sexta-feira, 30 de agosto de 2024

BAJULAÇÃO É DE DEUS?

Você sabe o que significa bajular alguém? Essa é a ação de elogiar, ajudar ou falar com alguém apenas por interesse. Barack Obama pronunciou uma frase célebre sobre esse assunto: “Livre-se dos bajuladores. Mantenha perto de você pessoas que o avisem quando você erra.” François La Rochefoucauld afirmou: "A bajulação é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana." Francis Bacon disse: "A baixeza mais vergonhosa é a adulação." E o teólogo e grande pregador do evangelho, Aurélio Agostinho, pregando certa vez sobre os bajuladores, disse magistralmente: “Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”.

Alguns bajulam o chefe no trabalho, outros bajulam o professor na escola, alguns até os pastores e outros, os ricos e poderosos. No entanto, homens de Deus nunca bajulam ninguém. Elias nos dá o exemplo. O profeta havia profetizado três anos de seca em Israel como resultado dos pecados do rei Acabe e de sua família. O rei ímpio não admitia ser culpado por nada e buscava encontrar o profeta a qualquer custo. Um dia, esse encontro aconteceu e cada um deles revelou o seu caráter.

“Quando viu o profeta, Acabe disse: – Então é você que está aí, você, o maior criador de problemas de Israel!” (1 Reis 18:17, NTLH). Nessa hora, Elias poderia fazer duas coisas, pelo menos. Ele poderia bajular o rei e aliviar sua mensagem ou poderia agradar a Deus e ser fiel ao que acreditava. Elias decidiu ser fiel e disse: “Eu não sou criador de problemas para o povo de Israel! […] Você e o seu pai é que são criadores de problemas, pois abandonaram os mandamentos do Senhor Deus e adoraram as imagens de Baal” (1 Reis 18:18, NTLH).

O profeta do Carmelo poderia ter bajulado o rei, mas ele era um homem de Deus e agiu como tal. Ellen White faz o seguinte comentário sobre esse episódio: “Consciente de sua inocência perante Acabe, Elias não tentou se justificar ou bajular o rei. Também não procurou desviar a ira do rei anunciando as boas-novas de que a seca estava chegando ao fim. Ele não tinha desculpas a pedir. Indignado e preocupado em preservar a honra de Deus, Elias devolveu a acusação de Acabe, declarando ousadamente que eram os pecados do rei e de seus pais que haviam trazido sobre Israel essa terrível calamidade” (Profetas e Reis, p. 140, linguagem adaptada).

Na Palavra de Deus lemos: "O homem que lisonjeia a seu próximo arma-lhe uma rede aos passos" (Provérbios 29:5).

Nossa tendência natural é apreciar quem nos aplaude e evitar quem nos critica. É inquestionável que inimigos podem minar nossa reputação e dificultar bastante nossa vida, conforme relatou Davi em alguns dos salmos imprecatórios (Sl 35, 58, 69, 109, etc.). Às vezes, porém, nossos melhores amigos podem se tornar nossos piores inimigos. Ao passo que os inimigos destacam nossos pontos fracos e erros, os amigos podem acabar apenas nos elogiando e desculpando nossas falhas.

Em 29 de agosto de 1899, Ellen White escreveu da Austrália uma carta de advertência para John Harvey Kellogg, que estava se tornando cada vez mais autossuficiente e independente. Ela afirmou: “E por que eu lhe tenho escrito com tanta frequência? Porque não há nenhuma outra pessoa que você considere que tenha autoridade suficiente para dar ouvidos. Assim a questão me foi apresentada. Seus irmãos e colegas na faculdade de medicina e no sanatório não podem ajudá-lo. Você é a própria autoridade. Se as pessoas que se relacionam com você fossem tão verdadeiras quanto deveriam, você ouviria delas palavras de conselho que não tem escutado” (Carta 135, 1899).

Dois reis de Israel foram desencaminhados por seguir o conselho equivocado de amigos bajuladores. O primeiro foi o Roboão (1Rs 12:1-24), que rejeitou o conselho dos anciãos e seguiu as sugestões dos jovens que haviam crescido com ele. Em consequência, a nação de Israel se dividiu em reino de Israel (norte) e reino de Judá (sul). O segundo foi Acabe (2Cr 18), que se cercou de 400 profetas bajuladores para concordar com ele contra a mensagem de Micaías, a quem odiava por repreendê-lo. As atitudes inconsequentes de Acabe lhe custaram a vida.

A sabedoria popular adverte: “A bajulação não leva a lugar algum.” Não ajuda o bajulador em si, que é desonesto com a própria consciência e hipócrita com o suposto amigo. Além disso, acaba enganando a pessoa que é bajulada, ao gerar uma sensação de falsa certeza. Nós devemos substituir críticas amargas por admoestação sincera e trocar bajulação enganosa por apreço honesto. Além disso, é preciso evitar “conselhos gratuitos” a quem não quer ser aconselhado (Pv 9:7-9). Falar a palavra certa para a pessoa certa no lugar certo pode causar um impacto positivo na vida de alguém!

Ellen White aconselha: "Precisamos evitar tudo quanto estimule o orgulho e a presunção; portanto, devemos acautelar-nos de fazer ou receber lisonjas ou louvores. Lisonjear é obra de Satanás. Procede ele tanto com bajulações, quanto acusando e condenando. Deste modo procura causar a ruína da alma. Aqueles que louvam os homens, são usados por Satanás como agentes seus. Esquivem-se os obreiros de Cristo de toda palavra de elogio. Elimine-se de vista o próprio eu. Cristo, somente, deve ser exaltado. Dirija-se todo olhar e ascenda o louvor de cada coração 'Àquele que nos ama, e em Seu sangue no lavou dos nossos pecados' (Apocalipse 1:5)" (Parábolas de Jesus, p. 81).

Bajulação não é uma característica daqueles que servem a Deus. Nem Deus deve ser bajulado, Ele deve ser adorado, o que é muito diferente. O Céu nos desafia a falarmos sempre o que precisa ser dito, com educação e amor, sem importar quem precisa ouvir. Deus faz assim conosco. Siga Seu exemplo!

E aí, leitores, bajulação é de Deus?

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

HAVERÁ CASAMENTO NO CÉU?

Haverá casamento no Céu? Frequentemente ouço essa pergunta feita por solteiros e, às vezes, por alguém casado. Os solteiros querem saber, porque se não houver casamento no Céu, querem se casar e ter filhos aqui. Não tenho certeza porque os que já são casados fazem essa pergunta, mas na maioria dos casos parece que gostariam de continuar seu relacionamento no Céu. (Porém, em alguns casos, não veem a hora de se libertar do relacionamento!) A resposta, muito clara na Bíblia, parece criar um problema teológico.

1. A Resposta de Jesus: Os saduceus fizeram essa pergunta a Jesus esperando refutar a doutrina da ressurreição. Eles apresentaram um caso hipotético baseado na lei bíblica do levirato – onde o irmão de um homem que morreu sem ter filhos, devia se casar com a viúva para ter filhos e preservar a genealogia do irmão morto (veja Deuteronômio 25:5-6). Os saduceus falaram de sete irmãos que, em cumprimento da lei, tiveram que se casar com a mesma mulher porque nenhum deles teve filhos com ela. E perguntaram a Jesus: “Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete foram casados com ela?” (Marcos 12:23). Essa foi uma tentativa de lançar dúvida sobre a doutrina da ressurreição. Jesus os chamou de ignorantes: eles não conheciam o que as Escrituras ensinavam sobre a ressurreição, muito menos o poder de Deus que é capaz de trazer o morto de volta à vida. Então, Ele abordou a premissa implícita na questão. Os saduceus pensavam que a vida após a ressurreição seria uma continuação da vida como a conhecemos agora. Jesus os surpreendeu destacando um elemento importante de descontinuidade: “Quando os mortos ressuscitam, não se casam nem são dados em casamento, mas são como os anjos nos céus” (Marcos 12:25). Segundo Lucas, Jesus esclareceu o pensamento dizendo que “Não se casarão nem serão dados em casamento… pois são como os anjos. São filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição” (Lucas 20:35-36). Na ressurreição as pessoas não se casarão, porque na ausência da morte não há necessidade de perpetuar a raça humana por meio da reprodução. Nesse sentido, os seres humanos serão como os anjos, que não se casam porque não morrem.

Ellen G. White diz: "Homens há hoje que expressam a crença de que haverá casamentos e nascimentos na Nova Terra; os que creem nas Escrituras, porém, não podem admitir tais doutrinas. A doutrina de que nascerão filhos na Nova Terra não constitui parte da “firme palavra da profecia” (2Pe 1:19). As palavras de Cristo são demasiado claras para serem mal compreendidas. Elas esclarecem de uma vez por todas a questão dos casamentos e nascimentos na Nova Terra. Nenhum dos que forem despertados da morte, nem dos que forem trasladados sem ver a morte, casará ou será dado em casamento. Eles serão como os anjos de Deus, membros da família real" (Medicina e Salvação, 99-100).

2. Implicações Teológicas: A resposta de Jesus cria um dilema teológico na mente de alguns: Se o casamento, como o sábado, foi instituído antes da entrada do pecado, por que seria incompatível com a vida na nova Terra? Isso não sugere que o pecado arruinou uma instituição divina de forma irreparável e que o plano divino para a humanidade foi arruinado pelo mal? Essas perguntas são importantes e merecem ser comentadas, mesmo que não possamos dar todas as respostas. Para abordar a questão teológica levantada aqui tenho que assumir que Deus, originalmente, não havia planejado que o casamento fosse uma instituição social permanente ou eterna. Essa ideia parece ser sugerida no Gênesis. O casamento tinha duas funções claras e intimamente relacionadas: procriação e companheirismo. A procriação tinha um objetivo muito específico – “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra!” (Gênesis 1:28) – inferindo que na ausência da morte, uma vez que o objetivo fosse alcançado, não haveria mais procriação. Essa ideia foi confirmada por Jesus em Sua resposta aos saduceus. 

Como uma expressão de companheirismo o casamento foi na ausência do pecado transcendido por uma profunda comunhão e união com Deus. Provavelmente a intenção nunca tenha sido de que o círculo do companheirismo fosse o casamento, mas o relacionamento com a família cósmica de Deus. É para essa experiência profunda – e no presente, misteriosa – que Jesus Se referiu quando disse que os ressurretos “são filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição” (Lucas 20:36). Essa é a referência da vida familiar que é infinitamente mais profunda do que o casamento, enriquecendo-nos de tal maneira que não podemos nem sequer começar a imaginar. Nossos entes queridos alcançarão a dimensão cósmica na pureza do amor altruísta.

Há uma outra declaração de Ellen G. White que contribui para esclarecer a origem das crenças referentes a casamento na nova terra. Em carta endereçada a determinado irmão, ela afirmou: "O inimigo ganha muito quando consegue levar a imaginação de um dos escolhidos servos de Jeová a demorar o pensamento nas possibilidades de associação, no mundo por vir, com uma mulher a quem ama, e ali criar família. Não precisamos desses quadros aprazíveis. Todos esses pontos de vista se originam da mente do tentador. Foi-me apresentado o fato de que as fábulas espirituais estão levando cativos a muitos" (Carta 231, 1903).

Após Sua segunda vinda, Cristo levará os justos vivos transformados e os justos ressuscitados para estarem com Ele, inicialmente por mil anos no céu e, depois, pelos anos da eternidade nesta terra que será renovada. Os salvos não casarão nem se darão em casamento porque vivenciarão uma nova qualidade de existência. Eles fruirão eternamente a presença de Deus e Seus anjos.

Alguns não conseguem compreender por que na nova ordem da vida pós-ressurreição não haverá casamento e procriação. Argumentam que aquilo que era bom e não tinha relação com o pecado deveria continuar na eternidade. Pareceria uma injustiça privar os salvos da intimidade do relacionamento conjugal. Neste aspecto, trata-se de uma subestimação pueril do caráter e poder de Deus. É bom lembrar as palavras do apóstolo Paulo: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1Co 2:9). É preciso confiar, Deus tem algo infinitamente melhor entesourado para os Seus filhos redimidos do que casamento. Certamente os relacionamentos na vida por vir serão mais íntimos e a comunicação mais profundado que no casamento.

[Texto adaptado da revista Adventist World]

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

DAI A CÉSAR E DAI A DEUS

“Dai a César o que é de César” significa que é lícito o pagamento de impostos cobrados pelos governos humanos. Contudo, jamais alguém pode direcionar aos governantes terrenos aquilo que é devido exclusivamente a Deus. Daí a continuação da declaração é: “e a Deus o que é de Deus”.

Na verdade o significado da declaração: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, é melhor compreendido à luz de seu contexto. Foi Jesus quem disse essas palavras. Isso aconteceu quando Ele foi questionado por um grupo de pessoas se era lícito pagar ou não pagar impostos a César. Mas essa pergunta era, na realidade, uma armadilha contra o Senhor Jesus.

Conta-nos Ellen G. White: "Os sacerdotes e príncipes estavam decididos a armar-Lhe ciladas; e com esse desígnio, enviaram-Lhe espias, 'que se fingissem justos, para O apanharem nalguma palavra, e O entregarem à jurisdição e poder do presidente' (Lucas 20:20). Não mandaram os velhos fariseus a quem Jesus encontrara muitas vezes, mas jovens, que eram ardentes e zelosos, e os quais, pensavam, Cristo não conhecia. Estes foram acompanhados por certos herodianos, que deviam ouvir as palavras de Cristo, a fim de poderem testificar contra Ele em julgamento. Os fariseus e os herodianos haviam sido acérrimos inimigos, mas estavam agora unidos na inimizade para com Cristo" (O Desejado de Todas as Nações, p. 601).

Os fariseus queriam destruir Jesus. Mas eles não o atacavam pessoalmente porque temiam a reação do povo. Então eles procuravam a todo custo apanhar Jesus em suas próprias palavras. Ellen G. White esclarece: "Os fariseus sempre se tinham sentido irritados com a cobrança do tributo por parte dos romanos. Sustentavam que o pagamento do tributo era contrário à lei divina. Viram então ensejo de armar uma cilada a Jesus".

Os fariseus foram ter com Jesus e, com aparente sinceridade, como desejando conhecer seu dever, disseram: "Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus. É-nos lícito dar tributo a César ou não?" (Lucas 20:21 e 22).

Jesus rapidamente percebeu a intenção perversa daqueles homens que queriam prová-lo e denunciou sua hipocrisia. Então ele pediu que lhe mostrassem a moeda do imposto. A moeda era o denário romano – uma moeda de prata equivalente à dracma grega. O denário era muito comum naquela época; era a moeda usada como referência para o salário padrão por um dia trabalhado.

A moeda do denário trazia a imagem do imperador cunhada nela junto de uma inscrição que lhe atribuía um título divino. Um denário do tempo do imperador Tibério, por exemplo, tinha de um lado a imagem de sua cabeça. Acompanhando essa imagem, havia a seguinte legenda: “Tibério César Augusto Filho do Divino Augusto”. Do outro lado da moeda, havia a figura do próprio imperador vestido com vestes sacerdotais, coroado e assentado num trono; bem como uma inscrição que dizia: “Sumo Sacerdote”.

Naquele momento de grande tensão, Jesus disse: “De quem é esta efígie e esta inscrição? Disseram-lhe eles: De César. Então, ele lhes disse: Portanto, dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:20,21).

Ellen G. White continua: "Os espias haviam esperado que Jesus respondesse diretamente à pergunta, de uma ou de outra maneira. Se Ele dissesse: Não é lícito dar tributo a César, seria levado às autoridades romanas, e preso por incitar rebelião. No caso de declarar lícito pagar o tributo, porém, intentavam acusá-Lo perante o povo como contrário à lei divina. Sentiram-se então confusos e derrotados. Frustraram-se-lhes os planos. A maneira sumária por que fora assentada a questão por eles proposta, deixou-os sem ter que dizer" (Idem, p. 602).

A resposta de Cristo não foi uma evasiva, mas uma réplica sincera. Segurando a moeda romana sobre que se achavam inscritos o nome e a imagem de César, declarou que, uma vez que estavam vivendo sob a proteção do poder romano, deviam prestar àquele poder o apoio que lhes exigia, enquanto isso não estivesse em oposição a um mais elevado dever. Mas, conquanto pacificamente sujeitos às leis da Terra, deviam em todos os tempos manter primeiramente lealdade para com Deus.

Ellen G. White complementa: "As palavras do Salvador 'Dai a Deus o que é de Deus' foram uma severa repreensão aos intrigantes judeus. Houvessem cumprido fielmente suas obrigações para com Deus, e não teriam chegado a ser uma nação falida, subjugada a uma potência estrangeira. Nenhuma insígnia romana haveria tremulado sobre Jerusalém, nenhuma sentinela romana lhe jazeria às portas, nem romano governo teria reinado dentro de seus muros. A nação judaica estava então pagando a pena de sua apostasia de Deus".

Ao ouvirem os fariseus a resposta de Cristo, "maravilharam-se e, deixando-O, se retiraram" (Mateus 22:22). Ele lhes censurara a hipocrisia e presunção e, assim fazendo, expressara um grande princípio, princípio que define claramente os limites do dever do homem para com o governo civil, e seu dever para com Deus. Em última análise, a declaração: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, se harmoniza perfeitamente ao ensino bíblico sobre o papel do governo civil e o dever de seus cidadãos.

A Bíblia diz que os governos são legítimos e exercem uma autoridade conferida pelo próprio Deus. Nesse sentido, eles servem como instrumentos na mão de Deus para regular a sociedade humana (Romanos 13:1-7). Contudo, Deus permanece soberano sobre todos (Daniel 4:34, 35). Então os governos devem ser respeitados e obedecidos; desde que suas leis não entrem em conflito com a vontade do Senhor. Em ocasiões em que isso ocorre, o conselho bíblico é muito claro. Em Atos 5:29, lemos: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Portanto, daí a César o que é de César; mas jamais daí a César o que é de Deus.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

A AGENDA SUBVERSIVA DE JESUS

Havia uma expectativa no ar. Todos comentavam entre si que finalmente chegara o dia em que o Messias tão esperado adentraria triunfantemente em Jerusalém; dirigindo-se ao palácio, deporia Herodes, o rei fajuto, marionete do império romano. Um jovem galileu surgira na periferia, fazendo milagres, exorcizando demônios, alimentando multidões. Além de tudo, pertencia à linhagem real. Só poderia ser Ele, o filho de Davi, que libertaria Seu povo do domínio romano, e assumiria o trono do qual era herdeiro.

A cidade estava em polvorosa. Munidos de ramos, todos dirigiram-se ao portão principal para dar boas vindas ao que vinha em nome do Senhor. HOSANA! Os tempos áureos voltaram! Viva o Filho de Davi!

De repente, desponta no horizonte um figura doce, serena, montada num jumentinho. Seus discípulos O precediam e engrossavam os brados de hosana.

Acostumados em assistir às paradas triunfais, em que reis e generais se apresentavam montados em extravagantes corcéis, a imagem d’Aquele galileu montado num jumento era, no mínimo, frustrante. Mesmo sem entender direito o que acontecia, os brados de hosana se intensificavam. Talvez aquilo fosse um recurso cênico, visando identificá-Lo com as camadas mais pobres e oprimidas da sociedade. Ninguém podia supor que o jumentinho era emprestado.

Ao atravessar o portão da cidade, todos imaginavam que Ele Se dirigiria ao palácio, liderando o povo para um golpe de estado, mas em vez disso, Ele toma o lado oposto, e Se dirige ao Templo.

Possivelmente muitos pensaram que Ele faria uma breve escala no templo, a fim de legitimar Seu motim, buscando apoio da casta sacerdotal.

Inusitadamente, sua feição é transformada. O galileu humilde montado num jumentinho, agora improvisa um chicote, adentra os pátios do templo, e de lá expulsa os cambistas e mercadores.

Confusão geral! Os brados de hosana foram substituídos por burburinhos. Todos estavam enganados em suas expectativas. Ele não estava interessado em ser unanimidade. Não buscava apoio dos sacerdotes, nem dos dos principais partidos religiosos.

O reino que Ele representava não propunha mudanças que começassem pelo palácio, mas pelo templo. A casa de seu pai estava sendo profanada, transformada num mercadão a céu aberto. Diz Ellen G. White: "O pátio do templo estava como um vasto curral de gado. Com os berros dos animais e o agudo tinir das moedas, misturava-se o som de iradas altercações entre os traficantes, e ouviam-se entre eles vozes de homens no sagrado ofício. Os dignitários do templo empenhavam-se, eles próprios, em comprar e vender, e trocar dinheiro. Tão completamente se achavam dominados pela cobiça de lucro que, aos olhos de Deus, não eram melhores que ladrões" (O Desejado de Todas as Nações, p. 412).

Antes de instaurar a ordem do reino, aquela “ordem” teria que ser subvertida. Mesas de pernas pro ar! Gaiolas abertas! Cambistas expulsos!

O mesmo Cristo do jumentinho é o Cristo do chicote. Não confunda sua humildade com passividade. Ele jamais fez vista grossa às injustiças dos homens.

"O penetrante olhar de Jesus percorreu o profanado pátio do templo. Todos os olhares estavam voltados para Ele. Sacerdotes e principais, fariseus e gentios, olhavam com surpresa e respeito para Aquele que Se achava diante deles com a majestade do Rei do Céu. A divindade irrompeu da humanidade, revestindo Cristo de uma dignidade e glória que jamais manifestara. Todos os sons cessaram. Parecia insuportável o profundo silêncio. Cristo falou com um poder que dominou o povo como uma forte tempestade: 'Está escrito: A Minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores' (Lucas 19:46). Sua voz soou como trombeta através do templo. O desagrado de Sua fisionomia assemelhava-se a um fogo consumidor. Com autoridade, ordenou: 'Tirai daqui estes'" (DTN, p. 413).

Depois de limpar o terreno, cegos e coxos lhes são trazidos, e Ele os cura ali mesmo. De repente, o silêncio é quebrado por brados de hosana, que desta vez vinham dos lábios de crianças.

"As crianças superavam os demais no regozijo. Jesus lhes curara as moléstias; enlaçara-as nos braços, recebera-lhes os beijos de reconhecido afeto, e algumas delas haviam adormecido em Seu peito, ao ensinar Ele a multidão. Agora, com alegres vozes, os pequenos Lhe entoavam o louvor. Repetiam os hosanas da véspera, e triunfalmente agitavam palmas diante do Salvador. O som dessas felizes, irreprimidas vozes foi uma ofensa para os dirigentes do templo. Decidiram-se a fazer calar essas demonstrações. Disseram ao povo que a casa de Deus era profanada pelos pés das crianças e suas aclamações de júbilo. Verificando que suas palavras não causavam impressão no povo, voltaram-se os sacerdotes para Cristo: 'Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?' (Mateus 21:16). Predissera a profecia que Cristo seria proclamado rei, e essa palavra se devia cumprir. Os sacerdotes e principais de Israel recusaram anunciar Sua glória, e Deus moveu as crianças para Lhe servirem de testemunhas. Silenciassem as vozes infantis, e os próprios pilares do templo entoariam o louvor do Salvador" (DTN, p. 414).

Repare nisso: Os hosanas bradados à entrada de Jerusalém não mereceram qualquer comentário de Jesus. Entretanto, Ele sai em defesa das crianças que O louvavam com a mesma expressão. Por quê? Porque estes eram legítimos, desprovidos de interesses. Os hosanas de quem O recepcionou à porta da cidade foram interrompidos, tão logo Jesus feriu seus interesses. Os mesmos lábios que O enalteciam, dias depois clamavam por sua crucificação. Quão volúveis somos nós, humanos. Num dia aplaudimos, noutro vaiamos. Quem hoje é unanimidade, amanhã é execrado.

Aqueles O louvavam por imaginarem que Jesus planejava um golpe político, e que, em posse do trono, romperia relações com Roma, reduziria a carga tributária, e restabeleceria a monarquia de Davi. Mas Jesus tinha em mente outro tipo de revolução. Só Ele teve a coragem de desafiar o status quo. Só Ele ousou enfrentar os que detinham o monopólio religioso.

Enquanto as crianças O louvavam, os adultos, indignados, já pensavam em como detê-Lo. Foi esta postura subversiva que Lhe custou a vida. Começava ali a contagem regressiva para que o Cristo subversivo fosse morto, não por defender uma ideologia, mas um ideal, o ideal do Reino de Deus.

É muito triste perceber que foram os líderes religiosos que iniciaram os planos para matar Jesus. Quando assim repreendidos pelo Salvador, “deviam ter corrigido os abusos no pátio do templo” (DTN, p. 116). Em vez de ouvirem a mensagem de Jesus, os líderes religiosos queriam se livrar do Mensageiro. “Os próprios sacerdotes que ministravam no templo haviam perdido de vista o significado do serviço que desempenhavam. Deixaram de olhar, para além do símbolo, àquilo que ele significava. Apresentando as ofertas sacrificiais, eram como atores em um palco. As ordenanças indicadas pelo próprio Deus tinham se tornado o meio de cegar a mente e endurecer o coração. Deus não poderia fazer nada mais pelo ser humano por intermédio desses agentes. Todo o sistema devia ser banido” (DTN, p. 36).

Que seja o hosana das crianças, dos representantes do futuro, aqueles para os quais é o reino dos céus, e não o hosana dos interesses inconfessáveis, do monopólio, da religiosidade insípida, do jogo político. É triste e revoltante ver tantos cristãos deixando seus cultos portando ramos nas mãos, sem com isso serem cúmplices de Deus na instauração do Seu reino. E que lições práticas podemos aprender com o ato de Jesus de purificar o templo? Considere a seguinte declaração: “Os pátios do templo de Jerusalém, cheios do tumulto de um comércio profano, representavam exatamente o templo do coração, contaminado por desejos impuros e pensamentos profanos. Purificando o templo dos compradores e vendedores do mundo, Jesus anunciou Sua missão de limpar o coração da contaminação do pecado – dos desejos terrenos, das ambições egoístas, dos maus hábitos que o corrompem” (DTN, p. 119).

Texto adaptado de Hermes C. Fernandes

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

DESAFIO DETOX











































Veja aqui o programa completo do Desafio Detox elaborado pela equipe de nutrição do Spa Médico Cevisa

Bom, o principal objetivo da dieta detox é limpar o corpo de uma infinidade de toxinas que se acumulam diante das inúmeras agressões que ele sofre constantemente. A saber, o ar poluído, os vegetais cheios de pesticidas, a alimentação industrializada repleta de corantes, os acidulantes, a cafeína, o açúcar, a gordura e o excesso de sódio são apenas algumas dessas agressões.

Além disso, o nosso próprio corpo também produz toxinas, o que significa que existem mecanismos naturais para eliminá-las. Por exemplo, o sistemas urinário, gastrointestinal, respiratório, linfático e epidérmico que, minuciosamente, fazem esse trabalho. Entretanto, elevamos tanto os níveis das agressões externas, que reduzimos a capacidade do corpo de desintoxicar-se completamente.

É aí que entra o detox! A desintoxicação certamente ajuda promover essa faxina interna e deixa tudo limpinho e no seu melhor funcionamento. Mas além de desintoxicar, a dieta detox também pode ser utilizada para favorecer a perda de peso e diminuir a retenção de líquidos. Fora isso, preparar o organismo para mudar os hábitos alimentares, quando existe o desejo de iniciar uma dieta mais equilibrada.

Com toda a certeza, outro bom momento para desintoxicar, seria depois de períodos festivos como natal, carnaval e outros feriados ou comemorações. Então, caso tenha feito exageros na sua alimentação nos últimos tempos, que tal fazer um detox? Aceita o desafio?

Quando fazer o detox?
Certamente, o corpo emite alguns sinais que mostram a necessidade de fazer uma desintoxicação. Alguns desses sinais são:

* Imunidade baixa
* Dores de cabeça
* Erupções na pele
* Surgimento de alergia
* Produção excessiva de muco
* Falta de energia (fadiga)
* Síndrome do intestino irritável
* Inchaço abdominal e gases
* Dores musculares
* Dores e inchaços nas articulações
* Obesidade

Os benefícios da desintoxicação
De fato, a desintoxicação orgânica traz uma série de benefícios para todo o organismo. Ela favorece o trânsito intestinal, deixa a pele mais bonita e ajuda na cura de doenças. Além de reduzir a pressão arterial e os níveis de colesterol. E, sem dúvida, apresenta uma melhor resposta do sistema imunológico. Também potencializa a memória e o intelecto, por aliviar a sobrecarga dos órgãos digestivos, permitindo um maior aporte de fluxo sanguíneo ao cérebro. E, acima de tudo, mantém você saudável!

Em relação à perda de peso, é importante saber que a desintoxicação não é uma solução mágica. Mas ela dá uma forcinha nesse processo, uma vez que o detox reduz a quantidade de calorias ingeridas, melhora a qualidade dos nutrientes que o corpo absorve e elimina as toxinas que estão retidas no tecido adiposo. Porém, um emagrecimento duradouro só é possível com a reeducação alimentar e mudança do estilo de vida. Isso envolve tanto hábitos alimentares como a prática de exercício físico, fora o respeito às horas de sono, equilíbrio, ingestão abundante de água, confiança, entre outras práticas.

Como funciona o detox?
A dieta detox é um programa alimentar baseado principalmente no consumo de frutas, legumes e verduras. Estes alimentos são fontes de micronutrientes que ajudam eliminar as impurezas e radicais livres, promovendo a desintoxicação do organismo.

Agora, durante o detox, saiba que é preciso restringir o uso de alimentos industrializados pois são ricos em sal, gordura e aditivos químicos, o que não favorece a desintoxicação. Bem como os alimentos do tipo fast-food, pães, bolos e frituras. Isso pode ser um sacrifício para alguns, mas vale muito a pena!

Em relação ao programa acima, produzido pelo Spa Médico Cevisa, é possível realizar o detox apenas com líquidos durante os sete dias, sendo essa uma versão mais restritiva da dieta. Ou, optar por fazer dois dias de dieta líquida e cinco dias de dieta crua, com sopa à noite, a mesma usada na dieta mais restritiva. Além disso, também é possível escolher um dia de dieta líquida e os outros de crua, ou fazer os sete dias de dieta apenas crua com sopa no jantar. Todas as formas são igualmente benéficas. No entanto, esse tipo de dieta não é indicado por um longo período de tempo. Faça somente o tempo do programa completo.

Em suma, pessoas saudáveis que desejam fazer com mais frequência, o detox pode ser feito um dia por semana optando pela dieta líquida ou crua.

As contraindicações para o detox
Agora, vale lembrar que nem todo mundo pode fazer uma dieta detox. Por isso, antes de iniciar, avalie se você possui alguma contraindicação, tais como:

* Período de gestação ou lactação;
* Durante a infância;
* Em tratamento quimioterápico;
* Em uso de medicamentos como anticoagulantes orais, antirretrovirais, antiepiléticos, etc;
* Intolerância ou alergia de algum componente da dieta.

Dessa forma, busque orientação do seu médico ou nutricionista!

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

E SE NINGUÉM TRABALHASSE NO SÁBADO?

Como adventista, já me fiz muito esta pergunta. E a conclusão que cheguei é que nós invertemos a ordem da coisa. Quando guardamos o sábado pela simples obediência cega, realmente podemos incorrer em caos.

Quando entendemos a verdade por trás deste e de todos os mandamentos, que é o amor ao próximo e a Deus, a coisa fica menos caótica.

O sábado foi instituído por Deus para que o homem se lembrasse de que ELE é o criador de tudo e é ELE quem cuida e mantém todas as coisas. Ou seja, mesmo que eu pare de buscar o meu próprio sustento por 24h, ELE continua cuidando de mim.

Só que a verdade bíblica sobre os mandamentos vai muito mais além do que o NÃO FAZER. Ela trata de fazer.

Quando Jesus diz que é lícito fazer o bem no sábado, ele está dizendo que é lícito fazer o bem aos outros neste dia, amar, cuidar, prover, sem com isso, buscar seu próprio sustento.

Exemplo. Eu sou um pedreiro. Tenho contas pra pagar. Aí eu resolvo trabalhar no sábado pra ganhar um extra e pagar as contas. Neste caso, estou confiando em mim mesmo e não em Deus que me sustenta. Por outro lado, digamos que um asilo está em ruínas e estão precisando de alguém que ajude a levantar paredes e consertar o teto, mas não podem pagar pelo serviço. Eu como pedreiro, me ofereço para fazer este serviço no sábado, sem nada cobrar, com o coração cheio de amor e de altruísmo pensando no bem dos velhinhos que precisam de um lugar mais digno para morar. Isso é pecado ou não?

Se Cristo diz que o cumprimento da Lei é o Amor, ao amar estes velhinhos oferecendo o meu serviço gratuitamente, estou cumprindo a Lei do Sábado.

É por isso que eu digo que a lógica dessa afirmação está invertida.

O problema aqui não é o Sábado, o problema é a falta de amor. O mundo JÁ é um caos porque falta amor.

Por isso a pergunta correta é: IMAGINE A ORDEM QUE SERIA O MUNDO SE TODOS SE AMASSEM?

Imagine que se todos se amassem, não precisaríamos de polícia, e os bombeiros trabalhariam menos. Imagine um ônibus pegando as pessoas no ponto para irem à igreja ou visitarem doentes e famintos, e ao entrar no ônibus o motorista te diz: HOJE É POR CONTA DA EMPRESA!!! Aliás, se todos se amassem, quantos famintos e doentes teríamos por aí?

Eu compreendo esse preconceito com o adventista, pois eu mesmo o tenho. Pois muitas vezes eu guardo o sábado, mas não amo. A verdade, sinceramente, é que nós adventistas também não sabemos guardar o sábado. Na maioria das vezes ficamos mais preocupados em não pecar do que em amar, e isso está errado.

No meu modo de ver, já que o mundo evangélico gosta tanto da graça (e eu também), sabiam que o sábado é o único mandamento que fala de graça?

É verdade. A graça me diz que eu não devo trabalhar por minha salvação, pois Cristo já a garantiu. O sábado me diz que eu não devo ficar obcecado pelo meu trabalho, pois é Deus que me sustenta. Isso é graça.

Caos? Se todos amassem como a Bíblia diz que devemos amar, o sábado seria aquele um dia especial onde eu não preciso ir trabalhar e posso finalmente ter tempo para amar meu próximo com 100% de dedicação.

Um abraço a todos e que o amor de Cristo nos constranja!

Isaque Resende (via Consciência 828)

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

ABRE-ME OS OLHOS

“E foram para Jericó. Quando ele saía de Jericó, juntamente com os discípulos e numerosa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Timeu, estava assentado à beira do caminho e, ouvindo que era Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim! E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! Parou Jesus e disse: Chamai-o. Chamaram, então, o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, Ele te chama. Lançando de si a capa, levantou-se de um salto e foi ter com Jesus. Perguntou-lhe Jesus: Que queres que Eu te faça? Respondeu o cego: Mestre, que eu torne a ver. Então, Jesus lhe disse: Vai a tua fé te salvou. E imediatamente tornou a ver e seguia a Jesus estrada fora” (Marcos 10:46-52).

Provavelmente a maioria de nós, numa ocasião ou em outra, já tentou imaginar o que significaria ser cego. Talvez, isto tenha sido quando criança. Nossa tradicional “cabra cega”, era a brincadeira preferida dos meus filhos quando pequenos. Vendar os olhos é comum em diversas brincadeiras das reuniões sociais, tal como, tentar formar pares de sapatos idênticos nas pernas de uma mesa ou colocar a calda em um animal desenhado no quadro. Certamente todos nós, por alguns minutos, tentamos imaginar o que significa viver sem visão, viver em trevas.

Nosso texto, contudo, descreve algo diferente. A situação de Bartimeu, o cego desta história exclusiva do Evangelho de Marcos, vive algo completamente diferente de nossas brincadeiras. Pessoas cegas, mendigando ao longo das estradas do antigo Oriente Médio, eram parte comum do cenário. A poeira e o brilho do sol, aliados a hábitos pouco higiênicos, espalhavam doenças contagiosas para os olhos. Bartimeu, provavelmente, segundo alguns intérpretes bíblicos, nunca havia visto anteriormente. E isso é inteiramente diferente do que simular cegueira por alguns instantes e, então, poder abrir os olhos. Bartimeu nunca fora capaz de ver, muito provavelmente, poucos de nós podemos entender como seria isso.

[Embora Mateus (20:29-34) e Lucas (18:35-43) se refiram a curas semelhantes em Jericó, a história de Marcos tem características exclusivas, pois é o único milagre de Jesus em que o beneficiado é tratado pelo nome. Também é a única história em que Jesus é chamado de “Filho de Davi” (o que pela tradição judaica, significava reconhecer ser Ele o Messias prometido). E é a única história onde a pessoa curada é ordenada a seguir Jesus. Essa narrativa em Marcos serve de clímax para o ministério de cura e ensino de Jesus e também como transição para a narrativa de sua jornada e destino em Jerusalém. Se tomarmos este como o quarto maior segmento (perícope) do Evangelho de Marcos, tal porção termina como começou em 8:22-26, com a história de uma cegueira sendo curada. Marcos provavelmente intencionou esse simbolismo, o qual indica que apenas aqueles que experimentam o milagre do poder de Jesus, mais claramente expresso na cruz e na ressurreição, têm os seus olhos abertos para a verdade. A história acrescenta ainda a dimensão de recepção do milagre: a importância da fé (v. 52). Tal fé significa persistir em clamar por Jesus a despeito de qualquer obstáculo (v. 47-48) e segui-Lo “pelo caminho” apesar de qualquer ameaça].

Este é o ultimo milagre de cura atribuído a Jesus no Evangelho de Marcos. O Senhor estava de passagem por Jericó, 24 quilômetros distante de Jerusalém, onde o último ato do drama da redenção iria tomar lugar. Então, a jornada é subitamente interrompida pelos gritos de Bartimeu, que estava assentado à margem da estrada. Possivelmente Bartimeu havia ouvido acerca da reputação de Jesus. Quando ele descobre que é precisamente Jesus que passava há uma pequena distancia, ele se lança na oportunidade, essa era a chance de sua vida.

Bartimeu começa a fazer tão grande alvoroço, ao saber que a multidão que passa é liderada por Jesus: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim”, grita ele. O barulho é tão grande que a cena é vista como algo embaraçoso. A multidão inicialmente tenta fazê-lo se calar. Por que o teriam tentado silenciar? Teria sido o título messiânico atribuído a Jesus que os ofendeu? Ou simplesmente os seguidores de Jesus não queriam qualquer demora na jornada rumo à festa? Difícil saber. Ao contrário da multidão, Jesus não tenta silenciar Bartimeu. Isso implica também que Ele não rejeitou o título “Filho de Davi”. Acima do barulho da multidão Jesus escuta o pedido de socorro, e Marcos 10:49 registra: “parou, pois, Jesus e disse: Chamai-o”.

“Jesus parou”. Nessa ação verbal existe uma extraordinária eloquência. Ao parar, Jesus demonstra absoluto tributo à pessoa em necessidade. Ele para em completa atenção a este pobre cego, esquecido de todos, marginalizado pelo sistema social e religioso dos judeus. Esse cego era a personificação precisa do termo “marginalizado”: ficar à margem do caminho, enquanto os outros passavam e avançavam.

De acordo com o “dogma da retribuição” do judaísmo, esse desafortunado estava simplesmente pagando os pecados dos seus pais ou os seus próprios pecados. Em Levítico 21:17-21, por razões tipológicas, o sacerdócio era proibido aos cegos, coxos, desfigurados ou deformados, mas aquilo que era algo específico e particular foi generalizado. Entre os fariseus havia a crença de que eles não eram obrigados a ter piedade destas pessoas e alguns chegavam a se vangloriar por atirar pedras nelas.

Para os essênios, uma seita separatistas do judaísmo, que vivia em comunidades ao longo do mediterrâneo, os cegos e fisicamente defeituosos deviam ser completamente excluídos. No chamado “Manuscrito das Regras”, qualquer pessoa ferida na carne, paralíticos de pés ou mãos, aleijados, cegos e mudos, não podiam fazer parte da congregação. Ainda, de acordo com o manual “A guerra entre os filhos da luz contra os filhos das trevas”, nenhum coxo, aleijado ou cego, era digno de ajuntar-se aos eleitos na guerra escatológica contra e a hostes de belial. Nenhum deles poderia participar do banquete messiânico, assim como não podiam ter acesso ao templo em Jerusalém, exceto, para pedir esmolas nos seus arredores. (Jeremias sugere a existência de uma tradição proverbial ligada a 2Samuel 5:8, no texto da Septuaginta, que parecia impor limitações ao acesso dessas pessoas “à Casa do Senhor”. Mais tarde, cegos, aleijados, desfigurados, etc, seriam limitados à corte dos gentios e portões externos da área do templo – ver Atos 3:2).

Na história de Bartimeu, Jesus Se eleva acima de regras religiosas inventadas para segregar seres humanos. Ele para demonstrando absoluto tributo e respeito à pessoa em necessidade. Com esse ato Ele diz àquele pobre coitado: “você tem valor, você é importante”. Penso, às vezes, que se Deus fosse colocar uma etiqueta de preço nos seres humanos, mesmo naqueles que padrões humanos podem considerar como sem qualquer valor, o número seria tão grande que seria impossível ler. Em sua aceitação das pessoas Jesus proclamou que ninguém é excluído, a não exceto aqueles que decidem, por si mesmo, se excluir.

Jesus era Mestre na arte de parar em reverência e aceitação à pessoa humana, atribuindo valor aos que eram considerados sem qualquer valor. Jesus era especialista em atribuir valor aos “fragmentos” humanos. Mesmo na cruz, em meio à grande agonia, precisamente no momento exato do desfecho de todo o drama da encarnação, com todo o universo focalizado nesse instante. Mesmo estando ferido e em excruciante dor física e agonia mental, Se considerando abandonado por Deus e pelos seres humanos, Ele para por uma fração de tempo, Se esquece de Si e Se dirige a um dos ladrões que estava pregado na cruz ao seu lado. Outro fragmentado, outro pobre necessitado, solitário, abandonado e moribundo, também em seus últimos momentos. Nesse instante, Jesus faz do Calvário um tanque batismal, e promete: “Estarás comigo no paraíso!”(Lucas 23:43).

Ele para em atenção ao cego que clama por Ele, deixando claro, para sempre, que às necessidades humanas são do interesse divino. Jesus então chama Bartimeu. A multidão que antes o repreendera passa agora a encorajá-lo: “Tem bom ânimo. Levanta-te. Ele te chama” (Marcos10:49). A frase “tem bom ânimo” aparece sete vezes no Novo Testamento. Seis vezes vem dos lábios de Cristo, a sétima vez aparece aqui. Deixando para trás o manto, que poderia servir de obstáculo, o cego se dirige a Cristo. Cabeça jogada para traz, face apontada para o firmamento, olhos opacos e semiabertos. Batendo desconexo e a esmo com o seu bastão, Bartimeu se aproxima.

Na presença de Cristo é lhe feita uma estranha pergunta, a qual aparece como uma grande surpresa. É lógico pensar que Jesus já deveria conhecer tal resposta, mas contrariando o senso comum, Ele pergunta a Bartimeu, que continua, ali em pé, desamparado, com grande confusão estampada em sua face, o cajado patético ainda nas mãos tremulas: “Bartimeu”, diz Jesus, o “que queres que Eu te faça?” Esta é uma pergunta estranha para ser fazer a um cego que clama por misericórdia: “Que queres que Eu te faça?” Isto é perguntar o óbvio!
Podemos imaginar como Bartimeu se sentiu: “Este Jesus deve estar brincando. Minha cegueira é evidente a todos, e Ele, certamente sabe que ninguém deseja viver em trevas”. Provavelmente o cego pensou: “Este Jesus não é muito esperto ou Ele está sendo sarcástico”.

Imagine-se na situação de Bartimeu. Não era apenas a debilidade física, mas o estigma da doença. Vagando perdido por Jericó, imerso em trevas, imaginando como seria ter esposa ou filhos, se ele os tivesse. Dependendo de favores, resignado a todos os tipos de humilhação para conseguir sobreviver.

“Que queres que te faça?” Tal pergunta poderia ser entendida como um golpe novo em uma ferida antiga, mas Bartimeu eleva-se acima de qualquer melindre pessoal e responde seguro: “Mestre que eu veja!” Bartimeu responde à pergunta como se realmente cresse que Jesus não sabe o que ele desejava. Como resposta, Jesus lhe diz: “Vai, a tua fé te salvou. E imediatamente tornou a ver, e seguia a Jesus estrada fora” (Marcos 10:52).

Segundo ato
Esse é o fim da história. Aqui temos tudo o que é relatado acerca de Bartimeu, que, após tal evento, desaparece completamente da narrativa bíblica, e nos deixa com um considerável número de perguntas. Neste ponto nós devemos refletir para completar o quadro. O que significaria se você tivesse sido sempre cego e recebesse a visão? O que teria acontecido com Bartimeu depois disto?

Li certa vez um artigo escrito por um especialista em olhos que analisava o que significa uma pessoa cega passar a ver depois de prolongado convívio com as trevas. Eu imaginava que deveria haver uma alegria extraordinária. Poder, finalmente, ver uma árvore, uma casa ou ver uma pessoa. Em nossa imaginação, provavelmente, criamos um quadro de cores bastante róseas, quase romântico. Abrir os olhos, estas extraordinárias janelas, para discernir formas e cores. Mas não é isto que dizem os especialistas. Ver pela primeira vez é uma experiência extremamente perturbadora e frustrante.

A primeira coisa que acontece, afirma aquele artigo, é uma séria desorientação. Desorientação mais severa mesmo do que perder a visão e tornar-se cego. Aquele que vê pela primeira vez, sofre de tonteira e cai. Segundo o artigo, tal pessoa irá sentir grande mal estar no estômago e enjoos. Em resumo, a pessoa que repentinamente recebe a visão, de inicio, é compelida a concluir que ver não é precisamente o que ela esperava.

Assim, podemos nos reencontrar com Bartimeu: apertado entre a multidão, tentando seguir a Jesus. Ele não consegue discernir direito para onde está indo. Ver lhe parece confuso e desorientador. Por vezes, ele tenta se orientar com o velho bastão numa das mãos, enquanto com a outra cobre os olhos para se proteger da luz que dolorosamente o incomoda. Quando vem a tarde, Bartimeu percebe que deve voltar para casa, e enfrenta uma nova dificuldade. Ele pode ver, mas não sabe como encontrar o caminho de sua casa. Seus prováveis auxiliares, certamente já o teriam abandonado, presumindo que por ele já poder ver não mais necessita deles. Além disso, Bartimeu não saberia como reconhecer sua casa. O fato é que ele enxerga, o que deve, agora, lhe estar trazendo grandes dificuldades em se organizar com a nova experiência da visão.

E o que você supõe que teria acontecido com Bartimeu uma semana depois? Ele começa a enfrentar novos problemas. As pessoas não estavam mais desejosas de esperá-lo ou cuidar dele, como faziam quando ele era cego. E acostumado a mendigar, agora se vê forçado a trabalhar. Quem daria esmola a um cego que agora vê? Mas, trabalhar como? Bartimeu não tinha nenhuma profissão. Ele não sabia fazer nada. Ele ainda dependia das pessoas, com o agravante de que ninguém mais toma tempo para ajudá-lo.

Em uma palavra, Bartimeu não está nada bem! Qual o seu problema? Ele começou a ver! As pessoas esperam que ele seja responsável, que tome conta de si mesmo, que entre na competição da vida, e acabe com sua dependência. Bartimeu então, podemos imaginar, começa a se perguntar se seu pedido a Jesus foi sábio. Ele sabia como se comportar sendo cego. Havia certa segurança vivendo nas trevas, mas agora ele não está mais seguro de si. A nova questão é: como se comportar quando você pode ver? A pergunta de Cristo, então, “que queres que eu te faça”, começa a fazer sentido para ele.

Muitas vezes me perguntei por que essa pequena história sobre Jesus e Bartimeu, aparece aqui em Marcos, apertada na narrativa? Esta é uma história curiosa, aquilo que se chama em teologia de um non sequitur, ou seja, algo que não se ajusta bem onde aparece. Jesus e seus discípulos estão a caminho de Jerusalém, onde a tragédia, a hostilidade e a oposição das autoridades do estabelecimento religioso, lhe esperam. A prisão, o julgamento ilegal, onde será covardemente espancado, humilhado, torturado e levado à cruz estavam a curta distancia dele. E aí, repentinamente, dentro desse contexto, aparece essa narrativa acerca de um homem cego a quem Jesus pergunta: “que queres que eu te faça?” Isso é realmente muito estranho.

Bem neste ponto eu e você entramos na história. Devemos lembrar que a Bíblia é uma grande tela. Seus vultos vão além deles mesmos, porque, em última análise, eles não são apenas eles próprios. Os personagens das Escrituras são representativos. Eles são tipos e parábolas apontando para verdades além de suas próprias histórias. Na verdade tais vultos são parte de cada um de nós, da maneira como agimos e reagimos, em nosso encontro com Cristo. Esta narrativa, de certa forma, é a nossa biografia. Você sabe o que Marcos está realmente dizendo com a história de Bartimeu? Marcos está afirmando que você e eu somos cegos. Nos termos de Jesus, você e eu não podemos ver, pois vivemos em trevas.

A luz do sol penetra até 100 metros por dentro do mar, dali para frente, predominam trevas impenetráveis, nas chamadas profundezas abissais. As criaturas que nascem e vivem nestas regiões de trevas, em contato prolongado com a escuridão, tem o nervo ótico atrofiado e perdido para sempre. O contato com as trevas tem efeito devastador sobre a visão. A nossa situação é consideravelmente pior. Nascemos espiritualmente cegos e o contato permanente com a escuridão nos torna duas vezes criaturas das trevas. Você está surpreso? Não se surpreenda. Ser cego é provavelmente o que nós queremos. Ser cego, afinal, não é tão mal assim, porque quando somos cegos não podemos ver as coisas como elas realmente são. Em outras palavras, não somos “incomodados” pela visão. Na maioria das vezes, não queremos ver o que não gostamos de enfrentar. Portanto, é conveniente ser cego. É conveniente não ver a Deus e a sua vontade ou mesmo a nós próprios, sem as máscaras de que tanto gostamos.

Mas quando a nossa cegueira é curada começamos a ver as coisas que realmente não gostaríamos de ver. E aí já não podemos facilmente fugir delas ou pretender que elas não existam. Passamos a ver as coisas que não podíamos ver antes. Porque, afinal, Jesus disse que a menos que nasçamos de novo não poderemos “ver o Reino de Deus” (João 3:3). O Reino de Deus, nos lábios de Jesus Cristo, não é uma questão de geografia. Não é primeiramente um lugar, mas um relacionamento com a pessoa do Rei, que nos convoca para maior dedicação, maior pureza e maior integridade. A visão nos leva a um confronto inevitável com Deus, conosco e com as coisas enterradas nos porões de nossas trevas. É provavelmente por isto que a visão nos parece tão ameaçadora. Segundo a Bíblia: “e o julgamento é este: a luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más” (João 3:19).

Blaise Pascal está correto ao afirmar que não é a incredulidade que gera a desobediência. Ao contrário, é a desobediência que gera a incredulidade. Frequentemente buscamos desacreditar a luz ou exageramos nossas dúvidas, simplesmente porque nos escusamos de qualquer mudança. A luz nos coloca face a face com nossos gostos, preferências, escolhas e hábitos. A visão nos leva ao confronto com a verdade de que há coisas para serem consertadas em nossa vida, família, trabalho e relacionamentos.

Em nosso encontro com Cristo, Ele nos faz a perturbadora pergunta: “Que queres que Eu te faça?” Considerando que Cristo nunca impõe Sua vontade, Ele nos pergunta se realmente queremos ver. A pergunta de Cristo a Bartimeu não é, afinal, tão estranha. A questão é realmente muito simples e compreensível, mas difícil de ser respondida. Muitos não querem se “desorientar”. Não querem “sentir a tonteira” daqueles que passam a ver. “Cair ou sentir dores no estômago”. Não queremos ver, porque não queremos pagar o preço da visão. O que realmente nos incomoda em Cristo não é, como muitos alegam, aquilo que não entendemos, mas precisamente aquilo que entendemos, mas não queremos mudar.

Ele pergunta: “Que queres que Eu te faça?” Muitos tendem a dizer: “Nada Senhor. Está tudo bem do jeito que está. Eu não enxergo, mas está tudo bem. Realmente não preciso de nada”. Essa é frequentemente a nossa resposta. Convivemos bem com as trevas. Rejeitamos a luz porque ela interfere com nossas ideias de liberdade. Queremos ser deixados em paz em nossas trevas. Não é de admirar que Jesus tenha, em outra ocasião, afirmado ter vindo ao mundo para juízo, a fim de que os que não veem, mas querem ver, vejam e os que pensam que veem, continuem cegos (João 9:39).

Assim, como Bartimeu, diante da possibilidade da visão, podemos ter outra atitude. “Mestre, abre-me os olhos, pra que eu veja. Eu sei que há um preço na visão. Eu sei que não vou gostar das coisas da luz. De ver as coisas sobre Deus e sobre mim, que tenho evitado há tempos. Coisas a respeito de outras pessoas que tenho usado e explorado. Mas Senhor, eu quero ir para a luz e poder ver. Porque, só então serei um discípulo dAquele que disse ser a luz do mundo. Mestre, abre-me os olhos!”
 
Jesus Cristo entrou em nosso mundo. Sua presença, Sua vida, ministério, ensinos, e Sua morte e ressurreição foram o “relâmpago” da revelação de Deus nas nossas trevas. Aqueles que veem o Seu clarão, passam a experimentar a vida de forma diferente. Após nosso encontro com Jesus, as trevas ao nosso redor nunca mais serão as mesmas. Nosso vazio interior. Nossa falta de propósito e solidão. Nossa impotência diante das perplexidades e absurdos da vida e o próprio medo da morte terão sido mudados para sempre. Depois de Cristo, as trevas nunca mais serão as mesmas. Ele é como a luz do Sol. Não cremos nela apenas porque a vemos, mas porque através dela vemos todas as coisas.

Para ponderar
Segundo o testemunho das Escrituras, Satanás, o deus deste século, cega o entendimento das pessoas, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho (2 Coríntios 4:4). Isso significa que desde a queda da raça humana, registrada em Gênesis 3, todas as pessoas que nasceram e vão nascer no planeta Terra, naturalmente são criaturas das trevas. Como Cristo disse, não podemos ver (João 3:3), pois Satanás cegou e ainda cega as pessoas de tal forma que elas não podem ver o que elas são na verdade. Somos incapazes de ver que nossa vida avança para o desastre.

Há ainda um aspecto mais deplorável na condição humana. Não apenas não vemos, mas nos tornamos acostumados com as trevas e passamos a crer que esta é a forma natural das coisas. Nos acostumamos de tal forma com nossas insanidades que o antinatural, se torna o natural. E. Stanley Jones conta que conheceu, na Índia, um homem que se acostumou a andar numa bicicleta de guidão torto, o qual se fosse endireitado, o homem cairia. Ele se tornou, segundo Jones, “naturalizado na tortura”. Para aqueles que são naturalizados na tortura do mundo, sua filosofia, gostos, opiniões, conselhos e estilo, além dos seus sedutores deuses contrafeitos que tanto gostamos de cultuar, como divindades absolutas (sexo, sucesso, dinheiro, poder e consumo), é impossível ver clara e corretamente. O realismo de Cristo se torna idealístico. De fato, o Seu realismo é simplesmente incompreensível e sem sentido para todos os que estão presos nas trevas da pequena concha em que vivem.

Visão espiritual é possível apenas através do novo nascimento (que não é primariamente o que Deus exige, mas o que Ele nos oferece), experiência na qual o Senhor restaura, ou melhor ainda, ressuscita em nós, aquilo que originalmente morreu no Éden (Gênesis 3:3). Cristo nos oferece visão, mas Ele não a impõe. Daí Sua pergunta a Bartimeu, que, em última análise, é um tipo da pergunta que Ele faz a todos nós: “Que queres que Eu te faça?” Cristo vem a nós como luz (João 4:4-5:9). Ele ilumina nossas trevas para que vejamos todas as nossas distorções, a feiúra do pecado e seu caráter destrutivo. Ele revela as riquezas de Sua glória, para que vejamos, afinal, que o pecado não é natural à nossa verdadeira essência como criaturas de Deus.

A visão que Cristo nos oferece, como a verdadeira luz (João 8:12), nos ajuda a ver o que realmente é importante, além de impedir que sejamos enganados com a ideia de que tudo está como deveria ser. Muitos podem estar satisfeitos nas trevas, enquanto outros estão satisfeitos na sua justiça própria, que, por ironia, é outro tipo de cegueira, talvez até mais difícil de ser curada. Nossa necessidade de visão espiritual cobre um enorme campo e aspectos da vida na medida em que avançamos em santificação. A visão, de certa forma, como a própria santificação, é gradativa. Não há ponto final nela, assim como é permanente o desafio de Cristo cada vez que Ele nos pergunta: “Que queres que Eu te faça?”

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

JESUS CANTOU

Embora a Bíblia não seja um tratado sobre música, ao longo de suas páginas ela utiliza vários termos e descreve muitos contextos musicais. Em Gênesis 4:21 e 22, por exemplo, lemos a respeito de Jubal, o “pai de todos os que tocam harpa e flauta”, e sua prima, Naamá, cujo nome significa “melodiosa”. Em Êxodo 15, encontramos o cântico de Moisés, entoado pelo povo de Israel após a travessia do Mar Vermelho. O livro dos Salmos, por sua vez, é uma verdadeira coletânea musical, cantada ao longo dos milênios em ocasiões de ação de graças, louvor, lamento e celebração.

Deus sempre Se serviu da música para expressar as verdades mais belas. Na criação do mundo (Jó 38:7), no nascimento do Messias (Lc 2:13, 14), na entronização de Cristo no Céu (Ap 5:9, 10) e em Sua segunda vinda (Mt 24:31), Deus utilizou e utilizará a música como “trilha sonora” para apresentar o espetáculo da graça. O próprio Jesus, quando esteve na Terra, mencionou mais de 50 vezes os Salmos, dando a esse livro importância artística e teológica.

Você já imaginou ouvir Jesus cantar? Como deve ser o timbre da voz do criador da música? O apóstolo Paulo atribui a Cristo a execução do Salmo 22:22: “Proclamarei o Teu nome a Meus irmãos; na assembleia Te louvarei” (Hb 2:12). Que majestoso deve ser ouvir Jesus cantando no meio da congregação dos salvos! Em Romanos 15:9, Paulo apresenta novamente Jesus como cantor, agora entoando um hino aos gentios. Ele cita as palavras do Salmo 18:49: “Por isso eu Te louvarei entre os gentios; cantarei louvores ao Teu nome.”

Contudo, a referência bíblica mais explícita ocorre em Mateus 26:30, que menciona Jesus cantando um hino com os discípulos antes de sair para o Getsêmani. "Depois de terem cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras" (Mateus 26:30).

Silêncio na sala. Jesus havia acabado de cear com Seus discípulos. Em poucas horas, Ele seria apresentado como oferta pelo pecado da humanidade. Por isso, cenas da traição, dor, desprezo, humilhação, corriam rapidamente pela mente de Cristo. Contudo, Seu semblante estava sereno. Todos olham para Jesus. Ele se levanta e canta. Mesmo diante da expectativa de morte, Sua voz não era de lamento, mas, de júbilo. Timidamente, os discípulos foram se unindo a Cristo, e, todos passam a entoar o Salmo 117:

“Louvai ao Senhor, todas as nações,
Louvai-O todos os povos.
Porque a Sua benignidade é grande para conosco,
Louvai ao Senhor”.

Ellen White diz que “Sua voz foi ouvida, não em tons de uma dolorosa lamentação, mas nas alegres notas do cântico pascal” (O Desejado de Todas as Nações, p. 541). Como pôde Cristo cantar minutos antes de suar gotas de sangue? Quem é capaz de louvar antes de sofrer uma agonia indescritível? 

Ao se preparar para o Calvário, Jesus cantou, aliás, um hábito formado desde criança. No livro A Ciência do Bom Viver, Ellen White escreve que Cristo “saudava a luz da manhã com cânticos e hinos de gratidão. Isto alegrava Suas horas de atividade” (p. 261). Para Ellen White, a música tem um santo propósito, “erguer os pensamentos àquilo que é puro, nobre, edificante e despertar na pessoa devoção e gratidão para com Deus” (p. 19), escreve em “Música: sua influência na vida do cristão”. E, conclui, a “música faz parte do culto a Deus nas cortes celestiais, e devemos esforçar-nos, em nossos cânticos de louvor, por nos aproximar tanto quanto possível da harmonia dos coros celestiais” (p. 20).

O cântico de Jesus antes do Getsêmani nos ensina que a música é uma poderosa ferramenta de testemunho e submissão à vontade de Deus. Você já louvou ao Senhor hoje?

terça-feira, 20 de agosto de 2024

O QUE ELLEN G. WHITE PENSAVA DA BÍBLIA?

No púlpito e no evangelismo deve ser usada a Bíblia e só a Bíblia

“No trabalho público não torneis proeminente nem citeis o que a Irmã White tem escrito, como autoridade para apoiar vossas posições. Fazer isto não aumentará a fé nos testemunhos. Apresentai vossas provas, claras e simples, da Palavra de Deus. Um ‘Assim diz o Senhor’ é o mais forte testemunho que podeis apresentar ao povo. Que ninguém seja instruída a olhar para a Irmã White, e, sim, ao poderoso Deus, que dá instruções à Irmã White” (Carta 11, 1894).

“Deus nos chama a um reavivamento e uma reforma. As palavras da Bíblia, e da Bíblia somente, deveriam ser ouvidas do púlpito. Mas a Bíblia tem sido despida de seu poder, e o resultado é ausência de vigor espiritual. Em muitos sermões de hoje não existe aquela manifestação divina que desperta a consciência e traz vida à alma. Os ouvintes não podem dizer: ‘Não estava queimando o nosso coração, enquanto Ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?’ (Lc 24:32). Muitos estão clamando pelo Deus vivo, ansiando pela presença divina. Permitam que a Palavra de Deus fale ao coração deles. Deixem que os que têm ouvido apenas tradições, teorias e ensinos humanos ouçam a voz dAquele que pode renová-los para a vida eterna” (Profetas e Reis, p. 626).

“A Bíblia é a única regra de fé e doutrina. E não há nada mais apropriado para vigorizar a mente e fortalecer o intelecto do que o estudo da Palavra de Deus. Não há outro livro que seja tão poderoso para elevar os pensamentos e dar vigor às faculdades como as vastas e enobrecedoras verdades da Bíblia. Se a Palavra de Deus fosse estudada como deveria ser, os homens teriam uma grandeza de entendimento, uma nobreza de caráter e uma firmeza de propósito que raramente se veem nestes tempos. Milhares de homens que ministram no púlpito carecem das qualidades essenciais da mente e do caráter, porque não se aplicam ao estudo das Escrituras. Satisfazem-se com um conhecimento superficial das verdades repletas de profunda significação; e preferem continuar assim, perdendo muito em todo o sentido, em vez de buscar com diligência o tesouro escondido” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 126).

Na Bíblia se encontra o que precisamos saber para a salvação

“Não basta sabermos o que outros têm pensado ou aprendido acerca da Bíblia. Cada qual deve no juízo dar conta de si mesmo a Deus, e deve hoje aprender por si mesmo o que é a verdade” (Educação, p. 188).

“Irmãos, apeguem-se à Bíblia, exatamente conforme ela declara, parem com suas críticas relativamente a sua validade, e obedeçam à Palavra, e nenhum de vocês se perderá” (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 18).

“Em Sua Palavra, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessário à salvação. As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de Sua vontade. Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa. ‘Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra’ (2Tm 3:16 e 17)” (O Grande Conflito, p. 9).

“A salvação de nossa alma está em jogo, e devemos examinar as Escrituras por nós mesmos. Por mais fortes que possam ser nossas convicções, por maior confiança que tenhamos de que o ministro sabe o que é a verdade, não seja este o nosso fundamento. Temos um mapa dando todas as indicações do caminho, na jornada em direção ao Céu, e não devemos estar a conjeturar a respeito de coisa alguma. O primeiro e mais elevado dever de todo ser racional é aprender das Escrituras o que é a verdade, e então andar na luz, animando outros a lhe seguirem o exemplo. Devemos dia após dia estudar a Bíblia, diligentemente, ponderando todo pensamento e comparando passagem com passagem. Com o auxílio divino devemos formar nossas opiniões por nós mesmos, visto termos de responder por nós mesmos perante Deus” (O Grande Conflito, p. 598).

Ellen G. White não substitui a Bíblia nem se iguala a ela

“Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de vossa fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados. Nela Deus prometeu dar visões nos “últimos dias” [registradas nos escritos de Ellen G. White]; não para uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica” (Primeiros Escritos, p. 78).

“Os Testemunhos [livros e demais escritos de Ellen G. White] não estão destinados a comunicar nova luz; e sim imprimir fortemente na mente as verdades da inspiração que já foram reveladas. Eles não têm por fim diminuir a Palavra de Deus, e sim exaltá-la e atrair para ela as mentes, para que a bela singeleza da verdade possa impressionar a todos. […] A Palavra de Deus é suficiente para iluminar o Espírito mais obscurecido, e pode ser compreendida por todo aquele que sinceramente deseja entendê-la” (Conselhos Para a Igreja, p. 93).

Ellen G. White serve para levar as pessoas de volta à Bíblia

“Pouca atenção é dada à Bíblia, e o Senhor deu uma luz menor [os escritos de Ellen G. White] para guiar homens e mulheres à luz maior [a Bíblia]" (O Colportor Evangelista, p. 125).

“A Palavra de Deus é suficiente para iluminar o espírito mais obscurecido, e pode ser compreendida de todo o que sinceramente deseja entendê-la. Mas, não obstante isto, alguns que dizem fazer da Palavra de Deus o objeto de seus estudos, são encontrados vivendo em oposição direta a alguns de seus mais claros ensinos. Daí, para que tanto homens como mulheres fiquem sem escusa, Deus dá testemunhos claros e decisivos [os escritos de Ellen G. White], a fim de reconduzi-los à Sua Palavra, que negligenciaram seguir. A Palavra de Deus está repleta de princípios gerais para a formação de hábitos corretos de vida, e os testemunhos, tanto gerais como individuais, visam chamar a sua atenção particularmente para esses princípios” (Testemunhos Seletos, vol. 2, p. 279).

Estudar a Bíblia é fundamental para preparar-se para os tempos finais

“Os cristãos devem estar-se preparando para aquilo que logo irá cair sobre o mundo como terrível surpresa, e esta preparação deve ser feita mediante diligente estudo da Palavra de Deus e pelo levar a vida em conformidade com o seus preceitos” (Profetas e Reis, p. 626).

“As necessidades urgentes de nossa época exigem contínua educação na Palavra de Deus. Essa é a verdade presente. Deve ocorrer em todo o mundo uma reforma no estudo da Bíblia, pois ela é agora mais necessária do que nunca. À medida que essa reforma progredir, será realizada uma poderosa obra. Deus foi muito claro quando disse que Sua Palavra não voltaria para Ele vazia” (Testemunhos para a Igreja, vol. 6, p 131).

“Pessoa alguma, a não ser os que fortaleceram o espírito com as verdades da Escritura, poderá resistir no último grande conflito” (O Grande Conflito, p. 593).

“Olhando para os últimos dias, declarou o apóstolo Paulo: ‘Virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina’ (2Tm 4:3). Chegamos, já, a esse tempo. As multidões rejeitam a verdade das Escrituras, por ser ela contrária aos desejos do coração pecaminoso e amante do mundo; e Satanás lhes proporciona os enganos que amam. Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria – nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam considerar-se como prova em favor ou contra qualquer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro – ‘Assim diz o Senhor’” (O Grande Conflito, pp. 594-595).

O CAMELO E O BURACO DA AGULHA

O que Jesus queria dizer com a expressão “passar um camelo pelo fundo de uma agulha” (Mt 19:24)?

Em Mateus 19:16-30 (ver também Marcos 10:17-31; Lucas 18:18-30) aparecem o relato do jovem rico, que não conseguiu se desvencilhar de suas posses materiais, e as declarações de Cristo sobre o perigo das riquezas. Depois que o jovem “retirou-se triste”, Cristo afirmou:

“Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus” (Mateus 19:22-24).

Alguns comentaristas bíblicos procuraram minimizar o efeito paradoxal da expressão “passar um camelo pelo fundo de uma agulha” reinterpretando o significado dos termos “camelo” e “fundo de uma agulha”. Por exemplo, há quem diga que a palavra “camelo” se refira aqui não ao próprio animal conhecido por esse nome, mas a um “cabo” ou “corda” de navio. Os defensores dessa teoria se baseiam no fato de que alguns manuscritos bíblicos, produzidos vários séculos depois de Cristo, trazem nesse verso a palavra “cabo” em vez de “camelo”. Como no original grego os termos “camelo” (kámelos) e “cabo” (kámilos) possuem certa semelhança entre si, é provável que alguns copistas e tradutores do Novo Testamento tenham substituído intencionalmente o termo “camelo” por “cabo”.

Outra teoria popular pretende identificar o “fundo de uma agulha” com uma suposta portinhola lateral nos muros de Jerusalém, pela qual passavam os pedestres quando os grandes portões daquela cidade já estavam fechados. Embora as portinholas de algumas cidades mais recentes da Síria fossem denominadas de “olho da agulha”, não existem evidências de que esse era o caso com Jerusalém nos dias de Cristo. Como a teoria da portinhola surgiu séculos depois de Cristo, não cremos que Ele a tivesse em mente no texto em consideração.

As palavras “passar um camelo pelo fundo de uma agulha” são, sem dúvida, uma expressão proverbial semelhante a várias outras usadas no mundo antigo para descrever uma completa impossibilidade. Mesmo na literatura judaica posterior, aparecem alusões ao “elefante” como incapaz de passar pelo fundo de uma agulha. Sendo que os discípulos estavam bem mais familiarizados com o camelo do que com o elefante, Cristo decidiu contrastar o maior dos animais da Palestina (o camelo) com o menor dos orifícios conhecidos na época (o fundo de uma agulha).

As tentativas de interpretar o “camelo” como um cabo e o “fundo de uma agulha” como uma portinhola acabam enfraquecendo, portanto, a força do argumento de Cristo. O texto de Mateus 19:16-30 deixa claro que o propósito de Jesus era levar Seus discípulos a entender a completa impossibilidade de alguém, semelhante ao jovem rico, ser salvo enquanto ainda apegado às suas riquezas. O problema não está nas riquezas em si, mas no apego indevido a elas. Mas quando o ser humano aceita o convite à renúncia de si mesmo (ver Mateus 16:24-26), aquilo que é “impossível aos homens” se torna possível ao poder transformador da graça divina (Mateus 19:26).

Ellen G. White diz: "É plano divino que as riquezas sejam usadas devidamente, distribuídas de modo a serem uma bênção aos necessitados, e para promover a causa de Deus. Se os homens amam as riquezas mais do que amam aos semelhantes, ou mais do que amam a Deus ou as verdades da Sua Palavra, se têm o coração preso às riquezas, não poderão então ter a vida eterna. Aqui as criaturas são provadas; e, como o jovem rico, muitos se afastam, tristes, porque não podem levar suas riquezas e tesouros para o Céu. 'Para Deus todas as coisas são possíveis' (Marcos 10:27). A verdade, incutida no coração pelo Espírito de Deus, expulsará o amor das riquezas. O amor de Jesus e amor do dinheiro não podem habitar no mesmo coração. O amor de Deus ultrapassa tanto o amor do dinheiro que o possuidor rompe com as riquezas e transfere suas afeições para Deus. Pelo amor é ele então levado a ministrar às necessidades dos pobres e ajudar a causa de Deus. É seu maior prazer dispor da devida maneira os bens de seu Senhor. Considera tudo que tem como não lhe pertencendo, e desobriga-se fielmente de seus deveres, como mordomo de Deus que é. Deste modo é possível entrar o rico no reino de Deus" (Nos Lugares Celestiais, p. 309).

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

DO MUNDO NÃO SE LEVA NADA?

O Brasil parou neste fim de semana com a notícia da morte do empresário e apresentador Sílvio Santos, aos 93 anos. Quem nunca cantou com ele a música de todo domingo: "Do mundo não se leva nada. Vamos sorrir e cantar”. Lá, lá, lá, lá…“

Um provérbio espanhol diz que mortalha não tem bolsos. Esse provérbio está querendo expressar a mesma verdade que Paulo em 1 Timóteo 6:6 e 7: "De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele”. Pense, porém, por um momento. Não há realmente nada que levemos conosco ao partirmos desta vida? Não acontece nada de consequências eternas durante os anos que passamos aqui? Será que tudo a nosso respeito é apagado para que, na ressurreição, possamos começar do zero absoluto? Pare um pouco para pensar ou discutir essas perguntas antes de prosseguir com a leitura.

Eu gostaria de sugerir que existe uma coisa que levamos conosco desta vida para a próxima. Obviamente, não se trata de ouro, prata ou posses. Paulo e o provérbio espanhol são bastante corretos sobre esse ponto. Mas o que podemos e devemos levar é o tesouro do caráter – algo que não pode ser levado num bolso, mas que toda pessoa desenvolve numa ou noutra direção.

Na Terra estamos formando caracteres. Esses caracteres são o que nós somos. São nossa identidade. E possuem consequências eternas. Somente os que tiverem caráter semelhante ao de Jesus serão felizes no reino de Deus; somente esses participarão da primeira ressurreição.

Depois de aceitar Jesus, a edificação do caráter é a tarefa mais importante da vida. O caráter é a única coisa que levaremos para o Céu. O caráter tem consequências eternas. É por isso que Ellen White escreveu que “a formação do caráter é a obra mais importante que já foi confiada a seres humanos” (Educação, p. 225). E completou: "O caráter que uma pessoa forma neste mundo determina seu destino para a eternidade” (Perto do Céu, p. 61). Desenvolver um caráter semelhante ao de Cristo é ajuntar “tesouros no Céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mt 6:20).

O tesouro celestial, naturalmente, tem valor terreno. Todos os dias, homens e mulheres de bom (ou de mau) caráter influenciam os filhos e outras pessoas com as quais entram em contato.

Hoje minha vida pode fazer diferença. E o que eu sou hoje é um seguro prenúncio do que serei amanhã. Ellen White finaliza dizendo que "o caráter formado segundo a semelhança divina é o único tesouro que podemos levar deste mundo para o futuro. Aqueles que nesta vida estão sob a instrução de Cristo levarão consigo, para as mansões celestes, todo aprendizado divino. E nos Céus deveremos progredir continuamente. Que importância tem, pois, o desenvolvimento do caráter!" (Parábolas de Jesus, p. 332).