terça-feira, 31 de julho de 2018

Aprenda a identificar pessoas que possuem real falta de caráter

O que é caráter?
Caráter é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo. É um feitio moral. É a firmeza e coerência de atitudes. O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é que vai determinar a sua conduta e a sua moralidade, o seu caráter. Os seus valores e firmeza moral definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e comportamento.

O que é falha de caráter?
As falhas de caráter são características naturais do ser humano. Errar faz parte do desenvolvimento e é graças aos erros que muitas de nossas aprendizagens, e mesmo evolução como pessoas, acontece. A falha está relacionada com consciência e busca sincera por mudanças.

E o que é falta de caráter?
A falta de caráter é percebida quando, mesmo errando repetidamente com os outros, causando prejuízo a terceiros, e ferindo sentimentos através de manipulações e mentiras, a pessoa insiste no ato. A falta de caráter é característica de pessoas com baixa consciência moral, uma vez que essas pessoas não objetivam melhorar, pelo menos não sinceramente.

Alguns exemplos de falta de caráter:
Mentiras - Todos nós mentimos, quer admitamos, quer não. As mentiras podem ser coisas banais do dia a dia, como dizer que vamos para casa, quando realmente não queremos sair com alguém. (nesse caso, até uma maneira de tentar abrandar um mal-estar), como podem ser mentiras mais graves, e que envolvem consequências importantes. Entretanto, como eu disse no começo, todos estamos sujeitos a um erro grave. A diferença entre uma mentira acontecer em uma pessoa normal (cheia de falhas, mas que tem consciência), e em uma pessoa com falta de caráter, será a repetição e a não correção do ato, mesmo após ter passado por situações delicadas com as mentiras anteriores. Uma, duas mentiras são aceitáveis. Entretanto, um mentiroso (a) frequente mostra sérios sinais de falta de caráter.

TraiçãoLonge de ser um tópico moralista, a traição pode ser entendida como falta de caráter, quando também acontece recorrentemente em uma relação em que o pacto do casal é de fidelidade. A traição também deve ser lembrada nos contextos de sociedade, no trabalho e amizade, em que o raciocínio é o mesmo: quebra de acordos e confiança.

Dívidas - Uma coisa é a pessoa passar por situações complexas e que impossibilitem o pagamento de suas contas, outra coisa é a má administração do dinheiro, o consumismo desnecessário e o “comprar sem ter a intenção de pagar”. Um exemplo que deve ser observado são as pessoas que emprestam dinheiro de familiares e/ou amigos e não se veem na obrigação de pagar, aproveitando-se do vínculo afetivo existente. Mais uma vez, a falta de caráter será observada na frequência das ações.

Tratamento diferenciado - O que motiva alguém a tratar bem algumas pessoas em detrimento de outras? O que pensar de alguém que só trata bem àqueles que têm dinheiro ou que podem lhe oferecer algo em troca? A arrogância, a hipocrisia e comportamento interesseiro também são, sem dúvidas, sinais de falta de caráter.

Manipulação - Tentar convencer alguém a pensar ou fazer algo de maneira diferente são coisas completamente diferentes de manipular pessoas a fazerem coisas que elas, se estivessem em plena consciência de seus atos, talvez não fizessem. A manipulação é um comportamento egoísta, uma vez que tira o direito de escolha do outro, e mostra falta ou total ausência de consideração pelo outro. O manipulador sempre visa driblar vontades e regras para favorecimento pessoal.

Falta de palavra - A falta de palavra pode caminhar próximo à mentira e à manipulação. Quando alguém combina algo ou assume um compromisso, a espera social é que o mesmo seja cumprido. Mais uma vez, descartando os casos isolados, uma “Palavra” quebrada com frequência oferece sérios indícios de falta de caráter.

Não assumir as próprias responsabilidades - Um dos maiores sinais de maturidade que pode ser encontrado em alguém é a capacidade de assumir as próprias responsabilidades. A falta de caráter pode ser observada se uma pessoa repetidamente atribui a outros a responsabilidade por atos que deveriam ser assumidos pessoalmente, principalmente, no que se refere às quebras de regras e leis que infringem com frequência.

Josie Conti (via Conti Outra)

Nota: Ellen G. White nos deixou alguns sábios conselhos de como corrigir nossos defeitos de caráter:

“A descoberta desses defeitos deve levá-los a odiar o espelho ou odiar a si mesmos? Devem rejeitar o espelho que revela tais defeitos? Não. Os pecados cultivados, que o espelho fiel revela existirem em seu caráter, fecharão os portais do Céu para sua entrada, a menos que sejam abandonados e eles se tornem perfeitos diante de Deus.” (Meditação Matinal 2013 – Perto Do Céu, p. 137)

“Ninguém diga: Não posso corrigir meus defeitos de caráter. Se chegardes a essa decisão, certamente deixareis de alcançar a vida eterna. A impossibilidade está em nossa própria vontade. Se não quiserdes não vencereis. A dificuldade real vem da corrupção de um coração não santificado, e da involuntariedade de se submeter à direção de Deus. Cristo, porém, não nos deu garantia alguma de que é fácil alcançar perfeição de caráter. Não se herda caráter perfeito e nobre. Não o recebemos por acaso. O caráter nobre é ganho por esforço individual mediante os méritos e a graça de Cristo. Deus dá os talentos e as faculdades mentais; nós formamos o caráter. É formado por combates árduos e relutantes com o próprio eu. As tendências herdadas devem ser banidas por um conflito após outro. Devemos esquadrinhar-nos detidamente e não permitir que permaneça traço algum incorreto.” (Parábolas de Jesus, p. 331)

“O caráter formado segundo a semelhança divina é o único tesouro que deste mundo podemos levar para o futuro. Aqueles que nesta vida estão sob a instrução de Cristo, levarão consigo, para as mansões celestes, todo aprendizado divino. E no Céu deveremos progredir continuamente.” (Parábolas de Jesus, p. 332)

"O caráter que uma pessoa forma neste mundo determina seu destino para a eternidade.” (Meditação Matinal 2013 – Perto do Céu, p. 61)

segunda-feira, 30 de julho de 2018

As marcas do abuso emocional

Violência doméstica e abuso podem acontecer com qualquer pessoa. Mesmo assim, quase sempre esse problema é negligenciado, desculpado ou negado. Isso é especialmente verdadeiro quando o abuso é psicológico, e não físico. O abuso emocional é frequentemente minimizado, apesar de deixar cicatrizes profundas e duradouras.

Normalmente, o abuso emocional é muito difícil de ser reconhecido, até mesmo pela própria vítima, quanto mais por quem está à sua volta. Por acontecer de forma sutil, muitas vezes passa despercebido pelos familiares e amigos da vítima. Em geral, a vítima não pensa nem sente que o abuso é abuso, e vai se anestesiando em relação a ele. Essa forma de abuso afeta principalmente mulheres e crianças, não deixa marcas roxas, cortes nem ossos quebrados, mas deixa cicatrizes psicológicas profundas, destrói a autoconfiança e autoestima da pessoa certa que vive o abuso e das crianças que estão à sua volta, marcando um padrão futuro de comportamento: nas meninas, de permitirem ser abusadas pelos companheiros, e nos meninos, de serem futuros abusadores, apesar do sofrimento vivido na infância...

O abuso emocional é definido como qualquer julgamento, não importa a origem, que paralisa ou humilha uma pessoa, mantendo-a presa ao passado, ao mesmo tempo que o futuro só é visto através da perspectiva negativa do relacionamento abusivo. Quando está numa relação abusiva, o parceiro sempre se lembra daquilo que foi ruim, daquilo que o outro não fez certo, daquilo em que errou e afirma constantemente a incapacidade de fazer algo diferente do ruim.

O abuso emocional funciona como uma "lavagem cerebral" e a vítima aprende que tudo o que faz é errado, tudo é sua culpa, não sabe nem pode nada. Se as palavras do parceiro a fazem sentir-se pequena, sem valor ou humilhada, e se ele não a respeita nem leva em conta como você se sente, isso é abuso emocional. Mais importante ainda: isso é inaceitável.

Os relacionamentos abusivos são caracterizados por muito ciume, negação emocional, falta de intimidade, acessos de raiva, coerção sexual, infidelidade, ameaças, mentiras, promessas quebradas, jogos de poder e controle.

O abuso emocional é tão destruidor quanto o abuso físico, apesar de muito mais difícil de ser reconhecido. Por isso, também é difícil alguém se recuperar dele. Esse abuso é tipicamente alternado com declarações de amor e afirmações de que tudo vai mudar. Assim, o parceiro abusado fica "fisgado", preso nas promessas que nunca se cumprem.

Os relacionamentos abusivos pioram com o tempo. O abuso emocional e o verbal mudam, com frequência, para ameaças mais abertas ou para o abuso físico, particularmente em períodos de stress. Os abusadores são carentes e controladores; o abuso se intensifica quando eles sentem que vão perder o parceiro ou quando o relacionamento acaba (75% das mortes violentas de mulheres ocorrem depois da separação).

Os abusadores agem a partir de fortes sentimentos de inadequação e vergonha de si mesmos, e querem inferiorizar seus parceiros para, desta forma, sentir-se melhores.

Até que você consiga reconhecer o abuso emocional e verbal, você continuará a sofrê-lo em sua vida, porque vai continuar a deixar que amigos, conhecidos e estranhos a agridam de forma que a machuquem ou não levem em conta os seus sentimentos. Muitas vezes você até confunde ações abusivas contra você como realistas. Se você pensar: "Eles podem fazer isso porque é diferente para eles; não são assim tão ruins ou incapazes como eu" - isso é um julgamento abusivo. Qualquer julgamento que você faça sobre si mesma que negue sua habilidade para criar bons relacionamentos e uma vida positiva para você, é abusivo e errado.

Ciclo do abuso
* Abuso - O parceiro agride com palavras, atitudes ou comportamentos agressivos e/ou que humilham. O abuso é um jogo de poder para mostrar "quem manda".
* Culpa - Depois do abuso, o parceiro sente culpa, mas não pelo que fez. Ele está mais preocupado com a possibilidade de ser pego e com as consequências causadas pelo comportamento abusivo.
* Comportamento "normal" - O abusador faz de tudo para conseguir o controle novamente e manter a vítima no relacionamento. Ele pode agir como se nada tivesse acontecido, ou ele pode agir muito sedutoramente, jogando todo o seu charme sobre a parceira. Essa lua-de-mel, esse momento de doce paz, pode dar a esperança de que ele realmente mudou de vez (quantas vezes isso aconteceu?).
* Fantasia e planejamento - O abusador começa a fantasiar sobre a maneira de abusar novamente da parceira. Gasta muito tempo pensando sobre o que ela fez de errado, com quem ela anda conversando no celular e como ela vai pagar pelo mal feio. Então, ele planeja transformar a fantasia do abuso em realidade.
* Armadilha - O abusador fica à espreita e põe seu plano em ação, criando uma situação em que ele possa justificar o abuso.

E o ciclo continua... As desculpas e gestos de amor entre os episódios tornam a situação muito difícil de ser mudada. Fica sempre a esperança da mudança, e com o tempo a pressão abusada fica como que anestesiada, entendendo e aceitando que a relação funciona assim - para receber um pouco de amor e carinho, precisa se submeter a um período de dor e sofrimento. Ele faz a parceira acreditar que ela é tudo para ele, que ele realmente a ama. Entretando, o perigo de permanecer na relação existe e é bem real.

Formas de abuso emocional
* Colocar para baixo, chamar nomes, fazer pensar que está louca, fazer jogos mentais.
* Ameaças de machucar física ou emocionalmente. Ameaças de divórcio, traição, suicídio, levar as crianças embora, contar a todos sobre intimidades.
* Deixar com medo através do olhar, gesto, voz alta, quebrar coisas, destruir propriedades, dirigir em alta velocidade.
* Ameaçar fazê-la de empregada. Tomar todas as grandes decisões, agir como "mestre da casa", negligenciar responsabilidades com trabalho, cuidado dos filhos e responsabilidades da casa.
* Padrões abusivos de sedução. Forçar a fazer coisas contra sua vontade. Criticar performance sexual. Contar sobre relacionamentos fora da relação.
* Não deixar que você trabalhe ou atrapalhar seu trabalho, controlar seu acesso ao dinheiro, esconder investimentos.
* Controlar o que você faz, com quem sai, com quem se encontra, com quem fala. Negar acesso ao carro. Deliberadamente afastar dos seus contatos de apoio.

Como você se recupera do abuso emocional?
1. Entenda que a mudança é inevitável e que você tem forças para fazer as mudanças que quer e precisa fazer. Com certeza, você não vai conseguir todas de uma só vez, porque até pode nem saber exatamente o que quer e precisa. Você pode começar a fazer uma ou outra pequena mudança para ver como se sente. Comece, talvez, a cuidar um pouco de você, sentar à mesa para tomar o café da manhã, fazer um exercício, tomar um banho gostoso e demorado.

2. Comece a reprogramar sua mente. Você pode esperar até que as coisas melhorem para começar a acreditar que elas vão melhorar; ou pode acelerar a marcha da sua recuperação começando a acreditar nas melhoras, independentemente das mudanças. Mesmo que o quadro continue o mesmo, ou tenha mudado muito pouco, a grande diferença será como você se sente a respeito dele. Sua atitude mental fará essa diferença.

3. Procure ajuda e apoio. Existem grupos de apoio, terapeutas, conselheiros, amigas e outros profissionais de saúde que entendem o quanto você está sofrendo e poderão ajudá-la. Não confunda: abuso emocional é violência doméstica, sim.

4. Procure informações. Você não é a unica a estar nas mãos de um parceiro abusador. Alguns batem, outros não, mas todos se comportam de modo muito parecido. Todos dizem mais ou menos as mesmas coisas cruéis. Você logo vai perceber que, como todos trabalham com o mesmo script, o que eles dizem não é sobre você, mas sobre eles.

5. Comece a contar suas bênçãos. Sim, você passou por situações inimagináveis, dor e sofrimento que você não merecia. Sem duvida alguma, você ainda está ferida, mas tem uma escolha. Você pode ficar olhando a dor, ou pode começar a olhar para as coisas pelas quais podem agradecer e celebrar. Até aqui o Senhor a protegeu - você está saindo dessa situação. Reserve um tempo no seu dia, pode ser a ultima coisa do seu dia. Seja agradecida a Deus pela saúde, pela saúde dos seus filhos, pelo sorriso de uma criança, por qualquer coisa boa que tenha acontecido no seu dia. Agradeça a Deus por um agrado recebido, pelo sol brilhante, a beleza de uma flor. Se você se comprometer a ser grata a Deus por dez bênçãos recebidas, você vai precisar procurar por elas. Ao criar esse hábito, verá quantas mais você vai encontrar.

Essas ideias são só o começo. Todas essas sugestões são para afastar você da sua dor, da sua mente de vítima para a conscientização de que é uma pessoa de valor e de que há muitas coisas para você conseguir e conquistar na vida. A jornada de recuperação do abuso emocional é uma jornada para longe do medo, da vergonha, da humilhação e da incapacidade para a crença em você e numa vida melhor para você e seus filhos. Você não sabe o que a aguarda no futuro, mas tenha certeza de que será muito, muito mais feliz do que pode imaginar agora.

Cláudia Bruscagin (via Revista Quebrando o Silêncio)

Nota: Leia também o que diz Ellen G. White para os maridos abusivos, ditatoriais, dominadores, egoístas e intolerantes no livro O Lar Adventista, p. 225-227:

"Tua vida seria muito mais feliz se não sentisses que estás investido de absoluta autoridade porque és marido e pai. Tua conduta mostra que interpretas mal tua posição de marido, isto é, laço de união do lar. És nervoso e ditatorial e muitas vezes manifestas grande falta de senso, de maneira que em qualquer tempo que considerares tua conduta nessas ocasiões, ela não pode parecer razoável para com tua esposa e teus filhos. Uma vez havendo tomado uma posição, raramente te mostras disposto a dela afastar-te. Estás determinado a executar teus planos, quando muitas vezes não estás seguindo reto curso e devias notá-lo. O que necessitas é mais, muito mais, de amor, de longanimidade, e menos de determinação de seguir tua maneira de sentir tanto em palavras como em obras. No curso que estás agora perseguindo, em vez de seres um laço de união da família, serás como um torno para comprimir e martirizar a outros. 

Procurando forçar outros a seguir tuas idéias em todo sentido, muitas vezes fazes maior mal do que se abrisses mão desses pontos. Isto é verdade mesmo quando tuas idéias são corretas em si mesmas, mas não o são em muitas coisas; eles são sobrecarregados como resultado das peculiaridades de tua administração; assim inculcas as coisas erradas de maneira forte e irrazoável. 

Tens pontos de vista peculiares com respeito à condução da família. Exerces um poder independente, arbitrário, que não permite liberdade de opiniões em torno de ti. Pensas que és suficiente para ser a cabeça em tua família e entendes que tua cabeça é suficiente para mover cada membro, como uma máquina funciona nas mãos do operador. Ditas e assumes autoridade. Isto desagrada o Céu e fere os santos anjos. Tens-te conduzido em tua família como se unicamente fosses capaz de autogoverno. Ofendes-te se tua esposa se aventura a opor-se a tuas opiniões ou questione tuas decisões.

Esperas demasiado de tua esposa e filhos. Censuras demais. Se encorajasses em vós mesmo um temperamento alegre e feliz e lhes falasses bondosa e ternamente, levarias para teu lar luz em vez de sombras, tristezas e infelicidade. Preocupas-te demasiado com tua opinião; tomas posições extremas, e não tens permitido que tua esposa tenha no seio de tua família o peso que deveria ter. Não tens encorajado o teu próprio respeito por tua esposa nem educado os filhos para que lhe respeitem o julgamento. Não a tendes feito tua igual, antes tens tomado em tuas mãos as rédeas do governo e controle, e as tens mantido firmemente. Não possuis disposição de afeição e simpatia. Necessitas cultivar esses traços de caráter se queres ser um vencedor e se desejas as bênçãos de Deus em tua família."

Adolescentes, dependência tecnológica, depressão e comportamentos autolesivos

A adolescência é uma das etapas da vida em que o ser humano se vê frágil diante das grandes e bruscas mudanças. Essa vulnerabilidade, quando não bem administrada, tem resultados emocionais, que, por vezes, geram certos comportamentos. Um deles é o comportamento autolesivo, caracterizado por agressões físicas ou emocionais que a pessoa causa a si mesma. Diversos cenários colaboram para essa prática, mas o que mais chama atenção para a realidade de hoje é a dependência da tecnologia. Segundo estudos, a forte ligação entre o indivíduo e a tecnologia faz com que haja um distanciamento entre as pessoas, abrindo brecha para atitudes extremas, como a autolesão. Para entender mais sobre o assunto, a Agência Sul-Americana de Notícias conversou com a psicóloga e mestre em psicologia Carolina Raupp, que desenvolveu estudos específicos sobre este tema em sua dissertação.

A que principais conclusões você chegou, em suas pesquisas, quanto às razões pelas quais adolescentes praticam o chamado comportamento autolesivo (CA)?

Pesquisadores encontraram diferentes razões para a prática dos CA. Na pesquisa que desenvolvi, a fala dos adolescentes indicou que um dos principais motivos era a dificuldade em lidar com emoções avassaladoras como a tristeza e a raiva. Já em relação à percepção delas quanto aos fatores ambientais, problemas familiares foram, também, associados como causa.

Esse comportamento está associado principalmente à depressão, certo?

Sim. A depressão pode ocorrer em todas as etapas da vida, mas nas etapas de transição e na adolescência existe maior vulnerabilidade. Um estudo identificou que a psicopatologia mais prevalente, associada aos comportamentos autolesivos, foi a depressão. Segundo o Instituto Nacional de Saúde Mental, mais de 90% das pessoas que cometem suicídio apresentam depressão, e este pode acontecer quando se intensifica a prática de autolesões.

E quanto a fatores de instabilidade e relacionamentos familiares ruins, especialmente entre os pais e os adolescentes? O que você detectou nessa área?

Os dados obtidos por meio da pesquisa reforçaram que a percepção da baixa qualidade das relações familiares, assim como a sensação de pouca coesão, são fatores de risco para os CA. A falta de manifestações de afeto e de apoio emocional, bem como a presença de conflito familiar, também foram percebidos como fatores facilitadores para a prática do comportamento.

O que você pode falar a respeito da chamada dependência tecnológica, muito comum nessa faixa etária, atualmente?

O celular é o objeto mais oferecido para acalmar o bebê, antes mesmo da mamadeira e da chupeta, ou seja, desde cedo os pequenos não estão sendo ensinados a lidar com a frustração, a administrar as próprias emoções. Nossa população mundial é de aproximadamente 7 bilhões de pessoas. No ano de 2016, havia o registro de 6 bilhões de celulares, ou seja, há celulares até onde a água potável não chegou. O uso excessivo de tecnologias leva a um estado de fluxo, um estado alterado de consciência. É fácil se tornar dependente e, consequentemente, elevar os problemas interpessoais, especialmente algum tipo de deterioração da vida familiar.

A dependência tecnológica tem relação com o comportamento autolesivo?

A dependência tecnológica facilmente pode gerar um afastamento entre as pessoas (autismo digital). É fácil utilizar eletrônicos como uma rota de fuga ou evitação, da mesma forma que pode ocorrer com os CA. Um estudo da Universidade de Cardiff, Reino Unido, descobriu que as pessoas que se autolesionam não apenas usam as mídias sociais para compartilhar imagens das lesões. Alguns usam as imagens como parte do “ritual” de autolesão. Outro estudo desenvolvido no Reino Unido, na Universidade de Oxford, evidenciou que há aumento de risco para o suicídio e autolesão entre os jovens que passam mais horas conectados na internet. Além disso, nestes casos se observaram métodos mais violentos de autolesão.

Esses quadros de autolesão podem levar um número considerável de adolescentes ao suicídio? E como isso se dá?

Em uma investigação realizada em uma amostra clínica de adolescentes com depressão, identificou-se que um histórico de CA antes do tratamento foi um dos maiores preditores para posteriores tentativas de suicídio. Alguns autores consideram os CA em um contínuo de um espectro suicidário, envolvendo um processo de dessensibilização em direção ao suicídio. Nem sempre acaba assim, mas existe uma elevação do risco nestes casos.

Que orientações você dá para os adolescentes e para os pais quanto a esse problema?

Aos adolescentes: observar se houve progressiva mudança no humor, diminuição no interesse ou prazer em fazer as coisas, cansaço, alteração no apetite e/ou sono, vontade de se isolar dos amigos e familiares, vontade de morrer etc. Procurar, então, alguma pessoa confiável para conversar e pedir ajuda. Caso se autolesione, encontrar estratégias de redução de danos para lidar com os impulsos. Por exemplo, segurar gelo até derreter quando o impulso para se machucar se tornar mais intenso.

Aos pais: olhar nos olhos, buscar formas de conectar coração a coração, conversar. Grande parte dos filhos atuais são filhos órfãos de pais vivos, que estão mais conectados com as redes sociais, trabalho e com o cansaço que com o coração dos seus filhos. Amar é cuidar. Amor indisponível não previne nem cura.

Qual o papel das igrejas e da religião em algum tipo de trabalho de apoio?

Entre as pessoas que entrevistei e atendi, as que pararam de se autolesionar o fizeram por consideração ao pedido e/ou afeto de alguém. Poucas contavam com o apoio familiar desejado. Desta forma, elas podem encontrar nas igrejas alguém que as “enxergue”, as considere e que também ajude a promover os vínculos familiares. O amor e a atenção oferecidos pelas pessoas da igreja podem ser ferramentas importantíssimas para o processo de cura. Até mesmo porque este amor pode apontar para o amor de um Deus que as ama incondicionalmente, que as fez com um propósito, doador de esperança e que não as deixa sós nos momentos de maior angústia. Enfim, podem encontrar alguém que percebam que se importa.

Felipe Lemos e Mauren Fernandes (via ASN)

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Vale tudo pela beleza e estética? Vaidade ou necessidade?

Nas últimas semanas, três mortes ligadas a procedimentos cirúrgicos estéticos voltaram a ter destaque em discussões públicas no Brasil. Uma delas, a mais recente, foi a da bancária Lilian Calixto, que morreu após um implante nos glúteos em intervenção realizada no Rio de Janeiro. Além dela, Adriana Pinto morreu fazendo lipoescultura e Mayara Silva dos Santos faleceu ao fazer procedimento nos glúteos, coxas e abdômen.

Dados da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) mostram que houve aumento de cirurgias plásticas consideradas estéticas e reparadoras nos últimos dez anos. Em 2016, data da pesquisa mais recente, foram realizadas 839.288 cirurgias estéticas no Brasil e 664.809 consideradas reparadoras, totalizando 1 milhão, 472 mil e 435 cirurgias (contra 629 mil realizadas em 2009).

Como todo procedimento cirúrgico, essas operações trazem riscos à saúde. Os principais riscos cirúrgicos são de: hematomas, riscos anestésicos, sangramentos, diminuição ou perda de sensibilidade, punção inadvertida (no caso de colocação de gordura em vasos sanguíneos), riscos de trombose e de deformidades. Há, também, riscos de cicatrização não adequada.

Também são comuns a insatisfação e os sentimentos de frustração quando os resultados não alcançam as expectativas. Por outro lado, há casos em que as cirurgias plásticas deixam de ser somente estéticas e são justificadas e necessárias, como após um acidente, em caso de doenças congênitas, grandes deformidades ou imperfeições que prejudicam o funcionamento do corpo. Nesses casos, os benefícios superam os riscos. 

A cirurgiã plástica Mariana Dias Dimitrov Francica, que também é membro da SBCP, frisa que a escolha de um local e de um profissional para fazer o procedimento não deve ser motivada apenas pelo preço ou condições de pagamento. Ela recomenda a procura de profissionais credenciados pela SBCP, atualmente com 6.200 associados.

Antes de se decidir por qualquer procedimento, é necessária muita reflexão sobre o assunto e cuidado para não agir por impulso ou pelas emoções. Procure identificar quais as reais motivações que levam você a pensar em se submeter a cirurgias. Você possui um "defeito" real e significativo, ou está criando tempestade em copo d'água por causa de uma pequena imperfeição? 

Podemos aprender com a história de Salomão: 
"Absorveu-se tanto com a ostentação exterior, que se esqueceu de elevar a mente pela constante ligação com o Deus da sabedoria. A perfeição e a beleza de caráter foram passadas por alto em sua tentativa de alcançar a beleza exterior. Vendeu a honra e a integridade do caráter na busca de glorificação própria diante do mundo (...) Primeiro, corrompeu-se no coração, depois se afastou de Deus e se tornou por fim adorador de ídolos" (Ellen G. White - Testemunhos para a Igreja, v. 4, p. 628).
Esse sofrimento é completamente evitável. Pense nisso e lembre-se de que a verdadeira beleza está no caráter. Enquanto o padrão de beleza muda a cada ano, o valor do caráter nunca sai de moda. E quando a motivação de uma pessoa para fazer a cirurgia é apenas vaidade, ela se tornou o próprio ídolo. Não há problema nenhum em se achar bonito ou bonita, mas cuidado pra não fazer disso sua razão de viver.
"Dói-me o coração ao ser-me mostrado quantos há que fazem do próprio eu seu ídolo. Cristo pagou o preço da redenção por elas. A Ele pertence o serviço de todas as suas faculdades. Seu coração, porém, está cheio de amor-próprio, e do desejo de se adornarem a si mesmas. Não refletem nas palavras: 'Se alguém quiser vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-Me' (Mc 8:34)" (Ellen G. White - Mensagens Escolhidas 1, p. 80).
A coisa mais importante que devemos fazer antes de decidir fazer ou não cirurgia é consultar ao Senhor sobre o assunto. A Bíblia nos diz que Deus se importa com tudo que nos preocupa, por isso devemos levar nossos problemas a Ele em oração (1 Pedro 5:7). Através da sabedoria e direção do Espírito Santo e da Palavra de Deus, temos a habilidade de fazer decisões que vão honrar e agradar a Ele. 
"A beleza de você deve estar no coração, pois ela não se perde; ela é a beleza de um espírito calmo e delicado, que tem muito valor para Deus" (1Pe 3:4 NTLH).
Assista a entrevista no programa Vida & Saúde com os médicos Luiz Fernando Sella e Daniela Kanno:


[Com informações da ASN]

O vegetarianismo nos escritos e na experiência de Ellen G. White

O tema da mensagem de saúde é um dos assuntos mais controvertidos na Igreja Adventista. Mesmo em uma análise superficial, prontamente se percebe dois grupos: extremistas que vivem como se a reforma de saúde fosse o aspecto mais importante da experiência cristã, e um grupo maior que considera esse importante ponto da mensagem adventista apenas um anexo sem importância para a vida do cristão. 

Nesse conflito, o vegetarianismo está entre os temas mais discutidos. Encontrar a melhor maneira de abordar o assunto não é tarefa simples, especialmente pelas diferenças culturais, sociais e econômicas que existem no mundo. Ellen G. White foi a principal voz no adventismo sobre a mensagem de saúde, e seus livros estabeleceram a base para o estilo de vida adventista. Portanto, compreender e interpretar corretamente o que ela escreveu é o caminho mais coerente e seguro. 

Adventismo e reforma de saúde
O movimento da mensagem de saúde adventista teve como base a grande corrente americana de reformas sanitárias entre os anos 1800 e 1850. Essas reformas criaram as condições necessárias para a compreensão adventista da saúde, conferindo-lhe alto grau de relevância já nos primeiros anos da denominação.1 Em 1848, quatro anos após sua primeira visão, Ellen G. White recebeu as primeiras informações sobre a mensagem de saúde. Ela viu que tabaco, chá e café eram prejudiciais e deveriam ser completamente abandonados.2 

No entanto, sua mais importante visão sobre saúde ocorreu em 6 de junho de 1863, em Otsego, Michigan. Seu conteúdo foi relatado em 16 páginas que descrevem a essência da mensagem adventista de saúde. Entre os muitos princípios apresentados, os mais importantes foram: (1) os que não controlam o apetite tornam-se intemperantes; (2) bolos, tortas e pudins muito substanciosos são prejudiciais; (3) a carne de porco não deve ser consumida em nenhuma circunstância; (4) fumo, chá e café devem ser abandonados; (5) comer entre as refeições prejudica o estômago; (6) cuidar da higiene do corpo e da casa; (7) o consumo de carne é prejudicial ao organismo; e (8) fazer bom uso dos oito remédios da natureza.

Apesar das orientações de Ellen G. White não serem uma completa novidade no contexto das reformas do século 19, a relação da saúde com a espiritualidade constitui o grande diferencial de seus ensinos. A mensagem de saúde estava inserida em um sistema de doutrinas chamado de a verdade presente pelos pioneiros adventistas.4 Em 1900, a autora escreveu: “A verdade presente repousa na obra da reforma de saúde tanto quanto nos outros aspectos do evangelho.”5 Para ela, o cuidado da saúde “não é um apêndice desnecessário à verdade, é uma parte da verdade”.6 

Esse conceito integrado foi fundamental para formar o estilo de vida adventista. Por isso é importante estabelecer uma conexão entre a mensagem de saúde e a espiritualidade. Uma das citações de maior destaque que evidencia essa ligação foi publicada em 1867: “Foi-me mostrado que a reforma de saúde faz parte da mensagem do terceiro anjo, e está tão intimamente ligada a ela como o braço e a mão estão ao corpo.”7 

O vegetarianismo nos escritos de Ellen G. White
O contexto apresentado quanto à reforma de saúde serve como base para compreender a posição de Ellen G. White sobre o uso da carne. Ela nunca tratou desse assunto de forma isolada, ainda que seus pontos de vista a respeito de uma dieta vegetariana sejam vastos. Em seus escritos, o controle do apetite, inclusive a questão de comer carne, está relacionado ao princípio central de “manter nosso corpo na melhor condição de saúde”.8 

O tema da carne foi apresentado pela primeira vez à autora na visão de 1863. Os principais conceitos relacionados ao alimento cárneo também foram recebidos nessa ocasião. A carne de porco foi condenada como imprópria para o consumo.9 Além disso, a visão orientou para a abstinência de outros tipos de carne, dando preferência ao vegetarianismo. É importante esclarecer que o sentido da palavra “carne” usada por Ellen G. White quase sempre se refere à carne vermelha, uma vez que os peixes são tratados como um tema à parte.10 

No ano seguinte, com a publicação do quarto volume de Spiritual Gifts, a autora passou a insistir na adoção de uma dieta sem carne. Ela declarou que: (1) o alimento ideal de Deus para Suas criaturas está no Éden; (2) o Senhor permitiu que se comesse carne após o dilúvio para diminuir a vida do homem; (3) na peregrinação do deserto, Ele não proibiu a carne, mas proveu um alimento melhor; (4) a carne condimentada produz um estado febril e contamina o sangue; (5) quem consome muita carne não apreciará uma alimentação saudável de imediato; (6) crianças que comem carne favorecem as tendências animais; e (7) a carne de muitos animais está enferma devido às condições precárias em que eles são mantidos antes de serem abatidos.11 

Anos mais tarde, Ellen G. White continuou a escrever sobre os malefícios do regime cárneo, e apontou que ele: (1) afeta a atividade intelectual (1890);12 (2) prejudica a capacidade mental para entender a Deus e a verdade (1897);13 (3) debilita as faculdades físicas, mentais e morais (1901);14 (4) desperta o desejo de consumir bebidas alcoólicas (1901);15 e (5) aumenta a possibilidade de contrair enfermidades (1905).16 Em um dos seus mais importantes livros sobre saúde, ela também alertou sobre outro aspecto que raras vezes é mencionado. O regime cárneo “envolve crueldade para com os animais [...] criaturas de Deus”17 e, também por isso, seu consumo é objetável. 

Ao longo de seu ministério, as advertências de Ellen G. White sobre a carne se tornaram mais enfáticas. Ela reconheceu que a qualidade da carne estava cada vez pior. Em 1905, escreveu que “a carne nunca foi o melhor alimento; seu uso agora é duplamente objetável, visto as doenças nos animais estar crescendo com tanta rapidez”.18 

No entanto, por mais que Ellen G. White advogasse fortemente em favor da dieta vegetariana, ela não insistia nisso para todas as pessoas em todos os lugares.19 É importante admitir que havia exceções que ela mesma experimentou em sua vida pessoal. No fim de 1868, a autora escreveu ao esposo de uma senhora muito doente que teria sido melhor comer uma pequena porção de carne que sentir um profundo desejo por ela.20 Ela também recomendou cautela quanto ao deixar a carne: “Ninguém deve ser solicitado a fazer abruptamente a mudança.”21 Para Ellen G. White, o vegetarianismo jamais seria uma prova de comunhão entre os membros da igreja.22 

Já no fim da vida, em 1909, a escritora registrou o que pode ser entendido como o resumo de sua ideia em relação ao consumo de carne: “Não estabelecemos regra alguma para ser seguida no regime alimentar, mas dizemos que nos países em que há muita fruta, cereais e nozes, os alimentos cárneos não constituem alimentação própria para o povo de Deus.”23 Assim, por mais que não exista uma regra fixa quanto a uma dieta particular, está claro que onde e quando for possível, o povo de Deus deve preferir comer “frutas, cereais e verduras, preparados de forma simples”.24 

A experiência pessoal de Ellen G. White 
Alguns criticam Ellen G. White por não ter vivido a mensagem de saúde como ela mesma propôs em seus escritos quanto ao comer carne. No entanto, um estudo cuidadoso de sua biografia aponta que a autora foi fiel e coerente às instruções que recebeu. Ela afirmou que, depois da visão de 1863, eliminou de imediato a carne de seu menu diário, mas isso não significaria que ela não comeria mais carne.25 Em 1933, William White escreveu a George Starr que a família White havia sido vegetariana, mas não totalmente abstêmia de carne.26 Apesar de seu vegetarianismo, o consumo esporádico de carne podia acontecer devido a uma viagem longa ou quando a cozinheira não sabia preparar comida vegetariana.27 

Foi somente em 1894 que Ellen G. White decidiu que não comeria mais carne, nem mesmo ocasionalmente. Ela relatou: “Desde a reunião campal de Brighton (janeiro de 1894) bani absolutamente a carne da minha mesa.”28 A autora sempre demonstrou bom senso quanto ao consumo de alimento cárneo e foi tolerante a seu uso ocasional até quando entendeu que comê-lo seria demasiado prejudicial. Foi a partir desse período que suas advertências mais sérias contra a carne foram escritas. 

Conclusão 
Em resumo, pode-se afirmar que os escritos de Ellen G. White nos ensinam que a carne deve ser evitada nos lugares em que há abundância de frutas, cereais e verduras. No entanto, é preciso cautela, pois não se pode descartar o alimento cárneo abruptamente, sem prover adequada substituição nutricional. A carne não é um alimento saudável e pode trazer prejuízos em nossa relação espiritual com Deus. 

Ellen G. White foi fiel a esses princípios e sempre advogou bom senso e cuidado com extremismos. Em 1904, ela afirmou: “Tenho melhor saúde, não obstante achar-me com setenta e seis anos de idade, do que tinha em meus tempos juvenis. Dou graças a Deus pelos princípios da reforma de saúde.”29 

Alberto Tasso Barros (via Revista Ministério

Referências 
1 George W. Reid, A Sound of Trumpets (Washington, D.C: Review and Herald, 1982), p. 22. 
2 James White, “Western tour: Kansas camp meetting”, Review and Herald, 8/11/1870, p. 165. 
3 Herbert Douglass, Mensageira do Senhor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), p. 283, 284. 
4 Alberto R. Timm, O Santuário e as Três Mensagens Angélicas, 6ª ed. (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2016), p. 123-131.
5 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 6 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 327. 
6 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 1 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 546. 
7 Ibid., p. 486. 
8 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 65. 
9 Ron Graybill, “The development of adventist thinking on clean and unclean meats”, < https://goo.gl/FecV4K>. 
10 Andrés Afonso Tovar Galarcio, “Análisis de citas controversiales sobre el consumo de la carne en escritos de Ellen G. White: un estudio históricocontextual” (dissertação de mestrado, Universidade Peruana União, 2016), p. 56. 
11 Ellen G. White, Spiritual Gifts, v. 4, p. 120-150. 
12 Ellen G. White, Conselhos Sobre o Regime Alimentar (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 388. 
13 Ibid., p. 383. 
14 Ibid., p. 268. 
15 Ibid. 
16 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), p. 313. 
17 Ibid., p. 315. 
18 Ibid., p. 313. 
19 Denis Fortin, Jerry Moon, Michael W. Campbell e George R. Knight, eds. The Ellen G. White Encyclopedia (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2013), p. 1247. 
20 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 2 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 384. 
21 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 317. 
22 Ellen G. White, Conselhos Para a Igreja, p. 240. 
23 Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, v. 9 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 159. 
24 Ellen G. White, Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 355. 
25 Ibid., p. 482. 
26 Herbert Douglass, Mensageira do Senhor, p. 316. 
27 Denis Fortin, Jerry Moon, Michael W. Campbell e George R. Knight, eds. The Ellen G. White Encyclopedia, p. 1247. 
28 Ellen G. White, Conselhos Sobre o Regime Alimentar, p. 488. 
29 Ibid., p. 482.

Dia dos Avós - Em respeito aos fios brancos

“Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito; e honrem a mim, o Deus de vocês.” (Levítico 19:32)
Comemora-se o Dia dos Avós em 26 de julho. E esse dia foi escolhido para a comemoração porque é o dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo, considerados os padroeiros de todos os avós pela Igreja Católica. No dia 26 de julho de 1584, o Papa Gregório VIII canonizou os avós de Jesus Cristo, por isso a escolha desta data para a celebração. Porém deles não encontramos nada na Bíblia. As únicas informações que temos sobre os pais de Maria são contados pelo Evangelho apócrifo (não autêntico) do século II, chamado Protoevangelho de São Tiago.

E para homenageá-los nesta data, segue abaixo este lindo relato de Aline Lacerda (via Minha Vida Cristã) com inserção nossa de alguns textos de Ellen G. White:

Desde que mudei de cidade para estudar, não moro mais com meus pais e, atualmente, vivo com uma amiga da igreja e sua avó de quase 90 anos. Confesso que, muitas vezes, a convivência é difícil. São quase 70 anos de diferença que se refletem em nossas opiniões, hábitos e gostos. O “conflito de gerações”, em diversas vezes, cansou-me e/ou deixou-me irritada. Até que busquei na Palavra (nosso melhor manual de vida) e nela encontrei conselhos de como lidar com a situação.

Por intermédio da Bíblia, entendi que devo respeitar a trajetória dos idosos, pois sua caminhada foi muito maior do que os poucos passos que eu já dei. 
"Como é comovente ver a mocidade e a velhice dependendo uma da outra, o jovem olhando ao idoso quanto aos conselhos e à sabedoria, e o ancião ao adolescente em busca de auxílio e simpatia! Assim é como devia ser. Deus quer que os jovens possuam tais atributos de caráter que encontrem prazer na amizade dos idosos, para se unirem nos queridos laços da afeição aos que se estão aproximando da sepultura." (Mente, Caráter e Personalidade 2, p. 746)
Ainda não entendo muito da vida e, apesar das concepções diferentes, percebi mesmo que devo saber lidar com as experiências que ela teve e como isso moldou o seu caráter, tornando-a quem ela é hoje. Por isso, devo tratá-la com toda consideração e apreço. Mas o que esse texto tem a ver com você?

Talvez você não lide com idosos no dia a dia. Pode ser que sua única experiência seja visitar seus avós nos almoços de domingo e, nesses momentos, eles lhe pareçam fofos e amáveis. Todavia, pode ser que seu relacionamento com eles não tenha se aprofundado a ponto de ficarem visíveis os anseios, necessidades e tristezas que eles possuem. Um conselho: conheça seus avós, eles farão muita falta quando partirem. Mas é importante entender também que, como parte da Igreja, os idosos da sua comunidade também são sua responsabilidade. 
"Não é melhor estabelecer instituições para cuidar dos idosos, para que eles fiquem juntos, na companhia uns dos outros. Nem eles devem ser mandados para fora do lar a fim de receberem cuidados. Que os membros de cada família ministrem aos próprios parentes. Quando isto não é possível, essa obra pertence à igreja, e deve ser aceita igualmente como dever e como privilégio. Todos os que têm o espírito de Cristo hão de considerar os débeis e idosos com especial respeito e ternura." (Mente, Caráter e Personalidade 2, p. 746)
Integrá-los da melhor forma possível, de maneira com que se sintam úteis na obra do Senhor nessa fase de suas vidas, é de extrema importância para o funcionamento de um Corpo bem estruturado, onde todos os membros são partes atuantes para o grande propósito pelo qual fomos chamados. 

É mesquinho e até certo ponto incoerente vivermos como se nunca fôssemos envelhecer ou tratar nossos velhos como se nunca fôssemos chegar a sua idade (eu espero que você tenha a honra de chegar!). A Igreja deve responsabilizar-se pela promoção de uma vida saudável, tanto espiritual como física e emocional, para todos os seus integrantes. 

Sabemos que as mudanças que a idade traz são difíceis de serem encaradas: a aposentadoria, o afastamento dos filhos, a perda da independência etc. E esses fatores podem levar à tristeza, depressão e solidão. Que nossas casas de oração sejam também ambientes de acolhimento e cura, e que as pessoas saibam valorizar cada pessoa e ver em cada um o seu potencial para o Reino. 
"O mais terno interesse deve ser nutrido para com aqueles cujo interesse vital é vinculado à causa de Deus. Não obstante suas muitas enfermidades, esses obreiros possuem talentos que os qualificam para estar na sua sorte e lugar. Deus deseja que ocupem posições de liderança em Sua obra. Permaneceram fiéis em meio aos temporais e provas e acham-se entre os mais valiosos conselheiros. Quão gratos deveríamos ser por poderem eles ainda usar seus dons no serviço do Senhor!... Não demorará receberão vossa recompensa." (Testimonies, vol. 7, p. 287 e 288) 
Não podemos encarar o envelhecimento como algo ruim e incapacitante, pois, apesar das limitações que a idade traz, Deus tem um propósito para o homem em todas as épocas da sua vida. 
“Agora, quando estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que eu tenha anunciado a Tua força a esta geração e o Teu poder a todos os vindouros.” (Salmos 71:18) 
Deus é poderoso para fazer o “velho” semear novos frutos. Para Ele, a idade jamais será um obstáculo de renovar sonhos, dar novos planos e proporcionar experiências mais profundas de relacionamento com Ele. A Bíblia apresenta a velhice como dignidade, experiência e sabedoria, e é dessa forma que decidi enxergar a minha “avó” adotiva, mesmo quando as diferenças quiserem causar conflitos. Aprendi que honrar a Deus significa buscar ter bons relacionamentos, colocar-me no lugar do outro, ter empatia e um coração perdoador e amável.
"O quanto possível, fazei com que aqueles cuja cabeça está alvejando e cujos passos trôpegos indicam que se vão avizinhando da sepultura permaneçam entre amigos e relações familiares. Que adorem entre aqueles que conheceram e amaram. Sejam cuidados por mãos amorosas e brandas." (Beneficência Social, p. 237)
Que como meu mestre e maior exemplo, eu possa ser justa para honrar a melhor idade dos que estão ao meu redor e, assim, por meio da minha vida, mostrar a importância deles para o Criador.
“O cabelo grisalho é uma coroa de esplendor, e se obtém mediante uma vida justa.” (Provérbios 16:31)

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Miss Cadáver

Só uma lógica faz sentido no reino dos homens para dar valor às pessoas e às coisas: mérito. Nossa sociedade é construída em cima desse pilar. Desde a educação familiar, passando pela educação acadêmica e adentrando a vida adulta e profissional, todas as coisas são medidas na régua do mérito. O que fazemos, como fazemos e o que deixamos de fazer são e serão a sentença de nossas vidas.

E convenhamos, não dá para pensar de outra maneira. Alguma coisa ou alguém só valem mesmo se forem úteis de alguma maneira. Ninguém quer convocar o “gordinho pereba” para o time de futebol, queremos o artilheiro, o “fazedor de gols”. Quem chega mais rápido à linha de chegada é que é digno da medalha dourada. Aquele que vende mais é digno da promoção na empresa, o que rende mais, trabalha mais, acerta mais, enfim, nossos valores são pautados pela régua da meritocracia. A sociedade capitalista aplaude porque essa foi, até agora, a melhor forma de motivar o rendimento humano sem qualquer opressão que fira o direito a liberdade (em tese).

O Reino de Deus é diferente do nosso. Seus valores são outros e isso é desconcertante. Enquanto nós escolhemos os melhores, Jesus escolhe os doze discípulos mais improváveis, de um terrorista (zelote) a um político corrupto (Levi Mateus), de iletrados a homens irascíveis. O que tinha mais títulos, mais méritos, o mais estudado, era Judas. Segundo esse ponto de vista, não fosse por Judas, o ministério de Jesus teria caído em descrédito pela tenebrosa escolha dos outros onze.

Graças a Deus que Deus não é humano. Sua lógica é outra e Sua operação é diferente do que esperamos. Deus opera em outro paradigma, outra forma de enxergar a vida. Enquanto procuramos os melhores, os bons, os mais capacitados, Ele procura outra coisa. No Reino de Deus o valor é outro. Jesus disse: 
“Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus.” (Mateus 18:3)
Muitas versões foram produzidas com o tempo a respeito sobre o que Jesus quis dizer com essa afirmação. Mas basta olhar para o contexto judaico da época e será possível perceber o que exatamente Jesus estava falando. Mulheres e crianças não eram contadas naquele tempo. Apenas adultos homens tinham algum valor social. O mérito era todo deles. Eles lideravam, dominavam, trabalhavam, realizavam, eram quem “importava” naquele contexto. Jesus mesmo tem que dizer: “deixai vir a mim os pequeninos”, porque ninguém queria deixar que as crianças se aproximassem do Mestre, “atrapalhando” Seus afazeres. Era uma afronta uma criança ou uma mulher demandar atenção de um homem adulto. Crianças não tinham valor. Afinal, não tinham mérito algum, “serviam para quê?”.

Jesus começa a subverter essa ideia quando declara aos orgulhosos adultos que ninguém entra no Reino dos Céus se não se despir de suas personas infladas, e se diminuir ao nível de simplicidade, fragilidade, submissão de uma criança. Resumindo, Jesus falava de humildade. É como se dissesse: “Quem acha que vai a algum lugar por suas próprias forças, conquistas e méritos, não vai a lugar algum. Quanto mais vocês enxergam valor em vocês mesmos, menos aptos estão para o Reino. Enquanto aqueles que forem dependentes do Pai como uma criança, humildes e sem valorizar a si mesmos, estarão a caminho do céu”.

Quando Deus vai escolher “Seu time”, não busca os mais aptos, mais capazes, mais saudáveis, mais inteligentes, nada disso. Ele busca os mais humildes. 
“Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se eles possuem riquezas mundanas, saber ou eloquência. Pergunta: ‘Andam eles em tanta humildade que lhes possa ensinar o Meu caminho? Posso pôr em seus lábios as Minhas palavras? Representar-Me-ão?” (Ellen White, Ciência do Bom Viver, p. 37)
Portanto, o valor do Reino de Deus é de um tipo que não exclui ninguém. Enquanto o mérito deixa de fora os que não o possuem, a humildade é um atributo que todos os homens podem se apropriar desde que não olhem para si mesmos como merecedores. É também um atributo agregador, em vez de excludente. O mérito clama por competição, a humildade clama por cooperação. Esse é o valor do Reino de Deus que contrapõe a meritocracia: humildade. É certo que “como ferro afia o ferro, um homem afia o seu companheiro” (Provérbios 27:17), e a competitividade ajuda um homem a aprimorar o outro. Mas como o ferro batendo no ferro esse aprimoramento ocorre ao custo de feridas e enfrentamentos. O texto, embora fale do “ferro com o ferro”, fala também de companheirismo. A humildade também é capaz de aprimorar o homem, também haverá feridas e enfrentamentos, mas aqui o outro é companheiro. Existe amor nessa relação, cooperação e não competição. No Reino de Deus, a humildade é a substituta do mérito.

Ouvi recentemente que a arrogância e o orgulho é como um cadáver que pensa em ganhar um concurso de beleza. Nossos melhores méritos não são mais do que “trapos de imundícia”. Estamos maculados pelo pecado, nossa natureza é doente, somos como cadáveres, mas nos pomos a ganhar um concurso de beleza, porque olhamos para nós mesmos como merecedores de alguma coisa, dignos de reconhecimento e valiosos a nossos olhos.

O Reino de Deus vem para desconstruir nossa ilusão. Revelar o que somos e mudar nossa postura. O convite de Deus é para uma vida de muita humildade. De abatimento constante do orgulho e da consciência de merecimento. No Reino, nós somos completamente dependentes de Deus. Ele é o grande realizador, por meio de nós. Não há disputa sobre quem é maior, ninguém se vê superior ao outro, somos convocados e olhar de baixo para cima todas as outras pessoas, nos permitindo ser usados por Deus. Sim, usados. Essa palavra vai incomodar os mais soberbos e orgulhosos. Deixe Deus usá-lo.

Quando Deus chama Seus líderes, Ele escolhe os que se parecem mais com crianças, dependentes do Pai, do que os autossuficientes. Os mais humildes são os mais moldáveis, os mais orgulhosos, mais engessados. 
“Muitos não percebem que ao andarmos humildemente com Deus, nos colocamos numa posição em que o inimigo não pode tirar vantagem de nós. … Unicamente se nos submetermos como crianças dispostas a ser instruídas e disciplinadas, poderá Deus usar-nos para a Sua glória.” (Ellen White, Manuscrito 102 de 1904)
Mas isso não é fácil: 
”É unicamente por meio de torturante esforço de nossa parte que nos tornaremos altruístas, modestos, semelhantes a crianças, dóceis, mansos e humildes de coração, como nosso divino Senhor.” (Ellen White, Para Conhecê-lo, p. 182)
Assim, imitando a Cristo, a gente vai levando o Seu Reino ao mundo. Com uma verdade espantosa que o mundo não espera. Gente indigna, carregando a maior dignidade, Jesus Cristo em seu próprio coração. Vivendo em outro parâmetro, ocupando um outro patamar, apresentando um amor não fingido, e um valor que não vale em si mesmo. A humildade é só tem valor, porque é o espaço que se abre no ser para que Deus possa habitar em nós. 
“Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” (Filipenses 2:3) 
Esse é o Reino.

Diego Barreto (via O Reino)

terça-feira, 24 de julho de 2018

A tarefa psicológica e espiritual de cuidar do corpo

A nossa sociedade líquida exerce pressão sobre o corpo humano, onde surgem os sintomas do corpo que se expressa em uma fala “velada”. A psicanálise entra na cena para analisar o processo de esgotamento da subjetividade dos indivíduos, no tocante às doenças do corpo e da alma.

Nessa fala oculta, o inconsciente mostra que habita no corpo: o discurso hipocondríaco, a linguagem histérica e o distúrbio psicossomático, que se revelam em anorexia, bulimia, vigorexia e outras patologias. Todas oriundas de cobranças absurdas sobre o corpo, que em alguns casos têm levado a morte ou o suicídio de mulheres e garotas.

Há poucos dias, em Dublin, Irlanda, uma menina de 11 anos, foi encontrada em estado crítico no quarto depois de tentar suicídio. Ao ser levada para o hospital, ela não resistiu e morreu. Antes se cortou e escreveu com o sangue: “Garotas bonitas não comem”. Outro caso é o da bancária, de 46 anos, que morreu após sofrer uma cirurgia estética na casa de um médico, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Hoje as estratégias de manipulação sobre o corpo que fala, mas que também “grita,” está na mira de uma força mediática e narcísica que produz um quadro psicopatológico, que debilita os sujeitos em relação ao seu corpo.

As pessoas que se orientam pelo culto ao corpo buscam nas “ofertas” da medicina estética e da indústria de cosméticos uma incessante repaginação corporal. Essa concepção do corpo escultural é recriada a todo o momento pela mídia, como ideal de uma vida feliz.

Isso cria no imaginário coletivo de homens e mulheres, sobretudo, de jovens, que um corpo “sarado” será mais aceitável em novos relacionamentos, uma vez que pessoas obsessivas pelo corpo perfeito exigem do outro também um corpo perfeito.

Essas relações terão problemas para estabelecer uma conexão saudável, porque tudo gira ao redor do corpo, colocando os princípios morais, espirituais e psicológicos em último plano.

Trata-se de um corpo habitado por elementos simbólicos, que diz muito sobre o sofrimento inconsciente dos sujeitos. As angústias e ansiedades da era vitoriana de Freud e de hoje têm a mesma narrativa burguesa do corpo, encobrindo o vazio existencial, que separou o corpo do indivíduo.

Porém, é só através do corpo, mente e espírito livres de disfunções de qualquer natureza, emancipados pela inteligência emocional, que não aceita que o corpo se curve diante das bizarras dietas, das invasivas cirurgias estéticas, da erotização perversa, da opressão econômica e dos apelos para o consumo de drogas e álcool.

A resposta para isso é cuidar do corpo com gentileza por meio da higiene adequada, da alimentação saudável, do uso certo dos medicamentos, da prática orientada de exercícios físicos, como o caminho para evolução da nossa saúde psíquica e espiritual. O que nos permitirá interagir com o mundo material e sensorial de modo equilibrado.

Assim, a nossa maior tarefa psicoespiritual é dizer não a “coisificação” do corpo, cuidando dele com respeito, para que possamos vencer os desafios do cotidiano, sem entrar na neurose do corpo perfeito, mas esgotado na sua subjetividade e alienado pelas doenças da alma.

Jackson César Buonocore (via Conti Outra)
"Deus é o grande operador da maquinaria humana. No cuidado de nosso corpo precisamos cooperar com Ele. Amor a Deus é essencial para a vida e saúde... 
É nosso dever exercitar e disciplinar o corpo a fim de prestarmos ao Mestre o mais elevado serviço possível. Não devemos ser dominados pela inclinação. Não devemos satisfazer o apetite e condescender com o uso daquilo que não nos faz bem, simplesmente porque nos agrada ao paladar; tampouco devemos procurar viver no plano da fome, com a ideia de que nos tornaremos espirituais, e que Deus será glorificado. Cumpre-nos usar a inteligência que Deus nos concedeu a fim de sermos perfeitos no corpo, na alma, e no espírito, para possuirmos caráter simétrico, mente equilibrada, e fazermos obra perfeita para o Mestre. O sagrado templo do corpo deve ser conservado puro e incontaminado, para que o Santo Espírito de Deus nele possa habitar." (Ellen G. White - Cuidado de Deus, p. 110)

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Luxúria é desejo sexual menos honra e santidade

Deus nos criou como seres sexuais e nos deu algo chamado desejo sexual. Essa é uma das necessidades físicas básicas do ser humano. A ordem divina foi “sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn 9:7). Assim como o Senhor nos deu apetite por alimento, Ele nos dotou com apetite sexual para que homens e mulheres não só desfrutem da intimidade no contexto do casamento, mas também procriem. Nossa condição de seres sexuais com desejo sexual é parte do propósito divino para a raça humana. Contudo, desejo sexual não é o mesmo que luxúria. John Piper define luxúria com esta simples equação: “Luxúria é desejo sexual menos honra e santidade.” Quando somos lascivos, tomamos essa coisa boa – o desejo sexual – e removemos dele a honra para com os outros e a reverência para com Deus. A luxúria é um desejo idólatra que rejeita as orientações divinas e busca satisfação à parte do Senhor.

Em Mateus 5:27 e 28, Jesus ensinou que se demorar em pensamentos impuros é pecado. “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.” Cristo deixa claro que “nossos pensamentos são mais importantes do que nossas ações”. Além disso, afirma que o adultério é mais do que ter um caso extraconjugal. É algo que começa no coração – e Deus vê nosso coração e conhece nossas intenções (1Co 2:11, Hb 4:13). Suas palavras também ensinam que os limites mentais e emocionais são tão importantes quanto os limites físicos. As implicações disso são claras quando se relacionam com pornografia, conteúdos eróticos escritos ou filmados e outros materiais que promovam o desejo sexual por alguém que não seja o cônjuge. Assim, quando qualquer pessoa é física ou emocionalmente inserida na intimidade sexual, mesmo que em pensamento, compromete a pureza do ato conjugal.

O apóstolo Paulo escreveu: “Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça; pois essas coisas não são próprias para os santos” (Ef 5:3, NVI). Mas, por que o padrão divino é tão alto? Por que Deus não permite nem um pouco de luxúria, sendo Ele mesmo que criou os seres humanos com desejos sexuais? Uma das razões pelas quais o Senhor nos exorta a purificar a vida é porque Ele sabe que a luxúria nunca fica no nível da “sugestão”. Ela anseia por mais. O resultado é que a lascívia nunca pode ser extinta. Assim que seu objetivo é alcançado, ela quer algo maior. Em Efésios 4:19, Paulo descreve o interminável ciclo da luxúria. Ele fala sobre aqueles que se afastaram de Deus perdendo “toda a vergonha e se entregaram totalmente aos vícios; eles não têm nenhum controle e fazem todo tipo de coisas indecentes” (NTLH). Esta é a recompensa da luxúria, fazer “se entregarem totalmente aos vícios”.

Deus criou nossas necessidades para serem supridas por meio de relacionamentos reais. É preciso investir energia nas relações criadas por Deus, uma coisa que não ocorre nas relações construídas sobre o engano e a luxúria. Quando se trata de luxúria, Deus diz: “não ... nem mesmo uma sugestão”, porque não podemos ceder às exigências da lascívia e esperar satisfazê-la. Ela sempre cresce. Com isso, a luxúria nos rouba a capacidade de desfrutar de intimidade e prazer sexual saudáveis. Os cristãos, portanto, devem se manter puros ao fugir da imoralidade (1Co 6:18), pensar em coisas puras (Fp 4:8), amar o Senhor Jesus Cristo e não agradar os desejos da natureza pecaminosa em relação à luxúria (Rm 13:14).
"A entrega de todas as faculdades a Deus, simplifica grandemente o problema da vida. Enfraquece e abrevia milhares de lutas com as paixões do coração natural." (Ellen G. White - Mensagens aos Jovens, p. 30)
O objetivo de cada pessoa que tem colocado a sua fé em Jesus Cristo é tornar-se cada vez mais semelhante a Ele a cada dia. Isto significa jogar fora o velho modo de vida sob o controle do pecado e conformar seus pensamentos e ações de acordo com o padrão delineado nas Escrituras. A luxúria é o contrário desse objetivo.

Ninguém nunca vai ser perfeito ou alcançar a impecabilidade enquanto ainda nesta terra, no entanto, ainda é uma meta para a qual nos esforçamos. A Bíblia faz uma declaração forte sobre isso em 1 Tessalonicenses 4:7-8: "Porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação. Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que também vos dá o seu Espírito Santo." 

Se a luxúria ainda não tomou conta do seu coração e mente, prepare-se para combater as suas tentações através de uma vida santa. Se você atualmente luta com a luxúria, é hora de confessar o seu pecado a Deus e pedir a Sua intervenção para que a santidade possa ser uma marca da sua vida também.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Elegância: a sutil arte de combinar simplicidade, educação e discrição

Gosto de gente simples. Gente pé no chão. Gente que aprendeu que luxo não se trata de afetação, ostentação ou presunção. Gente que sabe que elegância não é esnobismo ou arrogância. Elegância é, antes de tudo, saber se comportar com uma simplicidade sofisticada e uma sabedoria discreta perante a vida.

Coco Chanel dizia: “Não é a aparência, é a essência. Não é o dinheiro, é a educação. Não é a roupa, é a classe”. Eu, igualmente, acredito que ser elegante vai muito além de conhecer e assimilar regras cerimoniais ou juntar dinheiro para comprar uma jóia cara. Ser elegante é adquirir um conjunto de bons hábitos que revelam uma civilidade harmoniosa por dentro e por fora. 

É aprender agir com cortesia, empatia, gentileza, cuidado, educação e discrição. É descobrir o quanto é vulgar lavar roupa suja em praça pública; cuspir no prato em que comeu; participar de fofocas e boca a boca; fazer discursos inflamados sobre política e religião; assediar sem consentimento; criticar mais que elogiar; fazer diferença entre as pessoas; exagerar na roupa transparente, no tom de voz, na vontade de aparecer e na obscenidade.

Engana-se quem pensa que o contrário de luxo é a escassez de bens e recursos. Luxo é se despir de excessos. É descobrir que você não precisa exagerar na maquiagem, no brilho da roupa, no tom de voz, na quantidade de perfume, no filtro da selfie, na indiscrição. Luxo é conhecer seu lugar, não invadir a privacidade alheia, respeitar os limites (seus e dos outros), ser polido e refinado. Luxo é saber ser sofisticado na simplicidade, não desperdiçar, não esbanjar, não ostentar. Luxo é prestar atenção às próprias maneiras, e, na dúvida, agir com mais sobriedade que vulgaridade.

Pessoas elegantes não precisam impressionar ninguém, e por isso agradam a si mesmas em primeiro lugar. Não necessitam ostentar o último modelo de celular, não se incomodam em repetir vestidos, não competem pelo número de curtidas na última foto da viagem. Pessoas elegantes investem mais no brilho do olhar que na plástica das pálpebras, mais na naturalidade do sorriso que no preenchimento dos lábios, mais no caimento da vestimenta que na etiqueta famosa bordada na lapela. Quanto é bonito, fino, clássico, elegante e muito sofisticado adotar um estilo sóbrio, desprovido de exageros e despropósitos. É como diz o velho ditado: “menos é mais”.

A elegância está no comportamento, e não na posse disso ou daquilo. Já vi muita gente desprovida de recursos ter gestos nobres, e muita gente endinheirada ser extremamente desagradável e mesquinha. Isso me dá a certeza que não se mede grandeza por riqueza nem elegância por aparência.

Finalmente uma historinha: Quando eu tinha dezenove anos, fui conhecer a família do meu namorado na época. No dia de ir embora, ao acordar e ainda sonolenta, ouvi a mãe dele falando com a filha (que morava fora) ao telefone. Ela me descrevia exatamente assim: “ela é muito simples…” e me recordo que naquele dia, no auge da minha imaturidade, fiquei meio perdida, sem entender se aquilo era uma crítica ou elogio. Hoje, mais de vinte anos depois, me sinto privilegiada de ter passado essa impressão, e contente com a percepção dela. Porque sei que o meu valor não estava na minha fachada, e sim dentro de mim. Hoje continuamos próximas, amigas, e nos admiramos mutualmente. Nunca lhe contei esse episódio, e talvez fosse deselegante comentar que meus ouvidos captaram mais do que o necessário naquela manhã. Porém, mais tarde, esse incidente me trouxe lucidez. A compreensão de que, se houver educação e essência, a elegância chegará com a maturidade e o bom gosto. Pois como dizem por aí: “O mais importante não é ter, e sim ser…”

Fabíola Simões (via Conti Outra) (Ilustração: Audrey Hepburn na África)

Nota: Ellen G. White também nos deixou alguns sábios conselhos sobre como devemos nos comportar para sermos verdadeiramente elegantes:

"A verdadeira elegância não acha satisfação no adorno do corpo para ostentação. Os filhos de Deus devem ser puros interior e exteriormente." (Christian Temperance and Bible Hygiene, p. 93)

"Devemos educar os jovens na simplicidade do vestuário; simplicidade com elegância." (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 180) 

“Em cada época, a maioria dos professos seguidores de Cristo tem desatendido àqueles preceitos que ordenam modéstia e simplicidade na conversação, no comportamento e no vestir. O resultado tem sido o mesmo – abandono dos ensinos do evangelho, que conduz à adoção das modas, costumes e princípios do mundo. A piedade vital cede lugar ao formalismo morto.” (Mensagem aos Jovens, p. 354)

"Neste século corrompido, tudo se perverte para servir à ostentação e aparência exterior." (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 270)

"A beleza natural consiste da simetria ou da harmoniosa proporção das partes, de uma para com outra; mas a beleza espiritual consiste na harmonia ou semelhança de nossa alma com Jesus. Isso tornará seu possuidor mais precioso que o ouro fino, mesmo o ouro de Ofir. A graça de Cristo é, de fato, adorno de incalculável preço. Eleva e enobrece seu possuidor, reflete raios de glória sobre outros, atraindo-os também para a fonte de luz e bênçãos." (Orientação da Criança, p. 423)

"O nosso exterior deve caracterizar-se em todos os seus aspectos pelo asseio, modéstia e pureza." (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 394)

"A simplicidade de caráter e a humildade de coração produzirão felicidade, ao passo que a presunção ocasionará descontentamento, murmuração e contínuas decepções. É aprender a pensar menos em nós e mais em tornar outros felizes, que nos trará força divina." (Testemunhos Seletos 1, p. 403)

"A verdadeira cortesia não se aprende pela mera prática das regras da etiqueta. Ela desconhece as classes sociais. Ensina o respeito de si mesmo, respeito à dignidade do homem como homem, consideração por todo membro da grande fraternidade humana." (Educação, p. 240)