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A forma original da estela |
Especialistas que analisaram uma inscrição de 2.600 anos dizem que
ela é uma espécie de placa comemorativa da inauguração da Torre de
Babel, com detalhes do projeto celebrizado pela Bíblia.
A conclusão está num novo livro de título indigesto, “Cuneiform Royal
Inscriptions and Related Texts in the Schoyen Collection” (“Inscrições
Reais em Cuneiforme e Textos Relacionados da Coleção Schoyen”).
Martin Schoyen é um empresário norueguês, dono de uma coleção de
antiguidades que inclui, entre outras coisas, inscrições em cuneiforme
(difícil sistema de escrita do antigo Oriente Médio) feitas a mando dos
reis da Mesopotâmia, no atual Iraque.
Entre essas inscrições está a estela –essencialmente um poste de
pedra– erigida quando Nabucodonosor 2º governava a Babilônia, entre 605
a.C. e 562 a.C. Coberta com textos e desenhos, a estela relata a
construção de uma obra que, se fosse egípcia, teria porte faraônico.
TERRA E CÉU
Seu nome era Etemenanki. Em sumério, idioma que já era arcaico nos
tempos de Nabucodonosor 2º, a palavra significa “templo das fundações da
terra e do céu”. E o rei da Babilônia carrega nas tintas
propagandísticas ao descrever como construiu a estrutura, cuja altura,
segundo relatos posteriores, chegava a mais de 90 m.
“[Para construí-la] mobilizei todos em todo lugar, cada um dos
governantes que alcançaram a grandeza entre todos os povos do mundo.
Preenchi a base para fazer um terraço elevado. As estruturas construí
com betume e tijolo. Completei-a erguendo seu topo até o céu, fazendo-a
brilhar como o Sol”, diz a inscrição na pedra.
O templo era dedicado ao deus Marduk, patrono da dinastia de Nabucodonosor.
ZIGURATE
A estrutura, que lembra um pouco uma pirâmide com degraus, encaixa-se
na categoria dos zigurates, comum na arquitetura dos templos da antiga
Mesopotâmia.
A equipe liderada por Andrew George, especialista em babilônio do
University College de Londres, publicou pela primeira vez a descrição
detalhada da estela no livro.
Para eles, a probabilidade de que o zigurate gigante tenha sido a
inspiração para o relato bíblico da Torre de Babel é considerável. Para
começar, já se sabia que “Babel” (“A Porta do Deus”) é apenas o nome
dado pelos antigos hebreus à Babilônia.
Em segundo lugar, foi Nabucodonosor 2º o responsável por destruir o
último reino israelita independente, o de Judá, arrasando o templo de
Jerusalém e deportando milhares de pessoas da terra de Israel para a
Babilônia no ano 586 a.C.
Os deportados israelitas, portanto, teriam tido a chance de ver de
perto a maior das obras de seu opressor, justamente no período em que,
segundo a maior parte dos estudiosos atuais, o texto da Bíblia estava
sendo editado e consolidado no exílio.
A inspiração para a história do rei que tentou construir uma torre até o céu, portanto, teria vindo nessa época.
Se a hipótese de George e seus colegas estiver correta, a imagem na
estela é a mais antiga representação da Torre de Babel, que acabaria
inspirando inúmeros artistas da Idade Média até hoje. Uma identificação
definitiva, contudo, é difícil de provar sem evidências mais diretas.