terça-feira, 31 de outubro de 2023

REI DO NORTE & REI DO SUL

Ao estudarmos o capítulo 11 de Daniel, veremos que se trata de um texto desafiador. Alguns pontos devem ser apresentados no início. Primeiramente, esse capítulo está, em geral, em paralelo com os esboços proféticos anteriores do livro. Como nos capítulos 2, 7, 8 e 9, a mensagem profética se estende dos dias do profeta até o fim dos tempos. Em segundo lugar, uma sucessão de potências mundiais emerge; são poderes que muitas vezes oprimem o povo de Deus. Terceiro, cada esboço profético atinge o clímax com um final feliz. Em Daniel 2, a pedra destrói a estátua; em Daniel 7, o Filho do Homem recebe o reino; e em Daniel 8 e 9, o santuário celestial é purificado mediante a obra do Messias.

Em seguida, o capítulo 11 apresenta três pontos fundamentais. Primeiramente, ele apresenta os reis persas e discute o destino deles e o tempo do fim, quando o rei do Norte ataca o monte santo de Deus. Em segundo lugar, há a descrição de uma sucessão de batalhas entre o rei do Norte e o rei do Sul e como essas lutas afetam o povo de Deus. Em terceiro lugar, o capítulo conclui com um final feliz, quando o rei do Norte encara a sua ruína por meio do “glorioso monte santo” (Dn 11:45). Essa conclusão positiva sinaliza o fim do mal e o estabelecimento do reino eterno de Deus.

Profecias sobre a Pérsia e a Grécia
Gabriel disse a Daniel que três reis ainda se levantariam da Pérsia. Eles seriam seguidos pelo quarto rei, que seria o mais rico de todos e provocaria os gregos. Depois de Ciro, três sucessivos reis exerceram domínio sobre a Pérsia: Cambises II (530-522 a.C.), o falso Esmérdis (522 a.C.) e Dario I (522-486 a.C.). O quarto rei é Xerxes, mencionado no livro de Ester como Assuero. Ele era muito rico (Et 1:1-7) e comandou um vasto exército para invadir a Grécia, como previsto na profecia. Mas, apesar de seu poder, ele foi repelido por uma força menor de valentes soldados gregos.

Não é difícil reconhecer Alexandre, o Grande, como o poderoso rei que surge em Daniel 11:3 e que se torna o governante absoluto do mundo antigo. Aos 32 anos, ele morreu sem deixar um herdeiro para governar o império. Por isso, o reino foi dividido entre seus quatro generais: Seleuco ficou com a Síria e a Mesopotâmia; Ptolomeu, com o Egito; Lisímaco, com a Trácia e partes da Ásia Menor; e Cassandro, com a Macedônia e a Grécia.

O que podemos aprender com essa variedade de nomes, datas, lugares e eventos históricos? Primeiramente, aprendemos que a profecia foi cumprida como previsto pelo mensageiro divino. A Palavra de Deus nunca falha. Em segundo lugar, Deus é o Senhor da História. Podemos ter a impressão de que a sucessão de poderes políticos, líderes e reinos é impulsionada pela ambição de imperadores, ditadores e políticos de todos os tipos. No entanto, a Bíblia revela que Deus está no controle supremo e moverá a roda da História de acordo com Seu propósito divino, o que, em última análise, levará à erradicação do mal e ao estabelecimento do reino eterno de Deus.

Profecias sobre a Síria e o Egito
Após a morte de Alexandre, o Grande (323 a.C.), o vasto império grego foi dividido entre seus quatro generais. Dois deles, Seleuco, na Síria (Norte), e Ptolomeu, no Egito (Sul), conseguiram estabelecer dinastias que lutariam entre si pelo controle da terra.

A maioria dos estudantes da Bíblia compreende as guerras entre o rei do Norte e o rei do Sul profetizadas em Daniel 11:5-14 como se referindo às muitas batalhas envolvendo essas duas dinastias. Segundo a profecia, seria feita uma tentativa de unir essas duas dinastias pelo casamento, mas essa aliança duraria pouco (Dn 11:6). Fontes históricas nos informam que Antíoco II Teos (261-246 a.C.), neto de Seleuco I, casou-se com Berenice, filha do rei egípcio Ptolomeu II Filadelfo. No entanto, esse acordo não durou, e o conflito que envolvia diretamente o povo de Deus logo foi retomado. Portanto, Daniel 11 trata de alguns eventos importantes que afetariam a vida do povo de Deus durante séculos após a morte do profeta Daniel.

Novamente, podemos perguntar por que o Senhor revelou antecipadamente todos esses detalhes sobre as guerras envolvendo reinos que lutariam entre si pela supremacia naquela parte do mundo. A razão é simples: essas guerras afetariam o povo de Deus. Então, o Senhor anunciou de antemão os muitos desafios que Seu povo enfrentaria nos anos futuros. Além disso, Deus é o Senhor da História e, ao compararmos o registro profético com os eventos históricos, podemos ver novamente que a palavra profética foi cumprida. O Deus que predisse as vicissitudes daqueles reinos helenísticos que lutaram entre si é o Senhor que conhece o futuro. Ele é digno de nossa confiança e fé. É um Deus grande, não um ídolo fabricado pela imaginação humana. Ele não apenas dirige o curso dos eventos históricos, mas também pode dirigir nossa vida se permitirmos que Ele assim o faça.

Roma e o Príncipe da aliança
Uma transição no poder dos reis helenistas para Roma pagã parece ser descrita em Daniel 11:16: “O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e ninguém poderá resistir a ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos”. A “terra gloriosa” é Jerusalém, região em que existiu o antigo Israel, e o novo poder que ocupou essa região foi Roma pagã. O mesmo evento também é representado na expansão horizontal do chifre pequeno, que atinge a “terra gloriosa” (Dn 8:9). Portanto, parece claro que o poder no comando do mundo naquele momento era Roma pagã.

Algumas pistas adicionais no texto bíblico reforçam essa percepção. Por exemplo, a expressão “um cobrador de impostos” (Dn 11:20, NVI) deve ser uma referência a César Augusto. Foi durante o seu reinado que Jesus nasceu, visto que Maria e José viajaram para Belém para a realização do censo (Dn 11:20). Além disso, de acordo com a profecia, esse governante seria sucedido por um “homem vil” (Dn 11:21). Como mostra a história, Augusto foi sucedido por Tibério, seu filho adotivo. Tibério é conhecido por ter sido um homem excêntrico e vil.

Um fato ainda mais importante é que, de acordo com o texto bíblico, durante o reinado de Tibério, o “príncipe da aliança” seria quebrado (Dn 11:22). Isso claramente se refere à crucificação de Cristo, também chamado de “Ungido” e “Príncipe” (Dn 9:25; veja também Mt 27:33-50), visto que Ele foi morto durante o reinado de Tibério. A referência a Jesus nessa passagem como “o Príncipe da aliança” é um indicador impressionante que mostra o fluxo de eventos históricos, dando novamente aos leitores uma evidência poderosa da surpreendente presciência de Deus. Se Ele teve razão a respeito de tudo o que ocorreu antes em cumprimento dessas profecias, podemos certamente confiar em Suas declarações quanto ao que ocorrerá no futuro.

O próximo poder
Daniel 11:29-39 se refere a um novo sistema de poder. Embora esse sistema esteja em continuidade com o Império Romano pagão e tenha herdado algumas características de seu antecessor, parece ser diferente em alguns aspectos. O texto bíblico afirma: “Não será nesta última vez como foi na primeira” (Dn 11:29). Ao examinarmos com mais profundidade, descobrimos que ele atua como um poder religioso, mirando seu ataque principalmente em Deus e em Seu povo. Vejamos algumas ações perpetradas por esse rei.

Primeiro, ele se indignaria “contra a santa aliança” (Dn 11:30). Essa deve ser uma referência à aliança divina de salvação, à qual esse rei se opõe.

Em segundo lugar, esse rei produziria forças que profanariam o santuário [...] e tirariam “o sacrifício diário” (Dn 11:31). Observamos em Daniel 8 que o chifre pequeno derrubou o fundamento do “santuário” de Deus e “tirou o sacrifício diário” (Dn 8:11). Isso deve ser entendido como um ataque espiritual contra o ministério de Cristo no santuário celestial.

Em terceiro lugar, como consequência de seu ataque ao santuário, esse poder estabelece a “abominação desoladora” no templo de Deus (Dn 11:31). A expressão paralela, “transgressão assoladora”, aponta para os atos de apostasia e rebelião cometidos pelo chifre pequeno (Dn 8:13).

Em quarto lugar, esse poder persegue o povo de Deus: “Alguns dos sábios cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim” (Dn 11:35). Isso nos lembra do chifre pequeno, que lançou por terra uma parte do exército e das estrelas e os pisou (Dn 8:10; compare com Dn 7:25).

Em quinto lugar, esse rei se levantaria e se engrandeceria “sobre todo deus; contra o Deus dos deuses [falaria] coisas incríveis” (Dn 11:36). Foi previsto também que o chifre pequeno falaria “com insolência” (Dn 7:8), até mesmo contra Deus (Dn 7:25).

Eventos finais
A parte final (Dn 11:40-45) mostra que o longo conflito entre o rei do Norte e o rei do Sul atinge seu clímax no tempo do fim. A essa altura, o rei do Norte vence o rei do Sul e lança o ataque final contra o monte Sião. Como a maioria dos eventos aqui descritos se encontra no futuro, a sua interpretação permanece incerta; assim, devemos evitar o dogmatismo. No entanto, é possível delinear os amplos contornos da profecia aplicando dois princípios básicos de interpretação. Primeiro, devemos entender que os eventos preditos na profecia são retratados com a linguagem e figuras derivadas da realidade do Israel do Antigo Testamento e de suas instituições. Em segundo lugar, essas figuras e a linguagem devem ser interpretadas como símbolos de realidades eclesiológicas (da igreja) universais e presentes nos ensinamentos de Jesus.

De acordo com esses princípios apresentados, o rei do Sul representa o Egito, conforme indicado de maneira sistemática ao longo da profecia. O rei do Norte, por sua vez, deve ser identificado com Babilônia, que aparece no Antigo Testamento como as forças do Norte (Jr 1:14; Jr 4:5-7; Jr 6:1; Jr 10:22; Jr 13:20; Jr 16:15; Jr 20:4; Jr 23:8; Jr 25:9, 12). Fundada por Ninrode, Babilônia se tornou um centro de religião pagã e o pior inimigo de Jerusalém. No simbolismo apocalíptico, Babilônia passou a representar tanto Roma pagã quanto Roma papal. Assim, a essa altura do cronograma profético, que é o tempo do fim, Babilônia/o rei do Norte simboliza o papado e suas forças de apoio. O Egito, por sua vez, representa as forças que fazem oposição ao papado, mas que finalmente são dominadas por ele. Desse modo, entre outras possibilidades, como o antigo Império Otomano, o Egito muito provavelmente representa o ateísmo e o secularismo.

Quando o rei do Norte invade a “terra gloriosa”, está escrito que “Edom, e Moabe, e as primícias dos filhos de Amom” (Dn 11:41) conseguem escapar de seu grande poder. Como essas três nações há muito deixaram de existir, elas devem ser interpretadas como símbolos de entidades escatológicas mais amplas. Para melhor compreendermos o simbolismo relacionado a essas nações, devemos observar que a “terra gloriosa” não é um espaço geográfico no Oriente Médio, mas um símbolo do povo remanescente de Deus. De igual forma, “Edom, e Moabe, e [...] Amom” não significam grupos étnicos ou povos, mas representam aqueles que resistirão à sedução de Babilônia e virão de diferentes religiões e tradições filosóficas para se juntarem ao remanescente nos últimos dias.

A batalha final desse longo conflito acontecerá quando o rei do Norte armar “as suas tendas palacianas entre os mares contra o glorioso monte santo” (Dn 11:45). Esse cenário lembra os reis estrangeiros que, vindos do Norte, atacaram Jerusalém. Senaqueribe, por exemplo, armou suas tendas militares em Laquis, que ficava entre o mar Mediterrâneo e Jerusalém. Essas imagens simbolizam o confronto final das forças da Babilônia espiritual (o papado e seus aliados) contra o povo de Deus. “O glorioso monte santo” representa o povo do Senhor sob o comando de Cristo. Assim, com uma linguagem que lembra a experiência do antigo Israel e Judá, a profecia retrata o ataque de Babilônia no tempo do fim contra o povo de Deus. Mas o inimigo fracassará; “chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra” (Dn 11:45).

Concluimos com este pensamento de Ellen White: “Nos registros da História humana, o desenvolvimento das nações, o nascimento e a queda dos impérios aparecem como que dependendo da vontade e do poder do homem. O decorrer dos acontecimentos parece determinado, em grande medida, por seu poder, ambição ou capricho. Mas na Palavra de Deus a cortina é afastada, e podemos ver acima, por detrás e pelos lados, as partidas e contrapartidas de interesse, poder e desejo humanos – os agentes do Todo-Misericordioso – executando paciente e silenciosamente os conselhos de Sua própria vontade” (Profetas e Reis, p. 499, 500).

[via CPB]

domingo, 29 de outubro de 2023

BATALHA CONTRA O VÍCIO

Morto neste sábado por afogamento em sua casa aos 54 anos, o ator americano Matthew Perry lutou contra a dependência química e contou sua história em sua autobiografia intitulada “Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível”. A “Coisa Terrível” a que Perry se refere é sua batalha contra o vício, que incluiu álcool, opioides e cigarro.

Mais do que apenas compartilhar anedotas de bastidores da TV americana, o livro é uma profunda introspecção. Ao longo de sua carreira, especialmente durante as últimas temporadas de “Friends”, Perry estava no auge do sucesso financeiro, chegando a ganhar US$ 1,1 milhão por episódio.

No entanto, ele revelou que uma estimativa de US$ 7 milhões foi gasta na tentativa de alcançar a sobriedade. Perry detalha suas 65 internações para desintoxicação e menciona que, a certa altura, chegou a consumir 55 pílulas de Vicodin diariamente.

Sua primeira internação foi aos 26 anos. Foram cerca de 6 mil reuniões do Alcoólicos Anônimos. A variação do seu peso durante o período de “Friends”, oscilando entre 58 e 102 quilos, também é destacada.

Apesar de suas realizações profissionais, Perry descreve momentos pessoais difíceis, como romances interrompidos devido a inseguranças e sentimentos de inadequação. Ele revela que terminou relacionamentos, incluindo um com Julia Roberts, por medo de ser abandonado no futuro.

Enquanto a autobiografia abrange diversos aspectos de sua vida, incluindo seu relacionamento com colegas de elenco e sua infância, o foco é sua dependência química. Ele enfatizava que, mesmo durante as gravações de “Friends”, nunca trabalhou sob a influência de drogas. Ainda assim, há momentos de vulnerabilidade, como quando ele saiu de uma clínica de reabilitação apenas para filmar o casamento de seu personagem, Chandler, com Monica.

A trajetória de Perry, infelizmente, foi repleta de altos e baixos, incluindo graves complicações de saúde, como um intestino rompido, levando-o a um coma e apenas 2% de chance de sobrevivência. A autobiografia serve como um olhar íntimo e sincero sobre seus desafios. (DCM)

Confiança no poder de Deus
É comum ouvir dos que já passaram por essa experiência que o vício é muito mais forte do que eles e que não têm forças para vencer, especialmente depois de crises de abstinência. É verdade, o vício é muito mais forte e é por essa razão que precisam de ajuda. Porém, somente a ajuda de tratamentos, da família e dos amigos não é suficiente. Precisam de algo superior, de um poder mais forte que os vícios.

A Bíblia nos fala de um homem que teve de lutar contra forças muito maiores do que ele, mas que encontrou o segredo da vitória. Esse homem foi o apóstolo Paulo. Veja o que ficou registrado na Bíblia: “Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Efésios 6:12).

A batalha contra os vícios não é somente física; é uma luta espiritual, pois as drogas e o álcool são uma das faces mais devastadoras do pecado na vida dos seres humanos. Mas em que Paulo encontrou a vitória? Note o que ele diz: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4:13). Quem era aquele que o fortalecia? É o mesmo que nos faz o convite: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28). Como ter acesso a esse poder? Aproximando-se de Deus por meio da oração, do estudo da Bíblia e do relacionamento diário com Jesus. Esse é o grande segredo.

Nessa batalha, todos temos algo em comum, pois dependemos do poder maior daquele que nos convida para irmos a ele. Sim, é possível vencer as drogas e o álcool, “pois em Cristo, aquele que nos amou, somos mais que vencedores” (Romanos 8:37).

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

ESCATOLOGIA DO MEDO

Nos últimos anos, tem surgido no meio religioso algo que chamo de “escatologia do medo”. Trata-se de uma corrente de pensamento que associa profecias bíblicas e textos inspirados a notícias da atualidade, numa abordagem alarmista e sensacionalista. Infelizmente, essa ideologia tem se inserido em muitas igrejas por meio de sermões proféticos, entre outros, e seu objetivo é criar um quadro profético da eminência do fim. Porém, não passa de teoria conspiratória, por meio da qual se dá maior ênfase nos planos malignos do que nos planos de Deus.

Esse tipo de abordagem tem disseminado medos infundados no meio do povo de Deus. Segundo o teólogo Amin Rodor, tais interpretações, dependentes de jornais e mapas proféticos de invenções próprias, buscam inutilmente obter credibilidade (Encontro com Deus, Meditação Matinal, p. 313).

O fato é que as mensagens proféticas não podem ser fundamentadas no medo. Segundo o apóstolo João, “aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor” (1Jo 4:17,18). Percebe-se que, ao longo da história, o medo gerou um efeito destrutivo na espiritualidade das pessoas.

Os cumprimentos proféticos são independentes de acontecimentos sociais específicos. Para a profecia, não é relevante o último discurso de um líder religioso ou de um presidente de uma grande nação. Eles são apenas personagens dentro de um quadro mais amplo, o qual está sob o controle de Deus e não, como alguns afirmam, de alguma suposta sociedade secreta.

Essa abordagem sensacionalista dos acontecimentos representa um mero esforço humano para dar credibilidade à profecia, algo que não lhe compete. Como já foi demonstrado inúmeras vezes, profecias fundamentadas em factoides não se sustentam.

Segundo Natanael Moraes, professor de Teologia do Unasp, essa prática é consequência da impaciência humana (Parousia, 2010, p. 25). Ellen G. White também afirma: “É verdade que o tempo tem prosseguido mais do que esperávamos nos primeiros tempos desta mensagem. Nosso Salvador não apareceu tão depressa como esperávamos. Falhou, porém, a Palavra do Senhor? Nunca! Devemos lembrar que as promessas e ameaças de Deus são igualmente condicionais” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 67).

A profecia é dada justamente para que saibamos que Deus está no controle da história. Seu objetivo não é que mergulhemos numa profunda pesquisa em busca de quando as profecias irão acontecer. Em Mateus 24:15, em sua mensagem profética, Cristo não manda que seus discípulos descubram quando iriam acontecer os sinais. A ênfase dada é que eles deveriam estar prontos quando tudo acontecesse.

O foco da profecia está no preparo antecipado e não propriamente no acontecimento. Porém, existem inúmeros cristãos que estão focados nos acontecimentos e não no preparo. Quando estes “despertarem”, para então buscarem o preparo, pode ser tarde demais! (Mt 25:1-13).

Segundo Ellen White, Deus pede reavivamento e reforma embasados nas Escrituras (Profetas e Reis, p. 320). A escritora acrescenta: “Tenho sido instruída de que não é de doutrinas novas e fantasiosas que o povo precisa. Não necessitam de conjeturas humanas. Precisam do testemunho de homens que conhecem e praticam a verdade” (Testemunhos Seletos, v. 3, p. 272).

Isso me leva a questionar se é saudável essa abordagem escatológica que especula sobre os detalhes dos acontecimentos finais? Tem ela preparado o povo de Deus para estar desperto no retorno de Cristo?

O que deve estar ocupando nossa mente, conforme orientou Ellen White, é a capacidade de nos submetermos a Jesus Cristo diariamente. “Todo o que pretende ser um servo de Deus é convidado a realizar Seu serviço como se cada dia fosse o último” (Maranata: O Senhor Vem!, p. 106).

Confira mais alguns textos de Ellen G. White nos advertindo sobre o cuidado que devemos ter com as mensagens alarmistas e o sensacionalistas:

"O Senhor vos chama a fazer decidida melhora em vossa maneira de apresentar a verdade. Não precisai ser sensacionalistas" (Evangelismo, p. 184).

"Enquanto trabalham com fervor a fim de interessar seus ouvintes e manter o interesse, ao mesmo tempo devem ser cuidados contra tudo que se aproxime do sensacionalismo. Nessa época de extravagância e exibicionismo, quando se pensa que é necessário fazer cena para ganhar sucesso, os mensageiros escolhidos de Deus devem desmascarar a falácia de gastar meios pelo mero fim de causar impacto" (The Review and Herald, 21/02/1907).

"O que queremos criar não é a excitação, mas uma reflexão profunda e fervorosa, a fim de que as pessoas que escutam, façam uma obra sólida, verdadeira, correta, genuína, que seja tão duradoura quanto a eternidade. Não temos ânsia de excitação, de sensacionalismo; quanto menos disso tivermos, tanto melhor. O raciocínio tranquilo e fervoroso com base nas Escrituras, é precioso e frutífero" (Evangelismo, p. 170).

"Deus convida Seu povo, que tem a luz diante de si na Palavra e nos Testemunhos, a ler e considerar, e dar ouvidos. Instruções claras e definidas têm sido dadas a fim de todos entenderem. Mas a comichão do desejo de dar origem a algo de novo dá em resultado doutrinas estranhas, e destrói largamente a influência dos que seriam uma força para o bem, caso mantivessem firme o princípio de sua confiança na verdade que o Senhor lhes dera" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 38).

"É necessário que os terrores do dia de Deus sejam mantidos diante de nós, a fim de sermos compelidos à ação correta pelo medo? Não devia ser assim. Jesus é atraente. […] Deseja ser nosso Amigo, andar conosco por todos os acidentados caminhos da vida. […] Jesus, a Majestade do Céu, deseja elevar ao companheirismo com Sua pessoa os que se dirigem a Ele com seus fardos, fraquezas e preocupações" (The Review and Herald, 02/08/1881).

(Com informações de Revista Adventista)

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

DEUS DO VELHO TESTAMENTO VS JESUS DO NOVO TESTAMENTO

Muitos cristãos evitam o Velho Testamento. Comparado com a meiguice de Jesus, Deus ali aparece violento e com uma mão tão pesada. 
Outros racionalizam, tentando rearranjar os relatos e torná-los ideais, apresentando uma edição revista e melhorada de eventos que você nunca permitiria que seus filhos vissem na televisão. Outros até o idolatram, argumentando que a nossa era sem lei precisa de um Deus que tem poder para abrir os céus e arrancar as montanhas de suas bases.

Neste artigo vamos explorar uma quarta possibilidade — olhando o Deus do Velho Testamento como ele realmente é. Está claro que essa tarefa é impossível, porque nunca podemos estar certos de que não estamos racionalizando ou idolatrando. Mais ainda, o realismo de uma pessoa pode ser o idealismo de outra.

De qualquer maneira, tentar conhecer o Velho Testamento com seriedade é uma tarefa que vale a pena. Lembre-se de que ele era a Bíblia de Jesus e dos apóstolos. Mais do que isso, Jesus não somente declarou que o Deus do Velho Testamento era seu Pai, mas reivindicou para si a encarnação deste Deus: "Antes que Abraão existisse, Eu sou," disse ele (João 8:59)1 Esse testemunho os cristãos aceitam.

Se os dois Testamentos são inseparáveis, até que ponto poderemos sublinhar diferenças entre eles e ao mesmo tempo preservar sua unidade? Poderíamos até nos perguntar se seria apropriado para os cristãos tratar de "diferenças" entre o Deus do Velho Testamento e o Deus do Novo? Em nossos ouvidos ainda soam ecos de Malaquias 3:6: "Porque eu, o Senhor, não mudo".

Tanto o Sermão da Montanha como a epístola aos Hebreus são claros sobre esse assunto. Em Mateus 5 Jesus indicou claramente os contrastes entre o Velho e o Novo: "Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo ... " Jesus está estabelecendo contrastes, não negando. A epístola aos Hebreus reivindica Jesus como uma revelação "melhor". Esse é o objetivo do livro inteiro, começando com o primeiro verso: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho" (Hebreus 1:1, 2). É importante notar que o contraste não é entre pior e melhor mas sim entre bom e melhor — uma diferença importante.

A despeito de certas evidências sobre as diferenças entre os Testamentos, ainda existe uma forte tendência de racionalizar e conciliar elementos dissonantes. Duas anedotas usadas no meu livro Who Is Afraid of lhe Old Testament God? ilustram esse ponto.2

Com referência ao Novo Testamento, lembro-me de um professor de renome do Velho Testamento que prometia escrever um livro intitulado "As Palavras Não Cristãs do Novo Testamento". Ele estava cansado, dizia com naturalidade, de ouvir seus colegas do Novo Testamento reivindicar esse Testamento como o Testamento da bondade e do amor, quando lá também está revelada a justiceira mão de Deus. Jesus falou de afogar uma pessoa no mar com uma pedra amarrada ao pescoço (Mateus 18:6); um súbito julgamento caíu sobre Ananias e Safira (Atos 5:1-11); Paulo sugeriu entregar um irmão a Satanás para a destruição da carne (1 Coríntios 5:5). Essas são palavras duras.

Um outro incidente relacionado com o Velho Testamento aconteceu num curso de hebreu de nível universitário, no qual se encontravam vários teologandos finalistas. Num dos exercícios do manual de gramática (se traduzido corretamente) lia: "Samuel degolou o rei". Porque os exercícios eram baseados em passagens bíblicas, os estudantes imperceptivelmente criam estar ouvindo a Bíblia ao trabalharem nos exercícios. Nesse caso, muitos trouxeram para a classe traduções mutiladas. Depois de trabalharmos nelas, um deles admitiu humildemente: "Nós pensávamos que isto é o que está dito, mas não poderíamos admitir que Samuel faria uma tal coisa".

Abrimos então nossas Bíblias em 1 Samuel 15:33 e lemos em nossa língua de hoje: "Samuel despedaçou Agag diante do SENHOR". A imagem do pequeno e inocente Samuel no templo, bem limpinho e obediente, tinha enterrado a espada ensanguentada de Samuel.

Resumindo, nosso desafio é este: se quisermos formar um todo coerente, em que tipo de moldura poderemos integrar as imagens contrastantes de Deus: o Deus amoroso com criancinhas no colo e o Deus violento, usando uma espada ensanguentada? Eu creio que o contraste entre os Testamentos é válido, mesmo se a mão justiceira de Deus apareça no Novo. Não importa se estamos lidando com as tensões entre os Testamentos ou com o contraste entre a mão amorosa e a mão justiceira de Deus, a mesma explicação básica se aplica, aquela que está intimamente relacionada com o conflito cósmico entre o bem e o mal.

O Conflito Cósmico
Os evangélicos esperam um mundo perfeito, um mundo melhor. Mas nós não estamos lá ainda. As perguntas clássicas da teodicéia aparecem quando os crentes confessam que Deus é bom e todo-poderoso e também o Senhor de um mundo como o nosso. Será que o poder e a bondade de Deus têm limites? Esse é o dilema.

A teodicéia do livre arbítrio, conhecida entre os adventistas pela "grande controvérsia entre o bem e o mal" é a que eu considero a mais irresistível. Segundo ela, o amor espontâneo, não forçado, livre, é o melhor. Rebeldia sem a ameaça de extinção imediata deve que ser uma opção. Então Deus escolhe temporariamente não demonstrar seu poder a fim de assegurar o bem supremo.

Essa teodicéia advoga a necessidade de demonstrar aos seres inteligentes que o bem escolhido voluntariamente é superior à bondade impingida. Mais do que isso, essa bondade impingida seria no fim o maior dos males, a antítese da bondade, pois ela requereria o uso arbritário do poder de um ser sobre o outro. A "grande controvérsia" é então a dramática batalha entre o bem (amor recíproco, espontaneamente escolhido e outorgado) e o mal (egoísmo, uma "bondade" impingida sobre outrem pelo uso arbitrário do poder).

O livro de Jó é o modelo bíblico clássico para essa teodicéia. Um ser maléfico (Satanás) confronta-se com o Ser Supremo, caracterizado pela bondade, com essas perguntas: Será que Jó realmente ama a Deus e o bem por amor à bondade? Deus permitiu que Satanás assediasse Jó, mas com limites. Saindo vitorioso nesta prova, Jó vindicou Deus e o bem. Deus então demonstra seu poder pondo fim às provações de Jó, um julgamento agora evidentemente justo pois que o amor e o egoísmo estiveram presentes na corte.

Neste conflito, o papel da autoridade é a chave para se compreender a tensão existente entre um Deus amoroso e um violento. Qual é a essência da autoridade: poder ou bondade?

Por causa do pecado, os seres criados vêem a autoridade em termos de poder, não de bondade. Ordens são dadas, convites não. O medo é a consequência natural e o motivo interior. Em contraste, a autoridade no mundo perfeito é definida em termos de bondade, não de poder. A alegria é sua consequência primária e sua força motora. Convites, não ordens, são emitidos. A resposta é aceita naturalmente, espontaneamente, não porque a autoridade possa impor sua aceitação, mas porque ela é vista como sendo boa.

Na Bíblia, esse ideal é descrito na promessa do Novo Concerto de Jeremias 31. Porque a lei está escrita no coração, ordens desnecessárias. " E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão, dizendo: 'Conhecei ao Senhor,' porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior." (Jeremias 31:34). A descrição que ElIen G. White fez do céu antes da rebelião de Lúficer reflete esse ideal: "Quando Satanás se revoltou contra a lei de Jeová, o pensamento de que uma lei existia veio aos anjos quase como o despertar de algo antes jamais pensado”.3

Em presença do pecado, Deus está pronto a usar sua autoridade como poder. Numa emergência, ele vai apelar para o temor. A revelação no Sinai foi violenta porque ele não poderia ter atingido o povo de outra maneira. Os senhores que escravizaram os Israelitas tinham exercido o poder da autoridade. Levaria muito tempo até que eles pudessem ver isso em termos de bondade. Jesus, a incarnação da lei de Deus, ilustrou a autoridade como "bondade". Mas o Israel do Sinai não estava preparado para uma revelação desta natureza.

Deus ainda recorre ao uso do poder e ainda utiliza o temor. Emergências às vezes ainda exigem isto num mundo pecaminoso. Mas o seu objetivo supremo é um reino onde reine o amor, escolhido voluntária e livremente. As Escrituras retratam a história de seus esforços neste sentido.

Dentro do escopo da grande controvérsia entre o bem e o mal, ao se organizar o material bíblico, a visualização de dois quadros é muito útil. A imagem do "escorregador" ilustra a perspectiva histórica, e a "pirâmide" a perspectiva sistemática.

O Escorregador
Mesmo se suas implicações não são totalmente compreendias, os primeiros capítulos de Gênesis descrevem um mundo em luta contra o egoísmo. Como no caso de Jó, Deus permite que o egoísmo tome o seu curso. O resultado é uma sucessão de desastres: o pecado de Eva e de Adão, o assassinato de Caim contra Abel, a vanglória de Lameque por ter-se tomado mais violento do que Caim, o dilúvio, a embriaguez de Noé e a torre de Babel. Em Josué 24:2 lemos que a própria família de Abraão "servia outros deuses". Gênesis revela a chocante realidade de que o sacrifício de crianças e a poligamia eram "aceitáveis" dentro da família da fé.

Muitos cristãos devotos tendem a passar por cima deste "escorregador" que levou à depravação, colocando inconscientemente uma capa bonita nos atos de Deus e de seu povo. Essa maneira de encarar os fatos da Bíblia sob o prisma da "estrada elevada" põe ênfase na continuidade da verdade de Deus. Um exemplo clássico encontra-se em Hebreus 11, que transforma os pecadores do Velho Testamento nos santos do Novo. Se você quiser ouvir Sara rir cinicamente, vá ao Gênesis. Você não vai ouvir isto em Hebreus 11.

As histórias do Velho Testamento, entretanto, sugerem uma "estrada baixa", aquela que reconhece o efeito do pecado no mundo perfeito de Deus. A "estrada baixa" mostra quão longe de Deus a criação caíu, e como Deus tem sido paciente para trazê-la de volta. Ele usará a violência para atingir os violentos. Mas ele pacientemente mostra sua meta — um reino de amor.

A gradativa perda do conhecimento de Deus requer uma volta ascendente degrau por degrau. Essa maneira de ver não só permite, mas exige meios de reconhecer percepções diferentes da verdade. O conceito "uma vez verdadeiro, sempre verdadeiro" não pode explicar tudo o que encontramos no Velho Testamento. O conhecimento da verdade se desenvolve sob a orientação de Deus. Não é uma evolução natural, mas uma jornada guiada por Deus.

Essa perspectiva também exige que usemos "textos chaves" mais cuidadosamente, porque eles serão melhor compreendidos dentro do contexto histórico. Mas, se é verdade que Deus falou num certo lugar para um determinado tempo, como vamos, saber o que se aplica a nossos dias? E aqui que a lei da "pirâmide" providencia o princípio primordial de organização.

A Pirâmide
O efeito "escorregador" do pecado na história da humanidade tem suscitado questões provocantes: será que a Bíblia toda pode ser vista de repente como "caindo do pedestal"? Não. O princípio número um do amor, definido primeiramente pelos dois grandes mandamentos (amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo) assim como pelo decálogo, nos dá a imagem de uma pirâmide que nunca se move. Tudo mais nas Escrituras não passa de comentários sobre o tempo e o lugar. Portanto o princípio número um e os dois grandes mandamentos juntamente com o decálogo formam uma pirâmide que se assemelha a um livro de código. O resto das Escrituras é como o classificador repleto de notas.

A imagem do "escorregador" é desconfortável, pois cristãos devotos têm a tendência de pensar nas Escrituras como um livro de código, mas inconscientemente a tratam como um classificador de notas. "Quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá" (Exodo 21: 17). É um mandamento de Deus. Mas será que nós o praticamos? Não. Sejamos honestos e coloquemos a teoria e a prática em harmonia. Fortaleceremos, se o fizermos.

A perspectiva do "classificador" nos permite integrar a revelação, a razão, e o trabalho do Espírito Santo num sistema harmonioso. A revelação nos providencia casos concretos que a razão pode avaliar. A oração convida o Espírito a nos assegurar que a razão é guiada pelo amor e não pelo egoísmo. Assim a Bíblia inteira permanece normativa porque providencia ilustrações concretas dos cuidados de Deus por seu povo no passado. Mas a aplicação de tais ilustrações para nossos dias não é clara nem absoluta. Desenvolvi esse tema em meu livro Inspiration: Hard Questions, Honest Answers, destinado especialmente ao público adventista.4

Sumário e Conclusão

O conflito cósmico entre o bem e o mal provê uma base sobre a qual é possível compreender por que um Deus amoroso tem que usar a violência. Devido as diferenças radicais existentes entre povos e culturas, um Deus de amor constante, ou seja, um Deus que não muda, tem que adaptar esse amor usando maneiras radicais, se ele realmente tiver que ser visto por todos como um Deus de amor. Da mesma maneira que pais sábios se adaptam às diferenças de seus filhos para que seu amor por eles seja coerente, Deus também adapta seu amor à compreensão daqueles que ele está tentando alcançar. Um artigo recente tratando das diferenças entre os gêneros, resume assim esse assunto: "tratando as pessoas da mesma maneira não é um tratamento justo, pois as pessoas não são todas iguais”.5

Jesus nos permitiu ver o Deus encarnado — uma revelação fantástica e perdurável. Ele também indicou os princípios organizadores (os dois grandes mandamentos) mais claramente do que eles aparecem no Velho Testamento. O Velho Testamento é mais autoritário. O conflito cósmico entre o bem e o mal nos explica a razão. Por isso a idéia do livro de código predomina nele, porque num sistema autoritário ninguém precisa de pensar: basta obedecer!

Se formos mais além em direção ao ideal do Novo Concerto, uma relação de amor recíproco com Deus torna-se mais e mais importante. Isso exige uma resposta profunda. Quando o processo se completar, Deus não será mais violento, nem mesmo em emergências, porque não vão existir mais emergências.

Para assegurar essa lei de amor, Deus quer que façamos a diferença entre o egoísmo e o amor antes de tomarmos nossa decisão final. O Velho Testamento é uma parte essencial do drama. À luz do Novo, isso faz realmente sentido. Todavia, espero que nunca percamos de vista os horrores trazidos pelo pecado. O relato de Samuel e Agag é horrível, e o será sempre. É por isso que quero seguir a Jesus e viver num mundo onde isso não vai mais acontecer, porque todos os que lá estiverem já fizeram a escolha de seguir a Jesus e sua lei de amor.

Alden Thompson (via Diálogo)

NOTAS

    1. A menos que haja indicação diferente, todas as citações bíblicas são da tradução de João Ferreira de Almeida.
    2. Alden Thompson, Who's Afraid of the Old Testament God? (Exeter, UK: Pater Noster Press, 1988; Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing House, 1989), pp. 13, 21.
    3. Ellen G. White, Thoughts From the Mount of Blessing (Mountain View, California: Pacific Press Publishing Assoe., 1956), p. 109.
    4. Alden Thompson, Inspiration: Hard Questions, Honest Answers (Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Assoe., 1991), especialmente capítulo 7, "God's Word: Casebook or Codebook?" (págs. 98-109) e capítulo 8: "God's Law: The One, the Two, the Ten, the Many" (pp. 110-136).
    5. Deborah Tannen, "Teachers' Classroom Strategies Should Recognize That Men and Women use Language Differently", The Chronicle of Higher Education, June 19, 1991, p. B3.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

NINRODE

A pessoa de Ninrode é intrigante, e encontramos nos escritos judaicos, cristãos e islâmicos quantidade significativa de especulação a seu respeito. O que o torna intrigante é o fato de que, no quadro das nações (Gênesis 10), ele é a única pessoa sobre a qual temos uma declaração de realizações, embora o que é dito sobre ele seja um pouco superficial. Diremos algo sobre possíveis paralelos históricos, examinaremos o texto bíblico e mencionaremos brevemente algumas especulações pós-bíblicas sobre ele.

1. Ninrode na História
O texto bíblico descreve Ninrode como uma pessoa que viveu na região da Mesopotâmia. Estudiosos tentaram encontrar, sem sucesso, um paralelo no antigo Oriente Próximo que corresponda ao que a Bíblia diz sobre ele. Ele foi identificado com Gilgamés, pessoa que, segundo a literatura babilônica, sobreviveu ao dilúvio. Mas, essa teoria foi rejeitada. O mais popular é encontrar nele traços do deus Ninurta, o deus mesopotâmio da fertilidade. Porém, mais uma vez, os paralelos não são fortes o suficiente para provar o caso. Além disso, o texto bíblico não sugere que ele seja uma divindade. O que sabemos sobre ele é o que as Escrituras dizem.

2. Ninrode na Bíblia
A primeira coisa mencionada pelo texto bíblico é que Ninrode foi “o primeiro a ser poderoso na terra” (Gênesis 10:8, ARA), provavelmente significando que ele foi o primeiro em tal categoria (conforme Gênesis 9:20). A palavra “poderoso” significa, como indica a passagem, que ele era política e militarmente poderoso. Segundo, ele é descrito como “poderoso caçador” (Gênesis 10:9), que significa não apenas que era um bom caçador, mas que também era um conquistador militar poderoso. A frase “diante do Senhor” tem sido difícil de interpretar. A maior dificuldade é decidir quando significa que o Senhor cuidava de Ninrode, ou que Ninrode agia desafiando o Senhor, “contra Ele” (Salmos 66:7). O fato de que Ninrode esteja diretamente associado com Babilônia e com a terra de Sinar infere uma conexão negativa com o Senhor. Além disso, se tomarmos o significado hebraico do nome Ninrode (“nos rebelaremos”), a implicação é que ele se rebelou contra Deus. Se esta interpretação for correta, o provérbio citado no texto: “Pelo que se diz: ‘Ninrode poderoso caçador diante do Senhor’”, estaria se referindo a uma pessoa poderosa agindo contra a vontade de Deus. Terceiro, ele é descrito como a primeira pessoa a estabelecer um reino “o princípio do seu reino” (Gênesis 10:10, ARA). Localizava-se nas antigas cidades de Babel (Babilônia), Ereque, Acade e Calné, na região de Sinar, Baixa Mesopotâmia. De lá Ninrode foi para o norte conquistar terras na Assíria (Gênesis 10:11), Alta Mesopotâmia (veja Miqueias 5:6).

3. Ninrode e as Especulações Pós-Bíblicas
A tradição judaica argumenta que Ninrode foi o primeiro caçador, portanto, a pessoa que introduziu a carne na dieta humana. A tradição diz que ele se envolveu na construção da Torre de Babel (Gênesis 11:1-4), e após o povo ser disperso ele permaneceu em Sinar para construir seu reino. Tanto a tradição judaica como a islâmica indica que havia um relacionamento hostil entre Ninrode e Abraão. A principal razão era que Ninrode era idólatra e Abrão foi chamado pelo Senhor por adorar somente a Ele. Algumas versões das tradições dizem que ele colocou Abraão em uma fornalha tão quente que suas chamas mataram milhares, mas Abraão saiu ileso. Em algumas tradições ele é identificado com Anrafel, um dos reis que atacou Sodoma e Gomorra (Gênesis 14:1) e que foi vencido por Abraão. As tradições e especulações, com raras exceções, descreve Ninrode como um símbolo do mal.

Fiz um resumo de algumas das teorias pós-bíblicas sobre Ninrode para alertá-lo do perigo de ir além do que está escrito. Essas tradições não devem ser usadas para definir convicções pessoais ou para especular sobre o papel profético de Babilônia. Só podemos afirmar o que o texto bíblico diz sobre Ninrode.

Ángel Manuel Rodríguez (via Adventist World)

O MAL DOS SERMÕES ÁGUA COM AÇÚCAR

Faz alguns anos, o U.S. News & World Report publicou, como artigo de capa, o tópico sobre a espiritualidade no mundo atual, informando que a religião, em muitas partes do mundo, tomou um manto de psicologia popular. Muitas congregações crescem oferecendo uma teologia açucarada, com uma dieta light de sermões preocupados com temas como “realização pessoal”, como ser “melhor parceiro”, “melhor empregado”, “melhor chefe” e “amigo” e até como “perder peso”. Mesmo admitindo que alguns desses tópicos possam ser uma preocupação da igreja, eles não podem ser o foco central da pregação.

Muitos pregadores modernos têm enfatizado unilateralmente os atributos da misericórdia, perdão e amor de Deus, mas negligenciado igual ênfase em Sua justiça, santidade e inimizade contra o pecado. Poderia ser que, na tentativa de agradar as pessoas e nos tornarmos simpáticos aos que queremos alcançar, estejamos comprometendo os ensinos das Escrituras? É evidente que, como o contexto em que pregamos muda, devemos fazer ajustes em nossa forma de apresentar o evangelho, mas isso não muda sua essência. Enquanto métodos de comunicação podem variar, o fundamento da verdade bíblica deve permanecer inalterável.

Em nossa pregação, não mudamos Deus nem Sua verdade. Devemos manter em equilíbrio dois polos da proclamação cristã; de um lado, manter a identidade, o caráter bíblico do conteúdo proclamado; de outro, manter a relevância, que é o relacionamento da revelação com o contexto humano atual. Muitos querem ser relevantes sem ter identidade bíblica. Outros querem reter a identidade, mas no processo deixam de ser relevantes. Os dois perigos são reais. A preocupação com a relevância tende a levar à “contextualização pragmática” do evangelho, conduzindo à utilização de recursos estranhos à Palavra de Deus.

A atual superficialidade no conhecimento das Escrituras tem contribuído, mais do que qualquer outra coisa, para obliterar a consciência profético-doutrinária da denominação. O estudo objetivo (doutrinário) da Bíblia tem sido substituído por uma leitura pietista (existencialista), destinada quase que exclusivamente a alimentar um relacionamento místico e subjetivo com Cristo. Consequentemente, os sermões de muitas de nossas igrejas tornaram-se mais leves, substituindo, em grande parte, o conteúdo doutrinário da Bíblia pelas experiências pessoais do próprio pregador.

Deveríamos imitar mais de perto o exemplo deixado por Cristo em Seu relacionamento com a verdade. Ellen White afirma: “Em Seus ensinos, Cristo não sermonizava, como fazem os ministros atualmente. Sua tarefa era a de edificar sobre a estrutura da verdade. Ele ajuntou as preciosas pedras da verdade, de que o inimigo se havia apossado e colocado na estrutura do erro, recolocando-as na estrutura da verdade, para que todos os que recebessem a palavra fossem por ela enriquecidos" (Mensagens Escolhidas 1, p. 206).

O outro perigo é a tentativa de ser “bíblico” e cair na bibliolatria, respondendo a perguntas que ninguém está fazendo. Ou tentar responder, no século 21, a questões do século 19. De qualquer maneira, devemos entender que o único evangelho capaz de satisfazer às necessidades humanas é o evangelho real, ministrado em sua fórmula original, sem açucaramentos ou diluições.

Charles Spurgeon, o Príncipe dos Pregadores (como era conhecido por muitos), disse: "Evitai o evangelho açucarado, assim como evitaríeis um açúcar amaciado pelo chumbo. Procurai o evangelho que rasga e rompe e corta e fere, entalha e até mesmo mata, pois esse é o evangelho que também vivifica."

Creio, particularmente, que a superficialidade doutrinária que enfrentamos hoje é uma das mais importantes estratégias satânicas para deixar-nos despreparados para os eventos finais, sem condições de expormos, de forma convincente, a base bíblica de nossas doutrinas. "Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transfigurando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz" (2 Coríntios 11:13, 14).

Concluo com este pensamento de Ellen G. White extraído do livro Os Ungidos (pp. 60-61). Ela nos adverte:

"A voz severa de repreensão é necessária ainda hoje, pois pecados terríveis têm separado de Deus o povo. A infidelidade virou moda. ‘Não queremos que esse homem seja nosso rei’ (Lc 19:14), milhares afirmam. Os sermões superficiais pregados com tanta frequência não causam efeito duradouro; a trombeta não dá um sonido certo. O coração das pessoas não é atingido pelas claras, cortantes verdades da Palavra de Deus.

Muitos dizem: ‘Por que precisamos falar de forma tão clara?’ isso é o mesmo que perguntar: ‘Por que João Batista teve que provocar a ira de Herodias, dizendo a Herodes que ele estava errado em viver com a mulher de se irmão?’ Aquele que preparou o caminho para o ministério de Cristo perdeu a vida por falar com clareza.

Os que deveriam ser guardiões da lei de Deus têm usado esse argumento até que finalmente permitem que a comodidade torne o lugar da fidelidade, e o pecado continue a ser praticado sem reprovação. Quando será a voz da fiel reprovação ouvida novamente na igreja?

‘Você é esse homem’ (2Sm 12:7). Raramente se ouve nos púlpitos de hoje, raramente se lê nas publicações atuais, palavras tão claras como essas, ditas por Natã a Davi. Os mensageiros do Senhor não dão resultados enquanto não se arrependem do desejo de agradar aos outros, pois isso faz com que encubram a verdade.

Não é por amor ao próximo que os pastores amenizam a mensagem sob sua responsabilidade, mas porque são condescendentes consigo mesmos e amam a vida fácil. O verdadeiro amor busca primeiro a honra a Deus e a salvação do próximo. Os que possuem esse amor não deixaram de falar a verdade para fugirem dos resultados desagradáveis de falar com clareza. Quando as pessoas estão em perigo, os pastores de Deus falarão a palavra que lhes é ordenada, recusando desculpar o mal.

Ah, se todo pastor tivesse a coragem de Elias! Os pastores deve repreender, corrigir e exortar ‘com toda a paciência e doutrina’ (2Tm 4:2). Em nome de Cristo eles devem animar o obediente e advertir o desobediente. Ele não devem dar valor algum aos interesses mundanos, mas prosseguir com fé. Não devem falar suas próprias palavras, mas sua mensagem deve ser: ‘Assim diz o Senhor’ (Êx 4:2). Deus chama pessoas como Elias, Natã e João Batista – pessoas que levarão fielmente Sua mensagem sem temer as consequências, pessoas que falarão a verdade, ainda que isso signifique sacrificar tudo que possuem."

terça-feira, 24 de outubro de 2023

POR QUE JUDAS TRAIU JESUS?

Existem muitas dúvidas sobre as motivações que impulsionaram e, por fim, levaram Judas a entregar Jesus aos líderes judeus. Podemos destacar algumas questões, mas é complicado oferecer uma resposta definitiva para essa pergunta.

1. Processo longo. Temos que admitir que Judas se uniu aos discípulos motivado pelo caráter amoroso de Cristo e pelo poder que Ele demonstrou durante Seu ministério (Mt 10:4). Assim como os outros discípulos, Judas veio a Jesus com suas imperfeições, mas nunca as dominou. A mais perniciosa delas era a avareza, que o cegou para a verdadeira natureza da obra de Cristo (Jo 12:6; cf. Mt 26:15). Depois de permanecer com Jesus cerca de um ano, é provável que Judas tenha expressado suas frustrações aos discípulos e talvez tenha criticado, pelas costas, o trabalho de Jesus. Isso levou o Mestre a fazer uma pergunta retórica aos discípulos: “Não é fato que Eu escolhi vocês, os doze? Mas um de vocês é um diabo [diabolos, caluniador, adversário]” (Jo 6:70, NAA). Nesse ponto, Judas ainda não estava pensando em traí-Lo (v. 71; cf. Lc 6:16).

A frustração de Judas com a direção do trabalho de Jesus atingiu um ponto crucial após Maria tê-Lo ungido com um perfume tão valioso. Ele escondeu sua verdadeira oposição, mas seu egoísmo foi exposto, e Jesus o repreendeu com delicadeza (Jo 12:5-8). Desta vez, Judas buscou os líderes judeus com o propósito de trair o Mestre (Mc 14:10; Mt 26:14). No momento da Última Ceia, o inimigo já havia colocado no coração de Judas a ideia de trair Jesus (Jo 13:2). O ponto de não retorno foi alcançado durante a Ceia, quando Jesus o identificou como traidor, dizendo que Satanás havia entrado nele (v. 27). O texto bíblico relata que “Judas logo saiu. E era noite” (v. 30).

2. A motivação. É seguro afirmar que Judas era dominado pelo egoísmo e pela avareza, o que o levou a trair Jesus. Em primeiro lugar, podemos presumir que Judas, assim como os outros discípulos, acreditava que Jesus era um Messias político destinado a libertar Seu povo dos romanos. Unir-se a Ele poderia assegurar-lhe uma posição proeminente no reino de Cristo. Em segundo lugar, Judas logo começou a perceber que a visão de Jesus para Seu reino era de natureza espiritual, não militar, e isso o frustrou. Ao que parece, após a tentativa fracassada do povo de coroar Jesus como rei à força, Judas começou a questionar se deveria manter sua lealdade a Ele (Jo 6:14, 15, 70, 71). Em terceiro lugar, é provável que Judas não tenha gostado da ideia de Jesus estar prevendo Sua própria morte, algo incompatível com o conceito de Messias militar que ele tinha em mente (cf. Mc 14:8, 10). Em quarto lugar, sabemos que, ao entregar Jesus, Judas esperava que, como em ocasiões anteriores, Ele escapasse (Mt 27:3), talvez antecipando uma demonstração de Jesus como um Messias militar.

Durante a prisão do Salvador, tornou-se evidente que Ele poderia ter escapado, mas optou por não fazê-lo (Jo 18:5-8). Ficou claro que Jesus, e não os soldados ou Judas, estava no controle de Seu destino. Quando Judas percebeu que Jesus estava prestes a ser morto, tentou interromper o que pensava ter desencadeado (Mt 27:3, 4), porém era tarde demais; Jesus tinha vindo para morrer. Impelido por um profundo sentimento de culpa, Judas saiu e tirou sua própria vida (v. 5). Sim, Judas ansiava por um lugar no reino militar de Cristo visando ao benefício pessoal, mas não no Seu reino espiritual. Judas jamais compreendeu que a missão de Jesus era oferecer Sua vida em favor daqueles que integrariam Seu reino eterno.

Ángel Manuel Rodríguez (via Revista Adventista)

"Jesus havia lavado os pés de Judas, mas isso não fez com que amasse o Mestre mais do que antes. Ficou aborrecido porque Cristo havia feito o trabalho de um servo. Agora ele sabia que Jesus não seria rei e isso fez com que ficasse mais determinado a traí-Lo" (Ellen G. White - Vida de Jesus, p. 77).

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

CRISE DE IDENTIDADE DA IGREJA

O cristianismo atual vive uma crise de identidade. Entre as muitas causas desse fenômeno, encontra-se a exaltação das tradições humanas e dos conceitos pós-modernos de cosmovisão. O estudo da Bíblia e de suas doutrinas tem perdido espaço para a experiência sensorial e as mensagens existencialistas. É preciso se voltar para os fundamentos bíblicos da fé cristã e indagar qual é a finalidade de nossa existência como povo de Deus.

Identidade adventista
A identidade adventista é o que nos distingue dentro do cristianismo, isto é, a identidade é a essência do adventismo, o que define sua existência. O assunto da identidade, portanto, toca na questão da contribuição que o adventismo dá ao cristianismo. Além disso, a identidade é essencial para responder aos tempos ecumênicos em que vivemos. Se não sabemos o que somos, dificilmente podemos evitar ser atraídos e assimilados pelo ecumenismo. Agora, o que define a existência do adventismo é sua teologia. Sem teologia não há identidade e, sem identidade, não há missão. A base fundamental da teologia adventista é o princípio Sola Scriptura, que está estabelecido na primeira crença fundamental do cristianismo.

A Igreja Adventista desenvolve sua teologia tomando por base, exclusivamente, os ensinamentos bíblicos. Os pilares do adventismo são aspectos fundamentais e gerais das Escrituras. Esses pilares são: a doutrina do santuário; a imortalidade condicional do homem; a lei de Deus, incluindo o sábado; e as três mensagens angélicas. Esses princípios gerais estabelecem os fundamentos macro-hermenêuticos sobre os quais o adventismo interpreta as Escrituras, constrói sua teologia, desenvolve sua identidade como igreja e concebe sua missão global.

Identidade denominacional
Identidade tem que ver com o fato de ser uma pessoa ou coisa específica, determinada por um conjunto de traços ou características que a diferencia das outras. A identidade assume a existência de uma coisa ou sujeito, no nosso caso, a Igreja Adventista, e descreve as características fundamentais que a distinguem. Isso nos ajuda a entender que nossa existência é nossa identidade, a qual expressamos quando enumeramos as características que nos distinguem no mundo cristão e das religiões não cristãs.

Portanto, a existência da Igreja Adventista como denominação cristã implica a existência de sua identidade, ou seja, as características fundamentais que a definem como uma versão universal do cristianismo. Assim, o importante não é “ter” uma identidade, mas “reconhecer” nossa identidade, seja como membros ou como líderes. É de suma importância que todos reconheçamos e internalizemos a identidade bíblica do movimento a que pertencemos, porque disso depende a salvação e a missão da igreja e do cristianismo em geral.

Crises de identidade internas da igreja
As novas gerações de nossa igreja, em vários lugares do mundo, passaram a entender a identidade adventista de diferentes maneiras. Essas novas formas de adventismo surgem de um abandono progressivo, ao longo de sucessivas gerações, do princípio Sola Scriptura, ao ponto de alguns rejeitarem a inspiração completa das Escrituras e do Espírito de Profecia. O princípio “somente pelas Escrituras” tem sido substituído pelo princípio das tradições humanas. Isso tem gerado uma reinterpretação do adventismo, de suas doutrinas, de suas práticas e de sua missão. Tudo isso tem mudado a maneira pela qual as novas gerações vivem o adventismo em sua prática diária.

Esse processo se estabeleceu devido a um progressivo “eclipse das Escrituras”, não somente em nível teológico-doutrinário, mas também em nível de liderança, pregação e espiritualidade das novas gerações de adventistas. Tudo isso se manifesta nos cultos, no momento da adoração, em que doutrinas e práticas que contradizem os ensinamentos e o espírito do adventismo bíblico original são introduzidas sorrateiramente. Felizmente esse não é o quadro geral da igreja nem o que se observa na maioria dos líderes e membros ao redor do mundo. Graças a Deus, a maioria está enraizada no princípio Sola Scriptura, que fundamenta a unidade espiritual e a missão da igreja. Deve-se alertar nossos líderes locais e institucionais sobre a existência dessa interpretação minimizada do adventismo, para que juntos retornemos às Escrituras e superemos essa situação em todos os níveis da comunidade adventista global.

Principais motivos que levam a uma separação teológica e prática entre a vida diária do cristão e sua salvação
As causas são muitas e de diferentes naturezas. Por exemplo, adventistas mais conservadores são doutrinários. Refiro-me aos que aceitam os ensinamentos da igreja, mas não estudam a Bíblia por si mesmos e, dessa maneira, não desenvolvem relacionamento pessoal com Deus. Para eles, o estudo da Bíblia e a teologia não são necessários nem para a salvação nem para a missão. O importante é proclamar o evangelho e batizar novos conversos. Estudar a Bíblia e se aprofundar nela é considerado perda de tempo. Somente a missão importa, isto é, pregar e batizar. Os teólogos são, para eles, aqueles que transmitem as doutrinas já conhecidas e aceitas às novas gerações. Essa abordagem causa separação entre a teologia e o estudo da Bíblia, a administração e a liderança pastoral da igreja. Na prática, teologia e missão se separam.

Outra causa de separação entre a teoria e a prática se deriva da “protestantização” do adventismo. Ela decorre da convicção de que o adventismo e o protestantismo concordam teologicamente em todas as doutrinas fundamentais e somente diferem em aspectos específicos e tangenciais, como a doutrina do santuário, a interpretação das profecias e o ministério profético de Ellen White. Nessa tendência generalizada, o ponto central é conceber a salvação como justificação (perdão dos pecados), excluindo a santificação, que é concebida como “fruto ou evidência” da salvação já apropriada na justificação. O importante, então, é receber a justificação, que ocorre quando respondemos à pregação da cruz. O estudo das Escrituras e da teologia não são necessários para a salvação, porque somente a prática é necessária.

Ainda outra causa que leva à separação entre a teoria e a prática é a especialização requerida pelo constante progresso na investigação das Escrituras Sagradas.

Devemos ficar alertas, especialmente os líderes da igreja, quando ouvirem a apresentação da Palavra de Deus. Precisamos retornar à Bíblia no púlpito, no lar e, acima de tudo, na mente e no coração. Isso requer uma transformação espiritual e logística em nossa vida, um reavivamento e uma reforma pessoal e também denominacional. Ela deve estar no centro de nossa identidade como igreja que anuncia a breve volta de Jesus por meio da tríplice mensagem angélica (Apocalipse 14:6-12).

Conclusão
E como podemos evitar o perigo de perder nossa identidade denominacional? Não permitindo a inércia, a fusão de doutrinas nem o abandono dos princípios fundamentais da Palavra de Deus. Somente um retorno paradigmático profundo e espiritual às Escrituras como guia, fundamento e inspiração nos salvará da pressão ecumênica de nossos tempos, e nos permitirá cumprir a missão final neste mundo.

[via T7]

Texto baseado em declarações do doutor Fernando Canale. Ele tem um extenso currículo de serviços prestados à Igreja Adventista. Graduado em Teologia e Filosofia pela Universidade Adventista del Plata (UAP), em 1978 obteve seu mestrado em Filosofia pela Universidade Católica de Santa Fé e, em 1983, o doutorado em Teologia pela Universidade Andrews, Estados Unidos. Durante alguns anos foi pastor no Uruguai. Como docente da UAP, ministrou aulas nas faculdades de Pedagogia, Filosofia e Teologia. Em 1985 foi convidado a trabalhar como professor de Teologia e Filosofia Cristã ao lado do doutor Raoul Dederen, na Universidade Andrews, onde serviu até sua jubilação, em 2013. Atualmente tem atuado como professor emérito da Universidade Andrews. Ele é autor do livro "Adventismo Secular?".

domingo, 22 de outubro de 2023

DIA DA DECEPÇÃO

Era 1844. As folhas de carvalho silvestre espalhadas pelos ventos do outono indicavam a breve chegada de mais uma temporada de frio e neve no hemisfério norte. Elas também poderiam simbolizar uma mensagem que havia alcançado milhares de pessoas na América do Norte. Convictas da iminente volta de Cristo, anunciada por Guilherme Miller e diversos pregadores voluntários, elas aguardavam com entusiasmo o dia 22 de outubro, a gloriosa data em que teria fim a história do pecado e começaria uma existência de eterna alegria no reino dos céus.

Frustração
Quando o sol raiou em 23 de outubro, muitos mileritas descobriram que, em vez das mansões celestiais, o que encontrariam em pouco tempo seriam os rigores do inverno americano. O dia 22 de outubro tornou-se conhecido no calendário milerita como a data da Grande Decepção, ou Grande Desapontamento. Alguns continuaram crendo que o retorno de Cristo aconteceria ainda naquele mês ou naquele ano, ou até mesmo em uma data não muito distante. Mas a passagem do tempo desfez todas as esperanças marcadas com prazo de validade.

Depois desse período, Miller continuou crendo no breve retorno de Cristo, mas deixou as funções de pregador itinerante e voltou às atividades em sua propriedade rural em Low Hampton. Josué Himes, o grande propagandista milerita, tentou durante algum tempo manter a unidade do movimento e liderou a assistência aos seguidores que necessitavam de amparo material. Porém, passados alguns meses, os mileritas eram como um vaso partido em muitos fragmentos.

Em busca de resposta
Alguns abandonaram não apenas o movimento, mas também a fé cristã e a esperança em uma redenção futura. Entre os que permaneceram, impunha-se a pergunta: o que realmente havia acontecido em 22 de outubro de 1844? Se os cálculos proféticos estivessem corretos, onde estaria o erro?

Para importantes líderes do movimento milerita, como Himes, algum equívoco relacionado à interpretação do tempo de cumprimento das profecias tinha ocasionado o desapontamento. Outros passaram a crer que a data e o evento estavam corretos, mas haviam se cumprido “espiritualmente”. Cristo teria voltado para o coração dos crentes. Essa era uma das interpretações apontadas pelos espiritualizadores.

Em meio às mais diversas teorias, um grupo passou a analisar novamente a Bíblia, sugerindo que a natureza do evento profetizado talvez devesse ser mais bem compreendida. Josias Litch, um dos líderes mileritas, antes mesmo do desapontamento de 22 de outubro, já havia apresentado essa possibilidade.

O santuário celestial
Uma ramificação do movimento, bem pouco expressiva após o desapontamento, seguiu a trilha apontada por Litch: a profecia havia se cumprido; porém, para entender seu cumprimento, seria necessário estudar novamente o texto sagrado à luz do ministério da salvação desenvolvido no antigo tabernáculo israelita. Só assim seria possível compreender o texto-chave dos mileritas: “Até duas mil e trezentas tardes e manhã e o santuário será purificado” (Dn 8:14).

Para esse grupo, o significado das 2.300 tardes e manhãs estava bem claro, pois havia sido estudado exaustivamente naqueles últimos anos (veja o quadro). A questão era compreender o significado da purificação do santuário. Para Miller, seria a volta de Cristo à Terra. Porém, após buscar a Deus em oração, logo após o desapontamento, o milerita Hiram Edson vislumbrou outra interpretação enquanto caminhava por um milharal próximo à sua propriedade. Ele viu que, ao se completarem os 2.300 dias proféticos, Jesus Cristo adentrava ao lugar santíssimo do santuário celestial, onde teria uma obra a realizar antes de Seu retorno à Terra.

Ao estudar a Bíblia em companhia de amigos como Owen Crosier e Franklin Hahn, Edson uniu a visão à convicção vinda da Palavra de Deus. Com base no livro Millennial Fever and the End of the World, de George Knight, podemos considerar as principais conclusões às quais chegaram Edson e seus companheiros de estudo:

1. Há um santuário literal no Céu (Hb 8:1-5).

2. O santuário terrestre era uma representação visual do plano da salvação e um modelo do tabernáculo celestial (Êx 25:8; Hb 9:23).

3. Assim como o santuário israelita tinha um ministério realizado em duas fases, sendo a segunda delas o ritual do Dia da Expiação, o santuário celestial também tem duas fases. A primeira tem início no lugar santo, com a ascensão de Cristo ao Céu. A segunda é realizada no lugar santíssimo, começando em 22 de outubro de 1844, data profética que assinala o Dia da Expiação escatológico.

4. A primeira fase do ministério de Cristo diz respeito fundamentalmente ao perdão dos pecados. A segunda parte trata principalmente da extinção do pecado e da purificação do santuário e também dos crentes.

5. A purificação do santuário de Daniel 8:14 referia-se a uma limpeza do pecado realizada por meio do sangue de Cristo e não pelo fogo.

6. Cristo não retornará até que a obra de purificação do santuário celestial esteja completa.

Caminho iluminado
Ellen G. White e seu esposo, Tiago, estavam entre aqueles que abraçaram essas convicções e tiveram a experiência espiritual renovada após o período sombrio do desapontamento. Ele relata: “Muitos de nosso povo não reconhecem quão firmemente foram lançados os alicerces de nossa fé. Meu esposo, o pastor José Bates, […] o pastor [Hiram] Edson e outros que eram inteligentes, nobres e verdadeiros achavam-se entre os que, expirado o tempo em 1844, buscavam a verdade como a tesouros escondidos. Reunia-me com eles e estudávamos e orávamos fervorosamente. Muitas vezes ficávamos reunidos até alta noite, e às vezes a noite toda, pedindo luz e estudando a Palavra” (Cristo em Seu Santuário, p. 10).

Antes mesmo que a razão para o desapontamento fosse plenamente compreendida à luz da Bíblia e propagada, Deus havia concedido a Ellen G. White uma visão de encorajamento que deveria ser apresentada ao povo do advento. Nessa primeira de muitas visões, Ellen contemplou uma luz que brilhava no início de um caminho “reto e estreito” trilhado pelos que esperavam a segunda vinda. Um anjo identificou a luz como o “clamor da meia-noite”, termo que designa a intensa pregação milerita no verão e no outono de 1844, anunciando a volta de Cristo. O caminho era mais longo do que inicialmente se acreditava, mas Cristo conduzia Seu povo à cidade santa. Os que “negavam a existência da luz atrás deles” logo se consideravam em um caminho errado e caíam para o mundo “tenebroso e ímpio”. Mas os que valorizavam a luz disponível olhavam para Cristo e para a cidade e venciam.

Firme alicerce
Com base na revelação divina apresentada por meio de visões e confirmada com criterioso estudo do texto sagrado, esse pequeno grupo de crentes encontrou coragem e esperança em meio ao despontamento. Com os olhos abertos para a realidade bíblica do ministério de Cristo no santuário celestial tiveram a certeza de que Deus os estava guiando em meio às provações. “Eu sei que a questão do santuário se firma em justiça e verdade, tal como a temos mantido por tantos anos”, afirmou Ellen G. White (Cristo em Seu Santuário, p. 11).

Passados 170 anos da decepção experimentada pelos mileritas, a Igreja Adventista do Sétimo Dia é a mais destacada ramificação do antigo movimento. Enquanto outros grupos mileritas se extinguiram ou se tornaram irrelevantes, os adventistas alcançaram o globo com a mensagem do breve retorno de Cristo. A incessante busca pela revelação divina e pela correta compreensão da Palavra de Deus transformou uma aparente derrota em vitória. Porém, os triunfos dos pioneiros não podem degenerar-se em ufanismo triunfalista. A fidelidade às revelações divinas é o firme alicerce para aqueles que aguardam o encontro com Cristo. Referindo-se à mensagem sobre o santuário celestial, Ellen G. White afirmou: “Não devemos desviar-nos da plataforma da verdade em que fomos estabelecidos.”

Entenda como se chegou à data de 22 de outubro de 1844
Grande parte dos esforços de Guilherme Miller e seus seguidores foi dedicada a desvendar o significado da passagem de Daniel 8:14: “Até duas mil e trezentas tardes e manhãs e o santuário será purificado.” Veja a seguir alguns passos que ligam a profecia de Daniel à data anunciada pelos mileritas e atualmente aceita pelos adventistas do sétimo dia:

- Usando o princípio de interpretação profética dia-ano (Nm 14:34; Ez 4:4-7), é possível concluir que a profecia trata de um longo período de 2.300 anos.

- Para descobrir o tempo de seu cumprimento, é necessário encontrar a data que teria dado início à contagem profética. Conectando a passagem de Daniel 9:24-25 ao texto encontrado em 8:14, identifica-se a ordem para restaurar e edificar Jerusalém, após o cativeiro babilônico, como o evento inaugural da profecia.

- Em Esdras 7:7-9 encontra-se a referência temporal à ordem do rei persa Atarxerxes para a reconstrução de Jerusalém. Assim, com ajuda da história é possível identificar o ano 457 como o início da profecia.

- O cumprimento da profecia das 70 semanas proféticas, ou 490 anos (Dn 9:24), a primeira parte da grande profecia dos 2.300 anos, se deu com a morte de Cristo no ano 27, na metade da última semana profética (Dn 9:27).

- Selada com a morte de Cristo no calvário, a profecia das 2.300 tardes e manhãs teve cumprimento em 1844, com o início do Dia da Expiação escatológico.

- A data de 22 de outubro foi proposta com base no Dia da Expiação realizado no 10º do 7º mês do calendário judaico (Lv 16:29-30).

Guilherme Silva (via Revista Adventista)

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

A BATALHA É DO SENHOR!

Vamos estudar a profecia que está em 2 Crônicas 20:15 e 17 “Assim vos diz o Senhor: Não temais, nem vos assusteis por causa da grande multidão. Pois a peleja não é vossa… Nesta peleja não tereis de pelejar. Parai, e estai em pé e vede a salvação do Senhor… Amanhã saí-lhes ao encontro e o Senhor será convosco”.

Essa profecia foi feita por Jaaziel, que viveu em torno do ano de 896 aC. Jaaziel, da tribo de Levi, foi usado por Deus para profetizar sobre a vitória de Israel contra um poderoso exército, formado pelos Moabitas, Amonitas e Meunitas. Esses povos se uniram para saquear e destruir Judá. O rei, nessa época, era Josafá. Ele foi o quarto rei de Judá e reinou nos anos de 873 a 849 aC. Josafá foi um rei que fez a vontade do Senhor em todos os seus 25 anos de reinado. Só que agora não sabia o que fazer, a não ser buscar a Deus.

O que chama a minha atenção é a atitude de Josafá diante dessa situação. Note: “Temeu Josafá, e pôs-se a buscar o Senhor, e apregoou jejum em todo o Judá” (2 Crônicas 20:3). Um homem de Deus sempre terá esta atitude. Buscará ao Senhor com todas as forças. Josafá chegou a dizer: “Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos estão postos em Ti” (20:12). O povo, ao ver o exemplo do rei, imediatamente o imitou. “Judá se ajuntou para pedir socorro ao Senhor…e o povo veio para buscar ao Senhor” (2 Crônicas 20:4).

Enquanto o rei e todo o povo confessavam a Deus a sua fragilidade, um dos filhos de Israel, se levantou e fez uma profecia que, para alguns, era um conforto, um alívio, mas, para outros, era algo desesperador. A principal razão do desespero é que Jaaziel nunca havia feito uma profecia. Ele não era um profeta. O povo não o conhecia como profeta. Não tinha a experiência. Outra razão que desesperava o povo de Israel, era que o novo profeta dizia que nesta batalha ninguém teria que lutar. “Esta batalha é do Senhor. Nesta batalha não tereis que pelejar”.

A batalha seria de Deus, porém o povo precisaria ir e parar diante do inimigo e assistir a atuação do Senhor dos exércitos. Ah! meu amigo, quando nós vamos compreender que na guerra contra o mal, a batalha é do Senhor? Ele é quem luta por nós! O meu e o seu problema sempre serão de Deus, porém Ele não fará a nossa parte. Precisamos enfrentar o inimigo sem demora!

Muitas vezes, quando decidimos sair para enfrentar o inimigo, já é tarde demais. Não perca tempo, não se atrase, saia logo e enfrente o seu “leão de todo o dia”. Encare-o, certo de que Deus estará ali para lutar ao seu lado.

Problemas não precisam ser postergados. Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje. Há pessoas que sempre estão deixando para começar a fazer exercício físico na segunda-feira. Outros vão deixar de comer gordura, também amanhã. Outros vão começar a ler a Bíblia amanhã. Viva o hoje! O amanhã é incerto!

O povo de Israel estava temeroso com a profecia de Jaaziel. Será que isso dará certo? Será que vai funcionar? Não vamos precisar levar nenhuma pedra, nem uma pequena faca? Não, disse Jaaziel. Só deverão sair bem cedo e assistir o que Deus vai fazer.

Não era fácil crer. O rei, porém, assume o papel de líder, e de manhã bem cedo, sai com o povo para o deserto de Tecoa e diz o seguinte: “Crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros, crede nos seus profetas e prosperareis” (2 Crônicas 20:20)

Não havia espaço nem tempo para análises ou questionamentos. Era hora de crer e não duvidar do Deus do céu. Era a hora de todos se envolverem com o Senhor e esperar o socorro. Também era hora de crer no que o profeta havia falado.

Permita-me falar um pouco sobre o significado da palavra “crer”. A melhor definição que até hoje descobri é: “envolvimento”. Hoje, o que mais o ser humano precisa, é de envolvimento com Deus, sem estar discutindo se está certo ou errado. Quando Deus fala, eu só devo ter uma atitude: envolvimento. Não fique brigando com o que Deus diz, se envolva com Ele!

Os nossos amigos israelitas de manhã cedo saíram, de acordo com a palavra do profeta e o que viram e fizeram foi maravilhoso. Apenas cantaram sobre a grandeza de Deus. Algo estranho e surpreendente ocorreu. 2 Crônicas 20:22 conta: “E ao tempo que começaram com jubilo e louvor, o Senhor pos emboscadas contra os filhos de Amom e de Moabe e os das montanhas de Seir, que vieram contra Judá, e foram desbaratados”.

Os inimigos do povo de Deus foram derrotados e a nação de Judá foi libertada unicamente pela atuação de Deus. A Bíblia conta que os povos vizinhos, ao saberem do que tinha acontecido, começaram a temer o Deus do céu.

Portanto, não esqueça nunca: “Crede no Senhor vosso Deus e estareis seguros, crede nos seus profetas e prosperareis”. Isto foi real para os habitantes de Judá no ano de 896 aC e pode ser real para você agora! Hoje, nesse momento!

[via WGospel]