terça-feira, 31 de maio de 2022

FOTOS SORRIDENTES E TRAVESSEIROS ENCHARCADOS

Em setembro de 2021, o boletim epidemiológico nº 33, publicado pelo Ministério da Saúde, trouxe dados alarmantes destacando o aumento das taxas de suicídio de adolescentes e jovens no Brasil. Segundo o documento, o suicídio configura a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos de idade. “Há uma conjunção de fatores relacionados ao comportamento suicida na juventude. Alguns fatores que se destacam são os sentimentos de tristeza, desesperança e a depressão, ansiedade, baixa autoestima, experiências adversas pregressas, como abusos físicos e sexuais pelos pais ou outras pessoas próximas, falta de amigos e suporte de parentes, exposição à violência e discriminação no ambiente escolar e o uso de substâncias psicoativas”, destaca o texto.

Kailia Posey, de 16 anos, que ficou famosa na infância ao participar do reality show Pequena Misses, teve sua morte anunciada no começo de maio. De acordo com seus pais, ao site americano TMZ, ela se suicidou. O comunicado afirmou que "embora ela fosse uma adolescente talentosa com um futuro brilhante pela frente, infelizmente, em um momento impetuoso, ela tomou a decisão precipitada de acabar com sua vida terrena".

É complicado tentar compreender essa tragédia. Porém, é claro perceber que vivemos tempos difíceis. Tempos em que, além da necessidade inerente à juventude de encontrar uma identidade que a faça se sentir incluída e aceita, ainda há a corrida pelo melhor status nas redes sociais, levando essa geração, ainda em formação, a comparar seu dia a dia (tão modesto, real e perfeitamente normal) com a demonstração exagerada de felicidade editada e “photoshopada”. Através de filtros e edições, é exigido um bem estar irreal, inalcançável e muito plastificado.

A insatisfação com a realidade e a competitividade têm produzido uma geração frustrada e descontente consigo mesma. Antigamente, era comum se espelhar no artista de cinema e tentar reproduzir modismos, costumes e trejeitos de um modelo hollywoodiano ou global. Porém, era fácil distinguir o mundo real daquele glamourizado pelo roteiro, fundo musical e figurino. Hoje, a representação do “teatro da existência” invadiu a realidade, e se não tivermos maturidade e filtro para separar o que é fantasia do que é possível e alcançável, corremos o risco de nos cobrar objetivos inconcebíveis, que fatalmente nos levarão a uma vida de mentiras ou de dor.

Ellen G. White diz: "São os obstáculos que tornam o homem forte. Não são as facilidades, mas as dificuldades, conflitos, reveses que formam homens de fibra moral. A excessiva facilidade de evitar as responsabilidades tem feito criaturas fracas e anões dos que deveriam ser homens responsáveis, de força moral e músculos espirituais fortes" (Testemonies 3, p. 495).

Viver uma vida de mentiras é não querer entrar em contato com as próprias emoções; com os medos e dúvidas que invariavelmente nos assolam num momento ou outro; com a solidão; com o tédio; com o anseio desenfreado somado à dificuldade de sermos populares, antenados, cools ou glamourosos. É querer parecer o que não é para impressionar quem não importa; é maquiar a realidade para ser aceito e amado; é sentir-se cobrado pela exigência da felicidade; é copiar o que não gosta para se sentir incluído; é chorar escondido por não se sentir compreendido.

Ellen White alerta: "Tudo quanto os cristãos fazem deve ser tão transparente como a luz do Sol. A verdade é de Deus; o engano, em todas as suas múltiplas formas, é de Satanás; e quem quer que, de alguma maneira, se desvia da reta linha da verdade, está-se entregando ao poder do maligno. Não é, todavia, coisa leve ou fácil falar a exata verdade; e quantas vezes opiniões preconcebidas, peculiares disposições mentais, imperfeito conhecimento, erros de juízo, impedem uma justa compreensão das questões com que temos de lidar! Não podemos falar a verdade, a menos que nossa mente seja continuamente dirigida por Aquele que é a verdade" (O Maior Discurso de Cristo, p. 68).

Não é constrangimento nenhum ter uma vida comum, simples, pé no chão, temperada com cebola e alho num fundo de panela sem sofisticação, mas muito singelo. Não é vergonha nenhuma reconhecer que o dia a dia é modesto, rústico e trivial, e que o requinte não é permanente, mas nos visita de tempos em tempos, dando uma variada no nosso vestidinho de chita e nos propondo uma gravata ou um salto agulha de vez em quando.

É ilusão acreditar que a felicidade é mais constante e certa para aqueles com o feed de notícias mais farto de viagens, convites, likes ou popularidade. É engano imaginar que o carisma, a importância ou o valor de alguém pode ser medido pelo termômetro das curtidas ou descurtidas.

Temos nos distanciado de nossos filhos à medida que permitimos que eles acreditem que as histórias que seguem pela tela do celular ou computador têm mais veracidade ou são mais autênticas que a própria realidade que experimentam aqui, do lado de fora. Temos nos desligado de nossos filhos ao permitir que eles passem mais tempo seguindo essas histórias do que construindo a própria narrativa. Temos ajudado a construir uma geração despreparada para o mundo real à medida que autorizamos o fascínio por vidas editadas, em que as frustrações, tristezas e dificuldades ficam do lado de fora, criando uma fantasia de que ter problemas e contrariedades não é normal, e deve ser combatido a todo custo.

Ninguém é cem por cento bem resolvido. Em um momento ou outro, cada um de nós enfrenta suas próprias batalhas, seus próprios monstros e fantasmas. Acreditar que é possível viver sem tédio, contrariedade, aborrecimento e insatisfação produz ainda mais descontentamento, e gera indivíduos ressentidos com a realidade e incapazes de enfrentar frustrações.

Ellen White adverte: "Depois da disciplina do lar e da escola, todos terão de enfrentar a severa disciplina da vida. Como enfrentá-la sabiamente é a lição que se deve explicar a toda criança e jovem. É verdade que Deus nos ama, que Ele está trabalhando para nossa felicidade, e que, se Sua lei tivesse sempre sido obedecida, jamais teríamos conhecido o sofrimento; não menos verdade é que neste mundo, como resultado do pecado, sobrevêm a nossa vida sofrimentos, perturbações e cuidados. Podemos proporcionar às crianças e jovens um bem para toda a vida, ensinando-os a enfrentar corajosamente essas dificuldades e encargos. Conquanto lhes manifestemos simpatia, que isso nunca seja de maneira a alimentar-lhes a compaixão de si mesmos. Eles necessitam daquilo que estimule e fortaleça, em vez de enfraquecer" (Orientações da Criança, p. 157).

Estamos diante de uma incrível geração de fotos sorridentes e travesseiros encharcados. O que é publicado, compartilhado e divulgado nas redes sociais nem sempre condiz com a realidade, com aquilo que se carrega no coração. Por isso devemos ser cuidadosos. Não colecionar expectativas, comparações nem exigências sobre-humanas a respeito da felicidade. Não viver acreditando que nossa vida está aquém do que deveria ser só porque não conseguimos manter um estado permanente e intocável de contentamento. Não nos sentir injustiçados só porque encontramos limitações.

Temos que preparar nossos filhos para os sustos, quedas e frustrações. Temos que ajudá-los a entender que a vida é um presente precioso, frágil e imprevisível, e que a felicidade não é um direito, e sim um modo de se relacionar com a existência. Temos que ampará-los na dor, mas não iludi-los a ponto de acharem o sofrimento uma anomalia. 

Confira esse forte apelo de Ellen White: "Nesta época rebelde, os filhos que não receberam a devida instrução e disciplina, têm bem pouca compreensão de sua obrigação para com os pais. Dá-se muitas vezes que, quanto mais os pais fazem por eles, tanto mais ingratos são, e menos os respeitam. As crianças que foram mimadas e servidas, esperam sempre isto; e caso sua expectativa não se realize, ficam decepcionadas e perdem o ânimo. Essa mesma disposição se manifestará através de toda a sua vida; serão impotentes, dependendo do auxílio de outros, esperando que outros os favoreçam, e lhes façam concessões. E caso encontrem oposição, mesmo depois de atingirem a idade adulta, julgam-se maltratados; e assim atravessam penosamente o caminho pelo mundo, mal sendo capazes de levar as próprias cargas, murmurando e irritando-se frequentemente porque tudo não vai à medida de seus desejos" (O Lar Adventista, p. 293).

Que eles possam entender que viver é complicado sim, que nada cai do céu e que é preciso muita luta para ser realizado e feliz. Para isso, precisam de pais e mães verdadeiros, que olhem nos olhos e não finjam. Que compartilhem suas alegrias, mas também suas dificuldades. Que mostrem os sacrifícios que fazem pela família e o quanto custa um par de tênis novo. E que assim nossos filhos possam compreender que crescer é um processo contínuo, em que temos que aprender a conviver com as limitações, impossibilidades e imperfeições, tentando fazer o melhor que pudermos com o pouco que tivermos.

Texto adaptado da escritora Fabíola Simões

segunda-feira, 30 de maio de 2022

MASTERCHEF DEUS

A 9ª edição do MasterChef Brasil começou em 17 de maio deste ano. 16 participantes de todos os cantos do país concorrem ao grande prêmio de R$300 mil e ao desejado troféu. Ao longo do programa, os cozinheiros precisam cumprir o tempo de cada prova e agradar o paladar dos jurados para conquistar a premiação. Assim como na edição anterior, o programa é apresentado por Ana Paula Padrão e os pratos são avaliados pelos renomados chefes de cozinha: Erick Jacquin, Henrique Fogaça e Helena Rizzo.

Mas qual seria o menu que o MasterChef Deus prepararia para agradar o nosso paladar?

Primeiramente, é importante entendermos quais são os dois princípios estabelecidos por Deus para nosso regime alimentar. O primeiro princípio é a simplicidade. Vejamos o que diz Ellen G. White:

“Devemos sentir-nos satisfeitos com alimento simples, puro, preparado da maneira mais simples. Este deve ser o regime de grandes e humildes” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 85).

"Cozinhar não é ciência desprezível, porém uma das mais essenciais na vida prática. Fazer comida apetecível e ao mesmo tempo simples e nutritiva requer habilidade; pode no entanto ser feito. As cozinheiras devem saber preparar alimento de maneira simples e saudável, e de modo que seja mais apetecível e mais são, justo por causa de sua simplicidade" (A Ciência do Bom Viver, p. 302, 303).

“O verdadeiro jejum que se deve recomendar a todos, é a abstinência de toda espécie de alimento estimulante, e o uso apropriado de alimentos simples e saudáveis, por Deus providos em abundância. Os homens precisam pensar menos sobre o que comer e o que beber, com relação a alimentos temporais, e muito mais com respeito ao alimento do Céu, que dará tono e vitalidade a toda a experiência religiosa” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 90).

Deus deseja que nós, seus filhos, tenhamos simplicidade ao comer, pois nosso foco não deve estar em tesouros e posses terrenas, mas sim nos tesouros celestes que Cristo tem reservado. Por isso, se nosso foco estiver no que comer ou beber, jamais entenderemos e apreciaremos as verdadeiras maravilhas que Deus quer nos dar. Devemos utilizar o alimento simples para dispor de boa saúde física e mental, o que nos tornará mais aptos para entender suas mais profundas verdades. Não porque merecemos ou pelos nossos esforços em comermos isso ou aquilo, mas porque essas são as leis da natureza estabelecidas pelo Criador! Quando violamos o princípio da simplicidade no comer e beber, não podemos estar em harmonia com as leis da natureza.

O segundo princípio fundamental é utilizarmos a inteligência dada a nós, pelo Criador, para raciocinarmos da causa para efeito:

“É nosso dever agir prudentemente no que concerne a nossos hábitos de comer, ser temperantes, e aprender a raciocinar de causa para efeito. Caso façamos nossa parte, o Senhor fará a Sua em conservar-nos a energia cérebro-nervosa” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 492).

"O Senhor ensinará a muitos, em toda parte do mundo, a combinar frutas, cereais e verduras numa alimentação que sustenha a vida e não produza doença. Os que nunca viram as receitas dos alimentos saudáveis que agora há a venda, procederão inteligentemente com experimentar os alimentos que a terra produz, e ser-lhes-á concedido entendimento no tocante a esses produtos. O Senhor lhes mostrará o que fazerem" (Conselhos sobre Regime Alimentar, p. 96).

E o que isso significa? Que antes de comer ou beber qualquer coisa, devemos raciocinar qual será o efeito daquele alimento em nosso organismo. Devemos levantar perguntas à nossa razão: “Necessito realmente deste alimento agora? A combinação que estou fazendo fará bem aos meus órgãos? Este alimento causará algum tipo de barreira física e/ou mental para compreender e realizar a vontade de Deus?” E ao pensar na resposta, devemos estar constantemente orando a Deus para que Ele nos ilumine e nos dê força para fazer a melhor escolha! E tenha a certeza que Ele não nos abandonará.

"A fim de saber quais são os melhores alimentos, cumpre-nos estudar o plano original de Deus para o regime do homem. Aquele que criou o homem e lhe compreende as necessidades designou a Adão o que devia comer: 'Eis que vos tenho dado toda erva que dá semente […] e toda árvore em que há fruto de árvore que dá semente; ser-vos-ão para mantimento' (Gênesis 1:29). Ao deixar o Éden para ganhar a subsistência lavrando a terra sob a maldição do pecado, o homem recebeu também permissão para comer a 'erva do campo' (Gênesis 3:18). Se planejarmos sabiamente, os artigos que promovem a boa saúde podem ser obtidos em quase todas as terras. Os vários artigos preparados de arroz, trigo, milho e aveia são enviados para toda parte, bem como feijões, ervilhas e lentilhas. Estes, juntamente com as frutas nacionais ou importadas, e a quantidade de verduras que dão em todas as localidades, oferecem oportunidade de escolher um regime dietético completo, sem o uso de alimentos cárneos" (A Ciência do Bom Viver, p. 295, 296, 299).

Você está disposto a seguir em frente com a dieta divina? É sua saúde, sua escolha.

“Nossos hábitos de comer e beber mostram se somos do mundo ou do número daqueles a quem o Senhor, por Seu poderoso cutelo da verdade separou do mundo. Estes são Seu povo peculiar, zeloso de boas obras” (Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 379).

O PROBLEMA DA XENOFOBIA

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) aponta que o número de refugiados cresceu em 2021. Foram registradas 172 mil pessoas a mais, em comparação a 2020. Com isso, o total ultrapassou 20,8 milhões.

A situação se agravou após a guerra na Ucrânia. Afinal, esse conflito, conforme ressaltou o diretor da ACNUR Europa, Pasquale Moreau, se tornou a maior crise de refugiados neste século e já é o maior fluxo humanitário da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Os brasileiros convivem com diversos refugiados, uma vez que o país acolhe muitas solicitações, sobretudo de venezuelanos, haitianos e cubanos. A sexta edição do relatório Refúgio em Números constata que em 2020 já tínhamos aproximadamente 58 mil pessoas refugiadas reconhecidas em solo brasileiro.

O Brasil abriga também migrantes que, diferentemente dos refugiados, não deixaram sua terra natal por conta de guerras ou conflitos, mas foram forçados a buscar melhores condições de vida. Enquanto os refugiados não podem voltar ao seu país de origem, os migrantes continuam a contar com a proteção do seu governo.

Uma parceria entre a Organização Internacional para as ­Migrações (OIM) e a agência humanitária da Igreja Adventista (ADRA) tem beneficiado centenas de pessoas que enfrentam o processo de adaptação em um novo território. Por meio dessa iniciativa conjunta, as famílias vindas de outros países estão sendo inseridas no mercado formal de trabalho. Entre os projetos desenvolvidos, o Connect Brasil, no Rio Grande do Sul, proporciona treinamentos em diversas áreas, com destaque para o setor alimentício, envolvendo cursos de panificação e confeitaria.

O recomeço em terras estrangeiras não é fácil. As famílias enfrentam grandes dificuldades, pois são necessários ajustes burocráticos, adaptações culturais e físicas, procura por trabalho, moradia e educação. Como se tudo isso não bastasse, alguns estrangeiros ainda sofrem ataques xenofóbicos. A xenofobia é a hostilidade voltada aos estrangeiros que resulta em atitudes de ódio.

Um cidadão xenofóbico possui sentimentos e práticas que desconsideram o valor humanitário e relega o estrangeiro a segundo plano por considerá-lo inferior ao nativo. Dessa maneira, não há acolhimento do refugiado nem do migrante por se pensar que aqueles que vêm do exterior não devem ter as mesmas condições que os nascidos na região.

HOSTILIDADE INTOLERÁVEL
O conflito na Ucrânia expôs a intolerância em um território que sofre constantes ataques. A despeito do caos das rotas de fuga para civis, nem todos receberam as mesmas oportunidades e um tratamento respeitoso. Tivemos relatos de complicações para grupos estrangeiros, sobretudo africanos e indianos, ao tentarem acessar essas rotas e cruzar as fronteiras.

Mesmo em localidades sem guerras, a xenofobia acaba sendo praticada. Recentemente vimos atos brutais contra um congolês de 24 anos, Moïse Mugenyi Kabgambe, que foi morto a pauladas em um quiosque no Rio de Janeiro após ter cobrado duas diárias de serviço em atraso.

Esses atos extremos atingem os direitos básicos, como a liberdade e a integridade física, e demonstram que a violência contra os estrangeiros, infelizmente, é mais comum do que se imagina, opondo-se à valorização da vida e ao cuidado com o próximo.

Os cristãos precisam estar atentos para unir esforços e atender os que são de fora, refugiados ou migrantes, com a mesma disposição de ajudar os amigos mais chegados. Na Bíblia percebemos que, em diferentes épocas, os ensinos divinos por meio de profetas, mestres, apóstolos e do próprio Cristo exaltam o devido atendimento aos estrangeiros.

A BÍBLIA E O CUIDADO COM OS DE FORA
Na Palavra de Deus, vemos ­Moisés recebendo diretamente do Senhor a certeza de que o estrangeiro que peregrinava com os israelitas não deveria ser oprimido, mas sim amado (Êx 23:9; Lv 19:33, 34). Afinal, o povo hebreu sabia o significado de ser estrangeiro devido à sua experiência durante o cativeiro egípcio.

Essa preocupação ainda abrangia a alimentação e os estatutos (Lv 23:22; 24) porque a parte da colheita que caía não devia ser recolhida, pois serviria aos de fora. E tanto os estrangeiros quanto os naturais recebiam a mesma lei.

O tratamento precisava ser igual também nas cidades de refúgio que serviam de proteção na época. Elas abrigavam os filhos de Israel e os estrangeiros (Nm 35:15).

Deus reforçou continuamente o pedido de misericórdia e piedade para que Seu povo não oprimisse os que haviam se juntado a eles (Sl 146; Is 56; Jr 7; Jr 22; Zc 7; Ml 3).

Já o Novo Testamento mostra judeus e samaritanos como inimigos acirrados. Para romper esse problema, Jesus fez questão de passar por Samaria e Se encontrar com a mulher no poço de Jacó e então Se apresentar como o próprio Messias (Jo 4:26). A atenção foi tanta aos estrangeiros que, a pedido deles, Cristo ficou em Sicar dois dias e, assim, muitos creram em Suas palavras.

Atos 8 é outro exemplo da mensagem de amor que alcança todos. O encontro de Filipe com o eunuco etíope, oficial da rainha Candace, resultou na explicação das boas-novas de Jesus e no batismo do etíope.

Quando o assunto é o estrangeiro no Novo Testamento, o ­apóstolo Paulo tem muitas passagens em que afirmou que Deus o colocou como representante perante eles. Mais que isso, ele é enfático ao frisar que seu ministério estava voltado aos de fora, denominados naquela época de gentios (At 9, 22, 28). Aliás, qualquer pessoa que não fosse descendente de judeus era automaticamente considerada gentia.

Essa ênfase paulina aparece de suas cartas (Gl 1; 1Tm 2), sem contar que Paulo exaltou seu ministério aos de fora (Rm 11:13) e ainda fez questão de demonstrar seu amor pela missão voltada aos gentios (Ef 3:1).

RESPEITO E AJUDA AOS ESTRANGEIROS
Diante de tantos exemplos bíblicos do cuidado com os estrangeiros, é preciso atentar a essas situações. O atendimento aos refugiados e aos migrantes deve ser uma prática costumeira dos cristãos que “amam o próximo como a si mesmos” (Mt 22:39).

O exercício do amor assiste o próximo, seja ele o vizinho de porta ou alguém chegado de outro país, pois todos somos irmãos de um único Pai. Portanto, não deve haver disparidade no tratamento quando nos relacionamos com nativos ou estrangeiros, com familiares de sangue com quem convivemos durante toda a vida ou com irmãos em Cristo que acabamos de conhecer e com quem precisamos fortalecer laços e vínculos.

Toda ajuda aos refugiados e migrantes demonstra a disposição do amor cristão em servir como participante de um reino que demanda urgência na atenção à fragilidade humana. É essencial atender disposições cotidianas e reafirmar a esperança vindoura de uma pátria em que não mais seremos “estrangeiros e peregrinos na terra” (Hb 11:13).

O auxílio ao próximo é um remédio contra o coração egoísta, e o serviço a estrangeiros necessitados deve aumentar consideravelmente para que as situações de xenofobia sejam combatidas.

As seguintes palavras publicadas por Ellen White na Review and Herald de 25 de julho de 1918 parecem ganhar mais sentido atualmente: “O povo de Deus deve trabalhar fielmente em terras distantes, segundo Sua providência abrir o caminho; e deve também cumprir seu dever para com os estrangeiros de várias nacionalidades nas cidades e vilas e distritos rurais próximos”.

Se com o passar do tempo os relacionamentos que rompem fronteiras aumentam, é certo que também precisamos de boas práticas no acolhimento e no atendimento do estrangeiro. Enquanto um novo céu e uma nova Terra não chegam, devemos nos dispor a ser usados pelo Espírito para amenizar as tensões que chegam até nossa cidade.

Eduardo Teixeira (via Revista Adventista)

Ilustração da JustLove

sexta-feira, 27 de maio de 2022

EXISTEM MUNDOS QUE NÃO CAÍRAM EM PECADO?

Sobre a existência de outros mundos habitados, encontramos algumas diretas evidências na Palavra de Deus. Há, porém, um número maior ainda de evidências indiretas, que no contexto geral das Escrituras nos levam a crer na existência de outros mundos.

Em 1 Coríntios 4:9 encontramos umas das evidências mais contundentes em favor do nosso ponto de vista. Temos que analisar em primeiro lugar, o contexto no original grego para descobrirmos o que estava na mente de Paulo e qual era para ele o significado das palavras “mundo”, ou “universo”.
 
Kosmos
Observe que na parte final do verso 9, lemos que “nos tornamos espetáculo ao “mundo”, aos anjos e aos homens”. A palavra “mundo” traduzida da palavra grega kosmos, tem o significado usual de “a terra habitada”, mas também significa “universo”. Por exemplo, W. C. Taylor, em seu “Dicionário do Novo Testamento Grego”, assim define a palavra kosmos: “O universo, o mundo, (a soma das coisas criadas); a Terra habitada, os habitantes da Terra toda, etc.” Está aí uma ideia muito interessante, perfeitamente cabível no texto analisado.

Também o autorizado “The Analytical Greek Lexicon”, analisando o sentido da palavra kosmos, conclui: “também significa universo material, e em 1 Coríntios 4:9, o agregado da existência sensitiva”.

Temos também a favor dessa tese, a confirmação de algumas versões bíblicas que traduzem kosmos como “universo” nessa passagem. Entre elas podemos citar a Bíblia espanhola “Version Moderna”, editada pelas Sociedades Bíblicas Unidas, e a New English Bible. Ambas dizem: “somos espetáculo a todo o Universo”. 
 
Entre as evidências indiretas podemos citar Jó 2:1, 2 e Romanos 8:19. Contudo, temos que cuidar para não sermos enganados com a onda de misticismo atual e a crença popular que seres de outros mundos estão nos “visitando”. Esses outros mundos criados por Deus são mundos que não caíram em pecado, portanto, eles não poderiam entrar em contato conosco. Os ovnis, extraterrestres, ou qualquer aparição alardeada, são brinquedos de Satanás, operando maravilhas entre os homens para desviá-los da verdade da Palavra de Deus, a qual é a nossa única fonte segura de informação, de salvação e de orientação em relação aos últimos acontecimentos da história desse mundo. Mais do que nunca devemos fundamentar nossa confiança na revelação inspirada de Deus.
 
E o que Ellen G. White fala sobre outros mundos e seus habitantes?

Outros mundos já existiam antes da rebelião de Satanás
"Satanás era grandemente amado pelos seres celestiais, era forte sua influência sobre eles. Alguma atitude deveria ser tomada para afastá-lo da simpatia dos seres celestiais. O governo de Deus incluía não somente os habitantes do Céu, mas de todos os mundos que Ele havia criado; e Satanás pensou que se ele pôde levar consigo os anjos do Céu à rebelião, poderia também levar os outros mundos" (RH, 9 de março de 1886).
 
Moral livre dos habitantes dos outros mundos
"O homem foi criado como um ser moral livre como os habitantes de todos os outros mundos, devendo estar sujeito às mesmas provas da obediência" (PP, pp. 331-332).
 
"Cristo veio em forma humana para mostrar aos habitantes dos mundos não caídos e do mundo caído, que amplas providências foram tomadas para habilitar os seres humanos a viverem em lealdade com seu Criador" (ME1, p. 227).

Mundos obedientes às leis de Deus
“Deus tem mundos inumeráveis que são obedientes a Suas leis, e que se conduzem de acordo com Sua glória” (The Faith I Live By, p. 61).

Seres não caídos assistem à controvérsia neste Mundo
"Cada olho no universo não caído está voltado para aqueles que manifestam ser seguidores de Cristo. Em nosso minúsculo mundo trava-se uma guerra intensa" (RH, 29 de setembro de 1891).

“O resultado da luta [entre Cristo e Satanás] teve uma implicação no futuro de todos os mundos, e cada passo que tomou Cristo na senda da humilhação foi observado por eles com o mais profundo interesse” (Advent Review and Sabbath Herald, março de 1901).
 
"Os mundos não caídos e os anjos celestiais vigiavam com intenso interesse o conflito que se aproximava do desfecho" (DTN, p. 489).

A controvérsia não seria levada a outros mundos
"A controvérsia não deveria se espalhar a outros mundos do universo, mas ela deveria prosseguir no próprio mundo, na mesma esfera que Satanás reivindicava como sua" (RH, 9 de março de 1886).

“A morte de Cristo terminou para sempre toda a polêmica nos mundos não caídos, acerca dos princípios de ação de Satanás, seus métodos desonestos e mentirosos. Satanás nunca mais poderia encontrar a menor simpatia entre eles. Seu poder e domínio, que haviam desafiado a Lei de Jeová, teriam fim, e a paz reinaria no céu eternamente” (YI, 5 de agosto de 1897).
 
"Para os anjos e os mundos não caídos, o brado: 'Está consumado' teve profunda significação. Fora em seu benefício, bem como no nosso, que se operara a grande obra da redenção. Juntamente conosco, compartilham eles os frutos da vitória de Cristo. Até à morte de Jesus, o caráter de Satanás não fora ainda claramente revelado aos anjos e mundos não caídos. O arqui-apóstata se revestira por tal forma de engano, que mesmo os santos seres não lhe compreenderam os princípios. Não viram claramente a natureza de sua rebelião" (DTN, p. 537).
 
"No Céu e entre os mundos não caídos, liquidou-se a questão quanto ao poder enganador de Satanás e seus princípios malignos, e provou-se de uma vez para sempre a perfeita pureza e santidade de Cristo, que sofria a prova e aflição em favor do homem caído. Mediante o desdobramento do caráter e princípios de Satanás, foi ele para sempre desarraigado das afeições dos mundos não caídos, e a controvérsia acerca de suas pretensões e das reivindicações de Cristo ficou para sempre assentada no Céu" (ME1, p. 348).

Deus criou o plano de salvação para beneficio de todos os mundos
"Antes da criação do mundo determinou-se, conforme relato de Deus, que o homem deveria ser criado e dotado de poder para fazer a vontade divina. A queda do homem, com todas as suas consequências, não foi desconsiderada pela Onipotência e o plano da redenção foi um pensamento anterior, formulado antes da queda de Adão, com um propósito eterno, foi elaborado para remir pela graça, não apenas este mundo minúsculo, mas para o bem de todos os mundos que Deus criou" (ST, 13 de fevereiro de 1893).
 
"O universo celeste, os mundos não caídos, o mundo caído e a confederação do mal não podem dizer que Deus poderia fazer mais pela salvação do homem do que fez. Jamais será ultrapassado Seu dom, não pode nunca exibir mais preciosa profundidade de amor. O Calvário representa Sua obra-prima" (Nossa Alta Vocação, p. 8).
 
A Terra comparada a outros mundos
"Quão agradecidos deveríamos ser, pelo fato de que, apesar desta Terra ser tão pequena em comparação aos mundos criados, Deus ainda nos observa. Eis que as nações são consideradas por Ele como um pingo que cai dum balde, e como um grão de pó na balança" (RH, 9 de março de 1886).

"Este mundo não é mais do que um pequenino átomo no vasto domínio sobre o qual Deus preside" (TM, p. 324).

"Ele carregou a cruz, suportou a vergonha e fez isso, tendo em vista os resultados do que Ele realizaria, em favor, não apenas dos habitantes deste pequeno mundo, mas do universo inteiro e de todos os mundos criados por Deus" (RH, 4 de setembro de 1900).

“[Deus] conta as estrelas, Ele que criou os mundos – entre os quais esta Terra é apenas um grão de pó, e quase não se notaria sua ausência dentre os numerosos mundos” (In Heavenly Places, p. 40).

Milhões de mundos são habitados
"Se todos os habitantes deste pequeno mundo recusassem obediência a Deus, Ele não seria deixado sem glória. Num momento, Ele poderia varrer da face da Terra todo mortal e criar uma nova raça para povoá-la e glorificar Seu nome. Deus não depende do homem para ser honrado. Ele poderia ordenar às constelações lá dos céus, aos milhões de mundos do alto, que elevassem um cântico de honra e louvor, e glória ao Seu nome" (Santificação, p. 77).
 
Os mundos não caídos na eternidade
"Todos os tesouros do Universo estarão abertos aos remidos de Deus. Livres da mortalidade, alçarão voo incansável para os mundos distantes. Os filhos da Terra entram de posse da alegria e sabedoria dos seres não caídos e compartilham de tesouros de entendimento adquiridos durante séculos e séculos. Com visão clara, olham para a glória da criação — sóis e estrelas e sistemas, todos na sua indicada ordem, a circular em torno do trono da Divindade" (GCC, p. 293).
 
Visão dada a Ellen White de outros mundos
“O Céu é um lugar agradável. Anseio ali estar, e contemplar meu amorável Jesus, que por mim deu Sua vida, e achar-me transformada a Sua imagem gloriosa. Oh! quem me dera possuir linguagem para exprimir as glórias do resplandecente mundo vindouro! Estou sedenta das águas vivas que alegram a cidade de nosso Deus. O Senhor me proporcionou uma vista de outros mundos. Foram-me dadas asas, e um anjo me acompanhou da cidade a um lugar fulgurante e glorioso. A relva era de um verde vivo, e os pássaros gorjeavam ali cânticos suaves. Os habitantes do lugar eram de todas as estaturas; nobres, majestosos e formosos. Ostentavam a expressa imagem de Jesus, e seu semblante irradiava santa alegria, que era uma expressão da liberdade e felicidade do lugar. Perguntei a um deles por que eram muito mais formosos que os da Terra. A resposta foi: 'Vivemos em estrita obediência aos mandamentos de Deus, e não caímos em desobediência, como os habitantes da Terra.' Vi então duas árvores. Uma se assemelhava muito à árvore da vida, existente na cidade. O fruto de ambas tinha belo aspecto, mas o de uma delas não era permitido comer. Tinham a faculdade de comer de ambas, mas era-lhes vedado comer de uma. Então meu anjo assistente me disse: 'Ninguém aqui provou da árvore proibida; se, porém, comessem, cairiam.' Então fui levada a um mundo que tinha sete luas. Vi ali o bom e velho Enoque, que tinha sido trasladado. Em sua destra tinha uma palma resplendente, e em cada folha estava escrito: 'Vitória.' Pendia-lhe da cabeça uma grinalda branca, deslumbrante, com folhas, e no meio de cada folha estava escrito: 'Pureza', e em redor da grinalda havia pedras de várias cores que resplandeciam mais do que as estrelas, e lançavam um reflexo sobre as letras, aumentando-lhes o volume. Na parte posterior da cabeça havia um arco em que rematava a grinalda, e nele estava escrito: 'Santidade.' Sobre a grinalda havia uma linda coroa que brilhava mais do que o Sol. Perguntei-lhe se este era o lugar para onde fora transportado da Terra. Ele disse: 'Não é; minha morada é na cidade, e eu vim visitar este lugar.' Ele percorria o lugar como se realmente estivesse em sua casa. Pedi ao meu anjo assistente que me deixasse ficar ali. Não podia suportar o pensamento de voltar a este mundo tenebroso. Disse então o anjo: 'Deves voltar e, se fores fiel, juntamente com os 144 mil terás o privilégio de visitar todos os mundos e ver a obra das mãos de Deus'" (PE, pp. 39 e 40).

quinta-feira, 26 de maio de 2022

BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO?

A cada episódio de violência em que criminosos levam a pior no confronto com a polícia ou mesmo com cidadãos armados, velhas e virulentas representações sobre o crime e a justiça veem à tona numa forma de quase histeria ou celebração coletiva. Se utilizando do discurso de ódio, de “bandido bom é bandido morto”, milhares de pessoas celebram nas redes sociais a morte de um criminoso por policiais. Tal discurso se alastra pela sociedade, pelo consciente e inconsciente das pessoas, e, espalhado pelo meio social não encontra limite apenas nas pessoas que se conceituam como pessoas de bem.

O Datafolha, reconhecido instituto de pesquisa de opinião pública, revelou em 2015 uma pesquisa aterradora. Segundo esta pesquisa, mais da metade da população brasileira acredita que BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO. Quando mais da metade da população quer ver o sangue cobrindo as ruas, quer ver a polícia ou quem vier a fazê-lo, a matar os indesejados, os excluídos, os marginais, quando mais da metade da população se regozija com isso, qualquer voz que se levante falando pela dignidade humana será execrada e levada à matilha para que seja ali devorada, em praça pública, sob o holofote das redes sociais.

A extrema direita política usa esses episódios de tortura, justiçamento ou assassinato de criminosos pela polícia para propagar um discurso de ódio, ancorado exatamente na visão reacionária de que “bandido bom é bandido morto”. A violência urbana não vai diminuir com mais polícia, mais grupos de operações especiais, mais pessoas armadas. O discurso do ódio é vazio, superficial e anticristão. É muito perigoso, está crescendo e precisa ser combatido.

Expressões como ‘bandido bom é bandido morto’, ‘tá com dó? leva pra casa’, ‘deveriam ter matado mais’, entre outras, estão cada vez mais presentes no pensamento de inúmeras pessoas atualmente, todavia, o que causa-nos estranheza, é que boa parte dessas pessoas que apoiam e promovem este tipo de discurso são professos cristãos. Devem os seguidores de Jesus incorporar em suas vidas e reproduzir essa ideologia? Há base bíblica para essa retórica?

O presente artigo não pretende, de forma alguma, fazer apologia à impunidade de pessoas que merecem ser julgadas e punidas no rigor da lei por seus próprios atos. Antes, o texto propõe um autoexame para o coração e um olhar para o problema, a fim de, fundamentado na ética cristã encontrada na mensagem do evangelho, ir em busca de caminhos mais parecidos com os de Jesus frente ao desafio que temos de nos relacionar com criminosos.

O que diz a Bíblia Sagrada?
É evidente que o problema da segurança pública é latente e quem o sente de forma mais dura são os trabalhadores, as mulheres, os homossexuais e os negros, que muitas vezes são agredidos, violentados e até assassinados. Com tal violência crescente e a ineficiência do Estado em proteger a população, gerando um sentimento de impunidade, é natural que muitos de nós estejamos indignados. Essa indignação quando é com base no que é justo não só é um direito, mas também é um dever. Posicionamo-nos contra a injustiça e os desmandos que nos afetam. Ocorre que existe um sem número de pessoas que extrapolam o âmbito daquilo que é justo. Deixam-se levar pelas emoções, deixam aflorar aquilo que há de pior em si mesmas, e toda essa raiva e revolta, não poucas vezes, redundam em atitudes desequilibradas e injustas. Vivem exatamente o inverso da lógica: um erro não justifica outro.

Quando estudamos a Bíblia percebemos nitidamente que a retórica do “bandido bom é bandido morto” é incompatível com os valores do evangelho. Logo, tal discurso pernicioso não condiz com aqueles que professam ser cristãos, pelas seguintes razões:

1) Porque Jesus ensinou a amar os inimigos. “Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem”, ordena-nos Ele. (Mateus 5:44, NVI). Nos versículos precedentes Ele já nos disse que não devemos ter pensamentos de ódio e desejos pecaminosos, que nossos pensamentos e palavras devem ser puros. Naturalmente, Jesus exigiu algo muito difícil. Como pode alguém fazer tais coisas? Exatamente. Amar nossos inimigos não é normal, mas é uma atitude cristã, e nos versos seguintes Jesus nos diz por que isso é cristianismo (versos 45-48). Portanto, um cristão que propaga nas redes sociais a retórica do bandido bom é bandido morto está confrontado com o claro ensino de Jesus.

2) Porque Jesus ensinou a perdoar como somos perdoados por Deus. Disse Jesus: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não lhes perdoará as ofensas" (Mateus 6:14,15, NVI). Cristo fala categoricamente do dever do cristão em perdoar os que nos fazem mal. Mateus 6:12, 14 e 15 não são os únicos lugares no primeiro Evangelho onde se enfatiza a lição de passarmos adiante a outros o perdão que recebemos de Deus. Em Mateus 18:21-35 aborda também a questão da reciprocidade do perdão. Portanto, precisamos demonstrar tanto espírito de perdão aos outros quanto Deus tem demonstrado por nós (v. 33). O que significa ser cristão? Ser cristão é imitar a Jesus; ser semelhante a Ele, viver a vida que Ele viveu. Pois bem, não devemos odiar, por que Ele perdoava e mesmo na cruz foi capaz de orar: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Como cristãos, precisamos aprender a perdoar. Isso exige graça, graça transformadora e graça capacitadora.

Ademais, quem nunca cometeu um erro? O grande desafio de mantermo-nos fiéis à pregação da mensagem cristã encontrada na Bíblia Sagrada tão ignorada hoje em dia, é que ela nos dá um grande tapa na cara, nivelando-nos a todos por baixo! Todos são pecadores! Diz-nos o apóstolo Paulo: “Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3:23, NVI). Todos são maus! Todos estão condenados! Pregar essa mensagem cancela todo orgulho, toda altivez, todo mérito. Essa mensagem impossibilita qualquer pessoa da raça humana a se colocar em posição de superioridade diante de quem quer que seja.

O julgamento que Jesus condena é exatamente esse! É o julgamento de quem olha para o outro com ar de superioridade e coração desprovido de amor. Que bate no peito e diz: “Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano!” (Lc 18-10-14). É o julgamento de quem pensa não ter a mesma capacidade de cometer pecados tão grandes ou maiores do que qualquer outro ser humano. É o julgamento daquele que não percebeu ainda que nada é, e não aprendeu ainda a gloriar-se apenas e tão somente nos méritos de Cristo. Queremos e até pregamos algumas partes do evangelho que consideramos ‘radicais’, ‘revolucionárias’, ‘loucas’, mas essa que diz que distantes de Cristo, somos miseráveis pecadores condenados a morte eterna, e de que fomos chamados a amar nossos inimigos, ó não, esta não, esta nós ignoramos.

Quem se acha superior a quem quer que seja, não sabe quão corrupta é a alma humana e quão capazes somos de fazer o mal. Não sabe quão suja é a lama do pecado de onde Cristo nos tirou. Então, perguntamos: e se fôssemos tratados por Deus com a mesma justiça que vomitamos nas redes sociais contra os nossos semelhantes? Será que não estamos com o coração no lugar errado? Será que não nos está faltando discernimento para entender o coração subversivo daquele que nos ordena a amar nossos inimigos?

3) Porque Jesus rejeitou a vingança como forma de fazer justiça. “Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra” (Mateus 5:39, NVI). Oferecer o outro lado da face simboliza o espírito não vingativo, humilde e manso que deve caracterizar os cristãos. Jesus está nos ensinando que não é papel de cristãos individualmente “castigar o que pratica o mal” (Romanos 13:4), mas a polícia e os tribunais de justiça, com base na lei. Não devemos impor a lei com as próprias mãos. Não devemos viver uma vida de retaliação. Devemos viver de acordo com as bem-aventuranças, devemos ser pacificadores e amar nossos inimigos. Devemos deixar a vingança com Deus, pois está escrito: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito: Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o Senhor.” Em outra passagem, Salomão escreveu: “Não digas: vingar-me-ei do mal; espera pelo Senhor e ele te livrará” (Provérbios 20:22). Ao contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. “Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Romanos 12:19-21, NVI).

Lucas nos conta que Jesus havia iniciado sua última viagem para Jerusalém. Lá ele seria entregue, julgado e crucificado. Enquanto seguia a viagem, Jesus continuou a proclamar o reino de Deus, a ensinar seus discípulos e a curar os enfermos. Quando estavam próximos de uma aldeia samaritana, ele enviou discípulos que o precedessem para preparar um lugar no qual pudessem repousar. Mas diferente de uma outra cidade samaritana, aquela da história registrada em João cap. 4, que se converteu a Jesus, esta aqui recusou-se a recebê-lo.

Então, diante disto Tiago e João, os “filhos do trovão”, perguntam a Jesus: “O Senhor quer que nós ordenemos que caia um fogo do céu que consuma estes samaritanos. Esse episódio mostra nitidamente que os irmãos fizeram a indagação a Jesus motivados por sentimentos de retaliação e vingança. Para suas surpresa, Jesus os repreendeu, dizendo: “Vocês não sabem de que espécie de espírito são, pois o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los" (Lucas 9:51-56, NVI).

A Bíblia, inclusive, exorta-nos a não se alegrar quando o nosso inimigo fracassa: “Quando cair o teu inimigo, não te alegres, e quando tropeçar, não se regozije o teu coração; para que o Senhor não o veja, e isso seja mau aos seus olhos, e desvie dele, a sua ira.” (Provérbios 24:17-18).

Portanto, reações descontroladas e pautadas no ódio e na vingança da parte de gente que não tem compromisso nenhum com a fé e com a moral cristã são lamentáveis, mas de uma forma ou de outra, compreensíveis, tendo em vista o estado de escuridão e ódio que uma pessoa dominada pelo pecado pode chegar. Entretanto, alguém que se diz seguidor de Cristo compactuar com esse tipo de coisa é inadmissível. Reproduz apenas o triste eco de uma geração cristã ególatra, que não sabe quem de fato é, não sabe de onde Cristo a tirou, não tem Cristo e este crucificado como Senhor e referência de seu coração, é biblicamente analfabeta e vazia do Espírito Santo de Deus.

4) Porque Jesus andou com os pobres e miseráveis. E em nossa sociedade desigual e racista, a imagem do bandido é sempre de pobres e negros. Certa vez Jesus encontrava-se na casa do publicano Levi Mateus. Ele estava sentado à mesa comendo na companhia daqueles que a sociedade julgava “indesejáveis”: publicanos e pecadores (Mt 9:10-13). Sendo interrompidos pelos fariseus, que perguntaram se era apropriado que Ele Se misturasse com pessoas tão desprezíveis, Jesus os desafiou a aprender o significado de misericórdia, em contraste com sacrifício. “Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’. Pois eu não vim chamar justos, mas pecadores (Mt 9:13, NVI).

Reflitamos sobre esta incrível verdade de que Aquele que fez todas as coisas (Jo 1:3) assumiu a humanidade e, na carne, misturou-se com os seres humanos caídos e os ajudou. Essa verdade, que nos traz muita esperança, de alguma forma, deve afetar o modo como nos relacionamos com os outros.

O sistema não é justo. Os mortos da guerra às drogas são jovens, negros e pobres. 77% dos mortos por homicídio no Brasil são negros. É a pobreza que está sendo criminalizada.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo. Muitos presos estão ali mesmo sem condenação, cerca de 45%. São pessoas muito jovens, 74% têm até 34 anos e 64% são negros. Quanto à escolaridade, 75% da população prisional brasileira não chegou ao ensino médio. Menos de 1% dos presos tem graduação.

Os números indicam que a questão é muito mais profunda e complexa do que as explicações da extrema direita. Como explicar esses números sem entender que a questão da violência, do crime, do encarceramento é uma questão social, que está relacionada ao racismo e às desigualdades latentes da sociedade capitalista?

Ademais, o mantra “bandido bom é bandido morto” não diminui a quantidade de crimes, não traz mais segurança para a população, como pensam muitos, mas, para além de difundir um pensamento que é criminoso por si só, acaba espalhado pelo meio social, atingindo a todos com sua mensagem de morte e intolerância, de abandono do estado de direito.

Quem pensa que uma polícia mais violenta é saída para melhorar a segurança pública está redondamente enganado. Estudos revelam que a cada ano a polícia mata mais, e a cada ano a violência aumenta mais, os homicídios aumentam mais. Portanto, o discurso do ódio “bandido bom é bandido morto” não traz mais segurança para ninguém. A Polícia Militar brasileira é uma das mais violentas do mundo e isso não nos torna mais seguros. Todo jovem e negro da periferia sabe disso. A ação da PM traz mais morte, mais violência, mais preconceito.

Conclusão
Concluímos dizendo que, o julgamento que somos chamados a fazer é segundo a reta justiça, com total fundamento, não em nosso ódio pecaminoso, mas no amor. Se alguém deve ser punido, que seja com todo rigor, com base na legislação penal de nosso país, contudo, não porque somos melhores, mas porque é justo, e a paz é fruto da justiça. Temos de agir sempre no intuito de sermos fiéis a Deus, na esperança de vermos vidas arrependidas e restauradas pelo poder do evangelho. Nossa ação deve ser fruto de alguém que sabe que nada é, e que chora por ver a própria miserabilidade e a miserabilidade dos que estão ao seu redor. Nosso posicionamento deve sempre ter um norte: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

Em um tempo de tanta animosidade, tantas discussões, tanta rivalidade e tantas polarizações, somos chamados a ser sal da terra, somos chamados a andar na contramão do sistema e em humildade, agir como pacificadores com base na justiça do Reino. É tempo de buscarmos sabedoria e sensatez para nossos posicionamentos públicos como cristãos.

Justiçamento e vingança não devem fazer parte nem do vocabulário, nem da vida dos cristãos! Seja Cristo o Senhor das nossas mentes, e que Ele nos dê sabedoria e discernimento em nossa forma pública de viver neste mundo caótico e sofrido. Sejamos luz, como nos pede o Senhor (Mt 5:14)!

Ricardo André (via A Verdade Como é em Jesus)

NAMORO NO PARAÍSO

Foi o “namoro” mais rápido da história. Depois de um pesado sono de Adão, posso imaginá-lo se beliscando para ter a certeza de que não era delírio. De repente, um agudo frio na barriga e um ritmo novo e mais rápido das batidas do coração agitaram seu corpo como resultado de um bombardeio de adrenalina na corrente sanguínea. O primeiro homem não havia sentido nada daquilo até que o jardim, antes habitado apenas por ele e por uma infinidade de bichos sem nome, recebesse um refinado toque do gênio criativo divino: a mulher. Adão não pôde se conter e explodiu em poesia no poema inaugural do lirismo humano: “Osso dos meus ossos e carne da minha carne.”

Mesmo que o relacionamento pré-matrimonial relâmpago de Adão e Eva não se enquadre de forma plena na definição de namoro, é possível extrair da primeira história de amor da humanidade lições importantes para orientar o relacionamento de jovens cristãos com seus pretendentes.

NAMORO OU AMIZADE?
Adão estava se sentido só e incompleto. Enquanto todos os bichos formavam pares compostos por sexos diferentes, Adão estava isolado, sem alguém igual e diferente o suficiente para compartilhar a maravilha de estar vivo no espetáculo que era o mundo pré-pecado.

Acima de Adão, havia os anjos e Deus, que, embora lhe conferissem amor e pudessem se comunicar por meio da linguagem falada, são diferentes do ser humano em essência e natureza. Abaixo, estavam os animais, que, obviamente, não podiam se relacionar com o homem em igualdade, por mais belos, amáveis e úteis que fossem. Adão tinha “Chefe”, “sub-chefes” e “subordinados”, mas não podia contar com alguém com quem pudesse abrir o coração de igual para igual.

No namoro cristão, a amizade precisa ser um dos pontos centrais de motivação para o início da relação. O namoro é o momento em que o casal deve construir e estreitar laços de companheirismo. Como fase preparatória para a vida a dois, o namoro deve ser um período para o casal “treinar” o que vai fazer até que a morte os separe, a saber, conversar, conversar e conversar.

Além disso, o namoro é o momento para conhecer o outro e avaliar a possibilidade de compartilhar para sempre a vida. A amizade nos expõe e vulnerabiliza ao revelar virtudes e defeitos reais. Portanto, um namoro que valorize a amizade produz os subsídios necessários para a tomada de decisão sobre a evolução ou não da relação até o casamento.

Namoros que iniciam logo depois de o casal se conhecer, e portanto sem tempo para a amizade prévia, têm maior propensão de usar a aparência como critério fundamental para o estabelecimento do relacionamento, o que não é a melhor maneira de avaliar um pretendente. Porém, segundo os pesquisadores Lucy Hunt, da Universidad do Texas, e Eli Finkel, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, “ter mais tempo para se familiarizar [um com o outro] pode permitir que outros fatores, como a compatibilidade do casal, assumam uma importância maior no namoro do que características externas, como a atração física. Ou talvez a outra pessoa pode realmente se tornar mais atraente aos olhos de quem vê virtude nesses outros fatores”. A amizade faz com que a capa da beleza caia para revelar as características interiores do outro, as quais, de fato, serão importantes para a manutenção de um futuro casamento.

Namoros movidos prioritariamente pela atração física tendem a ser mais sucetíveis à impureza sexual. Eletrizada pela efervescência hormonal, a paixão impede que um juízo adequado noção hollywoodiana de amor faz os namorados desconsiderarem aspectos fundamentais para o sucesso da relação matrimonial.

O termo bíblico usado para definir a companheira de quem Adão sentia falta é “auxiliadora idônea” (do hebraico ‘êzer, “que ajuda”, cognato do verbo ‘âzar, usado muitas vezes na Bíblia para se referir ao papel proativo de Deus em relação ao ser humano). Mais do que revelar certa hierarquização entre os gêneros no contexto matrimonial, a expressão enfatiza o fato de Eva ter sido criada para ser uma pessoa atuante e não apenas um mero item decorativo para embalar a paixão do esposo.

A reação de Adão ao ver pela primeira vez aquela que seria sua esposa também é reveladora em relação ao tipo não atrapalhar, em todos os aspectos da vida. O jovem cristão precisa analisar as características marcantes do comportamento do pretendente, as quais podem ser reveladoras do caráter, e não deve permitir que as emoções amorosas anuviem sua compreensão da realidade, impedindo-o de perceber o que todo mundo está vendo, em especial os pais.

Poucas coisas atrapalham mais a vida de alguém do que um casamento falido. Para evitar isso, é fundamental estar atento a posturas potencializadoras de divórcio apresentadas pelo futuro cônjuge, as quais, em geral, as paixões avassaladoras não permitem percepção prévia. Nesse ponto, vamos enfatizar elementos que podem revelar a possibilidade de infidelidade matrimonial, causa de muitas separações e o único motivo previsto nas Escrituras.

Um artigo de Tila M. Pronk, Johan C. Karremans e Daniel Wigboldus publicado no Journal of Personality and Social Psychology, em maio de 2011, apresenta o domínio próprio como característica fundamental de alguém que se revelará um companheiro fiel no futuro. O estudo mostrou que namorados com bons níveis de autocontrole em aspectos cotidianos têm mais chance de manter os votos matrimoniais, mesmo em face de fortes tentações sexuais. O desejo imediatista de autogratificação, por exemplo na alimentação, nas compras e nos prazeres em geral, pode ser um indicativo de uma personalidade com dificuldade em manter compromissos importantes, como os que são feitos no altar.

Na pesquisa de James McNulty e Levi R. Baker, publicada na mesma revista, constatou-se que jovens com um senso aguçado contra a imoralidade de todo tipo são mais propensos a se manter como cônjuges fiéis, porque um deslize nessa área seria um tormento para sua consciência. Pessoas assim são mais confiáveis.

Portanto, deve-se ter cuidado em estabelecer relacionamentos com gente para quem tudo parece normal. “Pequenos” deslizes, como cola na escola, “mentirinhas” para os pais e falta de pudor em relação ao corpo do namorado podem ser uma evidência de que o pretendente tem uma consciência um tanto cauterizada e que não terá muita dificuldade em lidar com o sentimento de culpa, caso traia o cônjuge.

A pesquisa permite concluir que a fidelidade matrimonial depende mais do fator consciência do que do fator “amor”. Essa conclusão está em harmonia com o pensamento do teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer sobre o casamento, segundo o qual “não é o amor que sustenta a aliança, mas a aliança que sustenta o amor”.

VISÃO CORRETA DO CASAMENTO
“Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher” (Gn 2:24). Essa frase é o resultado do “namoro” de Adão e Eva. Ou seja, o primeiro casal “namorou” para casar. E assim deve ser com os os jovens cristãos. A cultura dos namoros casuais (“ficar”) tem resultado em casamentos casuais. Com a mente programada para trocas constantes, a pessoa tem dificuldade em manter uma relação duradoura, como o casamento deve ser.

Por outro lado, namoro e noivado constituem o período de avaliação do pretendente e não devem ser considerados definitivos. Sobre isso aconselha Ellen White: “Mesmo que você tenha chegado ao noivado sem pleno conhecimento do caráter da pessoa com quem pretende se unir, não pense que o noivado constitua uma obrigação de chegar até os votos matrimoniais e se unir por toda a vida a alguém que não possa amar e respeitar. Tenha muito cuidado antes de noivar. Porém, é melhor, muito melhor, romper com o noivado antes do casamento do que se separar depois, como muitos fazem” (Só Para Jovens, p. 87). Se o namoro e o noivado forem vivenciados da forma certa, inclusive interrompidos se necessário, a visão bíblica sobre a perenidade do casamento tenderá a prevalecer na mente de quem assim se comporta. E isso evitará muitos problemas de ordem familiar.

No filme À Prova de Fogo, o personagem Michael tenta explicar o sentido do casamento para seu colega bombeiro Caleb, que está prestes a se separar da esposa. Michael pega os vidros de sal e pimenta sobre a mesa e diz: “Sal e pimenta são completamente diferentes […], mas você sempre os vê juntos.” Então ele cola os dois vidros com uma espécie de Super Bonder. “O que está fazendo?”, pergunta Caleb. Depois de conversarem mais um pouco, Caleb tenta separar os vidros de sal e pimenta, mas Michael diz: “Não faça isso. Se você os separar, vai quebrar um dos vidros ou os dois.” A cola havia feito os dois se tornarem um.

É isso que Deus faz quando um homem e uma mulher se casam. Eles são “colados” com sua bênção. A não ser pelo triste motivo da infidelidade matrimonial, ninguém está autorizado a separar o que foi unido no altar. Quando isso é feito, sempre há sofrimento para o casal e os filhos. Não há dúvida de que a graça de Deus pode curar feridas; porém, as cicatrizes ficam.

Por isso, antes de casar, é preciso estar ciente de que o casamento é eterno e que é um passo que não pode ser dado de qualquer jeito. Ellen White escreveu: “Se homens e mulheres têm o hábito de orar duas vezes ao dia antes de pensar em casamento, devem fazer isso quatro vezes ao dia quando pensam em dar esse passo” (Só Para Jovens, p. 93).

Os jovens que desejam fazer o certo em relação ao namoro, noivado e casamento devem ouvir a voz divina lhes perguntando sobre seus pretendentes: “A maior manifestação do seu amor é para aquele que morreu por vocês? Se for assim, o amor de um para com o outro será de acordo com o plano do Céu” (Testemunhos Para a Igreja, v. 7, p. 46). Só quem ama a Deus acima de todas as coisas está pronto para amar o cônjuge para sempre.

A fim de reforçar sua convicção, o jovem cristão deve fazer a si mesmo as seguintes perguntas: “Essa união me ajudará a alcançar o Céu? Aumentará meu amor a Deus? E ampliará minha esfera de utilidade nesta vida? Se essas reflexões não apresentarem nada em contrário, então prossiga no temor a Deus” (Só Para Jovens, p. 87). Quem procura alguém como companhia na viagem para o Céu e deseja crescer na vida precisa se desviar de relacionamentos em jugo desigual. Sobre isso, a revelação é taxativa: “Unir-se a um descrente é colocar-se no terreno de Satanás. [...] Satanás sabe bem que o dia do casamento de muitos rapazes e moças marca o fim da história de sua experiência e utilidade cristãs” (ibid., p. 82, 89).

O “namoro” de Adão e Eva foi iluminado com a bênção da presença de Deus. Todo jovem cristão pode contar também com a clareza das orientações divinas e, assim, experimentar a alegria real e infinita de um grande amor.

Vinícius Mendes (via Revista Adventista)

quarta-feira, 25 de maio de 2022

A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA ARMADA

Massacre nos EUA e chacina no Rio são reflexos de política armamentista

Crimes de ódio e operações policiais que deixam um grande número de mortos são atualmente uma violenta rotina tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, e têm em comum o uso indiscriminado de armas de fogo.

A terça-feira (24/5) foi mais um dia de contagem de baleados nos dois países – por aqui, o Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação criminal para apurar a legalidade de uma operação realizada na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, que deixou ao menos 24 pessoas mortas. Nos EUA, mais um ataque a tiros a uma escola deixou ao menos 21 mortos, sendo 19 crianças e uma professora, incluindo o atirador.

Ataques armados são hoje um evento comum e naturalizado pelas sociedades dos dois países. Nos Estados Unidos, ataques a tiros como o ocorrido na escola primária Robb Elementary, no Texas, e violência policial, sobretudo contra negros e outras minorias, se tornaram rotineiras.

No Brasil, o primeiro modelo de atentado não é comum, mas o uso da força descomunal da polícia, principalmente contra negros, é quase cotidiana, assim como a justificativa de que os alvejados seriam todos criminosos. Os exemplos são numerosos, em especial nas grandes cidades.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse em um pronunciamento nesta terça-feira que "é hora de agir" contra o lobby de empresas de armas no país. O democrata pediu ainda que os americanos pressionem seus representantes no Congresso para que deixem de barrar as votações de propostas que podem limitar o acesso às armas. Já o presidente Jair Bolsonaro (PL) elogiou o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e a Polícia Militar pela operação na madrugada desta terça-feira. O presidente disse que os mortos no conflito foram responsáveis pelo assassinato de 13 agentes de segurança pública em 2022, mas que especialistas “omitem essas informações com o intuito de demonizar aqueles que arriscam suas vidas”.

Alguns dados também são muito preocupantes no Brasil com relação ao porte de armas. A indústria armamentista continuou a crescer no 3º ano do governo Jair Bolsonaro. Desde 2018, com a eleição do presidente, os números de registros, importação e porte de armas de fogo quebram recorde sucessivamente. O presidente é a favor de munições. Defende armar a população. “Todo mundo tem que comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado”, disse em agosto de 2021. Essa era uma das suas bandeiras desde a campanha eleitoral. O setor encontrou um cenário mais favorável sob Bolsonaro. Novos registros de armas feitos à Polícia Federal quadruplicaram em 4 anos. Passaram de 51.027 em 2018 para 204.314 no ano passado.

Posição da Igreja Adventista
E qual seria o posicionamento da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre a questão do porte de armas? A declaração abaixo foi liberada peio então presidente da Associação Geral, Neal C. Wilson, após consulta com os 16 vice-presidentes da Igreja Adventista, em 5 de julho de 1990, durante a Assembleia da Associação Geral realizada em Indianápolis, Indiana.

As armas automáticas ou semi-automáticas de estilo militar estão se tornando cada vez mais disponíveis aos civis. Em algumas regiões do mundo é relativamente fácil a aquisição de tais armas. Elas aparecem não apenas nas ruas, mas também nas mãos de jovens nas escolas. Muitos crimes são cometidos por meio do uso dessas armas. São feitas para matar e não têm nenhuma utilidade recreativa legítima. Os ensinos e o exemplo de Cristo constituem a norma e o guia para o cristão de hoje. Cristo veio ao mundo para salvar vidas, não para destruí-las (Lucas 9:56). Quando Pedro sacou de sua arma, Jesus lhe disse: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada, à espada perecerão” (Mateus 26:52). Jesus não Se envolvia em violência.

Alguns argumentam que a interdição das armas de fogo limita os direitos das pessoas e que as armas não cometem crimes, mas sim as pessoas. Embora seja verdade que a violência e as inclinações criminosas conduzem às armas, também é verdade que a disponibilidade das armas leva à violência. A oportunidade de civis comprarem ou adquirirem de outro modo as armas automáticas ou semi-automáticas apenas aumenta o número de mortes resultantes dos crimes humanos. [...] Na maior parte do mundo, as armas não podem ser adquiridas por nenhum meio legal. A igreja vê com alarme a relativa facilidade com que elas podem ser adquiridas em algumas regiões. Sua acessibilidade só pode abrir a possibilidade de mais tragédias.

A busca da paz e a preservação da vida devem ser os objetivos do cristão. O mal não pode ser combatido eficazmente com o mal, mas deve ser vencido com o bem. Os adventistas, como outras pessoas de boa vontade, desejam cooperar na utilização de todos os meios legítimos para reduzir e eliminar, onde possível, as causas fundamentais do crime. Além disso, tendo-se em mente a segurança pública e o valor da vida humana, a venda de armas de fogo automáticas ou semi-automáticas deveria ser estritamente controlada. Isso reduziria o uso de armas por pessoas mentalmente perturbadas e por criminosos, principalmente aqueles envolvidos com drogas e atividades de quadrilhas.

"Os terríveis relatos que ouvimos de homicídios e atos de violência declaram que o fim de todas as coisas está próximo. Agora, agora mesmo, precisamos estar nos preparando para a segunda vinda do Senhor" (Ellen G. White - Carta 308, 1907).

A série Falando de Esperança, com posicionamento da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre vários temas de interesse da sociedade, também abordou a questão do porte de armas:

terça-feira, 24 de maio de 2022

JOVENS CRISTÃOS - ENTRE A POLÍTICA E A VOLTA DE JESUS

No dia 2 de outubro, cerca de 150 milhões de brasileiros a partir dos 16 anos vão apertar os botões da urna eletrônica para escolher seus governantes. Será eleito o presidente da República juntamente com governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Mas, sejamos honestos, você acha mesmo que isso trará alguma mudança?

Contrariando o pensamento de que estariam desinteressados da política, os jovens se mobilizaram e, na reta final do prazo hábil para a votação de outubro, chegaram ao recorde de novos títulos de eleitor. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais de dois milhões de brasileiros com 16, 17 e 18 anos se habilitaram para o primeiro pleito — número 47% superior ao de 2018, por exemplo. Ao todo, o grupo de jovens entre 16 e 24 anos chega a 29 milhões de pessoas no Brasil, ou 17% da população. Só os jovens de 16 e 17 anos, para quem o voto é facultativo, somam 6 milhões.

Assim como nas pesquisas com adultos, a sondagem específica com os jovens mostra o alto grau de preocupação com temas econômicos, à medida em que a nova geração chega a um mercado de trabalho desafiador. Perguntados sobre qual é “o principal problema do Brasil hoje”, os respondentes escolheram sobretudo pontos relacionados à crise econômica e ao custo de vida. Somando ‘crise’, ‘fome/miséria’, ‘desemprego’ e ‘inflação’, chega-se a 40% que veem isso como principal problema do Brasil, o que mostra uma preocupação muito alta dos jovens com a economia. Em seguida vieram corrupção (27%) e educação (20%).

Enquanto isso, a temática ambiental, um traço da geração Z no mundo — que vira adulta enquanto a crise climática se agrava —, se mostra quase unanimidade. Perguntados se consideram a crise climática “uma ameaça” para seu futuro, 89% concordaram total ou parcialmente.

Diante desse cenário, surge a pergunta: O jovem cristão tem alguma contribuição a oferecer no cenário político? Para o jovem adventista, que aguarda a breve vinda de Cristo, a política merece ser alvo de suas preocupações?

O teólogo George Knight, no livro A visão apocalíptica e a neutralização do adventismo, afirma: “A única resposta suficiente e permanente para as dificuldades que envolvem um mundo perdido, conforme Cristo ensinou [...] seria o Seu retorno nas nuvens do céu. Na Sua vinda há verdadeira esperança. O resto não passa de simples curativo.”

Seria, então, a esperança inigualável da volta de Cristo razão para os adventistas deixarem de lado o país e seus problemas, crendo que assim poderiam cuidar apenas do reino de Deus? Em um mundo ferido, deveríamos jogar fora a caixa de Band-Aid?

Visão bíblica
A busca por uma resposta bíblica pode começar pelo profeta Jeremias. Ele apresentou uma mensagem divina aos hebreus que se tornaram cativos do Império Babilônico: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29:7).

O plano divino não era que os hebreus permanecessem indefinidamente cativos, conforme Sua Palavra: “Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a Minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar” (Jr 29:10). A queda de Babilônia já estava profetizada no início do cativeiro. Mas, enquanto o povo de Deus estivesse sob o domínio da nação pagã, deveria trabalhar e orar em favor da paz e do bem comum.

Os cristãos da atualidade se consideram igualmente peregrinos e forasteiros neste mundo que se coloca em oposição a Deus (1Pe 2:11). Os poderes terrenos que se unem contra os mandamentos divinos são identificados na Bíblia como a moderna Babilônia, cuja queda também foi profetizada (Ap 14:8). O conselho de Deus é que Seus filhos se afastem da corrupção moral e espiritual (Ap 18:4) desse moderno império pagão. Ao mesmo tempo, devem ser o sal da Terra (Mt 5:13) e anunciar o evangelho da paz (Ef 6:15).

Por isso, a mesma atitude esperada dos hebreus cativos é necessária aos cristãos da atualidade. Buscar a paz perfeita que virá com a vinda de Cristo não é fechar-se para o mundo e se proteger da maldade alheia. Ao contrário, é se envolver com as pessoas e seus problemas concretos, buscando soluções para conflitos humanos e propondo um evangelho cuja suprema esperança não esqueça a fome do estômago nem a dor física de pessoas reais.

O duplo desafio de se afastar da corrupção mundana e se aproximar das pessoas do mundo é colocado pelo apóstolo Tiago (1:27): “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.”

A atuação cristã, seja ela evangelística, assistencial ou educacional, não é pacificar o mundo fazendo de conta que os conflitos não existem, ou remetendo todas as soluções exclusivamente para o futuro. O agir cristão acontece, no presente, neste mundo dividido em muitas causas e os mais variados interesses. Portanto, a política, o campo de batalha entre os diversos grupos de interesses de uma sociedade, é um terreno que a igreja necessariamente tem que atravessar. E a forma de os cristãos se relacionarem com a política ampliará ou limitará o potencial de seu testemunho.

Ellen White e a política
Ellen White, profetisa integrante do núcleo fundador do movimento adventista do sétimo dia, deixou registrada em seus escritos a orientação de que a igreja jamais deveria se envolver em assuntos políticos. “Não devemos, como um povo, envolver-nos em questões políticas” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 336). Ela afirma que a neutralidade política deve ser mantida por todos os que são assalariados pela igreja: “O dízimo não deve ser empregado para pagar ninguém para discursar sobre questões políticas” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 477). Diversas citações como essas são encontradas nas obras da escritora adventista.

Por outro lado, Ellen G. White valoriza o testemunho cristão em meio aos espaços do poder. “Muitos jovens de hoje, que crescem como Daniel no seu lar judaico, estudando a Palavra e as obras de Deus, e aprendendo as lições do serviço fiel, ainda se levantarão nas assembleias legislativas, nas cortes de justiça, ou nos palácios reais, como testemunhas do Rei dos reis” (Educação, 262).

A ação de característica política também foi incentivada no fim do século 19, nos Estados Unidos, quando adventistas foram presos por trabalhar no domingo e movimentos religiosos lutavam pelo estabelecimento de uma lei dominical nacional. Ellen White incentivou a igreja a batalhar em várias frentes, inclusive junto aos legisladores, para deter a ameaça à liberdade religiosa. No contexto dessa crise, ela escreveu: “Não estamos cumprindo a vontade de Deus se nos deixarmos ficar em quietude, nada fazendo para preservar a liberdade de consciência. [...] Haja as mais fervorosas orações, e então trabalhemos em harmonia com as nossas orações” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 320 e 321).

É possível perceber que, para Ellen White, a igreja não deve se misturar em disputas partidárias e polêmicas que venham a prejudicar sua missão evangelizadora. Por outro lado, há necessidade de pessoas fiéis que estejam presentes nos espaços do poder para contribuir com a perspectiva cristã nos debates públicos e sustentar a liberdade religiosa.

Responsabilidade cristã
Embora a igreja não possa confundir sua missão com disputas partidárias, os cristãos devem contribuir com a criação de leis justas e fortalecer a liberdade de crença. Então, a pergunta que resta é: seria possível ao crente manter sua fé e ao mesmo tempo travar os embates políticos?

No livro Ciência e política: duas vocações, na página 121, o pensador alemão Max Weber responde de forma negativa. Para ele, a política é regida por uma ética de resultados, enquanto a religião é regida pela ética da convicção embasada na Bíblia. “Aquele que deseja a salvação da própria alma ou de almas alheias deve, portanto, evitar os caminhos da política”, sentencia.

O sociólogo Paul Freston, por outro lado, acredita que “o envolvimento político sadio é imprescindível para a saúde da própria igreja, assim como para o bem da sociedade”. Sua opinião sobre o que é sadio ou doentio ele apresenta no livro Religião e política, sim; Igreja e Estado, não, na página 7.

Para Freston, “a Igreja, como instituição, não deve se envolver na política [...] quando o faz, ela e os seus líderes se tornam vulneráveis a todas as contingências do mundo político” (p. 11). Também alerta quanto aos perigos de dar corda aos crentes que se julgam salvadores da pátria: “Em torno dos candidatos e políticos evangélicos há líderes e membros de igrejas com uma expectativa ‘messiânica’ que aquele candidato evangélico canalizará automaticamente as bênçãos de Deus sobre o Brasil, resolvendo todos os problemas que nos afligem. Esse messianismo é muito perigoso, para o país e para a Igreja. [...] A última parte do homem a se converter [...] é o fascínio pelo poder” (p. 11).

O sociólogo também comenta a presença de muitos candidatos que se dizem fiéis a alguma religião durante a campanha e depois de eleitos jamais voltam para dar satisfação de seus atos como homens públicos. Nessa realidade, a religião é apenas uma isca.

Freston acredita que a ponte entre os cristãos e a política pode ser feita por meio de uma atuação que siga um modelo comunitário. Nesse modelo, os evangélicos não representariam igrejas nem instituições, mas grupos de crentes que compartilham ideais políticos semelhantes. “Assim, os que exercem mandatos políticos não ficam soltos, mas interagem e respondem a outras pessoas que podem, se necessário, até mesmo repreendê-los e aconselhar sua saída da política.”

O modelo comunitário pode parecer utopia, mas toda utopia tem o desejo de realizar-se. Segundo Freston, “a solução para os problemas políticos é sempre política. A solução para a má política é a boa política”. Isso não significa a negação da fé no mundo vindouro, mas responsabilidade cristã com o mundo que Deus nos permite viver no presente. A esperança na volta de Cristo deve moldar nossas ações em todas as esferas da vida. Inclusive na política.
 
Texto adaptado de Conexão 2.0