sexta-feira, 31 de maio de 2024

A MARCHA QUE NUNCA FOI PARA JESUS

Milhares de pessoas se reuniram para participar da 32ª edição da Marcha para Jesus nesta quinta-feira (30), feriado de Corpus Christi, em São Paulo. A caminhada começou às 10h em frente à estação Luz do Metrô e seguiu até a Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira (FEB), próximo ao Campo de Marte, na Zona Norte. Cartazes com os dizeres ‘100% Jesus’ e uma enorme bandeira de Israel foram carregadas pelo público durante a caminhada. O evento contou com a participação de 17.250 caravanas de várias partes do país e reuniu um público de 29,2 mil pessoas, estimam pesquisadores da USP.

Foram 12 horas de programação com mais de 17 atrações musicais e 10 trios elétricos que foi intercalada com louvores e discursos inflamados de políticos de olho dos votos do segmento, seja para a disputa das eleições municipais, em outubro, ou para um voo mais alto — como a Presidência da República, em 2026. Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que remeteu uma carta, lida no evento, e foi representado pelo advogado-geral da União, Jorge Messias — ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição na capital paulista, e aos presidenciáveis Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União), respectivamente governadores de São Paulo e Goiás, todos se apresentaram como fiéis seguidores dos preceitos bíblicos.

O primeiro a discursar na marcha foi Ricardo Nunes, ao lado da primeira-dama Regina Carnovale Nunes. Chamado de "servo de Deus" pelo 'apóstolo' Estevam Hernandes, organizador da marcha, o prefeito agradeceu a presença dos fiéis e desejou boas-vindas àqueles de outras cidades e estados. "Mais um ano, e a marcha é um grande sucesso, é maior do que o ano passado [...] Esse grande evento está abençoando nossa cidade, nosso estado, nosso país e o mundo. Saímos daqui com a nossa fé renovada", afirmou.

Em seguida, foi a vez de Tarcísio de Freitas no microfone. Durante cinco minutos, o governador de São Paulo fez referências a passagens bíblicas e também agradeceu a participação dos fiéis. Segundo o ‘apóstolo’, foi o ex-presidente Jair Bolsonaro que pediu para que ele apoiasse Tarcísio em São Paulo. “Nós oramos e ali identificamos um grande homem de Deus. E ele realmente é fruto das orações de sua mãe. Um homem temente a Deus. No governo do Estado de São Paulo, que é o maior estado dessa federação, tem em seu comando um homem servo de Jesus Cristo”, disse, ao apresentar Tarcísio no evento, chamando inclusive o governador de “sinal de Deus para o Brasil”.

Na minha modesta opinião, é completo absurdo que representantes de governos compareçam a qualquer atividade religiosa de forma institucional. Fere a Constituição, que determina a laicidade do Estado, além de ser gesto oportunista e antipedagógico. Tal comportamento alimenta o fundamentalismo religioso.

E outra... a figura de Jesus não cabe dentro de qualquer arranjo ideológico. Sua mensagem transcende as utopias, subverte o establishment e desafia o mais insólito dos ideais humanos. Também não é cabo eleitoral de candidatura alguma. Não ousem conferir tom partidário à Sua mensagem. Toda vez que Sua mensagem é diluída numa ideologia qualquer, perde sua essência e eficácia.

No Brasil, esse evento começou a ser realizado em terras pauliceias no ano de 1993, organizado pela Igreja Renascer em Cristo através de seus líderes, o 'apóstolo' Estevam Hernandes e 'bispa' Sônia Hernandes, ambos conhecidos internacionalmente após sérios problemas com a justiça brasileira e americana, em razão de suas respectivas infrações contravencionais. Além disso, são conhecidos por serem expoentes do neopentecostalismo, bem como por pregar as perniciosas doutrinas da restauração apostólica triunfalista e teologia da prosperidade.

O conceito “Marcha para Jesus” começou na Inglaterra em meados de 1987, através de uma ação ecumênica entre protestantes e católicos de Londres. A organização foi iniciativa dos líderes carismáticos britânicos Gerald Coates, Roger Forster, Lynn Green e Graham Kendrick. Segundo eles, a passeata pública foi feita para demonstrar a “unidade entre a Igreja” e expressar a fé cristã para a sociedade, bem como promover atos proféticos de batalha espiritual contra espíritos territoriais malignos, dominantes da Europa secularizada.

Como todo ano, o evento no Brasil reúne diversas denominações evangélicas, reunidas em uma grande procissão pelas ruas da capital paulistana. Mas afinal, qual o objetivo desta Marcha para Jesus no Brasil? O interessante é que não vemos em nenhum lugar no Novo Testamento a ordem evangelística de marchar para Jesus, ou no Antigo Testamento para Deus, muito menos nas literaturas dos pais da igreja, reformadores, missionários e evangelistas por toda a história. Não há, absolutamente, nenhum fundamento espiritual cristão para se praticar marchas evangelísticas. Na verdade, eu não consigo imaginar como alguém pode se converter em um evento como este.

Além do 'apóstolo' organizador da Marcha para Jesus, também são destacados os trios elétricos que puxam a “micareta gospel”, ao som de músicas triunfalisticamente antropocêntricas, preparadas cuidadosamente para massagear o ego dos participantes em detrimento do evangelho que confronta o caráter. É no mínimo questionável esse tipo de evangelismo, pois a palavra quase não é proclamada devido ao foco na euforia festiva, salvo raras exceções quando é falada ou cantada, mas de maneira superficial e distorcida, onde não há entendimento profundo das Escrituras.

Richard Foster, um teólogo cristão da tradição Quaker, começa seu livro mais conhecido Celebração da Disciplina com uma frase que me marca até hoje: “A superficialidade é a maldição do nosso tempo”. Concordo plenamente com ele. E eu iria mais longe. Pior do que a superficialidade é a celebração dessa superficialidade. O povo comemora o fato de não ter profundidade. Essa pra mim é a maior mensagem da Marcha Para Jesus: a celebração da superficialidade evangélica brasileira.

A verdadeira "Marcha para Jesus" não acontece com data marcada, guiada por trios elétricos, ao som de gritos de guerra, mas acontece todos os dias, pelas ruas, avenidas, corredores de supermercados, shoppings, bancos, onde pessoas conquistadas pelo amor de Jesus são conduzidas como evidência do poder do Evangelho. A marcha que Cristo ensinou à sua igreja foi outra, silenciosa e efetiva, tal qual o sal penetrando no alimento (Mt 5:13); pessoal e de relacionamento, como na igreja primitiva (At 8:4); cotidiana e sem cessar, como entre os primeiros convertidos (At 2:42-47).

quinta-feira, 30 de maio de 2024

NÃO MATARÁS

A vida é a dádiva mais preciosa concedida por Deus e foi um dos bens mais afetados primariamente pelo pecado. O primeiro homicídio (Gn 4:8-16) contribuiu grandemente para o crescimento do desvalor e indiferença para com a vida humana. Por ser o maior bem instituído por Deus, a vida, é que se justifica o fato de sua preservação se tornar um mandamento. 

“Não matarás” é a ordem do sexto mandamento. O verbo hebraico ratsach, “matar”, aparece cerca de 47 vezes no Antigo Testamento, sendo 20 delas apenas no livro de Números. O significado mais apropriado seria assassinar premeditadamente ou a tomada ilegal de vida inocente, incluindo qualquer assassinato não autorizado. Desta forma, o mandamento ensina a santidade da vida humana e traz o princípio da correta compreensão da nossa relação com o próximo, indicando que devemos respeitar e honrar a vida, pois a vida é um sagrado dom de Deus (Gn 9: 5-6).

Embora o mandamento não desautorize a possibilidade de legítima defesa ou mesmo a pena capital, como ocorreu algumas vezes no sistema teocrático, como representantes do evangelho de Cristo, o ministério cristão é de plena promoção da esperança e valorização da vida (Jo 10:10). Portanto, a pena capital, no Novo Testamento, é suprimida pelo evangelho da piedade prática ensinada amplamente por Jesus no sermão do monte (Mt 5, 6). Ellen G. White diz: "No sermão da montanha, Ele mostrou como seus requisitos vão além dos atos exteriores, e penetram os pensamentos e as intenções do coração" (Atos dos Apóstolos, p. 505). Sob as palavras de Jesus, este mandamento tornou-se mais amplo ao incluir a raiva, o desprezo (Mt 5:21-22), e posteriormente, o ódio (1Jo 3:14-15).

Ellen G. White comenta como o mandamento “não matarás” (Êx 20:13) é tão amplo em suas implicações: "Todos os atos de injustiça que tendem a abreviar a vida; o espírito de ódio e vingança, ou a condescendência de qualquer paixão que leve a atos ofensivos a outrem, ou nos faça mesmo desejar-lhe mal (pois “qualquer que aborrece seu irmão é homicida”); uma negligência egoísta de cuidar dos necessitados e sofredores; toda a condescendência própria ou desnecessária privação, ou trabalho excessivo com a tendência de prejudicar a saúde — todas estas coisas são, em maior ou menor grau, violação do sexto mandamento" (Patriarcas e Profetas, p. 217).

A maioria de nós, claro, conhece a solução perfeita para os problemas das relações humanas: se as pessoas fossem legais conosco, não teríamos problema nenhum em ser igualmente legais com elas. Mas Jesus disse: “Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mt 5:47). 

A verdadeira questão é: Você consegue ser bondoso com alguém que o magoou? Pode realmente amar alguém que o prejudicou? Não é fácil. Na verdade, as pessoas acham que o ensino de Jesus sobre o sexto mandamento é um exemplo extremo, sem a intenção de que seja obedecido na prática, exceto talvez por algumas santas almas que vivem sozinhas no topo de montanha. 

Veja este pensamento de Ellen G. White: "O espírito de ódio e de vingança originou-se com Satanás; e isto o levou a fazer matar o Filho de Deus. Quem quer que acaricie a malícia ou a falta de bondade, está nutrindo o mesmo espírito; e seus frutos são para a morte. No pensamento de vingança jaz encoberta a má ação, da mesma maneira que a árvore está na semente" (O Maior Discurso de Cristo, p. 56).

Certa vez, ouvi uma discussão a esse respeito. Em sua maioria, as pessoas que se manifestaram disseram que o ensino de Jesus sobre o tema não poderia ser aplicado literalmente a pessoas que vivem no mundo real, como nós. Discordo totalmente. Há pelo menos três importantes razões pelas quais a sabedoria de Jesus é bem mais do que apenas uma inconsistente fantasia. Ela é, na verdade, a única maneira prática e sensível de viver. 

1. É a única forma de romper a corrente da violência. O plano de Jesus é melhor porque a única alternativa é o efeito dominó, uma interminável reação em cadeia no sentido de “dar o troco”. “Olho por olho, dente por dente” é a receita para o desastre, porque a violência não pode ser curada com mais violência.

2. É a única forma de obter o controle. Quando reagimos à maldade com raiva, ódio e desejo de vingança, entregamos para outra pessoa o controle sobre nós. Deixamos que ela aperte os botões e determine nossos sentimentos, atitudes e reações. Jesus deseja libertar-nos dessa tirania e devolver nossa autonomia junto com a paz mental.

3. É a única forma de agirmos com responsabilidade. Ao dizer que não devemos dar aos nossos inimigos a permissão de determinar nosso comportamento e atitudes, Jesus nos lembra uma vez mais de nossa responsabilidade. Se retribuímos a raiva com raiva, maldade com malvadeza, a decisão de fazê-lo é nossa, porque temos o poder da escolha.

Ser verdadeiramente positivos em nossas relações cristãs significa mais do que deixar de odiar. Requer que substituamos o ódio pelo amor. Disse Jesus: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam” (Lc 6:27 e 28). Ao apresentar esse tema, o apóstolo Paulo o coloca em termos práticos: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:20 e 21).

Um dos livros mais vendidos no século 20 foi Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, de Dale Carnegie. Um manual de relações humanas com base em princípios de egoísmo e manipulação, a sua mensagem é: seja simpático para com as outras pessoas, elogie-as e faça com que se sintam bem, porque, se você fizer isso, elas lhe darão aquilo que você deseja e o ajudarão a ir em frente na vida. 

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:4-7). 

O verdadeiro amor é um dom divino. Vem somente do próprio Deus.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

NÃO ADULTERARÁS

Ela está entre nós há muito tempo, mas nem por isso nos acostumamos com sua realidade. A notícia da infidelidade no casamento ainda choca, traumatiza, entristece e fragmenta famílias em todo o mundo. Porém, se ela é tão prejudicial, por que ainda faz parte do cotidiano da sociedade?

O adultério pode acontecer de várias formas, com danos igualmente consideráveis. Vale atentar, pelo menos, para três tipos de traição: a imaginária (vivenciada na fantasia da pessoa, sem que haja, necessariamente, a participação consciente do outro), a virtual (muito popular em nossos dias, podendo incluir desde o acesso à pornografia online até um relacionamento virtual com uma pessoa específica) e a real (um estágio mais avançado do que as anteriores e que inclui o contato físico). À medida que a traição avança, o parceiro vai se esvaziando na vida do outro. Quando menos se percebe, ele não está mais lá. Ainda que os dois dividam a mesma casa, caminham silentes em sua solidão.

Tanto traidor como traído sofrem. O primeiro experimenta perda da integridade, forte sentimento de culpa, angústia, medo de ser descoberto e confusão de sentimentos. O segundo sente dor, decepção, rejeição, tristeza, medo quanto ao futuro, perda da autoestima, raiva e desespero, entre outras coisas. Ambos podem experimentar depressão e precisar de ajuda. Os danos tendem a aumentar quando crianças estão envolvidas.

No contexto religioso
Qualquer pessoa, religiosa ou não, está sujeita à paixões afetivas. Quando ela é religiosa, o compromisso de fidelidade é assumido não só para com o cônjuge, mas para com Deus também. Ocorrendo adultério, além da quebra da fidelidade com o companheiro(a), ocorre também a quebra do relacionamento com Deus.

Claudia Bruscagin, psicoterapeuta familiar, com doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP e professora no Curso de Especialização em Terapia Familiar e de Casal do Núcleo de Família e Comunidade da PUC-SP, diz, no livro Religiosidade e Psicoterapia, Editora Roca, p. 59 e 60, 2008: “No contexto religioso, a infidelidade parece denunciar uma falta de compromisso não somente com o casamento, mas também com Deus, com a religião e seus preceitos. Para o casal religioso, a reconstrução do relacionamento após um caso de infidelidade exige que não somente a dinâmica da relação seja revista, mas também a interação de cada um dos membros do casal com Deus, pois o perdão de Deus é tão importante quanto o perdão do cônjuge traído.”

Vejamos o que diz Ellen G. White sobre o adultério em seu livro Testemunhos sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, pp. 89-91: "Um dos pecados graves nesta degenerada época de corrupção é o do adultério. Esse vergonhoso pecado é praticado em alarmante extensão. Houvessem, contudo, os transgressores do sétimo mandamento de ser encontrados unicamente entre os que não professam ser seguidores de Cristo, o mal não alcançaria a décima parte do que hoje representa; mas o crime do adultério é amplamente cometido por professos cristãos. O homem pode dissimular os fatos e ocultar que está praticando adultério; ainda assim Deus tem Seus olhos postos sobre ele. Deus o observa. Não é possível ao homem esconder dEle os seus crimes. Pode até mesmo conduzir-se de forma aparentemente correta diante da família e da comunidade, sendo considerado como um bom homem. Haverá, porém, de enganar a si mesmo, pensando que o Altíssimo não conhece todas as coisas?"

Os cristãos são chamados a exercitar pensamentos puros e viver vida pura, pois estão se preparando para viver em uma sociedade pura ao longo de toda a eternidade. A propósito, o mandamento “não adulterarás” em Êxodo 20:14 é mais abrangente. “Esta proibição abrange não apenas o adultério, mas a fornicação e a impureza de todo e qualquer tipo, em atitude, palavra e pensamento” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 651). E Ellen G. White complementa: "Este mandamento proíbe não somente atos de impureza, mas pensamentos e desejos sensuais, ou qualquer prática com a tendência de os excitar. A pureza é exigida não somente na vida exterior, mas nos intuitos e emoções secretos do coração. Cristo, que ensinou os deveres impostos pela lei de Deus, em seu grande alcance, declarou ser o mau pensamento ou olhar tão verdadeiramente pecado como o é o ato ilícito" (Patriarcas e Profetas, p. 217).

Como se libertar do adultério
Reconhecer o problema e buscar ajuda é fundamental para se alcançar a vitória. Esteja certo de que sua convicção é fruto do trabalho do Espírito Santo que despertou em sua mente o senso de pecado. Cristo é a grande solução! Realmente essa é uma das maiores dificuldades de pessoas de todas as épocas; elas são atraídos pela beleza física e às vezes parece impossível apenas achar uma pessoa bonita sem cobiçá-la. Jesus disse que o adultério começa na mente e que, portanto, é preciso ser cuidadoso em não alimentar sentimentos indevidos no coração (cf. Mateus 5:28).

Comungando com Cristo, e tendo a poderosa influência do Espírito Santo na vida, é possível adotar uma atitude mental saudável e positiva. Você até poderá ver pessoas e achá-las bonitas, o que é natural, mas se pensamentos impuros surgirem, você terá a opção de alimentá-los, e isso se tornaria em pecado, ou você poderá escolher cortar o pensamento e não permitir que ele se desenvolva e o domine. O grande segredo para se obter a vitória é se consagrar todos os dias pela manhã à Cristo. Dessa maneira, sua permanência em Cristo será fortalecida, e quando aparecer uma tentação, você terá muito mais confiança para se apegar ao Senhor e cortar o pensamento impuro. Assim, você terá de aprender a lidar com a situação, dependendo de Cristo e cultivando pensamentos puros, evitando qualquer lixo visual e obsceno, seja na TV, em revistas ou na internet.

Quando sua mente começar a “planejar” ou a “fantasiar”, deverá orar ao Senhor e cortar o pensamento. Essa habilidade (domínio dos pensamentos), quando adquirida, é a chave que abre as portas para o sucesso. Não desanime em sua caminhada. Volte-se para Deus em arrependimento e confissão, pois Deus é “rico em perdoar” (Isaías 55:7). Sua graça pode transformar seu coração e libertá-lo completamente desse pecado. A graça de Jesus o capacitará para a eternidade! Basta perseverar (cf. Lucas 21:19; Hebreus 10:38). O decidir-se pela pureza sexual já é uma resposta positiva à influência do Espírito Santo, e é um dos primeiros passos para o êxito. É fundamental permanecer em Cristo. Jesus disse: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” (João 15:4). Esse é o segredo para a vitória na vida – permanecer em Cristo.

Certamente você consente que Cristo é o Salvador, e se você aceitá-Lo como o seu único Salvador pessoal, ao recebê-Lo no coração, não se esqueça do conselho de Paulo: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças” (Colossenses 2:6, 7). Aqui Paulo fala de continuidade. Você está recebendo Cristo no coração, agora, permaneça nEle. Sem em algum momento de sua caminhada você cair, recorra a Jesus imediatamente, pois Ele é fiel em perdoar (1 João 1:9).

Clame a Deus, como o fez Davi, que em sua angústia, orou ao Senhor: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmos 51:10). Ele pode fazer isso em sua vida.

Ellen G. White diz: “Ninguém tem necessidade de se abandonar ao desânimo e desespero. Satanás poderá se achegar a vós com a cruel sugestão: ‘Teu caso é desesperado. És irremissível.’ Mas há para vós esperança em Cristo. Deus não nos manda vencer em nossas próprias forças. Pede-nos que nos acheguemos bem estreitamente a Ele. Sejam quais forem as dificuldades sob que lutemos, que nos façam vergar o corpo e a alma, Ele está à espera de nos libertar” (A Ciência do Bom Viver, p. 249).

A realidade do perdão para o adultério
O escritor e jornalista cristão americano Philip Yancey diz: “O perdão é dolorosamente difícil e, muito tempo depois de você perdoar, a ferida continua na lembrança. Por trás de cada ato de perdão jaz uma ferida de traição, e a dor de ser traído não se desvanece facilmente” (Maravilhosa Graça, Editora Vida, p. 86 e 87, 2006).

É fácil um líder religioso falar de perdão em sua mensagem. Mas perdoar é mais difícil do que as palavras dizem. Na palavra “perdoar” tem a parte que diz “doar”. Você doa, de graça, algo a alguém que não merece. Ou você recebe o que não merece, o perdão, mesmo sendo culpado.

Claudia Bruscagin diz: “Perdoar não é a negação dos sentimentos de mágoa, ira e rancor. É reconhecer os sentimentos e então escolher não agir por eles” (Religiosidade e Psicoterapia, p. 60). Perdoar tem que ver com escolha. Mas e os sentimentos de dor? Escolher perdoar os elimina? 

O tempo cura. Mas nessa cura pode haver, e em geral há, mudanças profundas no relacionamento entre as pessoas envolvidas. Uma pessoa traída, pode precisar de anos de restabelecimento emocional para se recompor da tragédia e voltar a viver com serenidade. É como você jogar uma pedra num lago sereno e formar múltiplas ondas. As ondas se formam, não porque o lago é malvado, mas porque ele responde à uma lei da Natureza. Um coração partido não se recompõe rapidinho com qualquer “band-aid” religioso ou não.

Isto mostra que há um timing, ou tempo necessário, para cada pessoa viver o processo do perdão após uma ofensa. Quanto mais devastadora foi a ofensa e quanto mais importante significado emocional havia no relacionamento entre a pessoa e o ofensor, maior a ferida e maior o tempo necessário para sua cura. Cada um tem um ritmo de cura.

Claudia Bruscagin diz que "num caso de traição conjugal, se o cônjuge que traiu desejar dar passos para uma reconciliação, ele precisa: (1) Aceitar a responsabilidade pelo ocorrido; (2) expressar sincero pesar e arrependimento; (3) oferecer alguma recompensa de alguma forma; (4) prometer não repetir o mesmo erro, e (5) pedir perdão" (Religiosidade e Psicoterapia, p. 61). Eu acrescento: não só prometer não repetir mais o mesmo erro, mas NÃO repetir mesmo! Verdadeiro arrependimento é mais do que pesar pelo erro cometido. É um decidido afastamento dele.

O perdão não é de graça porque ele não livra a pessoa dos resultados de seus atos. O povo de Israel foi perdoado, porém, de cerca de dois milhões de pessoas que andaram pelo deserto após saírem do Egito, somente duas entraram na Terra Prometida. Havia um preço. O perdão bíblico é sempre um ato realizado num contexto de justiça. Em nenhuma parte é um ato isento de responsabilidade. Seria confundir perdão com impunidade, e não é isso o que a Bíblia apresenta. Não se pode viver num contexto de rancor. Mas é importante entender que o perdão tem seu tempo de desenvolvimento, é pessoal e, em muitos casos, um milagre.

Claudia Bruscagin conclui: “Na reconciliação, quando possível, o ofendido convida a pessoa que o machucou de volta para sua vida. Se o outro vem honestamente, o amor pode atuar e juntos podem desenvolver um novo relacionamento. Esse estágio depende tanto da pessoa a ser perdoada quanto da que perdoa; às vezes a pessoa não volta e é preciso se curar sozinho.”

Embora o perdão divino não garanta a reconciliação de um casal, o verdadeiro arrependimento e confissão a Deus é o caminho para a restauração do casamento. Ao buscar a Deus diariamente, através de Sua Palavra e da oração, é possível encontrar perdão, paz, conforto e esperança.

terça-feira, 28 de maio de 2024

LUXÚRIA

Deus nos criou como seres sexuais e nos deu algo chamado desejo sexual. Essa é uma das necessidades físicas básicas do ser humano. A ordem divina foi “sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn 9:7). Assim como o Senhor nos deu apetite por alimento, Ele nos dotou com apetite sexual para que homens e mulheres não só desfrutem da intimidade no contexto do casamento, mas também procriem.

Nossa condição de seres sexuais com desejo sexual é parte do propósito divino para a raça humana. Contudo, desejo sexual não é o mesmo que luxúria. John Piper define luxúria com esta simples equação: “Luxúria é desejo sexual menos honra e santidade.” Quando somos lascivos, tomamos essa coisa boa – o desejo sexual – e removemos dele a honra para com os outros e a reverência para com Deus. A luxúria é um desejo idólatra que rejeita as orientações divinas e busca satisfação à parte do Senhor.

Em Mateus 5:27 e 28, Jesus ensinou que se demorar em pensamentos impuros é pecado. “Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela.” Cristo deixa claro que “nossos pensamentos são mais importantes do que nossas ações”. Além disso, afirma que o adultério é mais do que ter um caso extraconjugal. É algo que começa no coração – e Deus vê nosso coração e conhece nossas intenções (1Co 2:11, Hb 4:13). Suas palavras também ensinam que os limites mentais e emocionais são tão importantes quanto os limites físicos.

As implicações disso são claras quando se relacionam com pornografia, conteúdos eróticos escritos ou filmados e outros materiais que promovam o desejo sexual por alguém que não seja o cônjuge. Assim, quando qualquer pessoa é física ou emocionalmente inserida na intimidade sexual, mesmo que em pensamento, compromete a pureza do ato conjugal. Ellen G. White adverte: "A lei de Deus requer pureza não somente na vida exterior, mas também quanto às intenções e emoções secretas do coração. Cristo, que ensinou de maneira mais abrangente nossos deveres para com a lei de Deus, declarou que um mau pensamento ou um olhar é verdadeiramente tão pecado quanto o ato ilícito" (Os Escolhidos, capítulo 27, A Lei no Monte Sinai).

O apóstolo Paulo escreveu: “Entre vocês não deve haver nem sequer menção de imoralidade sexual como também de nenhuma espécie de impureza e de cobiça; pois essas coisas não são próprias para os santos” (Ef 5:3, NVI). Mas, por que o padrão divino é tão alto? Por que Deus não permite nem um pouco de luxúria, sendo Ele mesmo que criou os seres humanos com desejos sexuais? 

Uma das razões pelas quais o Senhor nos exorta a purificar a vida é porque Ele sabe que a luxúria nunca fica no nível da “sugestão”. Ela anseia por mais. O resultado é que a lascívia nunca pode ser extinta. Assim que seu objetivo é alcançado, ela quer algo maior. Em Efésios 4:19, Paulo descreve o interminável ciclo da luxúria. Ele fala sobre aqueles que se afastaram de Deus perdendo “toda a vergonha e se entregaram totalmente aos vícios; eles não têm nenhum controle e fazem todo tipo de coisas indecentes” (NTLH). Esta é a recompensa da luxúria, fazer “se entregarem totalmente aos vícios”.

Ellen G. White alerta: "O matrimônio estava dentro da ordem determinada por Deus; foi uma das primeiras instituições que Ele estabeleceu. Deu instruções especiais concernentes a esta ordenança, revestindo-a de santidade e beleza; estas instruções, porém, foram esquecidas, e o casamento foi pervertido, e feito com que servisse às paixões. Aquilo que em si mesmo é lícito, é levado ao excesso. Multidões não se sentem sob qualquer obrigação moral de reprimirem seus desejos sensuais, e tornam-se escravos da luxúria" (Patriarcas e Profetas, p. 62).

Deus criou nossas necessidades para serem supridas por meio de relacionamentos reais. É preciso investir energia nas relações criadas por Deus, uma coisa que não ocorre nas relações construídas sobre o engano e a luxúria. Quando se trata de luxúria, Deus diz: “não ... nem mesmo uma sugestão”, porque não podemos ceder às exigências da lascívia e esperar satisfazê-la. Ela sempre cresce. Com isso, a luxúria nos rouba a capacidade de desfrutar de intimidade e prazer sexual saudáveis. Os cristãos, portanto, devem se manter puros ao fugir da imoralidade (1Co 6:18), pensar em coisas puras (Fp 4:8), amar o Senhor Jesus Cristo e não agradar os desejos da natureza pecaminosa em relação à luxúria (Rm 13:14).

Ellen G. White diz: "Os homens estão vivendo para os prazeres dos sentidos, para este mundo e para esta vida unicamente. A extravagância invade todas as rodas da sociedade. A entrega de todas as faculdades a Deus, simplifica grandemente o problema da vida. Enfraquece e abrevia milhares de lutas com as paixões do coração natural" (Mensagens aos Jovens, p. 30).

O objetivo de cada pessoa que tem colocado a sua fé em Jesus Cristo é tornar-se cada vez mais semelhante a Ele a cada dia. Isto significa jogar fora o velho modo de vida sob o controle do pecado e conformar seus pensamentos e ações de acordo com o padrão delineado nas Escrituras. A luxúria é o contrário desse objetivo.

Ninguém nunca vai ser perfeito ou alcançar a impecabilidade enquanto ainda nesta terra, no entanto, ainda é uma meta para a qual nos esforçamos. A Bíblia faz uma declaração forte sobre isso em 1 Tessalonicenses 4:7-8: "Porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação. Dessarte, quem rejeita estas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que também vos dá o seu Espírito Santo."

Se a luxúria ainda não tomou conta do seu coração e mente, prepare-se para combater as suas tentações através de uma vida santa. Se você atualmente luta com a luxúria, é hora de confessar o seu pecado a Deus e pedir a Sua intervenção para que a santidade possa ser uma marca da sua vida também. 

Finalizo com este pensamento de Ellen G. White: "Mas ninguém que tenha caído deve se desesperar. Homens encanecidos, uma vez honrados por Deus, podem ter envilecido suas almas, sacrificando a virtude no altar da luxúria; mas se se arrependem, abandonam o pecado e voltam-se para Deus, há ainda esperança para eles. Aquele que declara: 'Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida' (Apocalipse 2:10), faz também o convite: 'Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar' (Isaías 55:7). Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. “Eu sararei sua perversão”, Ele declara, 'Eu voluntariamente os amarei' (Oséias 14:4)" (Profetas e Reis, p. 38).

sexta-feira, 24 de maio de 2024

NÃO COBIÇARÁS

Você já percebeu como o espírito de descontentamento está generalizado? Muitos estão buscando desesperadamente aquilo que finalmente satisfará seus desejos e suas vontades, mas descobrem que quanto mais têm e adquirem, mais querem.

Grande parte do conflito no mundo gira em torno de pessoas que se apegam egoisticamente à riqueza, à posição e ao poder. Por sermos seres humanos caídos, somos inclinados ao egoísmo, em contraste direto com o caráter perfeito e altruísta de Deus. O pecado e o egoísmo andam de mãos dadas. Em alguns círculos, entretanto, a palavra “pecado” não mais é ouvida. Alguns preferem não falar dele, preferindo se concentrar apenas em mensagens positivas.

Ellen G. White diz: "O egoísmo e a cobiça muitas vezes não são reprovados, no entanto, esses são pecados especialmente ofensivos a Deus, pois são contrários à benevolência de Seu caráter e àquele desinteressado amor que é a própria atmosfera do Universo não caído" (Caminho a Cristo, p. 30).

A Bíblia, por sua vez, tem muito a dizer sobre o pecado, inclusive nos Dez Mandamentos. Entre eles está o décimo mandamento que, cada vez mais, é negligenciado. É o que trata do pecado da cobiça (Êx 20:17). De fato, se você perguntasse às pessoas na rua o que é cobiça, imagino que muitos nem sequer saberiam o significado da palavra. Em termos simples, a cobiça envolve o desejo egoísta e desmedido por aquilo que os outros possuem.

Infelizmente, muito do que está ao nosso redor foi concebido para nos fazer desejar exatamente desta maneira: sentir vazio e anseio por aquilo que não temos e, às vezes, desejar especificamente o que pertence aos outros. Desde as formas mais tradicionais de publicidade até os algoritmos das mídias sociais, somos bombardeados incessantemente com mensagens que estimulam nosso cérebro a ficar insatisfeito e desejar muitas coisas das quais não temos necessidade ou das quais não faremos bom uso.

Por outro lado, Paulo deu o exemplo de como “viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4:11). Nesse contexto, ele escreveu: “Tudo posso Naquele que me fortalece” (v. 13). Contudo, sendo bem honestos, não são necessárias campanhas publicitárias inteligentes ou algoritmos de mídia social para nos fazer cobiçar. Somos muito bons nisso!

Conta-se que um repórter perguntou ao magnata Nelson Rockefeller: “Quanto dinheiro é necessário para ser feliz?”. O ricaço respondeu com naturalidade: - Um pouco mais” (Michael Horton - A Lei da Perfeita Liberdade, p. 212). É isso. Cobiçar significa colocar nossa devoção em coisas – dinheiro, sucesso, fama – e transformá-las no centro de nossa existência, crendo que são o fundamento sobre o qual construímos a felicidade. Para o cobiçoso, as coisas se tornam mais importantes do que as pessoas e suas necessidades. O cobiçoso nunca está satisfeito; para ele, o muito é ainda pouco. Enfim: A cobiça é o amor fora de proporção, fora de equilíbrio e fora de lugar.

O apóstolo Tiago escreveu: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e Ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tiago 1:13-15). 

Ellen G. White nos adverte: "O décimo mandamento fere a própria raiz de todos os pecados, proibindo o desejo egoísta, do qual nasce o ato pecaminoso" (Patriarcas e Profetas, p. 218). e continua: "O último mandamento condena a cobiça. Todo desejo egoísta, toda medida de descontentamento, todo ato de engano, toda satisfação do próprio eu, produz o fortalecimento e desenvolvimento de um caráter que destruirá a imagem de Cristo no ser humano, e cerra-lhe as portas da cidade de Deus" (Carta 15, 1895).

A cobiça, de muitas maneiras, é o pecado esquecido dos nossos dias. Talvez isso nem seja surpresa, já que está tão intimamente ligado à origem do pecado, quando Satanás caiu, concentrando-se em seu orgulho e buscando ser exaltado até mesmo sobre o trono de Deus. Jesus, porém, fez exatamente o oposto. Em contraste direto com o diabo, Ele humilhou-Se, tornando-Se humano e morrendo por nós (Fp 2:5-8).

Um dos principais objetivos da ênfase que as Escrituras dão ao pecado é a promessa de que podemos ter vitória por intermédio de Cristo e que, finalmente, por meio da Sua obra, todo pecado, sofrimento e morte serão erradicados. Se depositarmos nossa fé em Jesus, descobriremos que nossos anseios mais profundos, aos quais nada no mundo pode satisfazer plenamente, serão satisfeitos para sempre em Seu reino vindouro. E, mesmo agora, podemos encontrar Nele o contentamento e a paz que excedem todo entendimento (Fp 4:7).

Enquanto aguardamos, oremos intencional e continuamente para que Deus mude nosso coração, a fim de que nos afastemos do egoísmo e passemos a amar altruisticamente, seguindo o exemplo máximo de amor altruísta dado por Jesus, o Autor e Consumador de nossa fé (Hb 12:2), que nos amou e Se entregou por nós (Ef 5:2).

[Com informações de Revista Adventista e Notícias Adventistas]

quinta-feira, 23 de maio de 2024

RECADO URGENTE PARA UM MUNDO SURDO

Não consigo pensar em surdez sem lembrar de Efatá. A palavra usada por Jesus ao realizar o milagre na vida de um surdo em Decápolis. O livro de Marcos nos conta que Jesus olhou para os céus e pronunciou essa palavra em aramaico que significa: Abre-te! Desimpedidos imediatamente os ouvidos que estavam tapados. Imagino o clamor aos céus na voz de Cristo quando da execução desse milagre.

Imagino que a mistura de clamor aos céus e angústia por aquela vida seja o sentimento atual que Jesus tenha em relação aos homens. Estamos todos surdos. O mundo se tornou um lugar de narrativas ensurdecedoras.

Narrativas
A palavra narrativa aqui representa uma leitura da vida e da realidade que é expressa em nossa visão de mundo, atitudes e comunicação. No entanto, essa leitura da vida é subjetiva, e cada um enxerga a vida como prefere.

A internet permitiu que as preferências de muitos se encontrassem. Mas a internet também permitiu que aquilo que não é preferido também fosse encontrado. Assim, com base em preferências, comumente sustentadas por fatos reais e não verdadeiros, nós nos alinhamos com quem concordamos e conflitamos com quem não comunga de nossos ideais.

Como a base dessa divisão está nas preferências individuais, empoderadas por meias-verdades e boas intenções de ambos os lados, essa divisão é perfeita. Acabamos nos ensurdecendo voluntariamente para aquilo que não é nossa visão.

Tapar os ouvidos
E nada pode ser mais perigoso do que tapar os próprios ouvidos. Porque ficamos presos em nós mesmos, seres pecadores que confiam nos próprios ideais. Com a porta de entrada fechada para aquilo que é diferente, revelador ou novo, ficamos travados num estado terrível, visto que nenhum de nós é perfeito. Ao contrário, somos todos injustos e maus.

Entretanto, o perigo é bem pior do que nós imaginamos, e vai muito além do que uma simples questão de preferência. Essa atitude sozinha pode inviabilizar a eternidade para nós. Mas deixe-me aprofundar.

O cristianismo passou séculos apresentando a graça de Cristo por meio do Seu sacrifício em nosso favor. Aprendemos que Deus está disposto a perdoar qualquer um, inclusive os piores de nós. Entendemos que no Reino de Deus o perdão é dez vezes infinito x infinito (70×7). E que “nada pode nos separar do amor de Deus” (Romanos 8:38-39). Portanto, não há quem possa me impedir de receber a salvação em Cristo e nada que eu possa fazer que seja maior que a graça de Jesus. Estas são verdades cristãs.

No entanto, há inúmeros momentos na Bíblia onde vemos Deus chegando a um limite. Acontece quando Ele destrói o mundo por um dilúvio, quando destrói Sodoma e Gomorra, quando devasta o Egito, quando devasta as terras canaanitas. Ou quando morrem Hofni e Finéias, os filhos de Eli, Coré, Datã e Abirão, o Espírito é retirado de Saul e quando morrem Ananias e Safira no Novo Testamento. Só para nomear alguns. Todos casos, em que tanto para nós quanto para Deus algum limite foi atingido, e o Senhor teve de pôr fim àquelas histórias. Sabemos, também, que um dia Deus dará um fim a todo o mal, indicando claramente que Ele tem sim um limite para o mal.

Limites
Temos um paradoxo aqui ou uma contradição? Nem um, nem outro. Na verdade, o que nos confunde é o fato de que todos esses casos nos parecem absurdos demais porque nosso limite é bem mais curto. Afinal de contas, somos limitados, e essa é a dimensão máxima que nossa consciência consegue chegar. Mas Deus perdoou absurdos ultrajantes de Davi e Pedro, por exemplo. Limites, inclusive que, se eu fosse o juiz, não cruzaria visto que sou tão limitado. Mas Ele foi além do que eu imaginava. Morreu por todos nós. E tem cada um de nós que eu vou te falar, hein!

Falta uma peça para entender esse quebra-cabeça. Liberdade. Deus nos deu liberdade de escolha. Ao ponto de se permitir ser rejeitado e negado por nós. Por esse motivo, ninguém vai para o céu se não quiser, ninguém será obrigado a viver eternamente e nem será obrigado a amar a Deus. Aqueles que decidirem assim terão seus desejos concedidos. E Deus não violará nossa liberdade. Então cabe a pergunta: “Até quando Deus cortejará o ser humano? Até quando Ele cortejará um indivíduo? Até quando Ele tentará convencê-lo a uma vida eterna?” Deus não pode insistir para sempre. Em algum momento Ele terá de deixar que a decisão tomada siga seu curso, porque isso é o justo num ambiente de liberdade. No universo de Deus as pessoas têm o direito de dizer: “CHEGA! EU NÃO QUERO MAIS SABER! EU NÃO QUERO NEM OUVIR!” (enquanto tapa seus ouvidos).

Escolhas
Deus respeita nossa escolha. E quando nossa escolha, a despeito de todas as tentativas de Deus é decidida, voluntária e determinada, Ele permitirá sua decisão. E isso é o pecado contra o Espírito Santo: Deixar de ouvi-Lo. Fica mais claro quando entendemos melhor as palavras de Jesus: “se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir” (Mateus 12:32). Entendemos a palavra “contra” como se fosse uma ofensa ao Espírito Santo, mas a noção aqui está mais para falar contra o que Ele diz. Falar por cima daquela voz com a sua própria voz, falar contra o que ela está dizendo, desafiar a voz, cantar alto tra-lá-lá-lá-lá enquanto tampa os ouvidos. Acho que uma imagem vai dizer mais.

Nesse caso, não há como haver perdão, simplesmente porque o perdão está sendo frontalmente confrontado. Ir além disso seria quebrar a liberdade, trair a verdade, agir com injustiça. Assim, Deus cessa de falar a estes, e o perdão não poderá mais ser outorgado. Por isso haverá um tempo em que Deus dirá aos homens: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda” (Apocalipse 22:11). Não é um ato de cansaço, de cruzamento do limite do amor de Deus, é justiça com aquele que escolheu. E não há mais nada que Deus possa fazer. Imagine um pai que vê seu filho destruir a própria vida por decidir não dar ouvidos. Essa é a dor de Deus. Não é Deus que não é capaz de perdoar, mas eles decidiram rejeitar. O assustador é que Apocalipse está nos informando que chegará um dia em que todos os que não ouviram a voz de Deus, se ensurdecerão a tal ponto. E naquele dia Deus aceitará a escolha de tantos.

Sendo assim, nos casos que citamos de destruição divina, a misericórdia de Deus se manifestou com o mundo da época e com as próprias pessoas envolvidas quando Ele lança destruição sobre elas. Elas chegaram ao seu próprio limite de escutar, e cruzaram esta linha. Dali para frente nenhum esforço traria sucesso. Deus sabe o fim desde o começo. E para aqueles que já não ouvem mais, não resta mais graça, e o mundo será uma dor a eles ou eles causarão dor no mundo. Não foi Deus quem chegou no limite, eles que se limitaram a não ouvir mais.

Entende agora? As narrativas que hoje nos dividem, solidificam nosso pensamento e tapam nossos ouvidos. É um treinamento para Apocalipse 22:11. Nós nos cercamos do que concordamos e rejeitamos ouvir outros argumentos. A política e as ideologias motivadas por nosso egoísmo travestido de amor e boas intenções estão nos atropelando. Os efeitos na fé são nítidos. Irmãos divididos, igrejas divididas, partidos se alastrando em nossas cabeças, famílias divididas, amizades desfeitas, o completo contrário de uma igreja em “um acordo” (Atos 2:1) que receberá a chuva serôdia. E estamos exatamente no tempo em que ela deveria receber esta chuva. No mínimo uma “coincidência”.

Ou, se eu fosse o diabo, e soubesse que há um “pecado imperdoável” (agora você entende por que se chama assim) eu trabalharia para jogar a humanidade nele, porque esse seria o esforço definitivo.

“Basta que eles não consigam mais ouvir então? Hmmm! Nesse caso: Encham eles de teorias, usem as mentes mais brilhantes, façam com que acreditem em meias verdades, envolvam elas com amor para garantir que eles se tornem pequenos ditadores da ‘verdade e do bem’, conte histórias ridículas, extraordinárias e longas para entretê-los, crie mil camadas de compreensão, ocupe a mente e feche qualquer abertura. Diga-lhes que só ouçam a voz interna, chame-a de ‘voz do coração’. Aproveite a natureza caída e valide suas lógicas internas. Use suas necessidades pessoais para justificar o egoísmo. Validem suas ideias trazendo mais gente que concordem com eles para perto. Chame quem se opõe ao pensamento deles de inimigo. Enfim, deixem-nos surdos. Será suficiente!”

Estamos cada vez mais surdos. Os algoritmos estão lá fazendo o trabalho sujo de acabar com os diálogos, com as conversas, com a abertura. E o risco vai muito além das escolhas políticas, esta além de questões econômicas, além das batalhas de superação pessoal, o risco é viver ouvindo apenas a si mesmo, e deixar de ouvir o que mais tem de ser ouvido! Acredito que se hoje Jesus fosse escrever um Tweet ou um post nas redes sociais, acho que Ele digitaria Seu mais profundo clamor: Efatá!

Diego Barreto (via O Reino)

quarta-feira, 22 de maio de 2024

O PERIGO NÃO VEM DE FORA... VEM DE DENTRO!

Creio que enfrentamos dois perigos na igreja: os de fora e os de dentro. Mas acredito que o último deve ser o mais temido. Nosso maior perigo hoje é a atitude amplamente prevalecente de muitos membros que aceitam, com aparente satisfação, sua baixa condição espiritual e não se preocupam muito com isso.

Além dessa realidade, está a falha de alguns líderes que não apelam para uma nova e mais elevada vida espiritual na igreja. Creio que esse apelo deve ser feito hoje. Graças a Deus, há aqueles que o fazem. Mas acredito que deveria ser feito por todos os líderes dessa causa.

Ellen G. White em seu livro Mensagens Escolhidas, vol. 1 diz: "Um reavivamento da verdadeira piedade entre nós, eis a maior e a mais urgente de todas as nossas necessidades. Buscá-lo, deve ser nossa primeira ocupação. Os antigos porta-bandeiras sabiam o que significava lutar com Deus em oração, e fruir o derramamento de Seu Espírito. Estes, porém, estão se retirando do cenário; e quem está surgindo para preencher-lhes o lugar? Como é com a geração que surge? Estão eles convertidos a Deus? Estamos nós alerta quanto à obra que se está desenvolvendo no santuário celeste, ou estamos à espera de algum poder impelente que venha sobre a igreja antes de despertarmos? Temos esperança de ver toda a igreja reavivada? Tal tempo nunca há de vir. (p. 121, 122)

Como era nos tempos de Neemias, assim é hoje. Os Sambalates, Tobias e Gésens modernos se levantam, observam o trabalho de Deus e criticam a forma pela qual é feito. Encontram defeito na obra e naqueles que a executam. Mas, graças a Deus, no tempo de Neemias, eles não conseguiram parar o trabalho. Portanto, se estivermos sob a direção do Senhor, se formos consagrados a Deus, eles nunca poderão parar o trabalho em si. Esta é a obra de Deus. Não são os perigos de fora que devemos temer, mas os de dentro.

Ellen G. White adverte: "Temos muito mais a temer de dentro do que de fora. Os obstáculos à força e ao êxito são muito maiores da parte da própria igreja do que do mundo. Os incrédulos têm direito de esperar que os que professam observar os mandamentos de Deus e ter a fé de Jesus, façam muito mais que qualquer outra classe para promover e honrar mediante sua vida coerente, seu exemplo piedoso, sua influência ativa, a causa que representam. Mas quantas vezes se têm os professos defensores da verdade demonstrado o maior entrave ao seu progresso! A incredulidade com que se contemporiza, as dúvidas expressas, as sombras acariciadas, animam a presença dos anjos maus, e abrem o caminho para a execução dos ardis de Satanás" (ME1, p. 122).

Creio que nós, hoje, somos em grande parte responsáveis por esse espírito de dúvida, permissividade e descrença. Certa vez, o pastor James Lamar McElhany, ex-presidente da sede mundial da igreja, recebeu uma carta de um jovem de uma de nossas escolas. “Durante nosso crescimento, nossa vida é moldada pelo ambiente”, escreveu ele. “Há pouco tempo, ouvi um pregador condenando o consumo de carne, e, menos de uma hora depois, ele e outros três que estavam na plataforma dizendo ‘amém’ estavam comendo carne num restaurante. Não sei o que o Senhor vai fazer a esse respeito, mas Ele deveria fazer algo.”

Esse foi o comentário do estudante. Podemos dizer que talvez esse jovem seja um extremista. Mas isso não é realmente o que importa nessa carta. O mais importante não é o que o jovem é, mas o que os pregadores são. Eles dizem uma coisa na plataforma, defendem um princípio, depois na vida cotidiana contradizem com outra prática.

Queridos irmãos, não precisamos ir longe para encontrar as causas da incredulidade e da dúvida, quando nossos líderes dão esse tipo de exemplo diante do povo. O que é realmente alarmante não é apenas o que aquele jovem disse, mas o fato de muitos de nossos membros terem perdido a fé em seus líderes devido à falta de coerência da liderança.

Os líderes deveriam estar dando um exemplo consistente, colocando em prática as reformas exigidas pelo dom profético. Como podem esperar ter a confiança e o respeito do povo se são inconsistentes? Como podem falar de renascimento espiritual e reforma, quando oferecem esse tipo de testemunho? Precisam ter coerência.

Através de outros péssimos testemunhos, também estamos abrindo a porta ao adversário. Ellen G. White afirma: "Quantas vezes, por sua falta de domínio próprio, professos cristãos abrem a porta ao adversário das almas! Divisões, e até amargas dissensões que infelicitariam qualquer comunidade mundana, são comuns nas igrejas, porque há tão pouco esforço para controlar os sentimentos errôneos, e reprimir toda palavra de que Satanás se possa aproveitar. Uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. Engendram-se e multiplicam-se incriminações e recriminações. Satanás e seus anjos operam ativamente para obter uma colheita da semente assim semeada. Os mundanos contemplam isto, e exclamam zombeteiramente: “Como esses cristãos se aborrecem uns aos outros! Se isto é religião, não a queremos!” E olham a si mesmos e a seu caráter irreligioso com grande satisfação. Assim são confirmados na impenitência, e Satanás exulta ante seu êxito" (ME1, p. 123).

Precisamos também de uma reforma na pregação sobre a vinda do Senhor. Creio que nossa identidade como adventistas do sétimo dia é a proclamação sobre a volta de Jesus. Estando rodeados pelas crescentes evidências de Seu retorno, como podemos permanecer ignorantes sobre um assunto tão vital como esse? Como servos de Deus, devemos “tocar a trombeta”, pois “breve Jesus voltará”. Nosso movimento foi fundado sobre essa bendita esperança, e todo pregador deve falar sobre ela e repeti-la em todos os lugares.

Atente para este pensamento de Ellen G. White: "A obra está diante de nós; empenhar-nos-emos nela? Precisamos trabalhar depressa, precisamos avançar constantemente. Temos de preparar-nos para o grande dia do Senhor. Não temos tempo a perder, tempo para empenhar-nos em desígnios egoístas. O mundo deve ser advertido. Que estamos fazendo, como indivíduos, para levar a luz a outros? Deus deixou a cada homem sua obra; cada um tem sua parte a desempenhar, e não podemos negligenciar essa obra senão com risco para nossa alma" (ME1, p. 126).

Creio que o Senhor ainda está com Seu povo. A igreja de Laodiceia é também a igreja da trasladação. A mesma igreja repreendida por seus delitos é a igreja que deve ser levada para o reino de Deus. O conhecimento desse fato me dá coragem. Podemos continuar trabalhando com a certeza de que essa causa triunfará!

segunda-feira, 20 de maio de 2024

O PIOR DO HOMEM E O MELHOR DE DEUS

Deus nunca ofereceu menos que o melhor de si para seus filhos. O homem se supera mais e mais ao descobrir novas formas de oferecer o pior de si a Deus. No livro de Malaquias, Deus faz um desabafo que soa como um forte “Chega!”. 

“E me ofendem também porque pensam que não faz mal me oferecerem animais cegos, aleijados ou doentes. Pois procurem oferecer um animal desses ao governador! Acham que ele o aceitaria com prazer e atenderia os seus pedidos? Eu, o SENHOR Todo-Poderoso, falei” (Ml 1:8).

"Maldito seja o mentiroso que me promete um animal perfeito do seu rebanho, mas oferece em sacrifício um animal defeituoso! Eu sou o Rei poderoso, e todas as nações me honram. Eu, o SENHOR Todo-Poderoso, estou falando" (Ml 1:14).

Ellen White comenta: "Específicas determinações haviam sido dadas ao antigo Israel para que não fosse apresentado a Deus nenhum animal defeituoso nem doente. Unicamente o mais perfeito deveria ser escolhido para este fim. O Senhor, por meio do profeta Malaquias, reprovou Seu povo muito severamente por se haver desviado destas instruções" (Santificação, p. 29).

O povo ofereceu o pior cordeiro que havia, e esperou a resposta...

Malaquias é o ultimo livro do Antigo Testamento e, depois dele, Deus silenciou por centenas de anos. Não houve mais nenhuma atividade visível.

Mas Deus quebra o silêncio!

E quando o faz, o que a humanidade ouve é algo como:

“Não tenham medo. Estou trazendo boas novas de grande alegria, que são para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:8-11).

Deus trouxe o seu melhor Cordeiro para aqueles que Lhe ofereciam os piores cordeiros.

O primeiro milagre de Jesus foi transformar água em vinho. De acordo com a avaliação do mestre-de-cerimônias, aquele era o melhor vinho. Jesus deu o melhor. Na cruz, antes de seu último suspiro, Jesus teve sede. Ofereceram para ele vinagre, vinho estragado, da pior qualidade.

E foi no calvário que o universo pode perceber o que há de mais terrível e de mais sublime, de mais puro e vil. São estas contradições e antagonismos que nos fascinam. A cruz combinou contradições e juntou num só momento o que há de mais humilhante e santo, revelou o que há de pior no homem e o que há de mais sublime em Deus. 

Na cruz, o bem e o mal se encontraram. Ali, Jesus pagou o preço dos pecados meus, e na cruz ficou exposto a todo universo, o pior do homem e o melhor de Deus!

Sempre foi assim: Deus nos dá o melhor, e nós Lhe oferecemos o que há de pior...

Resumido pelo Novo Tom, em "O pior do homem, o melhor de Deus":

 

sexta-feira, 17 de maio de 2024

DEFINIÇÃO DE PECADO ATUALIZADA

Nunca vi um povo tão obcecado com o pecado do que aqueles que deveriam fazer do perdão a sua bandeira. Para os tais, pregar o evangelho seria sinônimo de falar contra o pecado. E assim, sem que percebam, fazem coro com aquele que é chamado nas Escrituras de “o acusador dos nossos irmãos”, o arquiadversário do amor, o diabo.

"Mantende-vos afastados da cadeira de juiz. Todo julgamento é dado ao Filho de Deus. Satanás atua zelosamente para levar os homens a pecar neste ponto. Ele é o 'acusador dos irmãos'. Deverão os cristãos ajudá-lo em sua obra? O espírito de tagarelice e maledicência é um dos instrumentos especiais de Satanás para semear discórdia e luta, para separar amigos e minar a fé de muitos na veracidade de nossas crenças" (Manuscrito 144).

É claro que não dá para falar de perdão sem falar daquilo que está sendo perdoado, isto é, o pecado. Porém, temos que entender de uma vez por todas o que é ou não pecado.

Etimologicamente, pecar é errar a alvo. Fomos criados com um propósito, e viver de maneira contrária a ele constitui-se pecado. Que propósito seria este, afinal? Fomos criados para o amor. E o Deus revelado nas páginas dos evangelhos escolheu ser amado no outro. Amar ao próximo não é um mandamento abaixo do amor a Deus. Trata-se da única maneira de amar ao Criador. À luz desta verdade, podemos definir o pecado como todo sentimento, atitude ou postura que promova o mal de nossos semelhantes. O pecado é o antônimo do amor. 

"O pecado é a atuação de um princípio contrário à lei do amor, que é o fundamento do governo divino" (A Grande Esperança, p. 10).

Pecar não é viver alheio a um código moral, ainda que imposto por uma divindade. Pecar é não amar, vivendo exclusivamente em função de seus próprios prazeres, sem considerar a dor que possa causar ao outro. Pecado é uma vida autocentrada, egoísta, interesseira, preconceituosa, acumuladora, abusiva, traiçoeira, arrogante, invejosa.

"O pecado extinguiu o amor que Deus colocara no coração do homem. O trabalho da igreja é reacender esse amor. A igreja deve cooperar com Deus na tarefa de erradicar do coração humano o egoísmo, pondo em seu lugar a benevolência que estava no coração do homem em seu estado de perfeição original" (Beneficência Social, p. 2).

Quando se vive em pecado, o sofrimento do outro não nos causa qualquer incômodo. Só pensamos em nós mesmos. Por isso, ofendemos, difamamos, espalhamos fake news, sabotamos e inviabilizamos a existência do outro. 

"A terna simpatia de nosso Salvador foi despertada em favor da humanidade caída e sofredora. Se quereis ser Seus seguidores, necessitais cultivar compaixão e simpatia. A indiferença pelos ais da humanidade deve ceder lugar ao interesse vivo nos sofrimentos alheios" (Beneficência Social, p. 26).

Tem muita gente travestida de santidade e piedade, mas que destila ódio. E por incrível que pareça, usa sua fé para justificar o seu ódio sem o menor constrangimento. 

"Há muitos hoje em dia que, embora tenham uma aparência de grande santidade, não são praticantes da Palavra de Deus. Que se pode fazer para abrir os olhos dessas pessoas que se iludiram a si mesmas, se não apresentar-lhes um exemplo de verdadeira piedade, não sendo nós mesmos somente ouvintes, mas também praticantes dos mandamentos do Senhor, refletindo assim a luz da pureza de caráter sobre o seu caminho?" (Fé e Obras, p. 116).

Há quem use a verdade para enganar. Sem que profira uma única mentira, articula-se a verdade com o objetivo de oprimir e explorar o seu semelhante. Os tais se esquecem que a verdade deve ser seguida em amor. Sem amor ela pode ser tão destrutiva quanto à própria mentira.

Há quem se gabe de sua própria honestidade enquanto segue acumulando riquezas, sem jamais se preocupar em atenuar a miséria de tantos à sua volta. Ainda que honestos aos olhos dos homens, seguem gananciosos e presunçosos.

"A Palavra de Deus não aprova nenhum plano que enriqueça uma classe pela opressão e o sofrimento de outra" (Ministério para as Cidades, p. 32).

Há quem viva em adultério mesmo sendo fiel ao seu cônjuge, pois em vez de amá-lo, usá-o como se fosse um mero objeto. A maior parte dos estupros ocorre dentro do matrimônio. Qualquer relação sexual que não seja consensual é um estupro. O que legitima uma relação aos olhos de Deus é o amor e não um contrato ou uma cerimônia. Sem amor, um casamento não passa de um embuste. 

"Nem o marido nem a esposa devem tentar exercer controle arbitrário um sobre o outro. Não tentem impor um ao outro os seus desejos. Não é possível fazer isso e ao mesmo tempo reter o amor mútuo. Sejam bondosos, pacientes, longânimos, corteses e cheios de consideração mútua. Pela graça de Deus vocês podem ter êxito em tornar feliz um ao outro, como prometeram no voto matrimonial" (Testemunhos Sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, pp. 26, 27).

É pecado ser conivente com uma agenda negacionista da ciência, e por conseguinte, genocida. É pecado julgar e discriminar alguém pela cor de sua pele, por sua orientação sexual ou mesmo por seu credo religioso.

Homofobia é pecado!

Racismo é pecado!

Xenofobia é pecado!

Misoginia e machismo são pecados!

Explorar o trabalhador, privando-lhe de seus direitos é pecado.

Humilhar o seu próximo por sua condição material é pecado.

Tentar disfarçar seus próprios pecados ao apontar os pecados alheios também é pecado. 

"Se Cristo está em vós, 'a esperança da glória', não estareis dispostos a observar os outros, a expor-lhes os erros. Em lugar de procurar acusar e condenar, tereis como objetivo ajudar, beneficiar, salvar. Ao lidar com os que se encontram em erro, atendereis à recomendação: Olha 'por ti mesmo, para que não sejas também tentado' (Gálatas 6:1). Procurareis lembrar as muitas vezes que tendes errado, e quão difícil vos foi achar o caminho certo uma vez que dele vos havíeis apartado. Não impelireis vosso irmão para mais densas trevas mas, coração cheio de piedade, falar-lhe-eis do perigo em que está" (O Maior Discurso de Cristo, p. 128).

Pecado também é viver de maneira inautêntica, escondendo-se atrás da máscara da religiosidade ou da moral e dos bons costumes. 

"Demorando-se continuamente nos erros e defeitos dos outros, muitos se tornam dispépticos religiosos. Os que criticam e condenam uns aos outros estão transgredindo os mandamentos de Deus, e são-Lhe uma ofensa. Irmãos e irmãs, afastemos o entulho da crítica e suspeita e murmuração, e não desgastei os nervos externamente. Se todos os cristãos professos usassem suas faculdades investigadoras para ver quais os males que neles mesmos carecem de correção, em vez de falar dos erros alheios, existiria na igreja hoje uma condição mais saudável" (Mente, Caráter e Personalidade, vol. 2, p. 635-638).

Pecado é tudo aquilo que desumaniza o outro, transformando-o num trampolim para alcançar nossos mais sórdidos objetivos.

Se quer viver de maneira agradável a Deus, ame mais e não perca seu tempo julgando. Viva e deixe viver. Só não se cale diante da injustiça. Seja um cordeiro em causa própria, mas um leão pela causa do seu semelhante.

"Os que são mais prontos a acusar a outros, e zelosos em os levar à justiça, são frequentemente em sua própria vida mais culpados que eles. Os homens aborrecem o pecador, ao passo que amam o pecado. Cristo aborrece o pecado, mas ama o pecador. Será esse o espírito de todos quantos O seguem. O amor cristão é tardio em censurar, pronto a perceber o arrependimento, pronto a perdoar, a animar, a pôr o transviado na vereda da santidade e a nela firmar-lhe os pés" (O Desejado de Todas as Nações, p. 325).

Texto de Hermes C. Fernandes com acréscimo do blog de textos de Ellen G. White.

"Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, roubas os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? Como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós" (Romanos 2:21-24).

quinta-feira, 16 de maio de 2024

A FORÇA DA RESILIÊNCIA

Hoje, o conceito de resiliência se tornou muito popular e é aplicado a uma variedade de aspectos, incluindo pessoas, famílias, natureza, materiais, cidades, nações... É estudado em psicologia, ecologia, engenharia, sociologia e ciência política, entre outras áreas. Com a fragilidade emocional dos povos e o colapso espiritual da civilização, mais do que nunca precisamos de resiliência.

Mas o que significa essa palavra insólita importada da física? Do latim resilire (“voltar ao que era”, “saltar para trás”), resiliência é a capacidade que uma pessoa, estrutura ou sistema tem de resistir às pressões, se recuperar de eventos disruptivos, responder aos desafios presentes e saber o que fazer diante de ameaças futuras. É o poder de retornar à forma original depois de ser submetido a um estado de tensão. É ser jogado na lona pelos golpes da vida, levantar, limpar o sangue do nariz e nocautear o “inimigo”, figuradamente. É voltar à tona e boiar quando os pesos da vida tentam submergir a gente no mar das dificuldades. Entre as imagens mais comuns do fenômeno, temos o elástico que volta ao normal depois de ter sido esticado, a planta que nasce num solo hostil, a árvore inclinada pelo vento sem se quebrar, a fênix que renasce das cinzas.

A resiliência não é exclusividade dos heróis. No dia a dia, todos nós mostramos algum traço dessa qualidade. Não existe um gene da resiliência, mas fatores genéticos e culturais podem ajudar a lidar com a adversidade. Cada um tem um mapa da sua história, uma trajetória única e irrepetível, uma jornada personalizada rumo à resiliência. O que tornou você emocionalmente forte ou frágil?

Felizmente, podemos desenvolver a resiliência. Assim como o corpo pode ser fortalecido quando vamos para a academia e nos exercitamos, o mesmo ocorre com nossa fibra mental. Nosso cérebro tem grande capacidade de se ajustar às situações adversas. Da mesma forma que reconhece códigos físicos/culturais como as letras do alfabeto e percebe significados nessas curvas e retas, ele aprende a lidar com os padrões dos eventos. As redes neuronais podem ser reprogramadas por experiências e hábitos. Você não pode controlar as circunstâncias, mas pode trabalhar suas reações.

Diferentes autores ressaltam distintas características relacionadas ao núcleo da resiliência. Por exemplo, no livro Resilience for Dummies (John Wiley & Sons, 2021, p. 17-20), a doutora Eva Selhub explora seis pilares: (1) robustez física, (2) equilíbrio emocional, (3) clareza e firmeza emocional, (4) conexão espiritual, (5) relacionamentos amoráveis e (6) liderança influente na comunidade.

Eu poderia citar outras qualidades, como um propósito significativo para vida, a persistência e a flexibilidade. No entanto, destaco a visão realista dos desapontamentos presentes e das recompensas futuras. Todos os grandes personagens da Bíblia tiveram um “antes” e um “depois”, e a vida deles foi reconfigurada por Deus com base em promessas de um novo dia. Conforme sublinha o apóstolo Paulo, nossos leves sofrimentos momentâneos não são nada em comparação com o eterno peso da glória futura e, por isso, fixamos o olhar no que não se vê (2Co 4:17, 18).

Personagens bíblicos resilientes
O exemplo de Jesus no Getsêmani ilustra bem esse ponto. Embora tornar-Se homem e salvar a humanidade fosse uma escolha, não havia prazer no sofrimento envolvido. “Meu Pai, se é possível, que passe de Mim este cálice!” foi o clamor de Cristo (Mt 26:39a). No entanto, o significado daquele ato e o sentido daquela entrega O fortaleceram para suportar aquele momento com dignidade: “Contudo, não seja como Eu quero, e sim como Tu queres” (v. 39b).

Na Bíblia encontramos diversos relatos de como seus personagens foram resilientes em diferentes situações que envolviam o sofrimento e a necessidade de lidar com as adversidades. De Moisés liderando um povo no deserto por 40 anos até os apóstolos em meio às perseguições e dificuldades que a obra missionária lhes apresentava, podemos encontrar uma galeria de exemplos dessa capacidade humana.

No entanto, nenhum deles se compara a Jó, alguém que perdeu tudo, desde sua integridade física, passando por seus entes queridos e bens materiais. Ele provou o gosto amargo do sofrimento ao ponto de sentir-se desamparado até pelo próprio Deus, porém permaneceu firme. Foi provado e abalado pelas provas, mas as superou.

O diálogo final entre Deus e Jó (Jó 38 a 42) é emblemático no que diz respeito à maneira pela qual o ser humano pode encarar os sofrimentos da vida. Ao clamar por uma resposta, uma explicação, Jó recebeu de Deus outras perguntas sobre a ordem e as leis naturais do Universo, as quais ele mesmo não conseguia responder. A resposta de Deus através de outras perguntas é clara: você não é capaz de compreender nem mesmo as obras da Minha criação, como pode querer compreender Meus desígnios?

A fé na soberania divina, o esforço em enxergar a situação pela qual passava em um contexto mais amplo, sob a ótica do Todo Poderoso, foi o que permitiu a Jó encontrar um sentido em meio ao seu sofrimento, embora não tenha recebido respostas objetivas nem explicações para suas questões.

Em sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo descreveu um processo através do qual as tribulações humanas são convertidas em fontes de esperança. Ele mesmo experimentou isso em sua vida: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança, a perseverança produz experiência e a experiência produz esperança. Ora, a esperança não nos deixa decepcionados, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5:3-5).

Ao comentar esse texto em Carta aos Romanos (Fonte Editorial, 2009, p. 245), o teólogo suíço Karl Barth afirmou que “a perspectiva espiritual muda o sinal matemático inscrito na frente da nossa tribulação. O que parece ser mero sofrimento humano transforma-se em obra de Deus. Os empecilhos da vida transformam-se em degraus para a vitória; o derribar dá lugar à nova edificação; a desilusão e o revés aguçam a esperança e o anseio pela volta do Senhor”.

Como evidenciam os exemplos de Paulo, Jó e outros tantos personagens das Escrituras, a fé pode ser um dos fatores de proteção importantes no processo de superação e na expressão da resiliência humana. Em seu livro Em Busca de Sentido, Viktor Frankl a menciona ao lado de outras atitudes como um dos elementos que o ajudaram (e também a outros companheiros de provações) a superar as adversidades em meio à sua via crucis. De alguma forma, podemos desenvolver a resiliência.

Conclusão
Nascemos com o potencial para ser resilientes, mas isso não significa que seremos. É em meio às dificuldades da vida que temos a oportunidade de desenvolver essa capacidade tão necessária para nossa sobrevivência, equilíbrio e bem-estar físico, mental e espiritual, principalmente nesses dias difíceis como os que o povo gaúcho está vivendo. A maior enchente já vivenciada pelo Rio Grande do Sul, em inúmeros municípios, revela o quão guerreiro e resiliente é o seu povo. 

Tomara que as lágrimas nos olhos daqueles que perderam entes queridos, suas casas e seus bens, sejam secadas pela esperança de dias melhores, pela esperança de superação da dor e da angústia, pela esperança de reconstrução. Essa resiliência que vem do interior é formidável, mas a que vem de cima é inquebrantável. Deus é nossa fortaleza.

A chave para lidar com a incerteza está em aprender a confiar em Deus, independentemente de quanto possa parecer ruim a situação. Lembre-se de que Deus não permite nada que não possamos suportar (1Co 10:13) e que Ele está cuidando de nós o tempo todo, seja nos guiando em abundância e tranquilidade ou nos ajudando a atravessar os vales mais escuros (Sl 23). Ellen G. White diz: "Nos dias mais sombrios, quando as aparências se mostram mais adversas, tende fé em Deus. Ele está cumprindo Sua vontade, fazendo todo o bem em auxílio de Seu povo. A força dos que O amam e servem será renovada dia após dia. Pode e quer conceder a Seus servos todo o socorro de que carecem. Dar-lhes-á a sabedoria que suas variadas necessidades requerem" (A Ciência do Bom Viver, p. 482).

Deus sabe por que as coisas estão acontecendo como estão. E no futuro iremos compreender.

[Com informações do acervo da RA]

quarta-feira, 15 de maio de 2024

ENTENDENDO AS 2.300 TARDES E MANHÃS

No livro de Daniel, capítulo 8, encontramos eventos históricos que precedem a segunda vinda de Cristo. Nele é descrito a sucessão de quatro reinos (babilônico, medo-persa, grego e romano), e, proveniente do último (romano), surgiria um poder que atuaria de maneira singular em relação aos seus antecessores, fazendo prosperar o engano ao deitar por terra a verdade referente ao santuário celestial; obscurecendo deste modo o ministério intercessório de Cristo. Daniel 7:25 descreve esse mesmo reino dizendo: “Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei…”.

Entretanto, Deus não permitiria que Seus ensinos, Sua lei e a verdade relativa ao ministério sumo-sacerdotal de Cristo prosseguisse indefinidamente obscurecida pelo erro. Através de homens e mulheres fiéis e tementes a Deus, Ele reavivaria Sua causa (Isaías 58:12). A reforma protestante redescobriu parcialmente o papel de Cristo como nosso Mediador, o que ocasionou grande reavivamento no seio do mundo cristão. Contudo, havia ainda outras verdades a serem reveladas acerca do ministério celestial de Jesus. E a Daniel foi revelado o tempo em que Deus restauraria essas verdades e iniciaria o grande julgamento da raça humana.

Em visão, Daniel contemplou esses eventos que precederiam o “tempo do fim” e, no desfecho dessa visão, o profeta acompanhou o seguinte diálogo:

“Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército a fim de serem pisados? Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Daniel 8:13-14).

Após serem revelados esses acontecimentos a Daniel, ao anjo Gabriel fora dado a missão de explicá-los, mas, o impacto das informações levou Daniel a enfermidade, e, Gabriel, teve que adiar os esclarecimentos até que ele se recuperasse (Daniel 8:27). Devido a essa interrupção, Gabriel teve que adiar a explicação relativa ao período de tempo das 2300 tardes e manhãs; o único aspecto da visão que ainda não havia sido esclarecido. Daniel 9:22 descreve o retorno do anjo Gabriel com o objetivo de completar essa tarefa. Portanto, Daniel 8 e 9 acham-se conectados, sendo o capítulo 9 a chave para desvendar o mistério das “2300 tardes e manhãs” descrito no capítulo 8.

Entretanto, é necessário entender o que significa – “tardes e manhãs” – antes de prosseguirmos com este estudo. Analisemos o que a Bíblia diz:

"… E disse Deus: Haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia" (Gênesis 1:3-5).

Então, “uma tarde e uma manhã” corresponde a “um dia” (período de tempo aproximado de 24 horas) e, consequentemente as “2300 tardes e manhãs” mencionadas em Daniel 8:14 equivalem a 2300 dias. Mas, os capítulos 8 e 9 do livro de Daniel se referem a tempo profético e nestes casos “um dia” equivale a “um ano“:

“Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqUidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado” (Números 14:34)

“Quarenta dias te dei, cada dia por um ano…” (Ezequiel 4:7)

A partir desses versos podemos afirmar que “2300 dias” proféticos representam “2300 anos“, e, com base nessas informações, volvemo-nos às palavras do anjo Gabriel que retorna ao profeta com o intuito de fazê-lo entender o período de tempo descrito na profécia:

“… Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão. Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos” (Daniel 9:22-24).

A partir de Daniel 9:24 podemos fazer a seguinte pergunta: Qual a relação entre as “setenta semanas” e os “2300 anos”?

O anjo Gabriel anunciou que “setenta semanas foram determinadas” sobre o povo e sobre a santa cidade” de Daniel, isto é, sobre o povo judeu e sobre a cidade de Jerusalém.

A palavra “determinada” é uma tradução do verbo hebraico cuja raiz é chathak. Apesar dela aparecer na Bíblia somente neste verso, seu significado segundo o Léxico Hebraico de Strong1 tem o sentido de cortar, separar. Seu significado pode ser compreendido, também, a partir de outras fontes hebraicas2. O conhecido dicionário hebraico-inglês de Genesius3 estabelece que o significado apropriado do termo é “cortar”. Porém, figurativamente, os tradutores bíblicos optaram por traduzi-la por “determinada ou decretada”.

Assim, Gabriel revela ao profeta Daniel que as “setentas semanas” fixadas sobre os judeus e Jerusalém devem ser cortadas ou separadas de “2300 anos”, ou seja, as 70 semanas mencionadas em Daniel 9:24 estão inseridas dentro dos 2300 anos, e segundo as instruções do anjo Gabriel elas devem ser subtraídas.

Para realizar essa separação de tempo devemos aplicar o mesmo princípio bíblico que diz ser “cada dia por um ano“. Como uma semana possui 7 dias, e, na profecia são mencionadas 70 semanas, teremos: 70 x 7 = 490 dias ou 490 anos. Ou seja, 490 anos devem ser separadas de 2300 anos.

Agora vem o questionamento: “Em que momento inicia a contagem dos 490 anos?” Observe as palavras do anjo Gabriel: 

“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, o Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas: as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos” (Daniel 9:25).

Gabriel indica que o início da contagem dos 490 anos se daria a partir “da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém”. E a História registra que essa ordem foi dada pelo rei Artaxerxes, da Pérsia, no ano 457 a.C.

Daniel 9:25 revela ainda que, desde a ordem para restaurar Jerusalém até o Ungido, ou seja, até o batismo de Jesus Cristo, se passariam “sete semanas e sessenta e duas semanas“4, ou seja, 69 semanas. Então, a partir da contagem inicial das 70 semanas (490 anos), 69 semanas passariam até chegar a época do batismo de Cristo. Esse período de 69 semanas, em linguagem profética, equivalem a 483 anos (69 semanas x 7 dias). E os cálculos nos leva ao ano 27 d.C., data em que se realizou o batismo de Jesus.

Entretanto, Daniel 9:25 menciona somente 69 das 70 semanas proféticas. Resta ainda uma semana a ser analisada. Vejamos:

“E Ele firmará um concerto, com muitos, por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares…” (Daniel 9:27).

A profecia afirma que, na metade (3½) da “última semana“ (Daniel 9:27) – que nos leva ao ano 31 d.C. – “fará cessar o sacrifício”. Em outras palavras, Jesus morreria na cruz e já não seria mais necessário o sacrifício de animais que Israel realizava no santuário terrestre (Mateus 27:51). A História registra que, exatamente no ano 31 d.C., Jesus foi morto, confirmando com extrema exatidão as profecias.

A outra metade (3½) da “última semana” termina no ano 34 d.C. Nessa época o apóstolo Estevão foi apedrejado pelo povo judeu (Atos 7:54-60) e, com isso, o tempo de Israel finda-se, assim, a nação israelense perde as credenciais de sacerdotes e representantes de Deus na Terra (Êxodo 19:5-6). Finda-se deste modo o período de 490 anos ou das 70 semanas que dizia: “setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo…” (Daniel 9:24).

A profecia foi dada a Daniel por volta de 607 a.C. e, séculos depois, tudo se cumpriu com precisão perfeita. Agora acompanhe o raciocínio: Como os 490 anos fazem parte dos 2300 anos e, foram “separados” ou “cordados”, em que ano seremos encaminhados se continuarmos contando o tempo?

Concluiremos que o período de 2300 anos terminou em 1844. Ou seja, em 1844, segundo a profecia, iniciou-se a purificação do santuário celestial e o julgamento da humanidade (Hebreus 8:1-2; Hebreus 9:23-24; Daniel 7:9-10 cf Apocalipse 11:19). Resumidamente temos os principais eventos descritos em Daniel 9:

457 a.C. - Emissão da ordem para reconstruir Jerusalém (Esdras 7:7; 12-22).

27 d.C. - Batismo de Jesus (Mateus 3:13-17).

31 d.C. - Na metade da última (pertencente as 70 semanas), o Messias seria morto. Exatamente três anos e meio após o Seu batismo, Jesus foi morto na cruz (Lucas 23:46 cf Daniel 9:27).

34 d.C. - No fim das 70 semanas (Daniel 9:24), Estevão é apedrejado (Atos 7:54-60), a Igreja é perseguida (Atos 8:1-3), Paulo converte-se e o Evangelho foi levado aos gentios (Atos 13:44-52) e o povo judeu perde o título de nação escolhida por Deus (Êxodo 19:5-6).

1844 - Início do Juízo Investigativo (Daniel 8:14; Daniel 7:9-10; Apocalipse 11:19; Apocalipse 14:7).

Segundo as profecias, foi a partir de 1844 que o destino dos homens começou a ser definido, e milhões de pessoas no mundo ignoram essa verdade. Por isso o Apocalipse declara que era necessário levantar-se “um anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a toda nação, tribo, língua, e povo, dizendo em grande voz: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois “É CHEGADA A HORA DE SEU JUÍZO…” (Apocalipse 14:7). A palavra anjo em linguagem profética significa mensagem ou mensageiro. E perceba que o anjo voa. Isso é urgente (Apocalipse 14:6). Voar significa rapidez. Não há mais tempo a perder. Perceba que a mensagem é dada em alta voz. Isso não pode ser ignorado por mais tempo. Precisa ser proclamado em toda a Terra e para todos.

Infelizmente, o juízo, por algum motivo, é mal compreendido. Muitos confundem o juízo com os flagelos e catástrofes que acontecerão antes da volta de Cristo, e que também estão profetizados no Apocalipse. Os flagelos por exemplo, são parte da sentença do juízo. Não é juízo. A prisão ou pena de morte, por exemplo, não é o juízo da pessoa, mas a condenação. Juízo é o processo pela qual se considera o caso: existe um juiz, um advogado, um promotor de acusação, testemunhas e provas.5 

Veja como o profeta Daniel descreve o juízo celestial: 

“Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de dias Se assentou; Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a lã pura… um rio de fogo manava e saía de diante dEle. Milhares e milhares O serviam, e miríades e miríades estavam diante dEle; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros” (Daniel 7:9:10).

Texto baseado em: “O Ministério de Cristo no Santuário Celestial“, em: Nisto Cremos, 7.ª ed., 2003, cap. 23, p. 408.

Referências
1. STRONG, J. (1981). The Exhaustive Concordance of the Bible. ed. Macdonald Publishing Company. (Palavra n.º 02852)

2. Análise de escritos hebraicos, tais como os Mishnah, revelam que embora “chathak” possa significar “determinar”, o uso mais comum “tem a ver com a idéia de cortar”. - SHEA, W. H. The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and 9. IN: WALLENKAMPF, A.; LESHER, W. R. (1981). The Sanctuary and the Atonement. Washington, D.C.: Biblical Research Institute, p. 228-250.

3. GENESIUS. (1950). Hebrew and Chaldee Lexicon to the Old Testament Scripture. Tradução de Samuel P. Tregelles (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, edição reimpressa, p. 314.

4. “sete semanas”, corresponde a 49 anos, tempo gasto para restauração e edificação de Jerusalém, e, “sessenta e duas semanas”, 434 anos, refere-se ao tempo compreendido entre a conclusão da reedificação de Jerusalém e o batismo de Jesus; e, ambos: “sete semanas e sessenta e duas semanas”, corresponde a soma de 7 semanas + 62 semanas = 69 semanas (483 anos).

5. BULLON, A. (1998). O Terceiro Milênio e as Profecias do Apocalipse, 1.ª ed., p. 29.