ela falou para seu maior auditório – estimado em 20 mil pessoas – em Groveland, Massachusetts, durante mais de uma hora, e naquele tempo não havia microfone.

A mensagem de saúde
Em sua visão de 6 de junho de 1863, Ellen White recebeu instruções sobre assuntos relacionados à saúde, como o uso de drogas, tabaco, chá, café, alimentos de origem animal e a importância de atividades físicas, luz solar, ar puro e regime alimentar equilibrado. Seus conselhos sobre saúde, fundamentados nessa e nas demais visões, têm ajudado os adventistas a desenvolver um estilo de vida que lhes dá em média sete anos a mais de longevidade do que as pessoas em geral.

Leitora voraz
Ellen White lia muito. Ela descobriu que ler outros autores não apenas solidificava sua cultura, mas também a ajudava a apresentar em seus escritos os princípios da verdade a ela revelados em visão. Além disso, às vezes, o Espírito Santo a impressionava a citar em seus artigos ou livros verdadeiras joias literárias extraídas de outros autores. Ela jamais se considerou infalível nem colocava seus escritos em nível de igualdade com a Bíblia, mas cria firmemente que suas visões tinham origem divina e que seus artigos e livros eram produzidos sob a direção do Espírito de Deus. Evangelista por natureza, sua principal preocupação era a salvação das pessoas.

Generosidade
Ellen White era extremamente generosa e dava bom exemplo de cristianismo prático. Durante anos, ela mantinha em casa pedaços de tecido para fornecer a alguma mulher que estivesse necessitando de pano para fazer um vestido. Em Battle Creek (onde morava), ia a leilões para comprar móveis usados, que ela guardava para doar a vítimas de calamidades, como incêndios. Numa época em que ainda não existiam planos de aposentadoria, sempre que ouvia falar de algum pastor idoso que estava precisando de ajuda financeira, ela não hesitava em lhe enviar algum dinheiro, a fim de socorrê-lo naquela emergência.

Sua obra
Ellen White faleceu no dia 16 de julho de 1915. Durante 70 anos, ela apresentou fielmente as mensagens que Deus lhe confiou para Seu povo. Ela jamais foi eleita para alguma função administrativa na igreja, mas seus conselhos eram sempre ouvidos pelos líderes denominacionais. Suas mensagens colocaram em ação as forças que resultaram no amplo sistema educacional adventista, presente em todo o mundo, desde creches até universidades. Embora ela nunca tenha feito cursos na área de saúde, os resultados de seu ministério são notáveis na rede de hospitais adventistas, clínicas e outras instituições médicas presentes em todo o mundo. Ela não foi formalmente ordenada para a atividade pastoral, mas sua obra causou um impacto espiritual sem precedentes na vida de milhões.

Influência permanente
Em novembro de 2014, Ellen G. White foi incluída em uma lista com os nomes dos 100 norte-americanos mais influentes de todos os tempos. A listagem é um trabalho da Smithsonian Magazine. Ainda hoje, os livros de Ellen White continuam a ajudar as pessoas a encontrar o Salvador, aceitar Seu perdão, partilhar essas bênçãos com os outros e viver na expectativa do cumprimento da promessa do breve retorno de Cristo.

terça-feira, 16 de novembro de 2021

DIA INTERNACIONAL DA TOLERÂNCIA

É paradoxal que a tolerância, uma virtude tão imprescindível em nossos tempos, não desfrute ultimamente de boa saúde. Embora o relativismo esteja no auge e nossa sociedade parece mais diversa do que nunca, percebe-se ao mesmo tempo uma forte sensação de tensão social. A violência, o fanatismo, o extremismo, a discriminação, tudo isso demonstra a intolerância que nos envolve.

Cientes desse fato, os países membros da Unesco adotaram, em 1995, uma Declaração de Princípios sobre a Tolerância, considerando-a “uma necessidade para a paz e para o progresso econômico e social de todos os povos”.[1] Essa declaração foi assinada no dia 16 de novembro e, desde então, a cada ano, nessa data, é celebrado o Dia Internacional para a Tolerância.

Permitam-me ser franco, embora tenhamos a tendência de pensar que os outros são o problema: todos podemos ser intolerantes. A intolerância não é patrimônio exclusivo de um grupo ou de uma ideologia. Há jovens e idosos intolerantes, indoutos e instruídos, conservadores e liberais. Há intolerantes contra a religião e há também entre os religiosos.

Porém, isso não deveria ser assim entre os cristãos. Fomos chamados para transmitir e viver uma mensagem de tolerância. Em sua Carta sobre a tolerância,[2] uma obra imprescindível sobre o tema, o filósofo inglês John Locke utiliza os ensinos do evangelho para fundamentar a necessidade da tolerância. Ele raciocina que se, mesmo tendo a possibilidade de fazê-lo, Jesus decidiu não impor a religião, então muito menos devem fazê-lo a Igreja e o Estado. Locke é conhecido como o pai do liberalismo clássico e suas ideias sobre a tolerância influenciaram notadamente nossa noção moderna de liberdade religiosa e de consciência.

Contudo, os cristãos nem sempre são destacados por seu espírito tolerante. Possivelmente isso se deva, em parte, a uma compreensão errônea do que é a sã tolerância. Tolerância não é o equivalente à indiferença. Nem tampouco é indulgência diante do erro. Pelo contrário, baseia-se no reconhecimento de que, a despeito de nossas diferenças, com nossos acertos e erros, todos temos valor e todos somos iguais em dignidade e direitos. A tolerância, bem compreendida, nunca parte da superioridade.

Gostaria de destacar três ideias que subjazem ao conceito de tolerância assim concebido. A primeira é que nenhuma pessoa tem o monopólio da verdade. Naturalmente, todos acreditamos (e até mesmo, às vezes, sabemos) que temos razão. Mas uma coisa é acreditarmos de todo coração que estamos certos e outra, muito diferente, é pensar que como seres humanos temos toda a verdade, que o outro não tem razão em nada, ou que não há margem para que possamos estar equivocados em algo. O simples fato de admitir essa possibilidade deveria gerar em nós uma sensação de humildade e de tolerância para com os demais. Como Jesus deixou claro, todos temos ao menos um cisco, quando não uma viga, nos olhos.[3]

Mas mesmo que não fôssemos capazes de reconhecer nenhuma possibilidade de erro pessoal ou de acerto dos demais, ainda há espaço para a tolerância. Ou dizendo de forma melhor, é aí onde realmente o espírito tolerante é demonstrado. Como Evelyn Hall faz Voltaire dizer: “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê–lo”.[4] A tolerância assim entendida não é apenas suportar condescendentemente o erro alheio. Antes, é o respeito às ideias e às crenças dos demais que são diferentes e até mesmo contrárias às nossas.

Por último, a tolerância é uma demonstração do amor ao próximo. O apóstolo Paulo nos chama a ter “tolerância pelas faltas uns dos outros por causa do amor”,[5] e ao falar da tolerância somos lembrados que o amor “é o vínculo da perfeição”.[6] Por esse motivo, não deveria ser difícil aos cristãos compreenderem o valor da tolerância. Temos um Deus que, a despeito do que somos e do que fazemos, não apenas nos “suporta”, mas nos ama. Um Deus que ama incondicionalmente. Não há melhor exemplo de sã tolerância do que esse.

Referências

[1] Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, “Declaração de Princípios sobre a Tolerância”, Paris, 1995. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001315/131524porb.pdf.

[2] Locke, John. Carta Sobre La Tolerancia. Barcelona: Grijalbo, 1975.

[3] Lucas 6:41-42.

[4] Tallentyre, S. G. The Friends of Voltaire. London: Smith, 1906. 176-205.

[5] Efésios 4:1-3, BV.

[6] Colossenses 3:11-14, RA.

Juan Martin Vives (via ASN)

"Todas as relações da vida pedem o exercício do domínio próprio, da paciência e simpatia. Nós diferimos tanto em disposição, hábitos, educação, que variam nossas maneiras de ver as coisas. Julgamos diversamente. Nossa compreensão da verdade, nossas idéias quanto à conduta na vida, não são idênticas em todos os respeitos. Não há duas pessoas cuja experiência seja a mesma em todos os particulares. As provações de uma não são as da outra. Os deveres que uma pessoa acha leves, são para outra os mais difíceis e embaraçosos" (Ellen G. White - Conselhos sobre a Escola Sabatina, p. 102).

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

DEUS SOFRE?

Pouco depois da morte dos apóstolos, o cristianismo começou a ser influenciado pelos ensinos de filósofos gregos pré-cristãos, especialmente Platão e Aristóteles. Por isso, os teólogos cristãos passaram a descrever Deus como desprovido de emoções, autossuficiente e incapaz de sofrer. Deus passou a ser visto como Alguém que não Se interessa por nada fora de Si mesmo e que não pode ser afetado por nada.1

Essa idéia de um Deus impassível (sem emoções) prevaleceu entre os cristãos até o século 19, quando alguns começaram a defender uma compreensão mais bíblica sobre Deus. Uma notável diferença entre o ensino bíblico e a filosofia grega é que, segundo as Escrituras, Deus experimenta emoções, como sofrimento, tristeza e angústia.2

Deus sofre? - Sem dúvida, uma consequência inevitável da capacidade de amar é a possibilidade de sofrer. E, visto que Deus ama profundamente os seres humanos, é impossível que nossa maneira de viver deixe de afetá-Lo intensamente. Quando vivemos em harmonia com os ideais de Deus para nós, proporcionamos-Lhe alegria. Por outro lado, quando recusamos ser dirigidos por esses ideais, causamos a Deus intenso sofrimento.

Vários estudiosos também percebem essa relação direta entre a habilidade de amar e a capacidade de experimentar o sofrimento. Por isso, "defendem que a ausência de sofrimento por parte de Deus seria incompatível com Seu perfeito amor".3

Quando vamos às Escrituras, uma das mais claras referências ao sofrimento divino está em Gênesis 6:6. Ao falar sobre o pecado dos antediluvianos, o texto afirma: "Então, Se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na Terra, e isso Lhe pesou no coração." Outras versões bíblicas dizem que "isso cortou-Lhe o coração" (Nova Versão Internacional) e que Deus "teve o coração ferido de íntima dor" (Bíblia Fácil, Centro Bíblico Católico). Além disso, Isaías 63:9 declara que, em toda a aflição do povo de Israel, Deus "também Se afligiu" (Nova Versão Internacional).

Por que Deus sofre? - Antes de responder a essa pergunta, precisamos entender que a causa do sofrimento divino se encontra totalmente fora de Deus. Ele não possui nenhum defeito ou imperfeição em Si mesmo que possa levá-Lo a sofrer, nem realiza quaisquer ações capazes de Lhe trazer aflição. Entre as causas do sofrimento de Deus, estão as seguintes:

1. O sofrimento de Cristo. Deus, o Pai, sofreu com Jesus, especialmente durante a agonia que Ele experimentou nos momentos antes de Sua crucificação. Nas palavras de Ellen G. White, Deus "sofreu com Seu Filho. Na agonia do Getsêmani, na morte no Calvário, o coração do amor infinito pagou o preço da nossa redenção".4

2. A existência do mal e as consequências do pecado. Deus Se preocupa com a devastação provocada pelo pecado na vida de Suas criaturas. Pais humanos se sentem profundamente tristes ao ver um filho se destruir pelo uso de drogas. Mas, sem dúvida, Deus sofre muito mais ao contemplar as consequências destrutivas do pecado nos seres humanos. Wade Robinson declara: "A vida de Deus é um contínuo sofrimento. Sua mente pura não pode existir na presença do mal sem experimentar intensa aflição."5 De acordo com Ellen G. White, "durante longos séculos, Deus suportou a angústia de contemplar a obra do mal".6

3. O fracasso humano em atingir o ideal de Deus. Ellen G. White afirma: "O amor divino derrama lágrimas de angústia devido a seres humanos formados à semelhança do Criador, mas que não aceitam Seu amor e se recusam a ser restaurados à imagem divina."7 A mesma escritora afirma que "cada ação de crueldade, cada fracasso da natureza humana para atingir Seu ideal, traz-Lhe pesar".8

4. Simpatia por toda a dor e sofrimento humano. Se "Deus é amor" (1Jo 4:8,16), então Ele sente a dor e a angústia dos seres humanos. Ele não contempla o sofrimento humano como um espectador distante, insensível e desinteressado, mas participa de todo o sofrimento do mundo. Com a mais profunda simpatia, sofre por todos, individualmente. A dor, angústia e tristeza de cada um se tornam as dEle.

Paul Little afirma: "Deus não é um soberano distante, indiferente, impenetrável, afastado de Seu povo e do sofrimento dele. Deus não apenas está consciente do sofrimento, mas o sente. Por mais que possamos sofrer, precisamos nos lembrar de que Deus é o grande sofredor."9 Ellen G. White diz que "Jesus garante a Seus discípulos a simpatia de Deus para com eles em suas necessidades e fraquezas. Nenhum suspiro se desprende, nenhuma dor é sentida, desgosto algum magoa o coração, sem que sua vibração se faça sentir no coração do Pai".10

5. A destruição final dos não arrependidos. A eliminação dos não arrependidos, no juízo final, será o momento da mais intensa aflição de Deus. Às vezes, penso que essa aflição provocará em Deus um sentimento eterno de vazio de cada pessoa que se perder.

Por que isso é importante? - O seguinte texto de Ellen G. White resume muito bem o que dissemos até aqui: "Poucos tomam em consideração o sofrimento que o pecado causou a nosso Criador. Todo o Céu sofreu com a agonia de Cristo; mas esse sofrimento não começou nem terminou com Sua manifestação em humanidade. A cruz é uma revelação, aos nossos sentidos embotados, da dor que o pecado, desde o seu início, acarretou ao coração de Deus."11 O sofrimento divino existirá durante todo o período em que o pecado estiver presente, mas haverá um dia em que ambos chegarão ao fim.

Neste momento, surge a pergunta: Qual é a importância prática de tudo isso para os seres humanos em geral, e para os cristãos em especial? A resposta para essa pergunta inclui várias linhas de pensamento:

1. O sofrimento de Deus é uma consequência da presença do mal no mundo. Portanto, os cristãos devem fazer todo o possível, com a ajuda divina, para apressar o dia em que o mal e o sofrimento serão eliminados do Universo.

2. Ao contemplar as consequências destrutivas do pecado na vida dos seres humanos, Deus experimenta grande sofrimento. Então, pelo poder do Espírito Santo, devemos nos afastar daquilo que é contrário à vontade de Deus. Pastores, professores e pais devem buscar persuadir, respectivamente, membros da igreja, estudantes e filhos a evitar o pecado.

3. Como a eliminação final dos não arrependidos será a ocasião de maior sofrimento para Deus, os cristãos devem fazer todo o possível para conduzir homens e mulheres à salvação. Precisamos proclamar a mensagem do evangelho de forma atrativa, e isso inclui apresentar uma perspectiva correta sobre Deus (Suas emoções) e uma perspectiva realista sobre a humanidade (os efeitos do pecado).

4. Sendo que Deus simpatiza com o sofrimento do mundo, os seres humanos podem ter a certeza de que, em cada momento de angústia, o grande Deus também sente a dor deles e procura confortá-los. Essa certeza traz consolo e paz ao coração.

5. Crer que Deus sofre devido à presença do mal no mundo nos ajuda a entender o antigo problema da teodiceia. (Teodiceia é a tentativa de justificar Deus como um Deus de amor diante da existência do mal e do sofrimento.) O conceito de que Deus realmente pode sofrer é um componente importante de qualquer resposta válida a esse problema.12 Mesmo crendo que Deus é amor, podemos entender a presença do mal e do sofrimento ao saber que Ele compartilha desse sofrimento.

6. As Escrituras ensinam que Deus criou Seus filhos com livre-arbítrio, capazes de provocar-Lhe intenso sofrimento quando utilizam a liberdade de forma equivocada. Isso é um testemunho irrefutável não apenas do infinito amor de Deus pelos seres humanos, mas também de nosso valor e importância para Ele.

Walter M. Booth (via Revista Adventista)

Referências

1. Veja Christopher Stead, A Filosofia na Antigüidade Cristã (São Paulo: Paulus, 1999).

2. Veja Fernando L. Canale, "Doutrina de Deus", em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, ed. Raoul Dederen (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira).

3. H. P. Owen, Concepts of Deity (Londres: Macmillan, 1971), p. 144.

4. Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 13, 14.

5. Wade Robinson, The Philosophy of the Atonement and Other Sermons (Londres: J. M. Dent & Sons, 1912), p. 46.

6. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 72.

7. ______, The Spirit of Prophecy (Battle Creek, MI: Seventh-day Adventist Publrshing Association, 1878), v. 3, p. 123.

8. ______, Educação, p. 263.

9. Paul E. Little, Know Why You Believe (Downer"s Grove, IL: Inter Varsity Press, 1988), p. 138, 139.

10. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 356.

11. ______, Educação, p. 263.

12. Warren McWilliams, The Passion of God: Divine Suffering in Contemporary Protestant Theology (Macon, GA: Mercer University Press, 1985), p. vii.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

RECADO URGENTE PARA UM MUNDO SURDO

Não consigo pensar em surdez sem lembrar de Efatá. A palavra usada por Jesus ao realizar o milagre na vida de um surdo em Decápolis. O livro de Marcos nos conta que Jesus olhou para os céus e pronunciou essa palavra em aramaico que significa: Abre-te! Desimpedidos imediatamente os ouvidos que estavam tapados. Imagino o clamor aos céus na voz de Cristo quando da execução desse milagre.

Imagino que a mistura de clamor aos céus e angústia por aquela vida seja o sentimento atual que Jesus tenha em relação aos homens. Estamos todos surdos. O mundo se tornou um lugar de narrativas ensurdecedoras.

Narrativas
A palavra narrativa aqui representa uma leitura da vida e da realidade que é expressa em nossa visão de mundo, atitudes e comunicação. No entanto, essa leitura da vida é subjetiva, e cada um enxerga a vida como prefere.

A internet permitiu que as preferências de muitos se encontrassem. Mas a internet também permitiu que aquilo que não é preferido também fosse encontrado. Assim, com base em preferências, comumente sustentadas por fatos reais e não verdadeiros, nós nos alinhamos com quem concordamos e conflitamos com quem não comunga de nossos ideais.

Como a base dessa divisão está nas preferências individuais, empoderadas por meias-verdades e boas intenções de ambos os lados, essa divisão é perfeita. Acabamos nos ensurdecendo voluntariamente para aquilo que não é nossa visão.

Tapar os ouvidos
E nada pode ser mais perigoso do que tapar os próprios ouvidos. Porque ficamos presos em nós mesmos, seres pecadores que confiam nos próprios ideais. Com a porta de entrada fechada para aquilo que é diferente, revelador ou novo, ficamos travados num estado terrível, visto que nenhum de nós é perfeito. Ao contrário, somos todos injustos e maus.

Entretanto, o perigo é bem pior do que nós imaginamos, e vai muito além do que uma simples questão de preferência. Essa atitude sozinha pode inviabilizar a eternidade para nós. Mas deixe-me aprofundar.

O cristianismo passou séculos apresentando a graça de Cristo por meio do Seu sacrifício em nosso favor. Aprendemos que Deus está disposto a perdoar qualquer um, inclusive os piores de nós. Entendemos que no Reino de Deus o perdão é dez vezes infinito x infinito (70×7). E que “nada pode nos separar do amor de Deus” (Romanos 8:38-39). Portanto, não há quem possa me impedir de receber a salvação em Cristo e nada que eu possa fazer que seja maior que a graça de Jesus. Estas são verdades cristãs.

No entanto, há inúmeros momentos na Bíblia onde vemos Deus chegando a um limite. Acontece quando Ele destrói o mundo por um dilúvio, quando destrói Sodoma e Gomorra, quando devasta o Egito, quando devasta as terras canaanitas. Ou quando morrem Hofni e Finéias, os filhos de Eli, Coré, Datã e Abirão, o Espírito é retirado de Saul e quando morrem Ananias e Safira no Novo Testamento. Só para nomear alguns. Todos casos, em que tanto para nós quanto para Deus algum limite foi atingido, e o Senhor teve de pôr fim àquelas histórias. Sabemos, também, que um dia Deus dará um fim a todo o mal, indicando claramente que Ele tem sim um limite para o mal.

Limites
Temos um paradoxo aqui ou uma contradição? Nem um, nem outro. Na verdade, o que nos confunde é o fato de que todos esses casos nos parecem absurdos demais porque nosso limite é bem mais curto. Afinal de contas, somos limitados, e essa é a dimensão máxima que nossa consciência consegue chegar. Mas Deus perdoou absurdos ultrajantes de Davi e Pedro, por exemplo. Limites, inclusive que, se eu fosse o juiz, não cruzaria visto que sou tão limitado. Mas Ele foi além do que eu imaginava. Morreu por todos nós. E tem cada um de nós que eu vou te falar, hein!

Falta uma peça para entender esse quebra-cabeça. Liberdade. Deus nos deu liberdade de escolha. Ao ponto de se permitir ser rejeitado e negado por nós. Por esse motivo, ninguém vai para o céu se não quiser, ninguém será obrigado a viver eternamente e nem será obrigado a amar a Deus. Aqueles que decidirem assim terão seus desejos concedidos. E Deus não violará nossa liberdade. Então cabe a pergunta: “Até quando Deus cortejará o ser humano? Até quando Ele cortejará um indivíduo? Até quando Ele tentará convencê-lo a uma vida eterna?” Deus não pode insistir para sempre. Em algum momento Ele terá de deixar que a decisão tomada siga seu curso, porque isso é o justo num ambiente de liberdade. No universo de Deus as pessoas têm o direito de dizer: “CHEGA! EU NÃO QUERO MAIS SABER! EU NÃO QUERO NEM OUVIR!” (enquanto tapa seus ouvidos).

Escolhas
Deus respeita nossa escolha. E quando nossa escolha, a despeito de todas as tentativas de Deus é decidida, voluntária e determinada, Ele permitirá sua decisão. E isso é o pecado contra o Espírito Santo: Deixar de ouvi-Lo. Fica mais claro quando entendemos melhor as palavras de Jesus: “se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir” (Mateus 12:32). Entendemos a palavra “contra” como se fosse uma ofensa ao Espírito Santo, mas a noção aqui está mais para falar contra o que Ele diz. Falar por cima daquela voz com a sua própria voz, falar contra o que ela está dizendo, desafiar a voz, cantar alto tra-lá-lá-lá-lá enquanto tampa os ouvidos. Acho que uma imagem vai dizer mais.

Nesse caso, não há como haver perdão, simplesmente porque o perdão está sendo frontalmente confrontado. Ir além disso seria quebrar a liberdade, trair a verdade, agir com injustiça. Assim, Deus cessa de falar a estes, e o perdão não poderá mais ser outorgado. Por isso haverá um tempo em que Deus dirá aos homens: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda” (Apocalipse 22:11). Não é um ato de cansaço, de cruzamento do limite do amor de Deus, é justiça com aquele que escolheu. E não há mais nada que Deus possa fazer. Imagine um pai que vê seu filho destruir a própria vida por decidir não dar ouvidos. Essa é a dor de Deus. Não é Deus que não é capaz de perdoar, mas eles decidiram rejeitar. O assustador é que Apocalipse está nos informando que chegará um dia em que todos os que não ouviram a voz de Deus, se ensurdecerão a tal ponto. E naquele dia Deus aceitará a escolha de tantos.

Sendo assim, nos casos que citamos de destruição divina, a misericórdia de Deus se manifestou com o mundo da época e com as próprias pessoas envolvidas quando Ele lança destruição sobre elas. Elas chegaram ao seu próprio limite de escutar, e cruzaram esta linha. Dali para frente nenhum esforço traria sucesso. Deus sabe o fim desde o começo. E para aqueles que já não ouvem mais, não resta mais graça, e o mundo será uma dor a eles ou eles causarão dor no mundo. Não foi Deus quem chegou no limite, eles que se limitaram a não ouvir mais.

Entende agora? As narrativas que hoje nos dividem, solidificam nosso pensamento e tapam nossos ouvidos. É um treinamento para Apocalipse 22:11. Nós nos cercamos do que concordamos e rejeitamos ouvir outros argumentos. A política e as ideologias motivadas por nosso egoísmo travestido de amor e boas intenções estão nos atropelando. Os efeitos na fé são nítidos. Irmãos divididos, igrejas divididas, partidos se alastrando em nossas cabeças, famílias divididas, amizades desfeitas, o completo contrário de uma igreja em “um acordo” (Atos 2:1) que receberá a chuva serôdia. E estamos exatamente no tempo em que ela deveria receber esta chuva. No mínimo uma “coincidência”.

Ou, se eu fosse o diabo, e soubesse que há um “pecado imperdoável” (agora você entende por que se chama assim) eu trabalharia para jogar a humanidade nele, porque esse seria o esforço definitivo.

“Basta que eles não consigam mais ouvir então? Hmmm! Nesse caso: Encham eles de teorias, usem as mentes mais brilhantes, façam com que acreditem em meias verdade, envolvam elas com amor para garantir que eles se tornem pequenos ditadores da ‘verdade e do bem’, conte histórias ridículas, extraordinárias e longas para entretê-los, crie mil camadas de compreensão, ocupe a mente e feche qualquer abertura. Diga-lhes que só ouçam a voz interna, chame-a de ‘voz do coração’. Aproveite a natureza caída e valide suas lógicas internas. Use suas necessidades pessoais para justificar o egoísmo. Validem suas ideias trazendo mais gente que concordem com eles para perto. Chame quem se opõe ao pensamento deles de inimigo. Enfim, deixem-nos surdos. Será suficiente!”

Estamos cada vez mais surdos. Os algoritmos estão lá fazendo o trabalho sujo de acabar com os diálogos, com as conversas, com a abertura. E o risco vai muito além da escolha do próximo presidente, esta além de questões econômicas, além das batalhas de superação pessoal, o risco é viver ouvindo apenas a si mesmo, e deixar de ouvir o que mais tem de ser ouvido! Acredito que se hoje Jesus fosse escrever um Tweet ou um post nas redes sociais, acho que Ele digitaria Seu mais profundo clamor: Efatá!

Diego Barreto (via O Reino)

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

OS 7 PECADOS CAPITAIS

Os conceitos incorporados no que se conhece hoje como os sete pecados capitais tratam de uma classificação de condições humanas conhecidas atualmente como vícios, que precedem o surgimento do cristianismo, mas que foram usadas mais tarde pelo catolicismo com o intuito de educar os seguidores, de forma a compreender e controlar os instintos básicos do ser humano e assim se aproximar de Deus.

A lista final, apresentada no século XIII, é a versão aprimorada de uma primeira versão, datada do século IV. Todo esse esforço em descrever defeitos de conduta tinha um motivo: facilitar o cumprimento dos Dez Mandamentos. O termo “capital” deriva do latim caput, que significa cabeça, líder ou chefe, o que quer dizer que as sete infrações, segundo a tradição católica, são as “líderes” de todas as outras. A Bíblia não diz isso, mas concorda que são pecados e devem ser evitados.

Vejamos a definição de pecado para Ellen G. White: "Que há de levar o pecador ao reconhecimento de seus pecados a não ser que ele saiba o que é o pecado? A única definição de pecado na Palavra de Deus nos é dada em 1 João 3:4: 'Pecado é o quebrantamento da Lei.' É preciso fazer o pecador sentir que é um transgressor. Cristo a morrer na cruz do Calvário atrai-lhe a atenção. Por que morreu Cristo? Porque era o único meio de salvar o homem. ... Ele tomou sobre Si nossos pecados a fim de poder creditar Sua justiça a todos quantos nEle cressem. ... A bondade e o amor de Deus levou o pecador ao arrependimento para com Deus e fé para com nosso Senhor Jesus Cristo. O pecador despertado... é encaminhado para a lei que transgrediu. Ela o chama ao arrependimento, todavia não há propriedade salvadora na lei para perdoar a transgressão da lei, e seu caso parece desenganado. A lei, porém, atrai-o a Cristo. Embora profundos seus pecados de transgressão, o sangue de Cristo pode purificá-lo de todo pecado" (Nossa Alta Vocação, p. 136).

A Igreja Católica até tentou oferecer soluções para os pecados capitais, criando uma lista de sete virtudes fundamentais – humildade, disciplina, caridade, castidade, paciência, generosidade e temperança -, mas os pecados acabaram ficando mais famosos. A Bíblia define pecado e virtude como as obras da carne e as obras do espírito. Eles estão bem definidos em Gálatas 5:16-25. Em Gálatas 5:19-21 fala sobre as obras da carne e segue uma série de exemplos tais como, bebedice, orgias e coisas semelhantes a estas (inclua aí a glutonaria), bem como prostituição (inclua a prostituição espiritual, ou seja, o deixar a Deus e Sua vontade para nós), impureza, lascívia, idolatria, facções, feitiçarias, inimizades, invejas, porfias, etc. Todos os que praticam as obras da carne, Paulo previne no versículo 21, não herdarão o reino de Deus.

A seguir, confira os pecados capitais segundo a Bíblia e sob a ótica de Ellen G. White:

1. Gula
"Não estejas entre os bebedores de vinho nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão caem em pobreza; e a sonolência vestirá de trapos o homem" (Pv 23:20-21).

"Sobrecarregar o estômago é um pecado comum, e quando se usa demasiado alimento, todo o organismo é sobrecarregado. A vida e vitalidade, em vez de aumentar, diminuem. É assim como Satanás planeja. O homem utiliza suas forças vitais no desnecessário trabalho de cuidar de excesso de alimentos. Por tomar demasiado alimento, não apenas gastamos descuidadamente as bênçãos de Deus, providas para as necessidades da natureza, mas causamos grande dano a todo o organismo. Contaminamos o templo de Deus, que é enfraquecido e mutilado; e a natureza não pode fazer o seu trabalho bem e sabiamente, como Deus designara que fosse. A Palavra de Deus coloca o pecado de glutonaria na mesma categoria que a embriaguez. Os que isto fazem não são cristãos, não importa quem sejam ou quão exaltada seja sua profissão de fé. Comer demais é o pecado deste século" (Conselhos sobre o Regime Alimentar, pp. 131-142).

2. Avareza
"Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores" (1Tm 6:10).

"Não deves ser avarento, mas honesto contigo mesmo e com teus irmãos. A avareza é um abuso das beneficências de Deus. Seja qual for a vossa vocação ou posição, se acariciardes o egoísmo e a cobiça, sobre vós recairá o desagrado do Senhor. Não façais da obra e da causa de Deus uma desculpa para tratar de maneira avara e egoísta com qualquer pessoa, mesmo que estejais fazendo um negócio que se relacione com Sua obra. Deus não aceita coisa alguma no sentido de ganho que seja levado para o Seu tesouro por meio de transações egoístas" (Conselhos sobre Mordomia, p. 145).

3. Luxúria
"Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos" (Ef 5:3).

"Os pecados que atraíram a vingança sobre o mundo antediluviano, existem hoje. Aquilo que em si mesmo é lícito, é levado ao excesso. Multidões não se sentem sob qualquer obrigação moral de reprimirem seus desejos sensuais, e tornam-se escravos da luxúria. Os homens estão vivendo para os prazeres dos sentidos, para este mundo e para esta vida unicamente. A extravagância invade todas as rodas da sociedade. A entrega de todas as faculdades a Deus, simplifica grandemente o problema da vida. Enfraquece e abrevia milhares de lutas com as paixões do coração natural" (Patriarcas e Profetas, p. 62).

4. Ira
"Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes; certamente, isso acabará mal" (Sl 37:8).

"Os que, a qualquer suposta provocação, se sentem em liberdade de condescender com a zanga ou o ressentimento, estão abrindo o coração a Satanás. Amargura e animosidade devem ser banidas da alma, se queremos estar em harmonia com o Céu. Se condescendermos com a ira, a concupiscência, a cobiça, o ódio, o egoísmo ou outro pecado qualquer, tornamo-nos servos do pecado. Muitos consideram as coisas pelo seu lado mais escuro; engrandecem suas supostas ofensas, nutrem a ira, e são tomados de sentimentos de vingança e ódio, quando em verdade não tinham causa real para esses sentimentos. Resisti a esses sentimentos errados, e experimentareis grande mudança em vossas relações com os semelhantes" (Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, pp. 516-523).

5. Inveja
"O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos" (Pv 14:30).

"A inveja não é meramente uma perversidade do gênio, mas uma indisposição que perturba todas as faculdades. Começou com Satanás. Ele desejou ser o primeiro no Céu e, como não alcançasse todo o poder e glória que buscava, rebelou-se contra o governo de Deus. Invejou nossos primeiros pais, tentando-os ao pecado, e assim os arruinou, e a todo o gênero humano. O invejoso fecha os olhos às boas qualidades e nobres ações dos outros. Está sempre pronto a desprezar e representar falsamente aquilo que é excelente. Os homens muitas vezes confessam e abandonam outras faltas; do homem invejoso, porém, pouco se pode esperar. Visto como invejar a alguém é admitir que ele é superior, o orgulho não tolerará nenhuma concessão. O invejoso espalha veneno aonde quer que vá, separando amigos, e suscitando ódio e rebelião contra Deus e o homem. Procura ser considerado o melhor e o maior, não mediante heroicos e abnegados esforços por alcançar ele mesmo o alvo da excelência, mas sim ficando onde está e diminuindo o mérito dos outros" (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 19).

6. Preguiça
"O que trabalha com mão preguiçosa empobrece, mas a mão dos diligentes vem a enriquecer-se" (Pv 10:4).

"Foi-me mostrado que muito pecado é resultado da preguiça. Mãos e mentes ativas não acham tempo para dar ouvidos a toda tentação sugerida pelo inimigo; as mãos e os cérebros ociosos, porém, estão sempre em condições de ser controlados por Satanás. Quando não devidamente ocupada, a mente demora-se em coisas impróprias. É vil preguiça o que faz com que criaturas humanas olhem com desprezo os simples deveres diários da vida. A recusa a cumpri-los produz uma deficiência mental e moral que há de ser vivamente sentida algum dia. Em algum tempo, na vida do preguiçoso, sua deformidade aparecerá claramente definida. No registro de sua vida, acham-se escritas as palavras: Um consumidor, mas não produtor. Jamais poderemos ser salvos na indolência e inatividade. Não há pessoa verdadeiramente convertida que viva vida inútil e ociosa. Não nos é possível deslizar para dentro do Céu. Nenhum preguiçoso pode lá entrar. Quem recusa cooperar com Deus na Terra, não cooperaria com Ele no Céu. Não seria seguro levá-los para lá" (Conselhos para a Igreja, p. 197).

7. Soberba
"A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda" (Pv 16:18).

"A soberba é um terrível aleijão no caráter. 'A soberba precede a ruína'. Isto é verdade na família, na igreja e na nação. O Redentor nos adverte contra a soberba da vida, mas não contra sua graça e natural beleza. Sempre que a ambição e o orgulho são tolerados, a vida é maculada; pois o orgulho, não sentindo necessidade, cerra o coração para as bênçãos infinitas do Céu" (Profetas e Reis, p. 60).

Concluímos com esta declaração de Ellen G. White: "Deus não observa todos os pecados como sendo de igual magnitude. Há graus de culpabilidade a Seus olhos tanto quanto aos olhos do homem finito. Conquanto este ou aquele erro possa ser insignificante aos olhos do homem, não o é, porém, à vista de Deus. Nenhum pecado é pequeno à vista de Deus. Os pecados que o homem está disposto a considerar como pequenos podem ser precisamente aqueles que Deus considera como grandes crimes. O beberrão é desprezado e dele é dito que o seu pecado o excluirá do Céu, ao passo que o orgulho, o egoísmo e a cobiça seguem sem repreensão. Mas esses são pecados de modo especial ofensivos a Deus. Ele “resiste ao soberbo”, e Paulo diz que a cobiça é idolatria. Aqueles que estão familiarizados com as denúncias contra a idolatria na Palavra de Deus, verão sem demora quão grave ofensa esse pecado é" (Conselhos para a Igreja, p. 265).

terça-feira, 9 de novembro de 2021

A IMPORTÂNCIA DO TESTEMUNHO

Deus espera que o maior número possível de pessoas compreenda Seu amor, Seus ensinos, e se prepare para ser cidadão de Seu reino. Mas para que as pessoas ouçam desse amor, é necessário que alguém lhes conte sobre isso. E quem o fará? Os anjos? O próprio Deus? Sim, essas são possibilidades. Mas Deus preferiu deixar essa missão de testemunhar com Seus filhos e filhas. Se experimentamos as boas novas do evangelho, não podemos ficar calados.

A Bíblia diz em 2 Reis 7:9: “Então disseram uns aos outros: Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos. Se esperarmos até a luz da manhã, algum castigo nos sobrevirá; vamos, pois, agora e o anunciemos à casa do rei.”

Jesus manda-nos testemunhar. A Bíblia diz em Mateus 28:18-20: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

Neste sentido, testemunhar é um imperativo que se fundamenta em cinco ideias:

1. Devemos testemunhar porque assim oferecemos oportunidade de salvação a todas as pessoas.

2. Devemos testemunhar porque isso agrada a Jesus Cristo.

3. Devemos testemunhar porque, quando testemunhamos, nós mesmos crescemos.

4. Devemos testemunhar porque, ao fazê-lo, estamos sendo fiéis a Deus.

5. Devemos testemunhar porque essa é uma responsabilidade de quem ama a Deus e às pessoas.

Além de demonstrar compromisso com Deus e Sua missão, testemunhar demonstra que compreendemos totalmente o propósito de nossa vida. Igualmente, testemunhar significa revelar o nobre caráter do Senhor em nossa vida e em nosso discurso.

O que podemos aprender com os primeiros adventistas
O culto dos primeiros adventistas tinha elementos diferentes das reuniões religiosas de hoje, que ligavam as pessoas a Deus e umas às outras. O estudo das Escrituras na Escola Sabatina e o sermão bíblico eram complementados pela “reunião social”, tempo destinado ao testemunho. Esse momento era junto com a Escola Sabatina ou na parte da tarde. E ele era marcado por testemunhos, encorajamento, troca de experiências, gratidão pela providência divina, confissão e até mesmo exortação. 

Quando jovem, Ellen Harmon era introvertida e tímida. Na virada de 1843 para 1844, ela teve coragem de orar em voz alta pela primeira vez durante uma reunião na casa de seu tio, em Portland, no Maine (EUA). Aquela prece foi importante e transformadora para ela, pois Ellen havia se angustiado com dúvidas sobre sua conversão. 

Ela disse: “Enquanto orava, o peso e a agonia de coração que havia tanto tempo eu suportava deixaram-me, e a bênção do Senhor desceu sobre mim, semelhante ao orvalho suave. Louvei a Deus de todo o meu coração. [...] O Espírito de Deus pousou sobre mim com tal poder que não pude ir para casa naquela noite. Quando voltei para casa, no dia seguinte, grande mudança havia ocorrido em meu espírito” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 31). 

Pouco depois disso, numa reunião milerita em Portland, ela deu seu testemunho: “A singela história do amor de Jesus para comigo caiu-me dos lábios com perfeita liberdade, e meu coração estava tão feliz por ter-se libertado de seu cativeiro de escuro desespero que perdi de vista o povo ao meu redor e parecia-me estar sozinha com Deus. Não encontrei difi culdade em expressar minha paz e felicidade, a não ser nas lágrimas de gratidão que me embargavam a voz quando falei do prodigioso amor que Jesus havia demonstrado para comigo” (p. 32). 

Quem estava nessa reunião era Levi Stockman, um pastor metodista-milerita com quem Ellen havia conversado em particular sobre suas lutas. Ele ficou tão tocado com o testemunho dela que “chorou em voz alta”, louvando a Deus pela mudança daquela menina que até pouco tempo estava tão desanimada e vencida pelo medo.

Ellen, que mais tarde foi chamada para o ministério profético, recebeu um pedido, pouco tempo depois, para contar seu testemunho numa igreja próxima dali. Ao expressar seu amor por Jesus, com o coração submisso e olhos lacrimejantes, ela sensibilizou muitos da congregação a entregar a vida a Deus (Life Sketches, p. 41). 

Tempo para testemunhos
Essa experiência de Ellen White era típica dos cultos dos primeiros adventistas. Ao longo do século 19 e início do século 20, havia no serviço de adoração coletiva de nossa igreja um período específico para o testemunho. As pessoas eram convidadas a reagir à mensagem pregada, falando da sua experiência com Deus. 

Esses momentos, que ficaram conhecidos como “reuniões sociais” (social meetings), aconteciam até mesmo nas assembleias administrativas da igreja, como na organização da Associação de Michigan (1861) e da Associação Geral (1863). Segundo Tiago White relatou na revista da denominação, havia espaço nesses encontros administrativos para a pregação da Palavra e testemunhos curtos dos irmãos e irmãs. Com isso, “um espírito calmo, doce e amoroso” havia permeado essas reuniões (Review and Herald, 8 de outubro de 1861, p. 148; 26 de maio de 1863, p. 204). 

Vários líderes da igreja daquela época colocaram as reuniões sociais no coração do evangelismo e da organização de novas congregações. Eles recomendavam que, quando um evangelista realizasse séries em novas regiões, fosse nomeado um líder local que conduzisse as reuniões sociais ali. O objetivo era que esses encontros gerassem relacionamentos profundos e que, por meio deles, fossem identificadas pessoas que pudessem assumir a liderança da nova congregação. Só então, depois desse processo, a igreja era organizada (Review and Herald, 15 de outubro de 1861, p. 156). 

Essa abordagem foi endossada por Ellen White na Austrália, em 1894. J. O. Corliss havia introduzido um momento de testemunho pessoal na pequena congregação de Seven Hills, seguindo a sugestão de uma mensagem comovente da pioneira adventista. Ellen White entendia que a reunião social era uma oportunidade de os novos fiéis serem treinados como testemunhas de Cristo. 

Sobre essa experiência, ela relatou: “Tivemos então uma reunião social. Esse foi um novo exercício para aqueles que tinham recém-chegado à fé, mas o irmão Corliss chamou um após outro para serem testemunhas do Senhor Jesus, até que todos os crentes, exceto um, deram o próprio testemunho” (Manuscrito 32, 1894). 

Cultos breves
A mensageira do Senhor deu conselhos práticos para que esses momentos de testemunho não fossem dominados por uma ou duas pessoas. “Deve haver um espírito de confissão a Deus e um reconhecimento de Suas bênçãos, com ação de graças”, ela recomendou na carta 279 de 1905 (Manuscript Releases, v. 9, p. 97). “Em conclusão, eu diria: No sábado, quando o povo se reunir para o culto, que o discurso seja curto e que todos tenham a oportunidade de dar seu testemunho”, complementou a pioneira na Carta 187 de 1904. 

Hoje, podemos entender melhor a razão do sucesso dessas primeiras reuniões sociais dos adventistas. Compartilhar experiências pessoais nos ajuda a entender nossa necessidade da bênção de Deus, além de estabelecer conexões entre as pessoas. É uma oportunidade singular para que o Espírito Santo impressione a mente das pessoas e una nosso coração ao de Deus e uns dos outros. A Bíblia está repleta de testemunhos pessoais. Creio que o Espírito Santo usa essas histórias de provação e fé, junto com as nossas contemporâneas, para gerar reavivamento pessoal e congregacional. Essa é uma das razões para amarmos os Salmos, porque eles expressam honestamente a necessidade do coração, que anseia por confissão, petição, promessa, louvor aos atos grandiosos de Deus. 

Nos dias que antecedem a volta de Jesus, o povo de Deus vencerá Satanás pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do nosso testemunho de, mesmo diante da morte, não amar a própria vida (Ap 12:11). Por isso, não podemos nos calar.

Merlin D. Burt (via Revista Adventista)

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

NOVEMBRO NEGRO

Novembro Negro é uma campanha que visa recordar e evidenciar lutas e resistências da população negra contra o racismo e o preconceito. E no próximo dia 20 de novembro, o Brasil celebrará o Dia da Consciência Negra para relembrar a luta de Zumbi dos Palmares contra a escravidão no país.

No Ocidente, uma das razões da desigualdade social foi a escravidão. Durante mais de 300 anos, africanos e índígenas foram escravizados no continente americano. No Brasil, a escravidão foi proibida pela Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, há 133 anos. Abolir legalmente o trabalho escravo foi importante, mas sua herança social ainda perdura nos países onde existiu.

No Brasil, os adventistas não tiveram contato com a escravidão legalizada. O primeiro missionário só chegou no país em 1893, cinco anos após a Lei Áurea. Nos Estados Unidos, a emancipação dos escravos ocorreu no mesmo ano da organização da igreja (1863), e muitos pioneiros do movimento adventista foram abolicionistas. A injustiça da escravidão, incompatível com a liberdade anunciada no evangelho, mereceu a militância dos primeiros adventistas. Seu engajamento é um modelo de ativismo social pacífico.

Até a década de 1960, a segregação racial estava institucionalizada em alguns estados do Sul dos Estados Unidos. Assim como o escravismo, as leis que impunham separação entre as pessoas também indignaram muitos adventistas, e a atitude de alguns deles foi decisiva para a revogação dessas leis.

Em destaque, três mulheres que, em épocas diferentes, tiveram a atitude cristã de se posicionarem contra a injustiça.

SOJOURNER TRUTH
Isabela Baumfree nasceu escrava em 1797, no condado de Ulster, estado de Nova York. Aos nove anos, a menina foi incluída em um rebanho de ovelhas e leiloada por cem dólares. Ela passou por vários donos até pertencer a John Dumont. Aos 18 anos, ela se apaixonou por Robert, um escravo pertencente a um vizinho dos Dumont. O dono de Robert não queria que um escravo seu se casasse com uma escrava que não era dele. Se isso acontecesse, as crianças que nascessem pertenceriam ao dono da mãe.

Robert encontrava Isabela secretamente. Um dia, seu dono descobriu-o e o açoitou tão brutamente que Robert morreu vítima dos ferimentos. A lembrança da experiência assombraria Isabela por toda a sua vida. Depois do incidente, casaram Isabela com um escravo cuja esposa havia sido vendida. Ela teve cinco filhos.

O dono de Isabela prometeu libertá-la em 1826, mas não cumpriu o compromisso. Ela então fugiu com sua filha recém-nascida. A família de Isaac Van Wagener, um metodista, a acolheu e pagou 20 dólares a Dumont para ficar com Isabela, pedindo para ela o direito de visitar os demais filhos. Em julho de 1827, uma lei libertou os escravos no estado de Nova York.

A liberdade não pôs fim ao sofrimento. Peter, seu filho de cinco anos, havia sido vendido ilegalmente por Dumont para um fazendeiro do Alabama, estado que mantinha a escravidão. Com a ajuda de Van Wagener, Isabela entrou numa luta judicial para recuperar a criança. Conseguiu. Pela primeira vez na história dos Estados Unidos, uma mulher negra ganhou uma causa judicial contra um homem branco.

Isabela passou a trabalhar para uma família na cidade de Nova York. Quando seu patrão morreu, acusaram-na de envenená-lo. Foi julgada e absolvida como inocente. Seu filho Peter foi trabalhar em um navio baleeiro e ela não teve mais notícias dele após 1842. Em 1843, a ex-escrava adotou o nome de Sojourner Truth (“Peregrina da Verdade”). Sentindo que o Espírito Santo a chamava para combater a escravidão, associou-se a abolicionistas importantes, como Frederick Douglass e William Lloyd Garrison, e se tornou uma oradora famosa. Nessa época, ela aceitou a mensagem milerita da breve vinda de Cristo e começou a pregá-la. Mesmo passando pelo desapontamento, quando Jesus não veio em 1844, ela não perdeu a fé.

Em 1849, Sojourner Truth, num ato de perdão, visitou seu antigo dono John Dumont. No ano seguinte foi publicado seu livro A História de Sojourner Truth, uma Escrava Nortista, no qual há um capítulo apresentando a doutrina adventista. Em maio de 1851, já conhecida nacionalmente, participando da Convenção dos Direitos da Mulher em Akron, Ohio, ela proferiu o discurso “E não sou uma mulher?” A palestra é um marco na história dos direitos civis.

Em 1857, ela se mudou para Battle Creek e se uniu aos adventistas do sétimo dia, sendo batizada pelo pastor Uriah Smith. Durante a Guerra de Secessão, Sojourner Truth foi homenageada pelo presidente Abraão Lincoln por sua contribuição para a causa abolicionista. Mesmo após a emancipação dos escravos, ela continuou a promover os direitos civis até morrer, em 1883. Seu funeral foi realizado no Tabernáculo Dime, templo adventista de Battle Creek. Ela foi enterrada no Cemitério de Oak Hill, onde Ellen White também seria sepultada. É considerada uma das cem personalidades norte-americanas mais influentes de todos os tempos.

IRENE MORGAN-KIRKALDY
Em 1944, Irene Morgan, de 27 anos, viajava de ônibus entre os estados de Maryland e Virgínia. Ao entrar no estado da Virgínia, o motorista solicitou que Irene, que estava grávida, se levantasse e viajasse em pé no fundo da condução. Isso porque a lei estadual determinava a preferência de assentos para os passageiros brancos. Irene, sendo negra, não poderia permanecer nos assentos da frente e deveria viajar em pé no fundo do ônibus. Irene se recusou.

Na próxima parada, o motorista chamou o xerife, que queria prendê-la por desrespeitar a lei de segregação. Ela resistiu e entrou com uma ação judicial para não ser presa. Dois dos mais famosos advogados do país se interessaram em defender a empregada doméstica, e o caso foi parar na Suprema Corte americana. Em 1946, os juízes deram causa ganha a Irene e consideraram a legislação segregacionista do Estado da Virgínia inconstitucional. O fato foi noticiado nos principais jornais da nação.

Irene foi adventista durante toda a vida. Por sua atuação para o fim das leis de discriminação racial, recebeu várias homenagens, inclusive uma medalha das mãos do presidente Bill Clinton. Com 68 anos, ela concluiu a faculdade e, com 73, obteve um mestrado. Ela morreu em 2007, com 90 anos de idade.

ROSA PARKS
Em 1954, Edward Earl Cleveland, um evangelista adventista bem-sucedido, armou uma grande tenda no subúrbio de Montgomery, Alabama. As leis estaduais proibiam brancos e negros de sentar-se juntos num auditório, mas a regra não era seguida durante as reuniões evangelísticas na tenda.

Cleveland entendia que os adventistas não deviam se envolver com causas políticas e revolucionárias. Mas corajosamente descumpriu uma lei que, para ele, dificultava a pregação do evangelho. Apesar de ter problemas com a polícia por causa do auditório misto, a campanha fez a comunidade adventista de Montgomery saltar de 35 membros para mais de 500. De alguma forma, a ausência de segregação nos cultos adventistas influenciou quem frequentou a tenda, entre eles a metodista Rosa Parks e um observador curioso, o jovem pastor batista Martin Luther King Jr., de quem Cleveland se tornou amigo.

Rosa Louise McCauley Parks nasceu em 1913. A costureira, com uma atitude pacífica, mas firme, precipitou um movimento nacional em favor da igualdade.

Em 1º de dezembro de 1955, Rosa tomou o ônibus para casa e se assentou num banco reservado para “pessoas de cor”. Quando o veículo lotou, o motorista exigiu que os passageiros negros cedessem seus lugares às pessoas brancas que estavam em pé. Rosa se recusou. O fato de ela ter sido presa por isso foi a faísca para que, a partir do dia 4 de dezembro, milhares de pessoas boicotassem o transporte coletivo na cidade durante 381 dias, até que as leis de segregação fossem revogadas.

A atitude corajosa de Rosa repercutiu no país, mas ela foi ameaçada e teve que se mudar da cidade. Apesar de famosa, Rosa Parks viveu na pobreza durante toda a vida. Recebeu condecorações e, quando morreu em 2005, foi velada com honras pela Guarda Nacional.

A atitude de Sojourner, Irene e Rosa demonstra que há lugar adequado para o ativismo na vida cristã. Em 1881, Ellen White sonhou com um homem que pedia assinaturas em favor de um projeto de lei para restringir o comércio de bebidas alcoólicas, uma causa de interesse dos adventistas. Ela o ouviu dizer: “Deus tem o propósito de de nos ajudar em um grande movimento sobre esta questão” (Arthur White, Ellen White: Mulher de Visão, p. 201). Deus espera de seu povo uma influência social marcante.

Extraído de texto de Fernando Dias (via Revista Adventista)

sábado, 6 de novembro de 2021

SOPRO

Sopro. Os últimos instantes estremeceram a ilusão de imortalidade nacional. O país chora de saudade e de susto. Tão de repente! 26 anos. Vai além do microfone silenciado, ou da mãe que não retornará para casa. Ultrapassa a sofrência, o feminejo, a fama, a carreira. Na verdade, esvazia todo mundo daquilo que, realmente, nunca preencheu: a falsa sensação de felicidade infinita. Perpétuos? Não do lado de cá. E quem ouvia (ou não) suas músicas, sente nesta hora a fugacidade, a perenidade e o sopro - que dissipa a existência humana num instante. ⁣⁣

Pense comigo. Há uma exaustão na perenidade dos sonhos. Eles não duram. São tantos óbitos, conhecidos ou não, de avião ou pandemia, que na esteira do tempo eles persistem invadindo nossos planos, segurança ou previsibilidade. Um provérbio indígena alerta: “somos como a luz de um vaga-lume na noite escura.” Passageiros de passagem rápida. Posso resumir? A morte nos nivela. Ela fecha o palco colocando todos na plateia, reféns do próximo segundo, até que ele não chegue mais. Se a vida é um sopro? Que a esperança vente mais forte. Esteja pronto. ⁣
O propósito disso aqui? "Tudo sem sentido! Sem sentido!", diz o mestre. "Nada faz sentido! Nada faz sentido!” (Ec 12:8). Porém, “agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: TEMA A DEUS e guarde os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem”(v. 13). Até quando? “Lembre-se dele, antes que se rompa o cordão de prata, ou se quebre a taça de ouro” (v. 6).⁣
Que momentos assim nos cubram de alento, empatia, solidariedade e grandeza. Não só porque ela era famosa, mas por causa da fama da dor, das lágrimas e da interrupção da vida. Arrancados brutalmente da zona de conforto, que os epitáfios sejam lembretes do que vem depois. Ser humano precisa do Céu, de Deus, da eternidade. Por isso, ninguém é por acaso. Ninguém.⁣
“A vinda do Senhor tem sido em todos os séculos a esperança de Seus verdadeiros seguidores” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 302). Quem tem isso, tem tudo. Vai passar. Portanto, meus sentimentos pela tragédia, preces pelos familiares, e impaciência descontrolada pelo grande dia. Aquele! Sem mais noites. Sem mais obituários.⁣
Nem vaga-lumes momentâneos.⁣
Odailson Fonseca (via instagram)

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

A FOFOCA E O EVANGELHO

Imagine uma torre de blocos, eventualmente na forma de pirâmide. Você remove um bloco e a torre se torna instável, e uma parte pode até cair. Se você remover vários blocos, toda a torre desmorona. A fofoca tem esse mesmo efeito na igreja.

Como saber se você está fofocando? O apóstolo Paulo alertou o jovem Timóteo, um líder da igreja, para controlar a fofoca que estava acontecendo de “casa em casa”. Infelizmente, nós não gastamos o mesmo tempo nas casas uns dos outros como a igreja primitiva fazia, mas isso não significa que não dispomos de meios para a fofoca. Hoje, a fofoca espreita em todas as redes sociais e na boa e velha forma cara-a-cara.

Como a fofoca se manifesta? Veremos as três faces da fofoca: o murmurador, o disseminador e o intrometido – e o que Jesus fala sobre cada um.

Parte 1: Queixar-se de uns para outros

O MURMURADOR
A fofoca que reclama de uns para os outros.

O murmurador reclama dos outros. Essa pessoa é rápida em encontrar defeitos nos outros e lenta a encontrar falhas nela mesma. Sempre tem alguém “dando nos nervos” dela, machucando os sentimentos dela, desapontando as expectativas dela. Como sabemos? O murmúrio é a fofoca que se queixa e lamenta de uns com os outros.

Escolhendo a fofoca ao invés da graça
Porque escolhemos fofocar por meio da reclamação? Esse tipo de fofoca existe porque nos vemos como pobres vítimas. Nós acreditamos na mentira de que precisamos ser tratados de certa forma. Nós distorcemos a nossa identidade em Cristo substituindo-a por uma identidade de vítima. Nós nos vemos como o alvo do pecado dos outros, não como pecadores que devem suportar a ira de Deus. Nos distanciando de Cristo, nós escolhemos a fofoca ao invés da graça, reclamação ao invés de tolerância.

Os murmuradores são hábeis em apontar o problema do pecado, mas raramente oferecem soluções na graça, especialmente se, para isso, precisar admitir que ele ou ela está errado. O murmurador acredita na mentira de que merece algo que ainda não conseguiu. Eles acreditam ser mais importantes do que os outros. Se tivéssemos o que merecemos, isso seria o julgamento, mas Jesus nos deu o que não merecemos – Graça.

Quem é Jesus para o murmurador?
Jesus é a única pessoa em toda historia que viveu uma vida perfeita e é a única pessoa que teria o direito de reclamar. Ele é o único verdadeiramente inocente e, no entanto, foi desprezado, ridicularizado e frequentemente vítima de fofocas.

Jesus nem sequer reclamou com as outras pessoas sobre quem o traiu: “Você acredita que Pedro iria me trair, João, mesmo depois de tudo que fiz por ele?”. A disposição de Jesus de morrer por murmuradores nos mostra como responder com graça.

Uma única vítima inocente
Murmuradores precisam entender que apenas Jesus é a vítima inocente. Ele morreu para que os murmuradores fossem libertos do que merecem para dar a eles o que não merecem. Ele levou a nossa condenação para pleitear a nossa inocência perante o Deus santo.

Você pode precisar de alguns minutos para se arrepender de sua identidade “auto-merecedora” de vítima e se voltar para receber e estender a graça para os outros por conta da sua identidade de graça imerecida. Nós não somos nem vítima nem heróis, mas Jesus é os dois para o murmurador. Ele é a vítima condescendente de nossa fofoca pecaminosa e o herói que nos resgata daquilo que merecemos. Ele leva a nossa causa e pleiteia pela nossa inocência. Ele nos oferece a graça.

Dê e receba graça, não reclamação
Iremos oferecer a graça aos outros ou vamos reclamar uns com os outros? Em vez de dar e receber reclamações, você poderia dar e receber graça? Jesus conquistou a graça para nós e para os outros. Transforme essa condição de vítima em uma atitude de graça para com os outros.

Parte 2: Quebrando a confiança para ganhar aceitação

O DISSEMINADOR
A fofoca que quebra a confiança pela dispersão de informações confiadas a outros.

Disseminadores gostam de estar por dentro dos assuntos. A eles são dadas informações particulares e se permitem espalhar em público. Eles fazem isso não apenas em conversas, mas por e-mails, mensagens de texto, telefonemas, pelo Facebook, pelo WhatsApp... Por que alguém espalharia informações pessoais e confidenciais sobre outra pessoa?

Para o disseminador, possuir uma informação secreta pode ser um meio de ganhar a aceitação dos outros. A obtenção e distribuição de informações privilegiadas faz com que se sintam necessários. Os relacionamentos são superficialmente mantidos à base da fofoca. O disseminador quebra a confiança para contar informações confiadas a ele para os outros. Por quê? O disseminador busca aceitação social às custas dos outros.

Se entregando à auto-suficiência
Disseminadores muitas vezes transformam-se em destruidores, criticando e ridicularizando os outros, revelando informações que nem deveriam ter sido reveladas a eles. Ao diminuir os outros, o destruidor se sente um pouco mais justo e correto em suas decisões. Quando dispersa informações confiadas a ele, o disseminador se sente importante. O destruidor busca sua justa auto-suficiência colocando os outros abaixo de si por meio de sua fofoca maldosa.

Quem é Jesus para o disseminador?
Tanto o disseminador quanto o destruidor procuram sua aceitação fora de Jesus. Jesus é o único caminho para aceitação e amor profundos, porque Ele nos possibilita receber o amor do Pai. Jesus não usa pessoas para o Seu próprio valor, Ele confere Seu próprio valor às pessoas.

Fofoqueiros precisam de uma aceitação e importância mais profunda do que a dispersão de informações confiadas poderiam prover. Com a finalidade de mergulhar no amor de Deus, o fofoqueiro não deve mais buscar a sua aceitação e importância fora de Jesus.

Amor e bênçãos ao invés de disseminação e críticas
Confessar nossos pecados uns aos outros e a Deus é fundamental para que possamos nos regozijar no amor do Pai por nós. Deus chama os fofoqueiros a se afastarem dos seus próprios esforços em se tornarem aceitos e importantes e se voltarem para a aceitação no amor do Pai. O Seu amor nos liberta para amar, não fofocar; para abençoar, não para dividir.

Parte 3: Inserir você mesmo em vez de Jesus

O INTROMETIDO
O fofoqueiro que gosta de ser intermediário entre os outros.

O intrometido gosta de ser um intermediário, às vezes com o disfarce de ajudar ou “aconselhar” os outros. Eles correm como cachorrinhos indo e vindo de uma pessoa para outra, se abarrotando de informações que deveriam apenas ser partilhadas entre as partes envolvidas.

Frequentemente os intrometidos admitem que estão trabalhando para criar uma forte “comunidade” ou “família”, enquanto, na verdade, estão piorando as coisas: “Jane estava mesmo magoada com o seu comentário na festa de ontem”. Porque não dizer a Jane para conceder a graça ou ir ate sua irmã e se reconciliar (Mateus 18:15-20)?

Em vez de defender a reconciliação entre duas pessoas, o intrometido quer advogar a causa entre duas pessoas. Em vez de colocar Jesus entre duas pessoas, eles se inserem. Intrometidos criativamente buscam significância ao se inserirem em assuntos que deveriam envolver duas, não três pessoas. Os intrometidos amam ser os salvadores dos relacionamentos.

Quem é Jesus para o intrometido?
Jesus é o Salvador para o intrometido. O intrometido precisa ser salvo do deslocamento de Jesus do centro dos relacionamentos. Eles precisam ser salvos de seu complexo de salvador.

A confissão e o arrependimento a Deus e aos outros é o primeiro passo para se voltar ao verdadeiro Salvador. Afastar-se da importância auto construída através da intromissão e se voltar à profunda significância em Cristo, que é a redenção para o caminho futuro. Renunciar a sua identidade de salvador para abraçar a identidade do servo que serve, não substitui Jesus como Senhor e Salvador. Isso te libertará para encorajar a reconciliação sem incentivar a intromissão. Isso irá exaltar Jesus, não você como o Herói.

A cura para a fofoca: Identidade em Jesus
Fofoca é idolatria. Romanos 1:29 lista fofoca e a calúnia entre as características dos idólatras, pessoas que adoram alguma outra coisa além do seu Criador. Eles acham certas coisas mais importantes do que Deus. O que você gosta tanto, que é tão importante, que você está disposto a fofocar?

A cura para a fofoca é identificar a sua tendência a fofocar, expor os seus motivos para fazê-lo (vítima, aceitação, senso de justiça, significado) e, por meio do arrependimento, se identificar com Jesus (vítima inocente, verdadeira justiça, profundo significado, único herói).

Devotadamente se voltar para Jesus por perdão e graça para mudar. Peça ao Espírito Santo para lhe convencer de suas concupiscências, confesse-as a um amigo de confiança para pedir ajuda e orar, e a lutar para recuperar uma identidade à luz do evangelho que está enraizada em Jesus.

Versículos cristocêntricos para a fofoca
O intrometido adora o poder que vem quando alguém precisa dele. Eles querem ser os heróis mais do que querem que Jesus seja o herói dos outros. Em vez de ser o herói, eles precisam se arrepender e conduzir os outros ao único e verdadeiro herói capaz de restaurar e reconciliar os relacionamentos.

“Temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis” (1 Timóteo 4:10).

O disseminador adora o poder que vem quando confiam informações confidenciais a ele sobre outras pessoas. Eles querem ser justos e aceitos pelas suas ações relacionadas com as informações que manipulam, mas são, na verdade, totalmente injustos ao ponto de liquidar os outros pelo seu próprio senso de valor. O disseminador precisa se arrepender e aceitar a justiça de Cristo.

“Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós; para que, nEle, fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).

O murmurador adora a atenção que vem quando sempre se faz de vítima. Ele precisa se arrepender da sua identidade de vítima e entender que Jesus é a única e verdadeira vítima que sozinho suportou os pecados dos outros. Eles precisam se arrepender e confessar isso, diante da cruz, onde Jesus assumiu as duas identidades, de vítima e de herói, permitindo, assim, que encontrassem suas identidades nEle.

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2:5).

O falso deus da fofoca mata todo senso de amizade e amor. Destrói a família e a piedade, e isso desintegra a igreja. Quando olhamos para Jesus para obter a nossa identidade, não para a fofoca, nós recuperamos o senso de amizade e amor, e isso cria a família que Jesus quer que a Igreja seja. Nós criamos uma casa para a generosidade e o amor e experimentamos uma família congregada em volta de Jesus.

Nós não somos as vítimas nem os heróis nem os justos. Cristo somente é a Vítima e o Resgate; nosso Herói e Salvador; nossa aprovação e justiça.

Jonathan Dodson (Traduzido e gentilmente cedido por Marianna Brandão)

"Digo com tristeza que existem entre os membros de igreja línguas desenfreadas. Há línguas falsas, que se alimentam com a maldade. Há línguas astutas, que segredam. Há loquacidade, impertinente intrometimento, insinuações hábeis. Entre os amantes da tagarelice, alguns são atuados pela curiosidade, outros pela inveja, muitos pelo ódio contra aqueles por meio dos quais Deus falou para os reprovar. Alguns ocultam seus sentimentos reais, enquanto outros estão ansiosos por divulgar tudo que sabem, ou mesmo suspeitam, dos males alheios. Enquanto muitos negligenciam sua própria alma, vigiam ansiosamente por uma oportunidade para criticar e condenar os outros. ... Não devemos ser mexeriqueiros, bisbilhoteiros ou boateiros; não devemos dar falso testemunho. O espírito de tagarelice e maledicência é um dos instrumentos especiais de Satanás para semear discórdia e luta, para separar amigos e minar a fé de muitos na veracidade de nossas crenças. Aqueles cuja língua é tão franca em proferir palavras de crítica, os habilidosos interrogadores que sabem extorquir expressões e opiniões que foram introduzidas no espírito mediante o lançar sementes de separação, esses são missionários seus" (Ellen G. White - Manuscrito, 144).